OS USOS DO BATISMO

Sermão pelo Bispo Willard D. Pendleton

"Quem crer e for batizado será alvo".


(Marcos 16;16)

                        Quando o Senhor esteve no mundo, revogou todos os ritos da Igreja Judaica. A razão disso se fundamentava no fato de que a Igreja Judaica era apenas uma igreja representativa. Em seus rituais, as coisas espirituais eram apresentadas nos naturais, mas o povo não tinha conhecimento daquilo que esses naturais representavam. Quando o Senhor veio, aqueles rituais foram por Ele abolidos e, em seu lugar, foram instituídos dois sacramentos, o Batismo e a Santa Ceia, que devem incluir todas as coisas que pertencem à igreja interna, como lemos no nº 647 do livro "Verdadeira Religião Cristã".
Assim, somos ensinados pelos Escritos que o Batismo e a Santa Ceia são como as portas para a vida eterna, pois assim está escrito naquele livro (VRC 701): "Pelo Batismo, que é a primeira porta, cada cristão é guiado e introduzido nas coisas da Igreja pelo que a Palavra ensina sobre a outra vida, e esses ensinamentos constituem os meios pelos quais o homem pode ser preparado e conduzido ao céu. A segunda porta é a Santa Ceia, pela qual é admitido e introduzido no céu todo homem que se deixa preparar e guiar pelo Senhor. Não há outras portas além dessas".
Entretanto, sabemos que estes dois sacramentos, tomados apenas no externo, não conferem fé nem salvação. Não há sacramentos ou rituais na Igreja que forcem sua recepção. Mas o Batismo testemunha o fato de que o batizando pode receber a fé e ser salvo se se regenerar; e a Santa Ceia pode efetuar a conjunção do Senhor com aqueles que estão no bem do amor e na fé sincera do Senhor (NIDC 207 e 213).
Mas tem ocorrido a seguinte pergunta: "Podem aqueles que não foram batizados receber a fé, e podem aqueles que não comungaram ser regenerados?" A resposta é afirmativa, diante do ensinamento dos Escritos, segundo o qual muitos que não pertencem à Igreja terrena podem entrar no céu. Sendo assim, qual a razão por que o Senhor determina que pratiquemos essas cerimonias e por que os Escritos tanto falam sobre elas? A resposta é que, para aqueles que estão na Igreja, são esses sacramentos os meios de salvação, enquanto que, para os que não pertencem à Igreja, o Senhor provê outros meios de salvação (VRC 709).
Os Escritos nos ensinam que "o céu é conjunto ao homem quando este está nos últimos, isto é, nas coisas do mundo que se relacionam com seu homem natural, mas, ao mesmo tempo, nas coisas do céu, isto é, nos internos que se relacionam com o seu homem espiritual; de nenhum outro modo é possível a conjunção. É por isso que o Batismo e a Santa Ceia foram instituídos. É por isso também que a Palavra foi escrita por meio de coisas do mundo natural, e existe nela um sentido espiritual contendo as coisas que existem no céu, isto é, o sentido da letra da Palavra é natural, mas seu sentido interno é espiritual (AE 475,21).
Devemos observar esse ensinamento de que o externo contribui para a salvação quando ele é conjunto ao interno. Ele é básico não somente para a compreensão dos sacramentos, mas também para a compreensão de cada ato da vida. Devido à importância que os Escritos emprestam aos internos, há ocasiões em que nos inclinamos a menosprezar os externos; mas os Escritos insistem também no fato de que os internos não podem existir sem os externos. É segundo a ordem que o amor ao Senhor deve ser expresso em atos de adoração externa. Recordemos uma passagem do livro "Divina Providência": "Há externos em que o homem e o Senhor estão conjuntos. E porque os externos fazem um com os internos, o Senhor pode dispor as coisas nos internos somente de acordo com a disposição com que o homem age nos externos" (D.P. 172). Lembremos também uma notável passagem dos ARCANOS CELESTES : "Um externo santo, vazio de um correspondente interno, não vai além do portal do céu, onde é dissipado; mas um externo santo derivado de um interno santo, penetra no céu, de acordo com a qualidade do interno" (AC 10177,5).
