ADORAÇÃO DOS MAGOS

Sermão pelo Rev. Martin Pryke

"E tendo nascido Jesus em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo:
Onde está aquele que é nascido rei dos judeus?
Porque vimos a sua estrela no oriente e viemos para adorá-Lo".


(Mateus 2;1 e 2)

                        O Senhor tinha nascido de acordo com a promessa feita pelo anjo a Maria. Ele foi envolto em panos e posto numa manjedoura, porque não havia lugar para Sua mãe na hospedaria. A boa-nova havia chegado ao conhecimento dos pastores enquanto guardavam os rebanhos durante a vigília da noite. Logo que tiveram conhecimento do fato, partiram apressadamente para o local do nascimento, a fim de adorarem o Messias em Seu berço humilde. No oitavo dia após o nascimento, o Senhor foi circuncisado e recebeu o nome de Jesus, tudo de acordo com as antigas leis judaicas. No quadragésimo dia, ainda em cumprimento à lei, Ele, como filho primogênito, foi levado ao templo e apresentado a Deus. Ali, foi reconhecido como Cristo pelo profeta Simeão e pela profetisa Ana. Em seguida, foi levado para uma casa em Jerusalém.
Quando o Senhor nasceu na Judéia, uns magos do oriente viram uma estrela de brilho extraordinário a qual, segundo eles haviam aprendido, anunciava o nascimento do Messias, que há muito tempo tinha sido profetizado. Prepararam-se eles para sua longa viagem e foram guiados pela estrela desde seu país de origem até Jerusalém. Ali a estrela desapareceu e eles, então, indagaram: "Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a Sua estrela no oriente e viemos para adorá-Lo". Os judeus, versados nos livros da Lei, sabiam pelas profecias do Velho Testamento que o Senhor nasceria em Belém. Ouvindo isso, os magos se dirigiram para aquela cidade, e a estrela reaparecendo, guiou-os para a casa onde se encontrava o menino em Belém. Ali, os magos abriram seus tesouros e ofertaram dádivas ao menino: ouro, incenso e mirra.
A adoração dos magos é uma parte muito conhecida da história do Natal. Nenhum de nós pôde fugir, na infância e mesmo na idade adulta, ao encantamento que nos despertam os presépios representando o nascimento do Senhor. Além do nascimento do menino, ficamos maravilhados também com o fato de homens sábios, guiados por uma estrela, deixarem seu próprio país e iniciarem tão longa jornada para adorarem uma criança que nascia. Para nossa imaginação, terem os magos visto a estrela no céu e a acompanharem até o local do nascimento constitui um milagre. Maravilhamo-nos, igualmente, quando pensamos que tanto os pastores como os magos, tanto os mais humildes como os mais ilustres, tanto os judeus como os gentios, foram guiados para adorar o Menino e louvar o seu nascimento. E começamos a compreender porque era tão importante o nascimento do Senhor. Era necessário que os homens de todos os lugares e de todas as condições sociais tivessem conhecimento da vinda d'Aquele que nos traria a luz e o calor espirituais e nos salvaria da destruição que ameaçava a espécie humana desde o tempo de sua queda no final da Antiquíssima Igreja.
Os Escritos da Nova Igreja nos ensinam que, logo que começou a queda da Antiquíssima Igreja (Igreja Adâmica), foi predita a decadência a que chegaria a humanidade. Ensinam, também, que a Divina Providência operou, então, no sentido de redimir os homens das pavorosas consequências de sua própria loucura e que punham em perigo a liberdade da raça humana. Assim, foi previsto que a salvação seria assegurada por Deus Mesmo, que assumiria o Humano e venceria o poder dos infernos.
Ficou evidenciado que tal encarnação seria necessária e foi proclamado aos homens que ela se realizaria. Daquela época em diante, houve uma série de profecias referentes à vinda do Messias, as quais objetivaram não somente trazer esperança ao mundo em suas trevas, mas também revelar o poder do Divino Humano; somente Deus Homem poderia ter contacto com os homens.
Tais profecias começaram a ter curso no tempo da Igreja Noética (Igreja Antiga), que possuía uma revelação em forma escrita, a Palavra Antiga, que não conhecemos. Uma das primeiras daquelas profecias contidas na Palavra Antiga foi transcrita por Moisés no livro de Gênesis: "Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a besta, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás e pó comerás todos os dias de tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá na cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gênesis 3;14 e 15). Aqui, pela semente da mulher, é significado o Senhor que viria ao mundo para destruir o poder da serpente, pois esta havia induzido os homens da Igreja Adâmica ao primeiro ato de desobediência. Os poderes do mal feririam, no futuro, o calcanhar do Senhor, isto é, atacariam o Humano que Ele assumiria, para destruí-Lo; mas o Senhor feriria a cabeça da serpente, isto é, subjugaria os infernos.
É, pois, importante que nos lembremos de que as profecias sobre o Advento do Senhor eram bem conhecidas dos contemporâneos da Igreja Noética. Essa Igreja, ainda que sediada na terra de Canaã, espalhava-se através da região que hoje chamamos de Oriente Médio e até além de suas fronteiras, o que significa que as profecias sobre o Advento do Messias eram conhecidas em toda a parte. Essas profecias não se perderam por ocasião da queda da Igreja Noética e estabelecimento da Igreja Israelita, sendo conhecidas durante o tempo em que o Velho Testamento foi escrito. Durante esse tempo, e mesmo mais tarde, tais profecias eram conhecidas por aqueles poucos estudiosos descendentes da Igreja Noética.
Os Escritos nos ensinam que o profeta Balaão era um daqueles que tinham conhecimento da Palavra Antiga e da ciência das correspondências. Ele ainda adorava e obedecia a um Deus. Assim, quando foi inspirado a abençoar os israelitas, ele se referia ao Messias que havia de nascer entre eles como sendo uma estrela, de acordo com o que lemos no versículo 17 do capítulo 24 do livro de Números: "Vê-Lo-ei, mas não agora; contempla-Lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacob e um ceptro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas e destruirá todos os filhos de Set".
Vários homens ilustres e bons viveram muito tempo depois de Balaão. Estudaram os antigos manuscritos e a ciência das correspondências. Entre eles, encontravam-se os que tinham conhecimento, pelos seus estudos, de que o Messias viria como o Salvador do mundo e inauguraria uma nova era na terra. Entre tais homens devem ser enumerados os magos. O Evangelho nos diz que eles viram a estrela e a seguiram, afim de adorarem o menino.
Como Balaão, eles sabiam que o Messias nasceria entre os descendentes de Jacob. Quando chegou o tempo, os seus olhos espirituais foram abertos para ver a estrela brilhante, como nunca tinham visto antes na terra, compreenderam as antigas profecias e, através do conhecimento das correspondências, perceberam que ela anunciava a chegada do Messias por Quem esperavam. Seu deslumbramento e alegria não tiveram limites; começaram a viagem e seguiram a orientação da estrela.
Os Escritos nos dizem que os magos vieram da Síria, o que, tomado em sentido mais amplo, pode significar o norte da Arábia e da Mesopotâmia. Como lemos nos Arcanos Celestes: "Na Síria se encontravam os remanescentes da Igreja Noética e, portanto, permaneciam naquele país os conhecimentos do bem e da verdade". Alguns daqueles que conheciam esses remanescentes dos antigos conhecimentos os transformaram em mágicas, prinicipalmente no Egito. Mas aqueles a quem a Palavra se refere como sábios ou magos "não se entregaram a essas práticas, compreendiam tais conhecimentos e os ensinavam no plano natural. A sabedoria daquele tempo consistia nessas coisas".
Os magos seguiram a estrela para adorar o Messias, cujo advento lhes tinha sido revelado. Vencendo grande e penosa distância, levaram presentes como sinal de culto: ouro, incenso e mirra. Esses três presentes representavam o culto interno de acordo com a significação de cada um. O ouro representava o bem celestial, o incenso o bem espiritual e a mirra o bem natural. A vida do bem é nosso verdadeiro presente ao Senhor, é o genuíno culto interno que nos leva à regeneração.
Oferecer presentes a reis e sacerdotes era, nos tempos antigos, um ritual sagrado, significando iniciação. Os magos tinham conhecimento disso, bem como da significação dos presentes que eles escolheram. Segundo seu conhecimento das correspondências, escolheram os presentes que representavam o culto interno do espírito que, sobre todas as coisas, desejavam depor aos pés de seu Salvador.
A história dos magos tem, assim, uma significação muito maior do que uma história imaginada para distrair-nos e maravilhar-nos: ela é uma lição e uma inspiração. Se seguirmos os conhecimentos do bem e da verdade que aprendemos na Palavra, como os magos seguiram a estrela; se depusermos aos pés do Senhor a oferta de nossa vida em processo de regeneração, uma vida de amor a Ele e ao próximo, como os magos depuseram seus presentes; se, sinceramente, continuarmos nossa viagem rumo à regeneração, então, poderemos ver nosso Salvador, poderemos ajoelhar-nos diante de Seu trono e servi-Lo para sempre.

