NÃO SEPARE O HOMEM O QUE DEUS AJUNTOU

 

Sermão pelo Rev. Norbert H. Rogers

 

“Assim não são mais dois, mas uma só carne.
Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”.


(Mateus 19;6).

 

                        Na época em que estamos vivendo, temos imensa necessidade de meditar sobre este ensinamento divino a respeito do casamento, porque a humanidade atual se caracteriza pelo acentuado predomínio da irresponsabilidade moral e pela destruição dos lares, o que é comprovado pelo elevado número de divórcios e separações que se processam todos os anos.

                        As pessoas sensatas de todas as raças e de todas as religiões ficam cada vez mais impressionadas com esses fatos, porque notam uma grande semelhança entre as condições atuais e as que existiam na época da decadência e da destruição do  Império Romano. Por isso, nos mostram que, se não voltarmos a prestigiar a estabilidade e a permanência do casamento, a civilização ocidental, a despeito do progresso conseguido no campo técnico-cintífico, estará irremediavelmente perdida.

                        Essa decadência se evidencia cada dia que passa. Ela não é mera imaginação de pessoas infelizes e amarguradas, intolerantes em relação à vida alegre que os outros levam. Nossa civilização, baseada no conceito do casamento verdadeiramente cristão, não poderá subsistir à destruição desse fato social e religioso: o casamento. O lar, mais que cada indivíduo, é o fundamento da raça e das nações; é a espinha dorsal dos estados modernos. O lar é não somente a sementeira das gerações futuras, mas também o alicerce das virtudes e do caráter dos cidadãos e cidadãs que constituirão as futuras comunidades.

                        No lar, constituído pelo casamento, os indivíduos aprendem a importância da ordem em todas as formas da vida. No lar bem formado, eles aprendem a necessidade de se conformar com as leis estabelecidas e experimentadas e aprendem a conveniência de serem aplicadas punições àqueles que as transgridem. No lar bem formado, eles aprendem a significação da verdadeira felicidade, da honestidade, da união no amor, na fé e na caridade. Se as crianças e adolescentes assimilarem todas as coisas positivas que aprendem nos lares bem formados, estarão em condições de formarem outros lares iguais e de serem cidadãos felizes e úteis aos outros e à pátria. Há uma tão estreita ligação entre a educação do lar e a vida na comunidade social que se pode dizer que a integridade moral e a força das nações, assim como as condições de sua civilização, dependem da santidade do casamento e da estabilidade do lar dele resultante.

                        Entretanto, a compreensão de que o casamento é uma fonte constante de felicidade e de utilidade está consideravelmente obscurecida em nossos dias. A despeito das resoluções e dos pronunciamentos das Igrejas, a despeito das advertências das pessoas sensatas e a despeito dos programas que limitam os ônus familiares, as tendências da vida social moderna e a licenciosidade dos costumes contemporâneos produzem uma crescente animosidade contra a estabilidade do casamento e do lar. A chamada marcha do progresso material nos arrasta para o que é passageiro, fazendo da família uma carga insuportável e descartável, o que fatalmente levará à desorganização de uma discutivel civilização futura. Além disso, filosofias criadas por homens eruditos têm constribuído extremamente para o enfraquecimento geral dos laços do casamento e para a indiferença da sociedade em relação à desordem reinante e ao relaxamento moral generalizado. Cabe, ainda, mencionar os meios de comunicação modernos como a televisão, o cinema e o rádio, que estão corroendo as relíquias da virtude e do bom-senso porventura existentes nos integrantes das sociedades modernas.

                        Estas são apenas algumas das causas que se combinam para solapar a instituição do casamento e ridicularizar as palavras da Escritura: “Não separe o homem o que Deus ajuntou”. Nessas condições, devemos regozijar-nos por não haver um número maior de lares desfeitos. É admirável que as leis da Divina Providência, com sua influência protetora, venha neutralizando as causas destrutivas das sociedades contemporâneas.

                        Apesar de tantos elementos contrários ao casamento, ele é protegido pelas leis civis que regem o contrato entre os cônjuges e sua importância é reconhecida por tais leis. O casamento é um laço contratual e só pode ser dissolvido civilmente por outra lei, chamada lei do divórcio,  que prova que o enlace matrimonial não é uma invenção humana que possa ser levianamente desrespeitada, sem qualquer motivo. A existência dessas leis já é um progresso e dificilmente se poderia exigir mais numa época em que não há conhecimentos relativos às coisas Divinas e celestes incluídas na instituição do casamento. A doutrina da Nova Igreja ensina que devem ser empregados todos os recursos para evitar-se o divórcio, mas a existência da lei civil que o regulamenta tem sido útil para a regularização de separações irreversíveis. É, portanto, uma lei permitida pela Divina Providência.

                        Muitas verdades vitais a respeito do casamento foram reveladas pelo Senhor à Sua Nova Igreja. É, por conseguinte, da maior importância que os membros da Igreja estudem estas verdades com cuidado, não somente para que formem um verdadeiro conceito do casamento, mas também para que seus casamentos se tornem verdadeiramente conjugais e venturosos, o que só acontece quando suas vidas e seus pensamentos estão de acordo com as verdades ensinadas pelo Senhor. Isso exige a negação das falsas filosofias existentes e das práticas distorcidas tão comuns atualmente. Exige também um sincero esforço para aplicar os princípios da Igreja, a despeito das influências do meio e dos obstáculos criados por essas influências.

