A ESCOLHA ENTRE A VIDA E A MORTE

Sermão pelo Rev. Mauro S. de Pádua

 

"Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição: escolhe pois a vida,
para que vivas,
tu e a tua semente..."


(Deuteronômio. 30: 19).

 

  Nós vivemos na era de escolhas.  Existe uma variedade muito grande de oportunidades em ambos os planos da vida humana, tanto no plano espiritual como no material.  Começamos a tomar decisões a partir do momento em que acordamos até à hora de irmos dormir outra vez.  Várias dessas decisões não parecem ser importantes, a ponto de nem pensarmos conscientemente antes tomá-las.   As crianças da era de hoje tomam muito mais decisões do que as crianças de vinte a trinta anos atrás - se elas estão ou não preparadas, é uma boa pergunta. 
Muitas das escolhas que são feitas o são por uma questão de sobrevivência.  Pois nem sempre temos uma escolha no que acontece conosco no plano natural.  Por exemplo, não escolhemos quando morreremos, também como não escolhemos quando aqueles que amamos morrerão.  Também não escolhemos necessariamente  quais as limitações físicas que teremos ou quando o carro dará defeito.
Pense por exemplo na pergunta do famoso autor: "Ser ou não ser, eis a questão".  Se pensarmos bem veremos que esta não é uma pergunta válida, pois do momento que passamos a existir, não temos mais esta escolha de ser ou não ser, pois já somos.   A questão verdadeira é o que seremos.
Nós não podemos escolher muitas das coisas que nos acontecem, como na lista que foi feita à cima.  Mas podemos escolher como reagiremos às coisas que nos acontecem.  Esta é a verdadeira escolha... a escolha que determinará o que nos tornaremos.  Esta é a escolha entre a vida e a morte, entre o bem e o mal.  Este sermão trata desta escolha, a escolha espiritual.
Os Escritos de Emanuel Swedenborg nos dizem  que a liberdade de escolha é essencial para a nossa salvação.  É por isso que o Senhor criou o ser humano com a faculdade racional, isto é, com a habilidade de discernir entre o bem e o mal, e também o criou com a habilidade de livremente escolher entre os dois. Sem estas duas habilidades o ser humano não poderia se tornar uma imagem e semelhança de Deus.  Nós tanto podemos usar estas duas habilidades que nos são dadas, como também podemos abusar delas; a escolha é nossa.
Quando usamos essas duas habilidades nos tornamos sábios.  Na verdade, "tornar-se sábio quer dizer a habilidade de claramente ver o que é verdadeiro e bom, de escolher o que é apropriado,  e de aplicar isto aos usos da vida.  Aqueles que atribuem todo o que é bom ao Senhor, vêem, escolhem, e aplicam claramente." (AC 10227:3).
No nosso texto de hoje, o Senhor começa dizendo aos israelitas sobre um mandamento que eles deviam observar e cumprir. E escolher observar e cumprir este mandamento é escolher a vida.  O Senhor está pedindo aos filhos de Israel que façam uma escolha.  Ele diz: "Porque este mandamento, que hoje te ordeno, te não é encoberto, e tãopouco está longe de ti.  Não está nos céus para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o façamos?  Nem tãopouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós dalém do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o façamos?  Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a fazeres".
É incrível quantas coisas encontramos em nossas vidas que fazem com que o Senhor e Sua Palavra pareçam distantes de nós.  Nós encontraremos obstáculos e desculpas para não fazermos esta escolha, a escolha entre a vida e a morte.  A escolha entre o que o Senhor nos ensina a fazer e o que nós queremos fazer.  Podemos dizer:  Isto é tudo tão misterioso, ainda não estou preparado... Talvez mais tarde, ainda tenho muito o que fazer antes que leve a sério essas coisas de religião...
Ou talvez diremos: Estou simplesmente tentando viver uma vida boa e não preciso dessas coisas complicadas de religião.  Isto é para teólogos.  Quem pode me dizer que religião está certa?  Quem vai aos céus e depois volta para me dizer no que devo acreditar?  Não quero acreditar em nada, só quero viver uma vida boa.
Ou ainda podemos dizer: Estes assuntos de religião e Deus são muito complicados. Quem tem tempo para essas escolhas espirituais, se nem se encontra  tempo suficiente para as escolhas deste mundo?  Além do mais, eu vivo neste mundo e não no espiritual.
