"O pão nosso de cada dia"

Sermão pelo Rev. Ormond Odhner

"O pão nosso de cada dia dá-nos hoje"

(Mt. 6:11).

Manda a ordem Divina que a pessoa peça aquilo que o Senhor está sempre querendo lhe dar. Se o Senhor desse os dons da vida espiritual sem que a pessoa lhos pedisse, ela não os apreciaria nem os faria serem seus. Mas quando a pessoa ora pedindo aquilo que o Senhor lhe quer dar, então ela valoriza o objeto de sua súplica; então ela quer descobrir, por meio da revelação, os meios de obter o que pediu e, quando o recebe, faz disso parte de sua vida.
O pão, compreendido como a comida e a bebida que nutrem nossos corpos naturais, o Senhor dá a todos sem que O peçam. E há mesmo uma espécie de pão para a mente ou espírito que o Senhor concede a todos, quer orem por isso ou não, assim como Ele faz o Seu sol luzir sobre maus e bons, e faz a chuva cair sobre justos e injustos. O corpo físico se edifica por meio dos elementos nutritivos que estão no alimento natural. O corpo espiritual - a mente em sua forma - se edifica de bens e verdades, de amores e afeições, conhecimentos e idéias. Com muitos, hoje, sua mente ou espírito se alimenta somente com os conhecimentos e ciências naturais a respeito das coisas físicas e sociais, além dos amores e afeições que a vida na terra produz. Esses não têm necessidade alguma de oração: o mal a pessoa, sem pedir, recebe naturalmente em seu espírito.
O alimento físico, porém, e mesmo esse alimento intelectual da mente, provido pelo conhecimento natural, científico e social, como também pelas afeições e amores terrenos, é um alimento que perece; não é esse o pão que dura para a vida eterna. Portanto, o pão pelo qual suplicamos, quando dizemos conforme o que o Senhor nos ensinou, "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje", é algo que está acima disso, além do pão material para o corpo e além do alimento intelectual e afetivo para o entendimento e a vontade naturais.
Os bens e veros Divinos da revelação são o verdadeiro alimento do espírito, e a Palavra do Senhor é a única fonte desse alimento que sustenta para a vida eterna. O que estamos pedindo, então, é pelo alimento que está na Palavra; estamos pedindo o privilégio de cada dia lermos a Palavra em busca desse pão.
A Palavra foi dada para todos. Pode ser lida com devoção ou sem devoção; pode ser lida e literalmente compreendida. Mas sem a oração, sua leitura não provê os nutrientes do espírito. Sem uma atitude santa, ela não pode dar esse pão cotidiano, adaptado à vida de cada um. Porque as necessidades espirituais do homem são determinadas por seu próprio estado espiritual; o que serve de alimento espiritual para um é diferente do que serve para outro.
Na lição que lemos nas Doutrinas Celestes, os meios de obtermos esse pão vivo de cada dias foram descritos de uma forma simples e sábia: "Quando o homem afasta os males como pecados ele aprende a cada dia o que é a boa obra, e a afeição de fazer boas obras cresce nele, bem como a afeição de conhecer as verdades por causa do bem; porque na proporção que ele conhece as verdades, também pode praticar obras mais plena e mais sabiamente, e assim suas obras se tornam mais verdadeiramente bens. Deixa, portanto, de te perguntares: `Quais são as boas obras que eu devo fazer, ou que bem devo eu fazer para receber a vida eterna?' Apenas deixa os males como pecados e volta-te para o Senhor, e o Senhor te ensinará e te guiará".
Afasta os males como pecados e volta-te para o Senhor, e Ele diariamente te dará o pão da vida. Diariamente Ele Se revelará a ti - Sua vontade e Sua sabedoria - nos negócios pessoais de tua vida diária, dando-te suficientes inteligência e sabedoria espirituais para sustentar tua a vida de teu espírito e fazê-la crescer. Afasta os males e volta-te para o Senhor, e ele diariamente te dará inteligência suficiente para que entendas as verdades Divinas que satisfarão tua sede espiritual por entendimento; Ele diariamente te dará sabedoria suficiente para satisfazer tua fome espiritual e te fazer capaz de escolher o que é bom e justo em todas as circunstâncias que te confrontarem na vida.
Esse é o verdadeiro pão que desce dos céus, o pão da vida: o alimento espiritual que o Senhor adapta às necessidades de nossos estados espirituais. É a única coisa que pode saciar a fome e a sede da alma, não com o bem e a verdade em geral, mas com os elementos particulares de que ela necessita a cada momento.
O grão de trigo, o fruto ou o legume, assim como qualquer alimento físico, não dão sustento ao corpo enquanto não forem colhidos, preparados e ingeridos pelo corpo. A Palavra do Senhor é como um jardim ou seara onde estão o verdadeiro alimento da vida humana. Assim como o fruto tem de ser colhido na plantação, também a Palavra do Senhor tem de ser aberta e lida. A preparação do alimento para ser consumido corresponde a certas funções de eclesiásticos e leigos: o ministro estuda, pesquisa e escreve sermões e instruções doutrinais, e o leigo ouve, lê, reflete e forma para si doutrinais a respeito das questões de sua vida. E assim como o alimento tem de ser efetivamente ingerido, assim também as verdades têm de ser compreendidas, admitidas e vividas.
Não são realmente o grão do cereal nem o vinho, por si mesmos, que nutrem o corpo, mas os elementos nutritivos de que são compostos. E essa nutrição se processa sem a intervenção do homem: é a sabedoria que o Senhor concede intimamente à alma humana que a capacita, sem que o homem o saiba, a tirar dos alimentos os nutrientes necessários para sustentar a vida do corpo em todos os momentos, refazer as perdas do organismo e prover o crescimento futuro. O homem não tem consciência de nada disso, mas a alma, que incorpora os elementos no sangue e faz o sangue fluir por todo o corpo, a cada parte e cada membro, órgão e víscera, a alma é que tira do alimento aquilo exatamente de que o corpo necessita.
Apesar de o homem não ter consciência desse processo, é assim que seu corpo obtém o pão cotidiano. O homem pode apenas colher o alimento que o Senhor fez crescer, prepará-lo ao seu gosto, levá-lo à boca, mastigar e engolir. O Senhor, por meio da alma, faz todo o resto, sem a ajuda ou interferência do homem.
