Os amalequitas

Sermão pelo Rev. Grant Schnarr, traduzido por C.R.Nobre

E Moisés edificou um altar, ao qual chamou: O SENHOR É MINHA BANDEIRA. E disse: Porquanto jurou o SENHOR, haverá guerra do SENHOR contra Amaleque de geração em geração.

Êx. 17:15,16

 

Israel já tinha experimentado a fome e a sede, mas ainda não conhecia a guerra. Os adversários a quem tinha encontrado não eram guerreiros comuns. Eram os amalequitas, traiçoeiros e sinistros, que iam sorrateiramente por trás de Israel, atacando os fracos, os velhos, as mães com suas crianças. Eles eram o primeiro desafio real que Israel tinha de enfrentar, e Israel foi chamado para agir valorosamente, com coragem e confiança, a fim de vencê-los.
Nós sabemos que a caminhada de Israel através do deserto é um símbolo de nossas lutas na vida espiritual. Como Israel, nós também avançamos na esperança de entrar na terra prometida. Temos fome pelo bem, sede pela verdade, e, como Israel, somos atacados também por inimigos espirituais.
Os amalequitas, em seu banditismo traiçoeiro, representam um certo inimigo espiritual em nossas vidas. Eles representam as falsidades provenientes de males interiores, falsidades que tendem a desculpar males enraizados em nossa vontade irregenerada. Essas falsidades penetram sorrateiramente em nossos pensamentos, especialmente quando estamos fracos e espiritualmente debilitados (AC 8592). Os amalequitas são símbolos de pensamentos negativos, de desânimo e que nos conduzem ao desespero. Como aconteceu a Israel, essas falsidades não nos atacam de frente, mas às ocultas, e atingem nossos pontos mais fracos. Os amalequitas, quando atacam, provocam uma espécie de paralisia espiritual, porque tiram toda esperança de melhora e roubam de nós a vitalidade provida por Deus, tirando-nos o sentido de uma missão espiritual, um dever que nos foi confiado.
Como podemos nos defender desses inimigos? Só existe uma cura. Conquistar essas falsidades provindas dos males interiores por meio da verdade que combate. Moisés convocou Josué para essa guerra, porque Josué representa a verdade que combate. Valer-se de Josué na guerra representa usar as verdades que conhecemos para nos defendermos de males e falsidades, especialmente os que vêm de dentro de nós mesmos, nosso eu real.
Podemos usar as verdades que sabemos como se fossem espadas contra a falsidades e males. E fazemos isto quando sustemos princípios e razões verdadeiros com consciência, racionalmente, mas também com destemor.
Não é suficiente conhecer a verdade e recitá-la de cór na hora da aflição. É necessário que a tenhamos na vida, cooperando com o Senhor e suplicando o auxílio dEle nesses momentos. Por isso é que Moisés subiu ao topo do monte, tendo na mão o cajado, e ergueu suas mãos para os céus. Erguer as mãos para o céu significa voltar-se para o Senhor, suplicar-Lhe auxílio. Reconhecer, em oração, que sem Ele nada somos. É sustentar com coragem um ideal da verdade, confessar que queremos viver em Seus caminhos e não nos nossos próprios. E que desejamos a verdade e o bem não por causa de algum interesse pessoal, mas porque é o direito e o justo, pois são de Sua Palavra.
Mas as mãos de Moisés se cansavam. Quando estavam para cima, Israel vencia; e quando pendiam para baixo, os amalequitas venciam. A primeira lição aqui é que nossas lutas nem sempre serão fáceis. Não podemos imaginar que a vitória sobre nossos reais inimigos da alma será instantânea e sem sofrimento. A batalha da vida espiritual é um processo longo e de risco, que implica em vencer ou ser derrotado. E mesmo quando perdemos, devemos nos levantar e continuar a luta, porque, se perseverarmos em nossos esforços e nos voltarmos para o Senhor, seremos vitoriosos. O que devemos sempre fazer é pôr de lado o pensamento em nosso próprio benefício e vantagem, e adotarmos o pensamento do que é reto e justo.
Lemos que o fato de Moisés cansar os braços e pender as mãos representa que a pessoa volta-se para si mesma e para o mundo, e Moisés levantar suas mãos representa voltar-se para Deus (AC 8604). Parece muito óbvio, mas é algo de que freqüentemente nos esquecemos. Quando nos deixamos apanhar por pensamentos de desânimo sobre nossa condição espiritual, esquecemo-nos de que nosso auxílio vem do Senhor e não de nós nem do mundo à nossa volta. Portanto é necessário lembrar que temos de ter esse esforço de nos voltarmos para o alto, para o nosso Senhor, suplicar-Lhe ajuda, pois isto é que fará com que as verdades que sabemos se tornem potentes e vitoriosas contra os ataques infernais.
Quando Moisés se cansou, Aarão e Hur foram chamados para sustentar-lhe, mantendo-lhe as mãos erguidas para o céu. Aarão e Hur representar a verdade Divina em sua ordem sucessiva (AC 8600), quer dizer, as verdades que alinhamos em nosso pensamento a fim de apoiar e defender-nos a fé.
Quando o Sol se pôs, Israel venceu os amalequitas. Os Escritos dizem que isto representa o fim dos estados de tentação. No começo desse estado, pensamentos destrutivos estavam corrompendo nossa confiança por dentro, levando-nos a incerteza e desorientação sobre nossas vidas. Mas, com firmeza, lembramo-nos de convocar  verdades que já conhecemos para a defender em nós todo vero da fé e toda afeição do bem; lembramo-nos de recorrer ao auxílio poderoso do Senhor, e por isso prevalecemos. A vitória é alcançada, pelo menos para esta etapa de nossa marcha para os céus.
"Então disse o SENHOR a Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué; que eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus."
O Senhor promete a Moisés que Ele iria aniqüilar completamente os amalequitas, até que não restasse mais nenhum vestígio deles. Esta é uma promessa que Ele faz a nós, que, embora não tenhamos hoje pensamentos de desesperança e aflição, e embora possamos ser atacados até ao ponto de temermos nossa completa desolação, um dia chegará quando não teremos mais lembrança alguma de nossas dores e dos sofrimentos de nossas lutas. Esta é a promessa para quando tivermos entrado na nossa morada eterna,  e andaremos em paz, alegria e confiança em Seus caminhos.  Como escreveu o salmista: "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã". (Salmo 30:5). E também: Exaltar-te-ei, ó SENHOR, porque tu me exaltaste; e não fizeste com que meus inimigos se alegrassem sobre mim. SENHOR meu Deus, clamei a ti, e tu me saraste.  SENHOR, fizeste subir a minha alma da sepultura; conservaste-me a vida para que não descesse ao abismo. Ouve, SENHOR, e tem piedade de mim, SENHOR; sê o meu auxílio.  Tornaste o meu pranto em folguedo; desataste o meu pano de saco, e me cingiste de alegria, Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. SENHOR, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmo 30: porções).

Amém.

Lições: Êx. 17:18-15; Mat. 10:16-26; AC 8604.