"SEGUE-ME"

Sermão pelo Rev.Karl R.Alden

"Segue-Me"


(Lucas 5:27)

Nos dias em que nosso Senhor andou entre os homens, muitas pessoas ouviram de Seus lábios estas palavras: "Segue-Me". No decorrer dos séculos, este chamado tem-se repetido incessantemente, e vezes sem conta as pessoas que o ouviram mudaram suas vidas. A mensagem não envelheceu; ainda hoje, nosso Salvador Humano, Jesus Cristo, nos chama: Segue-Me.
É um desafio que devemos encarar. Como iremos responder? Deixaremos para trás tudo o que temos para nos tornarmos pescadores de homens? Renunciaremos a nós mesmos e tomaremos a cada dia a nossa cruz? Levantar-nos-emos de nossa mesa de trabalho, como fez Mateus, para nos tornarmos um discípulo? Reconheceremos a voz do nosso Pastor neste chamado? ou arranjaremos uma desculpa para não seguí-Lo?  Talvez um pai falecido deva ser sepultado, ou talvez queiramos nos despedir de nossos amigos. Ou, como o jovem rico, iremos voltar atrás, com tristeza, e cair no erro de não seguir o Senhor porque temos muitas posses?
Uma religião genuína tem o poder de mudar vidas, e nossa religião tem este poder, que lhe foi conferido pela santidade de sua verdade.
Hoje, somos chamados a seguir não o Senhor em carne, mas a visão espiritual do Divino Humano do Senhor ressurrecto, Aquele que Se revelou a nós na Doutrina Celeste da Nova Jerusalém. O Deus infinito e Todo-poderoso em uma pessoa Divinamente Humana, a pessoa diante da Qual Tomé se curvou em humildade e disse: "Meu Senhor e Meu Deus". É este Senhor que a Nova Igreja foi chamada a seguir e a proclamar ao mundo, e a nossa tarefa de evangelização é poderosa.
Será que temos consciência da responsabilidade que foi posta sobre os nossos ombros? Podemos honestamente dizer em nossos corações que estamos cientes disto?
Para nós, os Escritos dão um novo sentido às palavras: "Segue-Me". Os Escritos revelam que aquele que segue o Senhor pode ser conjunto a Ele, assim como a Essência Humana tornou-se uma com o Pai. Lemos em João: "Para que todos sejam um; como Tu, ó Pai, estás em Mim, e eu em Ti, que eles também sejam um em nós" (11:21). A respeito desta expressão, os Arcanos dizem: "A conjunção dos homens com o Senhor também se efetua por meio de tentações e pela implantação da fé no amor, isto é, a não ser que o homem, pelas coisas que são da fé, receba a vida da fé, isto é, a caridade, não pode haver conjunção. É isto, somente, que quer dizer "Segue-Me", a saber, estar conjunto ao Senhor, como o Senhor, em relação à Sua Essência Humana, estava conjunto a JEHOVAH" (1737).
Seguir o Senhor é receber fé no amor. Há muitas maneiras de se receber a fé. A primeira espécie de fé é a que recebemos de nossos pais; chama-se "fé histórica". Ela existe para aqueles que nasceram no seio da Igreja; eles a receberam porque era a fé de seus pais. Mas ter esta espécie de fé não é ter "fé no amor". Esta fé histórica consiste apenas em ter confiança na autoridade de outrem.
Podemos receber a fé, também, por causa de amigos, ou por causa de considerações meramente mundanas, mas isto não é receber a fé no amor. Essa fé não tem nenhum poder de mudar a vida, nem pode conjungir o homem com o Divino Salvador. A fé se sustenta quando é recebida no amor, pois o amor é a vida do homem, e a fé edificada na vida molda o caráter e o espírito do homem.
A fé, se tomada isoladamente, não pode moldar o espírito; pode apenas mudar os padrões da mente; não se torna fé até que desça no amor. O amor acende e acumula as energias do espírito de sorte que o homem começa a encarar seu destino.
