OS DEZ MANDAMENTOS

Sermão pelo Bispo Elmo C. Acton

Então falou Deus todas estas palavras


 (Êxodo 20:1)

 

                        Os Escritos dizem que os Dez Mandamentos, especialmente os sete últimos, eram conhecidos pelos israelitas quando ainda estavam no Egito. Então surge a pergunta: Por que foram eles dados a Moisés depois no monte Sinai, acompanhados de tantos sinais e maravilhas, causando pânico ao povo? A passagem "Então falou Deus todas estas palavras..." é a própria resposta. Essa frase nos mostra que a lei passou a ser Divina, pois as palavras foram proferidas pela própria Divindade. Os Mandamentos eram conhecidos antes, mas eram considerados apenas como leis civis e morais, como produto da reflexão e da experiência do homem, e, portanto, sujeitos a modificações. Embora conhecidos pelos egípcios, poderiam ser modificados no curso do tempo.
Revelados como "palavras de Deus", eles se tornaram Divinos e eternos e passaram a recipientes da autoridade Divina. Foram, deste então, estabelecidos como leis permanentes da vida, tanto para os homens espirituais como para os homens naturais. Descumpri-las é pecar contra Deus e desrespeitar os semelhantes. Nenhuma sociedade no céu e na terra poderia subexistir sem que os Mandamentos constituíssem sua lei básica. Anjos e homens ficaram sujeitos a essas leis e, portanto, os Escritos falam delas como "fogo purificador oriundo do íntimo do céu".
A Palavra de Deus é a Divina Verdade e os Dez Mandamentos contêm, em sua forma literal, todas as leis da vida natural e da vida espiritual. Toda a vida da religião repousa nos Dez Mandamentos. Sem obediência a eles, não há crença viva em Deus nem em qualquer vida espiritual. "Se vós me amais, guardai meus Mandamentos" (João 14:15). Pelas palavras do Senhor foram feitos os céus e todas as coisas, como lemos em João: "No princípio era a Palavra... e todas as coisas foram feitas por ela". A Divina Verdade procede do Divino Bem é a origem da criação e da preservação das coisas criadas e, com relação à vida, todas as verdades estão reunidas e repousam nos Dez Mandamentos. Sem o reconhecimento deles como leis Divinas, toda a vida espiritual se evaporaria.
Muitos homens não reconhecem a importância dessas leis, porque elas lhes parecem oriundas da experiência e do raciocínio humanos. Parece-lhes que elas são o resultado de milhares de experiências e que foram impostas às sociedades pela força ou pelo consenso da maioria. Não percebem que nelas há uma inspiração superior e crêem que podem ser mudadas com o transcurso do tempo. Não percebem que a ordem e a verdade as integram e que nisso consiste sua perfeição. Sem essas leis, nenhuma sociedade humana poderia subsistir, como é confirmado pela história.
Uma das grandes falsidades do pensamento moderno é que as verdades morais e civis são matéria apenas da opinião humana e que a sociedade, por sua própria autoridade, pode inventar suas regras e sua ordem. Essa opinião é uma aparência da realidade. Se examinarmos atentamente os códigos de Direito das sociedades civilizadas, verificaremos que eles todos se fundamentaram nas verdades contidas nos Dez Mandamentos.
A crença em Deus implica o reconhecimento de que Ele é o criador e o conservador da vida existente no Universo. Admitindo que os recipientes dessa vida não se submetessem às verdades e à ordem estabelecidas por Deus, é evidente que eles teriam que fazer por si mesmos as leis que governariam suas vidas e então teríamos uma variedade infinita de leis antagônicas e destrutivas, pois, sem princípios espirituais, os homens destruiriam uns aos outros.
Mas isso é contra a sã razão e, com o passar do tempo, levaria ao caos definitivo. Se observarmos bem, podemos ver que, em cada plano da vida, há uma ordem superior, embora nem sempre a compreendamos. Se desobedecermos a essa ordem, poderemos destruir-nos. As obras e construções dos homens devem obedecer à lei e à ordem pré-estabelecidas ou tombarão em ruínas. Há também leis para disciplinar os governos e a economia dos países, embora quase sempre desobedecidas.
Em várias passagens da Palavra, lemos que o Senhor condenou aqueles que não cumprem a lei e a ordem e exploram os pobres e os desamparados. Por que a lei e a ordem devem ser preservadas? A resposta, como já vimos, é que a desobediência a elas leva à destruição e ao caos. Todas as coisas foram criadas e são preservadas pela Palavra de Deus, de acordo com a Divina Ordem procedente do Divino Amor.
Somente a criatura humana pode reconhecer a ordem, com relação ao mundo natural e ao mundo espiritual, porque ela foi dotada de racionalidade, o que lhe permite compreender a importância da existência dessa ordem, da qual resultou a criação e a conservação do universo. É da manutenção dessa ordem que resulta a organização em que repousa a vida das sociedades humanas neste mundo e das sociedades angélicas no plano espiritual.
Em várias passagens dos Escritos se fala do "senso comum" existente na criatura humana. Se o "senso comum" não for destruído por uma falsa educação ou por um amor próprio descontrolado, o homem pode reconhecer facilmente as verdades universais da vida moral dadas nos Dez Mandamentos, verdades que são mantidas por constante influxo do Senhor.
"Então falou Deus todas essas palavras..." segundo nosso texto. Os Mandamentos que se seguem não somente são a lei moral das sociedades, mas também são a lei espiritual pela qual o Reino de Deus é estabelecido em cada criatura humana. Elas são as leis da vida natural e da vida espiritual de cada indivíduo e, ao guardar obediência a elas como leis Divinas, a criatura alcança sua verdadeira humanidade, tornando-se a imagem e a semelhança de Deus.
Obedecer aos Mandamentos como lei social é diferente de obedecer a eles como lei Divina. Obedecer como lei Divina é evitar os atos nela proibidos como sendo destrutivos não somente do bem da sociedade, mas também da própria condição humana. Aquele que evita os males que os Mandamentos proíbem, os evitam porque são pecados contra as leis Divinas. Quando transgride os Mandamentos, reconhece que pecou contra Deus, mesmo quando sua transgressão somente é de seu conhecimento e não é percebida por outras pessoas. Se fala mal de seu semelhante, reconhece que pecou, porque prejudicou sua reputação.
Por outro lado, aquele que evita os males proibidos nos Dez Mandamentos somente como pecados contra a sociedade não reconhece o mal em si mesmo, porque ele está apenas no plano material e somente toma conhecimento dele quando esse mal se torna conhecido e pode prejudicá-lo. Chega à conclusão de que não pratica males quando estes não são conhecidos ou quando pode desculpar-se. Portanto, não os evita segundo sua intenção, e não pode livrar-se deles quando a ocasião para sua prática se apresenta. Voltam a praticá-los sem qualquer constrangimento.
Assim como a libertação da escravidão do Egito foi alcançada somente pela obediência à Palavra de Deus, assim também a libertação de cada um de nós da escravidão dos maus amores e das cobiças somente pode ser efetuada pela repulsa aos males enumerados no Decálogo como pecados contra Deus. Esta é a única estrada que leva à liberdade e à felicidade eterna; os homens, muitas vezes, pensam que a liberdade e a lei são opostas, pela aparência de que a lei constrange a liberdade. A verdade é que elas se completam e não podem existir separadamente.
À proporção que o homem evita os males como pecados contra Deus, a Divindade influi sobre ele e cria um novo coração e uma nova alma, cheios de amor a Deus e ao próximo. A obediência aos Mandamentos deixa de ser obrigatória e passa a realizar-se espontaneamente. Assim, quando o homem transgride as leis que já estão em seu coração e em sua mente, ele é acometido de dor e sente angústia por agir contra aquilo que é do Senhor e de que ele é o depositário.
"Se vós me amais, guardai os Meus Mandamentos". Aquilo que fazemos por amor, com a impressão de que fazemos por nós mesmos, nós o fazemos livremente, e quando o amor que pomos em nossas ações é recebido como o resultado de uma vida de acordo com a Palavra do Senhor, então somos verdadeiramente livres, pois os males não mais restringirão nossa liberdade.