                        O Senhor criou o homem e a mulher como seres perfeitamente complementares, desde o seu íntimo até o seu externo, desde as próprias almas até às suas formas externas. E criou-os assim para que se conjuntassem em todos os planos da vida e para que dois indivíduos separados pudessem tornar-se inteiramente um único ser humano no pensamento e na vida, no entendimento e na vontade. Ele ordena essa união e provê no sentido de que, desde o íntimo, os cônjuges sejam mutuamente inclinados um para o outro.
Embora o amor flua do íntimo para o externo, aparentemente o casamento começa pelo externo e prossegue para o interno, unindo os interiores cada vez mais. De acordo com essa aparência, “a conjunção”, segundo lemos no nº 156 dos Arcanos Celestes, “é inspirada à mulher segundo o seu amor, e é recebida pelo homem segundo a sua sabedoria. Essa conjunção é efetuada sucessivamente desde os primeiros dias do casamento, e, naqueles que estão no amor verdadeiramente conjugal, ela é efetuada cada vez mais internamente” (AC 156).

                        Os Escritos nos ensinam que os verdadeiros casamentos não são feitos pelos cônjuges, mas pelo Senhor somente. Os cônjuges não têm conhecimento direto nem controle sobre os interiores de suas mentes e muito menos sobre suas almas. Podem, isto sim, concordar em unirem suas vidas e fazem esforços para realizar um casamento. Mas a efetivação da união de suas almas somente o Senhor pode realizá-la.  Somente Ele pode unir um homem e uma mulher que procuram inclinar-se um para o outro. Por isso, não é permitido ao homem separar aquilo que foi unido pelo Senhor.

                        Quando um casamento verdadeiro começa a realizar-se no íntimo das almas, não é permitido ao homem destruir o seu casamento externo. Quando, porém, não existe casamento interior, ou quando este já foi destruído, o corte dos laços externos é o resultado daquilo que já existia. Nesta hipótese, porém, há somente um meio de comprovar a destruição do casamento, e este meio é a prática do adultério por um dos cônjuges ou por ambos. Somente a prática comprovada do adultério permite que o casamento seja desfeito. Foi isso que o Senhor respondeu aos fariseus quando estes Lhe perguntaram se era lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo (Mateus 19;1).

                        A não ser, portanto, que venham a cometer o mais grave dos pecados, que é o adultério, os cônjuges devem manter o casamento com a convicção de que estão Divinamente destinados a se tornarem um par conjugal e, assim, têm de tomar a firme resolução de afastar tudo aquilo que possa estornar ou impedir o estabelecimento de um verdadeiro casamento entre eles. Devem aceitar, apesar das tentações em contrário, que um casamento santo está sendo efetuado em suas almas pelo Senhor, pois, se não houvesse a possibilidade de isso acontecer, a Divina Providência não teria permitido que eles se casassem. Para alcançarem tão elevada situação, isto é, o casamento verdadeiro, basta que sejam fiéis e andem nos caminhos do Senhor, trabalhando pela regeneração mútua.

                        Dissemos que o adultério é o pior dos pecados entre as relações humanas. De fato, ele é um ato tão horrendo e tão de acordo com as desordens infernais que, para aqueles que o praticam, se abrem as portas do inferno, por onde passam os males e as falsidades que destróem completamente toda a possibilidade do estabelecimento do amor conjugal, aniquilando qualquer conjunção interior que possa ter existido. Os praticantes deliberados do adultério perdem qualquer desejo por um casamento verdadeiro, preferindo as cobiças infernais que os levam a rejeitar o Senhor e os ensinamentos de Sua Palavra. São eles que separam aquilo que Deus ajuntou.

                        Obviamente, os cristãos da Nova Igreja repudiam tal comportamento. Em face dos ensinamentos dos Escritos que lhes são ministrados, eles desejam e procuram um casamento verdadeiro. Assim, devem não somente abster-se de todos os atos contrários ao casamento, mas também expulsar de seu entendimento toda imaginação pecaminosa e afastar de sua vontade toda espécie de males. Devem ter sempre em mente que o casamento é uma escola de preparação para a bem-aventurança eterna e que o único meio de alcançar a verdadeira felicidade é trabalhar pela felicidade dos outros. Cada cônjuge deve ter a preocupação constante de trabalhar pela tranquilidade, o bem-estar e a saúde do outro. Eles devem esforçar-se para tornar suas as verdades da fé e os bens da caridade que o Senhor lhes dá a conhecer. E, assim, todos nós, que recebemos os ensinamentos do Senhor, devemos confirmar nossa rejeição às influências infernais que trabalham por separar aqueles que Deus ajuntou.

Amém.

 

Lições: Mateus 19:1 a 9
             A.C. 10171 a 10173

 

Adaptação de J. Lopes Figueredo

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AC 10.171 a 10.173

AMOR CONJUGAL

 

10.171.            Ninguém pode, saber o que é o verdadeiro amor conjugal e o que é a natureza de seu deleite, a não ser que esteja no bem do amor e na verdade da fé procedentes do Senhor, porque... o amor verdadeiramente conjugal vem do céu e procede do casamento do bem e da verdade.

10.172.            Segundo o casamento do bem e da verdade no céu, podemos aprender o que deve ser a natureza do casamento na terra, isto é, que deve ser entre marido e mulher e que não existe o verdadeiro amor conjugal entre um marido e várias esposas.

10.173.            As ações praticadas no regime do amor verdadeiramente conjugal derivam da liberdade de ambos os cônjuges e quando um ama o que o outro pensa e o que o outro deseja. O comando de uma parte no casamento destrói o amor genuíno, pois isso retira a liberdade e, por conseguinte, o seu deleite. O deleite de comandar, que substitui o amor, provoca desentendimento, põe antagonismo nas mentes e planta ressentimentos difíceis de erradicar.