Os Escritos acrescentam e declaram ainda o seguinte: "Reconhecer o Divino Humano do Senhor e fazer os Seus mandamentos é seguí-Lo, porque somente os que fazem isso podem ser conjuntos ao Senhor... Tudo isto torna evidente que "seguir o Senhor" é ser conduzido por Ele e não por si mesmo: e somente aqueles que não se conduzem a si mesmos podem ser conduzidos pelo Senhor: quem se conduz a si mesmo é todo aquele que não afasta os males como pecados contra Deus".
Tendo em mente a conjunção do homem com o Senhor, observemos algumas passagens onde ocorrem as palavras do Senhor "Segue-Me". Notemos primeiramente em relação a alguns pescadores que estavam lavando suas redes junto ao Mar da Galiléia. O Senhor passou por ali e disse a André, Pedro, Tiago e João: "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens". Imediatamente eles deixaram suas redes e seu pai, e seguiram o Senhor. Suas vidas seriam profundamente mudadas pela atitude que tomaram diante daquele chamado. Se se tivessem recusado a deixar suas redes, morreriam e seriam esquecidos como milhares de outros pescadores galileus; mas como seguiram o Senhor Jesus, tornaram-se participantes de uma saga Divina e imortal. Seus nomes, assim como o nome da Maria que ungiu os pés do Senhor com óleo na festa de Simão, o leproso, serão proclamados sempre que o Evangelho for pregado; e isto em razão de eles representarem a conjunção com o Senhor, conjunção que acontece quando  reconhecemos Sua Divindade e obedecemos os Seus mandamentos, conjungindo nossa fé no amor com Ele. Quem faz isto, toca as vestimentas do Senhor e assim se torna imortal. Como o Senhor disse: "Porque Eu vivo, vós também vivereis".
Numa idade avançada, Swedenborg, que também era um pescador espiritual, foi chamado para ser o instrumento humano de transmitir a revelação que constitui o Segundo Advento do Senhor. O chamado para ele foi, também: "Segue-Me". E ele, deixando para trás sua fama terrena, deixando por terminar o livro que estava escrevendo na época, lançou-se num estudo ímpar da Palavra, escrevendo milhares de páginas de notas e índices, ilustrando seu desvelo quanto a recepção da fé no amor.
Nós também, se quisermos atender ao chamado, precisamos deixar de lado nossas redes mundanas e seguir o Senhor para nos tornar pescadores de homens. Pedro, Tiago e João foram os primeiros homens a ouvirem o chamado "Segue-Me". Eles representam a qualidade da mente que pode receber a fé no amor. Fé, caridade e obras da caridade são coisas que devem se tornar vivas realidades em nosso viver quando nos propomos a seguir as pegadas do nosso Salvador.
Felipe foi o seguinte a ouvir as palavras "Segue-Me". O nome "Felipe" quer dizer "o que ama os cavalos", e espiritualmente significa o amor pelo entendimento da Palavra. Este amor segue o Senhor quando o amor da Igreja cresce em nossos corações, pois é o amor de entender a Palavra que nos faz procurar as Escrituras e ler e meditar nos Escritos, pois eles testificam do Senhor.
Conforme o que está nos relatos, o último dos discípulos a quem o Senhor chamou dessa maneira foi Mateus. "E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-Me. E ele, levantando-se, O seguiu" (Mat.9:9).
Mateus estava assentado à mesa da coletoria e recebia os impostos que os romanos exigiam dos judeus. Antes de o Senhor passar por ali, Mateus representada a subjugação a César, o "dar a César o que é de César". Mas quando ouviu o chamado do Senhor, passou a representar a subjugação a Deus, isto é, "dar a Deus o que é de Deus".
Existe essa obra publicana a ser feita em todas as coisas de nossas vidas; as obrigações externas devem ser cumpridas e satisfeitas. Todavia, não devemos deixar que as coisas externas adquiram importância a ponto de se tornarem objetivos mesmos de nossas vidas, as metas pelas quais lutamos. Dentro dos padrões de nossa vida terrena, sempre haverá esse chamado de Mateus. Este publicano não hesitou; quando ouviu o chamado do Senhor, imediatamente levantou-se e O seguiu. Como a vida de Mateus se transformou por esse ato! Como resultado dessa decisão, ele veio a ser o autor humano do Evangelho que leva o seu nome... uma obra que circula em todo o globo, traduzida em centenas de línguas e dialetos. Mateus mesmo, conforme a tradição cristã, pregou por uns quinze anos em Jerusalém e depois saiu a converter os gentios, obra na qual ele finalmente morreu como mártir. Então, receber a fé no amor é mudar nossas vidas completamente; como Mateus, devemos fazer isto sem hesitação quando ouvirmos a voz do Senhor a nos chamar e dizer: "Segue-Me".