Esta lista de desculpas poderia continuar e ir longe.  Mas o Senhor está nos pedindo para pararmos e pensarmos. "Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a fazeres.  Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal.  Porquanto te ordeno hoje que ames ao Senhor teu Deus, que andes nos Seus caminhos, e que guardes os Seus mandamentos, e os  Seus estatutos, e os Seus  juízos para que vivas, e te multipliques, e o Senhor teu Deus te abençoe na terra a qual entras a possuir". (Deut. 30:16).
Repare que o Senhor está dizendo:  "Vês aqui, HOJE te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal;  porquanto te ordeno HOJE que ames o Senhor teu Deus...".  Ele não está dizendo ontem, amanhã, daqui a duas semanas, talvez ano que vem;  quando eu fizer 40 anos, quando os meus filhos estiverem criados, ou quando eu for para o mundo espiritual.  Mas o Senhor está dizendo HOJE!  Agora mesmo!  Ele está nos dizendo para não adiarmos a escolha entre a vida e a morte, entre o bem e o mal.  Quanto mais adiarmos, quanto mais esperarmos, mais difícil ficará fazer a escolha certa, a escolha de vida.
Nas Doutrinas Celestes, o Senhor nos diz que "cada fração minúscula de um momento da vida de uma pessoa envolve uma corrente de conseqüências que se estende à eternidade.  Sim, cada momento é como um novo começo daqueles que seguem..." (AC 3854:3).    Que ensinamento incrível!  Isto quer dizer que  toda vez, todo momento que escolhermos a vida, esta escolha terá conseqüências que se estenderá à eternidade.  O mesmo também será verdade toda vez que escolhermos o mal.
Entretanto, o Senhor sabe que escolher a vida e o bem não é uma escolha fácil;  e, Ele também sabe que esta escolha é necessária se é que vamos para o céu.  Foi por isso que quando o Senhor estava no mundo, Ele encorajou as pessoas a escolherem a vida, embora esta fosse a escolha mais difícil.  Assim Ele diz: "Entrai pela porta estreita; porque  larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem" (Mat. 7:13-14).  
Embora sejam poucos que encontrem a porta estreita, a nossa escolha é que faz a diferença.  Esta escolha não será fácil, por causa de nossas tendências naturais, mas não deixa de ser algo plausível.  "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á." (Mat. 7:7).
Já porque esta escolha é difícil, nós colocamos obstáculos em nosso caminho, e arranjamos desculpas para nossa letargia.  Às vezes até culpamos ao Senhor, pois é Ele quem está nos dando muito para enfrentar.  Afinal de contas, a aparência é de que o Senhor é quem está nos desafiando, e por isso Ele diz: "Vês aqui, hoje EU te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal."  A aparência é de que o Senhor está pondo o mal à nossa frente.  Mas essa é só a aparência, a realidade é que o Senhor quer que cada um de nós escolha a vida.  Na verdade, nós nascemos todos para ir para o céu.  O próprio ser humano é que, em sua liberdade, escolhe o mal.  Aqui o céu é representado pela terra de Canaã que os filhos de Israel estão indo possuir,  está é a promessa do Senhor.
Logo, o Senhor diz a Israel: "Porém se teu coração se desviar, e não quiseres dar ouvidos, e fores seduzido para te  inclinares a outros deuses, e os servires, então Eu vos denuncio hoje que, certamente, perecereis".  Esta é a escolha que temos, ambas com conseqüências, e devemos livremente escolher seguir o Senhor.  Ele está constantemente presente conosco, ajudando-nos em nossas escolhas, e, ao mesmo tempo preservando nossa liberdade.  Ele não nos forçará a escolhê-Lo, senão seria Sua escolha e não nossa.  Os Escritos nos dizem que "se o homem não estivesse entre o bem e o mal, não teria pensamento algum nem vontade alguma, nem, com mais forte razão, liberdade alguma nem escolha alguma, porque o homem possui estas coisas por causa do equilíbrio entre o bem e o mal.  Se, pois, o Senhor Se desviasse do homem e o homem fosse deixado só no mal,  ele não mais seria homem" (CI 546).
O Senhor nunca Se afasta de nós; nós, sim, é que nos afastamos dEle.  Por isso é que o Senhor nos encoraja quando diz: "Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição: escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua semente, amando ao Senhor teu Deus, dando ouvidos à Sua voz, e te achegando a Ele:  pois Ele é a tua vida, e a longura dos teus dias; para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque, e a Jacó, que lhes havia de dar."

Amém.


Lições:              Deut. 30:11-20
Mat. 7:13, 14
Céu e Inferno 546