Tão amoroso é o cuidado do Senhor, tão elevada a Sua sabedoria, que a cada momento, cada menor partícula do corpo, cada célula, está recebendo seu nutrimento necessário. Para isso, basta que, da parte do homem, ele faça conscientemente duas coisas apenas, duas coisas naturais que representam os atos de afastar os males e de voltar-se para o Senhor. Essas duas coisas são: evitar os alimentos nocivos, venenosos ou indigestos, e buscar a instrução natural e científica para determinar que espécie de alimento pode prover ao seu corpo os elementos nutrientes. Ele não precisa fazer mais nada. Os elementos nutritivos serão absorvidos pelo sangue e distribuídos pela corrente sangüínea a todo o corpo onde houver necessidade de cada elemento específico.
O homem pode conhecer os vários elementos nutritivos que o corpo requer; pode saber que tipo de alimento provê aqueles elementos; e pode prepará-los para que possam ser ingeridos com prazer e em quantidade suficiente para satisfazer seu apetite. Assim, a menos que ele venha a ingerir alimentos nocivos, indigestos ou venenosos, o Senhor, operando através de sua alma, tirará do alimento ingerido aquilo de que o corpo necessita. Isto será sempre o bastante.
Assim o homem recebe o pão cotidiano para a sua vida natural, e isto corresponde exatamente às ações que ele deve praticar para que receba o pão da vida espiritual.
São poucas as pessoas que realmente ingerem alimentos nocivos ou venenosos. No entanto, muitas são as que enchem sua mente ou espírito com o mal e o prazer de fazer o mal. O mal realmente tem bom sabor para elas, e os bens e verdades lhes são tediosos. Elas têm verdadeiro apetite pelo que é sensual, imoral e mundano, mas têm fastio pelo que é espiritual. E o fastio pelas coisas espirituais é que faz com que as matérias doutrinais sejam tediosas, enfadonhas e aborrecidas.
Quando a pessoa enche sua mente com tais alimentos nocivos ao espírito, o Senhor não pode tirar de tais elementos o nutrimento espiritual de que sua alma necessita, tanto quanto a alma não pode, do alimento venenoso, tirar nutrientes saudáveis para o corpo.
Os Escritos nos ensinam que um princípio pode dominar uma afeição. Eles dizem que, quando a pessoa evita certos alimentos de que gosta, por serem eles prejudiciais, e se abstém deles, ela acaba deixando de gostar de tais alimentos, e chega a detestá-los. De fato, a persuasão ou princípio a respeito do alimento fez com que se modificasse o gosto ou desejo que sentia por eles (DE 4613m). Por outro lado, quando falam de prazeres adquiridos, os Escritos dizem que o homem aprende a gostar do alimento que come apenas por saber que lhe é salutar (DP 321).
Dá-se a mesma coisa com o alimento espiritual. O ser humano tem de nascença prazer nas cobiças e más afeições, bem como nas falsas idéias e pensamentos que justifiquem ou desculpem seus males. Todavia, se ele começa a evitar essas coisas como pecados, esse prazer se mudará até que, finalmente, se torne desprazer e aversão por tais coisas. E, do mesmo modo, ainda que no começo ele não tenha prazer real pelas coisas que são os alimentos espirituais saudáveis e verdadeiros, os quais podem ser obtidos na Palavra, se ele insiste e continua a buscá-los pela leitura e meditação, logo começará a sentir prazer e apetite por eles, passando a adquiri-los a cada dia porque são espiritualmente saudáveis para sua alma.
Da mesma forma, a pessoa não precisa se preocupar em tentar obter exatamente determinado tipo de sabedoria ou inteligência que ela pensa necessitar em certo momento. É evidente que a pessoa pode fazer estudos específicos sobre certos assuntos, mas o Senhor conhece as necessidades espirituais melhor do que ela e, como acontece com o alimento natural, todo alimento espiritual tem em si todos os elementos necessários para o sustento da vida do espírito; uma vez que o homem o busque e receba pela leitura, meditação e prática, o alimento espiritual ficará em sua mente e será parte dela eternamente. Se a pessoa tem o hábito de ler os ensinamentos do Senhor e meditar neles a cada dia, haverá sempre um alimento espiritual disponível para ela, a fim de satisfazer necessidades específicas em sua vida diária. E seu prazer com essa nutrição espiritual aumentará perpetuamente.
O que é preciso, então, é que a pessoa simplesmente se afaste do mal e busque para si o alimento espiritual que o Senhor lhe oferece a cada dia e a cada semana; então o Senhor lhe dará o necessário pão da vida. Diariamente crescerão sua inteligência para entender o que é verdadeiro e sua sabedoria para escolher o que é bom, e sua mente terá respostas suficientes para todas as questões e negócios de sua vida individual diária.
Esta é razão pela qual as Doutrinas Celestes nos ensinam que o homem não tem de se preocupar em saber e em determinar que tipo de bem ele deve fazer, que verdade em particular ele deve entender; antes, deve se preocupar em evitar os males e voltar-se para o Senhor. Os bens que o homem faz antes de evitar os males são bens meritórios, contaminados, inadequados para as necessidades da vida, escolhidos com a inteligência falha e tortuosa do proprium mortal. Mas quando se evita os males como pecados, e quando se volta para o Senhor, recebe-se então o verdadeiro pão da vida celeste, o pão de Deus que desce do céu.
É por este pão que devemos orar ao Senhor. E devemos orar por ele, por essa inteligência para entendermos o que é verdadeiro, essa sabedoria para escolhermos o que é reto e bom - esse pão que nos é dado pelo Senhor e que é realmente a carne e o sangue do Divino Humano do Senhor nosso Deus.
Esse alimento espiritual é representado pelo pão e pelo vinho na Santa Ceia. "Minha carne é comida mesma, e Meu sangue é bebida mesma". O homem deve recebê-los para que tenha a vida eterna. O Senhor deseja dá-los de graça a cada pessoa, preparados e adaptados para cada estado da vida, plenamente suficiente para sustentá-lo espiritualmente em todas as questões e problemas do dia-a-dia. Mas Ele só pode concedê-los à pessoa que sinceramente evita os males como pecados e volta-se para Ele na Palavra.
"Deixa, portanto, de te perguntares: `Quais são as boas obras que eu devo fazer, ou que bem devo eu fazer para receber a vida eterna?' Apenas deixa os males como pecados e volta-te para o Senhor, e o Senhor te ensinará e te guiará".