Amém.


Lições :
1. Êxodo 19:16 a 25
2. Êxodo 20:1 a 17
3. AE 948 (parte)

Adaptação de J. Lopes Figueredo

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AE 948

                        A religião consiste numa vida de acordo com os Mandamentos Divinos, que são resumidos no Decálogo. O homem que não vive de acordo com tais Mandamentos não tem religião, uma vez que ele não teme a Deus e, ainda menos, O ama. Também não teme o semelhante nem o ama. Pode amar a Deus uma pessoa que rouba, comete adultério, assassina e dá falso testemunho? Entretanto, cada um pode viver de acordo com os Dez Mandamentos e aquele que é sábio vive uma vida civil e moral de acordo com eles. Aquele, porém, que não vive espiritualmente de acordo com os Mandamentos não pode ser salvo, uma vez que viver de acordo com eles como um homem natural significa que o faz para escapar das punições do mundo... Todas as leis - civis, morais e espirituais - estabelecem que ninguém deve matar, cometer adultério, roubar e dar falso testemunho. Um homem, entretanto, não é salvo somente por evitar esses males segundo as leis naturais; ele somente é salvo se evitar os males segundo a lei espiritual. Se houver religião em tal homem, se ele acreditar que há um Deus, um céu, um inferno e uma vida depois da morte, ele será salvo. Sua vida civil, moral e natural se conformam à sua religião. Mas aquele que não crê em Deus e não vive de acordo com a Lei Divina não é homem civil, nem moral, nem natural, porque ele é destituído de justiça, de honestidade e mesmo de humanidade... O verdadeiramente humano é o que procede da ordem e está de acordo com ela  e com uma razão procede de Deus. Em uma palavra, aquele que não evita os males como pecados não é um homem. Cada um que faz dos Mandamentos os princípios de sua religião torna-se um cidadão e um habitante do céu, mas aquele que não faz dos Mandamentos os princípios de sua religião, ainda que externamente possa viver de acordo com eles,... é um habitante do mundo e não do céu.

 

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