O que é santificado significa aquilo que está na ordem e, como o Senhor é a ordem mesma, Ele é toda a santidade. Portanto, diz-se que o Batismo e a Santa Ceia são atos santificados de adoração. Com efeito, os Escritos dizem que esses sacramentos são "as coisas mais sagradas do culto" (VRC 647). A razão disso é que eles são prescritos, recomendados e instituídos pelo Senhor quando esteve no mundo. Não são meras cerimônias que se tornam sacramentos. Entretanto, esta é a aparência, e é segundo a aparência que muitas pessoas pensam sobre essas cerimônias. Mas como podem pensar de outro modo, se não conhecem o uso espiritual desses sacramentos? Para este fim, o sentido espiritual da Palavra foi revelado, pois lemos nos Escritos: "É impossível que os usos desses sacramentos entrem na mente de alguém, a não ser que tais usos sejam revelados e explicados pelo sentido espiritual" (VRC 647).
A fim de compreendermos o assunto, devemos ter em mente o repetido ensinamento dos Escritos, segundo o qual existe poder nos últimos. Com respeito a isso, lemos no livro "Arcanos Celestes" nº 9836: "Que nos últimos há poder é evidente pelo fato de que os últimos servem a coisas sucessivas, sendo suportes nos quais elas repousam e por meio das quais são conservadas". Assim, compreendemos porque podemos falar dos sacramentos como sendo atos santos do culto, pois eles foram ordenados pelo Próprio Senhor e repousam nos últimos, em correspondência com a santidade das coisas interiores.
O ato do batismo, portanto, é uma concretização da fé: e o último, em que ele é realizado, é o meio pelo qual a fé é estabelecida e fixada em solene aliança com o Senhor. Entretanto, no caso das crianças batizadas é a fé dos pais que se confirma. Como cabe aos pais agirem por seus filhos em assuntos da vida espiritual, é de acordo com a ordem que o homem deve ser batizado em criança e, senão em criança, como adulto. O fato de a criança não decidir por si mesma não retira o uso do batismo, pois seu primeiro uso é a introdução na Igreja Cristã terrena e, ao mesmo tempo, a inclusão entre os cristãos no mundo espiritual. E como cada um é afetado pela qualidade de cristianismo que está nele, segue-se que o batismo é uma provisão Divina pela qual o batizando é posto em comunhão e associação com os que pertencem à Igreja neste mundo e no mundo espiritual. Essa comunhão e associação se processam a partir dos últimos, como já vimos. Isso é significado pelas palavras do Senhor em Mateus 16;19: "Aquilo que ligares na terra será unido nos céus".
Pelo que foi dito sobre o primeiro uso ("admissão à Igreja Cristã terrena e, ao mesmo tempo, entre os cristãos no mundo espiritual"), conlcui-se que a importância do batismo não deve ser subestimada. Isso não quer dizer que não sejam salvos os não batizados, mas sim que o batismo é usado na Igreja segundo uma ordem estabelecida pelo Senhor. O simples fato de que, pelo batismo, o homem é levado a associar-se com os espíritos e anjos que recebem o Senhor em Seu Divino Humano testemunha sua importância. Mas esse ensinamento não deve ser mal compreendido. Por associação aqui não é significada a comunicação verbal com os anjos e espíritos. Essa associação é uma associação indireta pois é proibida a comunicação verbal com os espíritos. Esse relacionamento com as sociedades espirituais é uma comunhão de afeições, sobre a qual os Escritos declaram: "Os deleites nada são sem tais sociedades, que são postas em contato com os homens pelo Senhor, para que, por esse meio, eles possam ser introduzidos nos bens e verdades espirituais e celestiais" (A.C. 4067). Esses deleites e afeições resultam, portanto, do primeiro uso do batismo.
Consideremos, agora, o segundo e o terceiro usos do batismo. O segundo "é que pelo batismo o cristão pode conhecer e reconhecer o Senhor Jesus Cristo e segui-Lo" e o terceiro "é que o homem pode ser regenerado". Daí, é evidente que o primeiro uso é aplicado às crianças, mas o segundo e o terceiro existem apenas em estado potencial. Ainda que, pelo batismo, a criança seja introduzida nas afeições receptivas da fé, contudo ainda não pode ter fé, não pode reconhecer o Senhor, até que seja instruída sobre Ele. Depende, pois, de instrução o segundo uso do batismo. É por isso que os pais tomam a responsabilidade desse uso. Os pais devem refletir sobre esse aspecto do batismo. A promessa que fazem ao Senhor implica uma responsabilidade específica e essa responsabilidade não deve ser subestimada.
