O PERDÃO

Sermão pelo Candidato Mauro S.de Pádua

Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores.


Mateus. 6:12

O perdão é algo essencial à nossa vida espiritual.  É um mandamento do Senhor em muitos lugares na Sua Palavra.  Logo, é muito importante que aprendamos a perdoar e a sermos perdoados.
O perdão não é um ato passivo como alguns pensam, mas sim uma atitude e um processo de ação.  Nós realmente estamos fazendo algo interiormente e exteriormente no processo de perdoar e de sermos perdoados.  Não podemos ser justos nos nossos relacionamentos com outras pessoas sem que aprendamos como perdoar corretamente.  Isto é de importância vital para que tenhamos sucesso no nosso relacionamento com o próximo.  Afinal de contas, o amor do Senhor, e, assim, a Sua presença, não é expresso de melhor maneira do que nos atos humanos motivados por aquele amor.
Quando olhamos para o Senhor e refletimos como Ele nos perdoa, temos n'Ele um exemplo perfeito de como devemos perdoar.  O Senhor é todo amor e sabedoria e através de Sua misericórdia quer salvar a todos.  Ele está nos perdoando a cada momento de nossas vidas.
No sentido verdadeiro, o Senhor é o único que realmente pode perdoar, e, isto porque o perdão do pecado é o mesmo que a separação do mal e do bem, e conseqüentemente o adormecimento dos males na nossa consciência, o que é o Senhor agindo em nós à proporção que cooperamos com Ele. (AC 9013:8)
Afinal de contas, o homem não pode fazer o que é bom e pensar o que é verdadeiro por si mesmo, mas somente pelo Senhor.  O Senhor mesmo diz em João 15:5: "Eu sou a videira, vós as varas; quem está em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim nada podeis fazer".  Aqui o Senhor nos diz com clareza e força que Ele é Quem pode retirar os nossos males e, conseqüentemente perdoá-los.
Mas isso não significa que não temos parte neste processo.  O Senhor perdoa de acordo com as leis da Divina Providência; assim, de acordo com as leis da ordem Divina (DP 280).  O Senhor deseja salvar a todos pelo Seu Amor Divino, mas Ele só pode nos salvar pelo Seu amor através de Sua Divina Sabedoria à proporção que escolhemos recebê-Lo em nossas vidas.
Se este não fosse o caso, isto é, se o Senhor salvasse o homem somente pelo Seu amor separado de Sua sabedoria, não estaríamos em liberdade, pois o Senhor salvaria a todos, bons e maus, sem discernimento, conseqüentemente, sem que nos arrependêssemos dos nossos males.  A verdade é que sem o arrependimento genuíno de nossa parte, não poderia haver o perdão, logo, nem a vida no céu.
O Senhor por Sua misericórdia quer salvar a todos.  É por isso que existe um influxo perpétuo do bem e da verdade provenientes do Senhor nas mentes humanas. Os Arcanos Celestes, n. 9452, diz o seguinte: "O Senhor regenera o homem pela Sua misericórdia Divina.  Isto é feito desde sua infância até o último momento de sua vida neste mundo, e, depois na eternidade.  Assim, é pela misericórdia Divina que o Senhor retira o homem dos males e das falsidades, e, o conduz às verdades e aos bens do amor, e assim o mantêm nestes.  Depois disto, pela misericórdia Divina, o Senhor eleva o homem para perto de Si no céu e o faz feliz.  Tudo isto é o que é significado pelo perdão dos pecados pela Misericórdia".
Aqui o Senhor está nos mostrando como é que Ele nos perdoa e nos faz feliz.  Os Arcanos Celestes nos dão outra definição muito boa do que é o perdão dos males. Eles dizem o seguinte: "Assim, poder ser mantido pelo Senhor no bem do amor, nas verdades da fé, e ser mantido afastado dos males e das falsidades, é o perdão dos pecados. E, fugir do mal e da falsidade, e sentir aversão a eles é a penitência" (9448).  Esta penitência deve preceder o perdão, e é a nossa parte no processo.
Nós não devemos esquecer que o Senhor está nos perdoando à medida que somos capazes de perdoar os outros. Isto não é simplesmente uma analogia, pois o primeiro, isto é, o Senhor nos perdoando, acontece somente quando o segundo é feito, isto é, quando perdoamos os outros.  Embora o Senhor seja o Único que pode verdadeiramente perdoar, Ele também quer que pratiquemos a caridade mútua, sendo assim necessário o perdão humano entre nós, o qual traz a harmonia entre os seres humanos.
Quando o Senhor nos perdoa é como se Ele esquecesse as nossas dívidas e nos desse vida nova.  Na verdade, no mundo espiritual, Ele só nos lembrará do que fizemos no passado se houver uma necessidade e um uso.  O Senhor só faz isto com a nossa felicidade em mente.  Isto pode nos servir com um ótimo exemplo, pois como seres humanos, limitados por nossas imperfeições, às vezes temos dificuldade em esquecer as dívidas e transgressões que outros nos têm feito, mesmo depois de aparente penitência da parte deles.  Nós nos apegamos à essas memórias de desfeita e carregamos estes sentimentos de indiferença onde quer que vamos. E até mesmo lembraríamos os nossos malfeitores de suas faltas sempre que tivéssemos a oportunidade, não com a felicidade deles em mente, mas sim com a nossa própria exaltação.  A verdade é que não seremos libertos dessas coisas negativas enquanto não aprendermos a perdoar.