A importância de receber a fé no amor é testemunhada em muitas passagens onde ocorrem as palavras "Segue-Me". O Senhor diz: "As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu as conheço, e elas Me seguem". "Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz de estranhos". (João 10: 27 e 5). As ovelhas são mencionadas com um destaque especial na Palavra de Deus. O Senhor, mesmo, é chamado "Cordeiro de Deus". No cenário do juízo final, os justos são descritos como ovelhas à Sua mão direita, e os ímpios como bodes à Sua mão esquerda.
As ovelhas têm duas qualidades pelas quais se tornam representativas dos seguidores do Senhor. Primeira: são gregárias; não gostam de ficar sós; ao calor do dia, podem ser vistas reunidas à sombra de uma grande rocha; ou então podem ser vistas em rebanho a pastar na grama verde ou a beber em águas tranqüilas. À noite, gostam de estar juntas no abrigo, na proteção que lhes dão as paredes e a presença do guardador. Por estas razões, as ovelhas representam os homens e mulheres regenerandos da Igreja, que gostam de viver juntos e que têm prazer em desempenhar usos em favor uns dos outros.
A segunda qualidade que faz as ovelhas representarem os seguidores do Senhor é que elas gostam de seguir o seu dono. Diz-se que os bodes devem ser tangidos à frente, mas as ovelhas seguem atrás, e o que elas seguem é a voz do pastor. Como o Senhor disse: "As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu as conheço, e elas Me seguem".
Quanto a nós, ouvir a voz do Pastor é reconhecer a autoridade Divina dos Escritos. Este reconhecimento, quando feito de coração, torna-nos ovelhas de Seu pasto. Para nós, seguí-Lo é evitar os males como pecados contra Ele. Desta forma consentimos que nossas vidas sejam glorificadas pelo som de Sua voz, que nos chama para seguí-Lo através do combate da tentação até à vitória e à paz. Ao sujeitar nossa vontade à vontade d'Ele, podemos exclamar, como Davi: "O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Ele me faz repousar em verdes pastos, guia-me às águas tranqüilas, refrigera a minh'alma" (Salmo 23:1-3).
Ricas são as recompensas dos que seguem o Senhor, e profunda a satisfação que trazem. Entretanto, trazem-nos também responsabilidade e, muitas vezes, dores e sofrimento. Lemos em Lucas: "E aconteceu que, indo eles pelo caminho, Lhe disse um: Senhor, seguir-Te-ei para onde quer que fores. E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça" (Lucas 9:57-58). As "raposas" representam os enganos que acham guarida facilmente na mente irregenerada, e as "aves do céu" são as falsidades que esvoaçam em nossa mente justificando nossos malfeitos, nossas paixões e nossas tolices. Daí se pode ver que aquele homem, em sua fé cega, queria engajar-se numa causa que não podia seguir.
As aves do céu tinham seus ninhos, mas o Filho do homem, o Salvador, não tinha onde pousar Sua cabeça. Se se fala dos avanços neste mundo, as pessoas são todas ouvidos; mas se se fala do reino do céus, ninguém quer mais ouvir. Se alguém promete lhes ensinar como adquirir riquezas, posição social ou poder, elas pagarão qualquer preço para se tornarem discípulos de um tal indivíduo. Mas é só com grande dificuldade que se pode obter alguma audiência que realmente queira aprender sobre os tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
Somente os que são capazes do supremo discipulado é que podem responder pronta e afirmativamente ao chamado "Segue-Me", como fez Mateus. Com muita freqüência, pedimos algum tempo antes de atender. O chamado é claro. Nós não recusamos de imediato, mas respondemos: "Senhor, eu Te seguirei, mas deixa primeiro eu sepultar meu pai" ou, como disse outro homem: "Senhor, eu Te seguirei, mas deixa primeiro me despedir dos que estão em minha casa".