Nisso, o batismo da criança difere do batismo do adulto. Enquanto o adulto pode procurar a Palavra para instruir-se, a criança depende dos outros e a principal responsabilidade é a dos pais. Os primeiros degraus de instrução devem ser alcançados no lar, por cuja esfera espiritual as crianças de todas as idades são profundamente afetadas. É um dos principais ensinos dos Escritos que o que não é recebido com deleite é rejeitado, mas o que é recebido com deleite permanece. É por isso que o segundo uso do batismo, a instrução, em seus primeiros estágios é de responsabilidade do lar, pois o lar é o centro da vida da criança e na esfera do lar, entre os seres amados, a mente da criança é mais receptiva. É insubstituível, pois, a influência de um meio familiar sadio e religioso na mente infantil.
Devemos considerar que a instrução, porém, é um meio para alcançar um fim elevado (ela não é um fim em si mesma). Esse segundo uso do batismo é o meio pelo qual a criatura humana é introduzida no terceiro e no último uso, que é o da regeneração. Este uso, declaram os Escritos, "é o uso essencial, por amor do qual o batismo existe e é, assim, o uso final" (VRC 664). É, pois, evidente que a criatura humana não pode alcançar o uso essencial do batismo antes do estado adulto, isto é, até que possa, como por si mesma, evitar os males como pecados e praticar o bem.
Assim, para entrar no terceiro uso do batismo, que é a vida da regeneração, a criatura humana deve reconhecer que os males são pecados contra Deus e não apenas uma espécie de desvio social. Mas como a criança não pode fazer isso por si mesma, essa responsabilidade, segundo a promessa feita, deve ser assumida pelos pais, como já foi dito. O ato do batismo, portanto, não é uma simples cerimônia, mas um compromisso assumido com o Senhor. Como em qualquer outro compromisso, há uma promessa, que deve ser cumprida. Se não o for, isso concorrerá para a infelicidade de quem se comportar negativamente.
É interessante assinalar que os três usos do batismo (admissão à Igreja, reconhecimento do Senhor e regeneração) mostram a progressão do crescimento da criatura humana em três estágios: o primeiro estágio é constituído pelos primeiros passos em direção à vida espiritual pelo batismo; o segundo pela recepção do alimento espiritual representado pelo reconhecimento do Senhor; e o terceiro pela realização final de uma vida plena, constituída pela regeneração.
Podemos, assim, compreender a elevada significação do batismo e a razão pela qual os Escritos dão tanta relevância a esse sacramento.
Podemos, também, compreender com maior alcance, porque o Senhor determinou a Seus discípulos que batizassem todas as nações.
E, finalmente, tornam-se inteiramente claras à nossa compreensão as palavras do Senhor: "Quem crer e for batizado será salvo".

Amém.

Lições: Marcos 16;12 a 16
             VRC 658

Adaptação de J. Lopes Figueredo

************************
VRC 658
NECESSIDADE DO BATISMO

                        Que não somente as crianças, mas todos são inseridos pelo batismo entre os cristãos no mundo espiritual, é porque naquele mundo os povos e as nações foram distinguidos segundo suas religiões. Os cristãos estão no meio, os maometanos em torno dos cristãos, os idólatras de diversos gêneros depois dos maometanos e os judeus sobre os lados. Além disso, todos os que pertencem à mesma religião foram dispostos em sociedades no céu, segundo as afeições do amor a Deus e do amor para com o próximo; e foram dispostas no inferno em congregações, segundo as afeições contrárias aqueles dois amores, assim segundo as cobiças do mal. No mundo espiritual, pelo qual entendemos o céu e o inferno, todas as coisas foram distintamente postas em ordem no comum e em toda a parte, em gênero e espécie. Desta ordenação distinta depende a conservação de todo o universo e esta distinção não é possível, a não ser que cada um, depois de nascer, tenha algum sinal pelo qual se conheça que pertence à determinada religião (e faz parte de sua assembléia).