Quando existe a penitência genuína e, conseqüentemente o perdão genuíno, aí então pode haver a restauração do relacionamento.  Entretanto, devemos lembrar que, mesmo depois do perdão, talvez o relacionamento não seja restaurado exatamente como era antes; como sabemos o mal tem suas conseqüências.  O resultado final depende de nossas atitude e de nossos esforços.  Quando cometemos um mal, estamos agindo contra o Senhor.  Este mal nos fará uma pessoa diferente, e, assim, nosso relacionamento com o Senhor mudará.  Dependendo da nossa escolha, poderemos ficar mais perto ou mais longe do Senhor.  Ficaremos mais perto se escolhermos a penitência verdadeira e usarmos esse mal como exemplo do que não fazer, e, mais longe se não nos arrependermos.
O mesmo acontece no nosso relacionamento com os outros.  Pois quanto mais estivermos dispostos a perdoar os outros e esquecermos suas ofensas, mais os infernos perderão suas forças sobre nós e mais perderemos os sentimentos de vingança e ressentimento.  Os infernos não querem que restauremos nossos relacionamentos com o Senhor e com o próximo; eles gostam quando temos sentimentos negativos e nos controlam através desses sentimentos, pois é assim que contribuímos com a força dos infernos.
Devemos lembrar que quando insistimos em agir contra a vontade do Senhor e, assim, de acordo com o amor de si e o amor do mundo, estamos, de fato, transformando o influxo do Senhor de bem em mal e o da verdade em falsidade (AC 9447).  Não é a culpa do Senhor se os nossos pecados não forem perdoados, a culpa e nossa.
E então, pedimos as Senhor na Oração Dominical que perdoe as nossas dívidas.  Que dívidas são essas que temos com o Senhor?  O "Diário Espiritual" se refere a essas dividas como laços ou obrigações da consciência.  A consciência é o meio pelo qual o Senhor Se faz presente com o homem; assim, toda vez que quebramos este laço, nós temos uma dívida com o Senhor, isto é, toda vez que não correspondemos ao amor do Senhor de alguma forma, temos uma dívida com Ele.  O mesmo acontece no casamento, no trabalho, ou em qualquer amizade.
O perdão é tão importante que em Mateus capítulo 18 o Senhor nos ensina como agir com as pessoas que tenham errado contra nós, com a reconciliação em vista.  Primeiro Ele nos diz que devemos conversar com a outra pessoa sozinha.  Se esta pessoa realmente vir o que fez, então ganhamos um irmão.  Mas se isto não for o caso, então, levaremos testemunhas "para que pela boca de dois ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada."
Aqui o Senhor está nos mostrando que não devemos perdoar os outros sem qualquer reflexão ou ação para remover o mal que está entre nós e a outra pessoa.  Entretanto, não é simplesmente uma questão de palavras vazias sem uma mudança de vida.  De fato, o Senhor Mesmo nesta passagem diz que se a pessoa, depois de serem tomadas todas as providências necessárias, ainda não escutar, considere-o um gentio e publicano.
O Senhor está simplesmente nos dizendo que façamos a nossa parte para que tenhamos a nossa consciência tranqüila, pois não podemos forçar as outras pessoas a praticarem a penitência verdadeira para que possamos perdoá-las, mas podemos oferecer a oportunidade; não para que sejamos exaltados, mas sim para que possamos praticar a verdadeira caridade, dando aos ofensores a oportunidade de fazer o mesmo.  É isso o que o Senhor faz com cada um de nós quando nos perdoa, isto é, Ele nos dá a oportunidade de corrigirmos os nossos erros, o que é em essência uma demonstração de amor a Ele.  Isto deve ser feito quantas vezes forem necessárias.  Pois quando Pedro se aproximou do Senhor perguntando-Lhe quantas vezes deveria perdoar o irmão que pecava contra ele, se até sete era suficiente, o Senhor respondeu: "Não lhes digo que até sete, mas até setenta vezes sete". Isto é, sem contar, quantas vezes forem necessárias para que o homem finalmente chegue à verdadeira penitência.  Pois lemos logo após à oração Dominical: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai Celestial vos perdoará a vós.  Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará a vós" Mat. 6:14, 15.
Todos nós temos males e pecados que precisam ser perdoados.  Será que podemos ter alguma idéia de quando um pecado é perdoado?  Os Arcanos nos dão sinais que indicam quando os pecados são perdoados.  Esses sinais são o seguinte: "O prazer que se sente em adorar a Deus por causa de Deus; em servir o próximo por causa do próximo; assim em fazer o bem por causa do bem, em acreditar na verdade por causa da verdade.  Existe, então, uma indisposição de merecer qualquer coisa que pertence à caridade e à fé.  Males tais como as eminências, ódios, vinganças, desumanidades, adultérios, em suma, todas a coisas que são contra Deus e contra o próximo, são combatidas e tidas em aversão" (AC 9449).
Nós nos sentiremos assim quando passarmos pelas etapas necessárias que conduzem ao perdão, isto é, devemos praticar uma penitência séria, desistir dos males, e, então viver uma vida de fé e de caridade até o fim da vida (AC 9014:3).
Quando nos aproximamos do Senhor na Oração Dominical pedimos para sermos perdoados.  Assim como pedimos ao Senhor que nos perdoe, devemos também estar dispostos a perdoar.  Será que podemos exigir o amor de outras pessoas sem que estejamos dispostos a amá-las também?  A mesma pergunta é válida com o perdão. Esta disposição a perdoar é uma forma de caridade e, assim, uma expressão de amor mútuo sem exigência de recompensa.  Pois o Senhor mesmo diz: "Amai pois a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque Ele é benigno até para com os ingratos e maus.  Sede pois misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.  Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e serão perdoados" Lucas 6:35-37.

AMÉM.

Lição Mateus 18:15-22
Mateus  6:7-15
VRC 594