Amém.

Lições: Mateus 6:1-21; AE 979:2.
AE 979:2 - "Agora pode ser visto o que se entende por boas obras, a saber, que são todas as obras feitas pelo homem quanto os males foram removidos como pecados. Pois as obras feitas depois disso são do homem apenas como se fossem dele, porque são feitas pelo Senhor, e todas as obras feitas pelo Senhor são boas e são chamadas bem da vida, bens da caridade e boas obras. Por exemplo, todos os juízos de um juiz que tem a justiça como seu fim, e que a venera e ama como se fosse Divina, e que detesta as decisões infames tomadas por causa de recompensa ou amizade ou pelo favor. Assim ele visa ao bem de seu país ao fazer a justiça e o juízo reinarem ali como no céu; e assim ele visa à paz de cada cidadão inocente e o protege da violência dos malfeitores. Todas estas são boas obras. Como também todos os serviços dos administradores e negócios dos comerciantes são boas obras quando eles evitam ganhos ilegais como pecados contra as leis Divinas. Quando o homem afasta os males como pecados, ele aprende a cada dia o que é a boa obra, e a afeição de fazer boas obras cresce nele, bem como a afeição de conhecer as verdades por causa do bem; porque na proporção que conhece as verdades, também pode praticar obras mais plena e mais sabiamente, e assim suas obras se tornam mais verdadeiramente bens. Deixa, portanto, de te perguntares: `Quais são as boas obras que eu devo fazer, ou que bem devo eu fazer para receber a vida eterna?' Apenas deixa os males como pecados e volta-te para o Senhor, e o Senhor te ensinará e te guiará".