Amém.

Lições : Mateus 2;1 a 12
Números 24;15 a 19
A.Celestes 9293 (porções)
Adaptação de J. Lopes Figueredo
A.C. 9293 (porção)

O QUE DEVEMOS OFERECER AO SENHOR

                        Por ouro, incenso e mirra são significadas todas as coisas pertencentes ao bem do amor e ao bem da fé para com o Senhor. Por ouro são significadas as coisas pertencentes ao bem do amor; por incenso as coisas pertencentes ao bem da fé; e por mirra as que pertencem ao bem do amor e ao bem da fé nos externos, isto é, no plano natural. Os magos vindos do oriente ofereceram essas coisas (ao Senhor), porque persistiam, entre os seus contemporâneos, os conhecimentos e a sabedoria das coisas celestiais e divinas. Esses conhecimentos e sabedoria provinham dos homens dos tempos antigos e ainda eram compreendidas e percebidas no tempo dos magos. Os antigos sabiam que todas as coisas se correspondem e são representativas, portanto, têm uma significação (uma correspondência). Isso é evidente nos mais antigos livros e monumentos dos gentios. Por conseguinte, os magos sabiam que o ouro, o incenso e a mirra significam os bens que devem ser oferecidos a Deus. Eles sabiam também, pelos escritos proféticos da Igreja Antiga ou Noética, que o Senhor devia vir ao mundo e que lhes apareceria uma estrela, sobre a qual Balaão, que também era filho do oriente, havia profetizado.