O hábito de adiar para amanhã a recepção da fé no amor é um hábito mortal, porque o amanhã nunca chega. A decisão deve ser feita no presente em que estamos vivendo. Os erros do passado estão fora de nossa capacidade de consertá-los; nossas boas intenções para o futuro são matéria dos sonhos que fabricamos. Mas o presente é vivo, é nosso, onde devemos trabalhar, viver e tomar decisões. Hoje, agora, devemos encarar o desafio. Pois aqueles que vieram ao Senhor e disseram: "Eu te seguirei, mas..." Ele deu respostas que até pareceram cruéis em sua severidade: "Deixa os mortos sepultarem os seus mortos, mas vai tu e prega o reino de Deus". E "Ninguém que, tendo lançado mão do arado, olha para trás, é digno do reino de Deus".
Com efeito, são muitos os que lançaram mão do arado e olharam para trás. Depois de o Senhor ter alimentado cinco mil pessoas e ter voltado a Cafarnaum, onde pregava a doutrina que ensinava que Ele era o pão vivo que desceu do céu; onde ensina a Seus seguidores que, se não comessem de Sua carne e não bebessem do Seu sangue não teriam parte n'Ele; depois de lhes ter ensinado esta verdade espiritual, lemos: "Desde  então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com Ele. Então Jesus disse aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe pois Simão Pedro: Senhor, para onde iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna". (João 6:66-68).
Como foi nos dias antigos, também é hoje. Há alguns que atendem ao chamado uma vez; num instante deixam suas ocupações mundanas, suas redes, ou sua mesa de coletores, e seguem-No, recebendo a luz da fé no amor ardente da verdade.
Há outros que dão desculpas: algum dia -e estão convencidos disso- algum dia farão muito pela Igreja em suas vidas, mas agora têm tarefas mais urgentes a fazer -mortos que devem ser sepultados, amigos do seu próprio, males e falsidades com quem têm vivido desde a infância, aos quais querem ainda abraçar e com eles se alegrar, antes de deixá-los. Pouco sabem que, ao olhar para trás, para aqueles estados pervertidos, estão fazendo como a mulher de Lot -uma estátua de sal.
Outros ainda se tornam refratários ao chamado quando lhes faltam o pão e o peixe naturais. Quando percebem que o chamado da Igreja é para um banquete espiritual de caridade e sabedoria; quando compreendem que ser membro da Igreja implica em renunciar a si mesmos; quando lhes fica claro na mente que precisam a cada dia tomar a sua cruz, então não querem mais seguir o Senhor. Quando vêem que a essência da religião é resistir aos males, coisas que eles amam como bens, e rejeitá-los como pecados contra deus, exclamam: "Duras são estas coisas. Quem poderá ouví-las?"
Mas seguir o Senhor Jesus Cristo não é andar na escuridão. O Senhor disse: "Eu sou a luz do mundo: quem Me segue não andará em trevas" (Jo.8:12). E quando Swedenborg, no mundo dos espíritos, teve vontade de visitar novamente o templo da sabedoria, um anjo guia lhe disse: "Segue a luz e encontrarás" (Am.Con.56). E quando ele pediu ao anjo que explicasse aquela instrução, ouviu: "Quando nos aproximamos do templo, nossa luz brilha cada vez mais. Por isso, segue a luz de acordo com o aumento do brilho; porque nossa luz procede do Senhor como sol, e daí, considerada em si mesma, é Sabedoria".
Possa o Senhor, a quem nos esforçamos por seguir, nos conceder que vejamos a luz. E que nosso estudo constante dos Escritos, nossa devoção e lealdade às coisas da Igreja façam com que essa luz, que marca Sua presença em nossas mentes, cresça e aumente até se tornar uma fé viva recebida no amor a Deus e ao nosso próximo. Assim teremos o poder e a força interior, quando ouvirmos o chamado, para tomar a nossa cruz, e seguí-Lo.

Amém.


Lições: Lucas: 9:51-62; Mateus 4:18-22; 9:1-14; AC 1737
Tradução por C.R.Nobre