A LUZ ESPIRITUAL

 

Sermão pelo Rev. J. Lopes Figueredo

1º Texto : "Nunca mais se porá o teu sol nem a tua lua minguará, porque o Senhor será a tua luz perpétua"

(Isaías 60;20).

2º Texto : "Na Tua luz veremos a luz" 

(Salmo 36;9).

                        Os Escritos nos ensinam que as coisas contidas no capítulo 60 de Isaías se cumpririam por ocasião do 1º Advento do Senhor (livro dos Profetas e Salmos) e que as palavras do versículo 20 (desse texto) tratam do reino do Senhor (Arcanos 3693). Ensinam-nos ainda, os Escritos que "o calor do sol espiritual é o Divino Amor do Senhor e que a luz do sol espiritual é a Divina Sabedoria do Senhor, ou que o calor espiritual é o bem da caridade e a luz espiritual é a verdade da fé que ilumina (Sab. Ang. 84).
Por outro lado, lemos no versículo 5º do capítulo 22 do Apocalipse que a luz do Senhor Deus brilhará sobre aqueles que o servem, os quais reinarão pelos séculos dos séculos.
Esses dois textos da Palavra (o de Isaías e o do Apocalipse) se referem aos dois Adventos do Senhor e se relacionam com a fundação, no século I de nossa era, da primeira Igreja Cristã, e, no século XVIII, com o estabelecimento da Nova Igreja, que é a Nova Jerusalém.
O primeiro essencial para o estabelecimento de uma dispensação religiosa são as verdades da fé no Deus que cultuamos, as quais são introduzidas em nossas mentes por meio da iluminação produzida pela luz do sol espiritual. É por isso que encontramos, na Palavra, um número infinito de referências à luz espiritual, como, por exemplo, no 1º capítulo de João "A luz resplandece nas trevas e as trevas não prevalecem contra ela", alusão feita ao Senhor em Seu Primeiro Advento.
A indiferença votada por muitas pessoas à luz espiritual deve ser combatida pelos próprios indiferentes, se chegarem a desejar uma felicidade futura. Aqueles que pertencem à Igreja também não podem ser indiferentes. Se desejam efetivamente regenerar-se, terão de seguir o preceito contido no texto do Salmo 36: "Na Tua luz veremos a luz".
Que quer dizer "a Tua luz"? Quer dizer que é o Senhor Mesmo, a Divina Sabedoria ligada ao Divino Amor, formando Um. É o sol espiritual, a Luz Divina, origem celestial de toda luz.
Que quer dizer "vemos a luz"? Primeiramente, quer dizer que nos céus os anjos recebem a Luz Divina. Como recipientes agradecidos daquela Luz, acomodada ao estado de recepção de cada um, eles recebem a sabedoria angélica e a ilustração angélica. A recepção é feita em graus diversos: Segundo a capacidade de cada anjo, a luz é mais brilhante para uns e menos brilhante para outros.
Em segundo lugar, "vemos a luz" quer dizer que os homens, que reconhecem e adoram o Senhor e que vivem de acordo com os ensinamentos contidos na Palavra, também recebem aquela Luz, do mesmo modo acomodada ao estado de recepção de cada um. Em graus diversos, recebem conhecimentos, inteligência, sabedoria, luz espiritual, ilustração e iluminação. Contudo, devido às influências do mal e da falsidade a que estão sujeitos, os homens sofrem alternativas de luz e de trevas: há dias e noites, de que resultam estados de iluminação e estados de obscuridade.
Para esclarecer melhor o que é a iluminação produzida pela luz espiritual, formulamos as seguintes perguntas: 1ª Que é a iluminação pelo Senhor? 2ª Como podemos ser iluminados? 3ª Qual é o objetivo da iluminação? Essas perguntas serão respondidas com a ajuda dos Escritos da Nova Igreja que constituem a Segunda Vinda do Senhor e nos revelam a luz em grande abundância, luz que nos é ministrada prodigamente pelo Senhor.
Com relação à primeira pergunta "Que é a iluminação", a resposta é que a iluminação pelo Senhor é interior e exterior. "Pela iluminação interior do Senhor, o homem percebe imediatamente se o que foi dito é verdadeiro ou não. A iluminação exterior do Senhor resulta da iluminação interior, agindo no pensamento do homem" (D.P. 168). Pela iluminação interior do Senhor o homem pode perceber imediatamente que são verdadeiros os seguintes ensinamentos dos Escritos: "Que o amor é a vida da fé e a fé vive do amor; que tudo aquilo que o homem ama, ele o quer, e o que ele quer ele o faz; portanto amar é fazer. Tudo aquilo que o homem crê em seu amor ele o quer e ele o faz; consequentemente, ter fé também é fazer"...  "O homem racional pela ilustração interior percebe também, desde que as ouve, as verdades que Deus é um, que é onipresente, que todo o bem vem d'Ele; além disso, que todo o bem vem do bem mesmo e que toda a verdade vem da verdade mesma. Estas verdades e outras semelhantes, o homem as percebe quando as ouve. Percebe-as porque tem racionalidade e está na luz do céu que ilustra". (D.P. 168).
A iluminação exterior do Senhor resulta, como vimos, da iluminação interior agindo no pensamento do homem. Lemos no mesmo nº 168 do livro Divina Providência : "O pensamento está nesta ilustração enquanto permanece na percepção que lhe vem da ilustração interior e tem, ao mesmo tempo, os conhecimentos da verdade e do bem, pois tira desses conhecimentos as razões pelas quais os confirma. O pensamento, por essa iluminação exterior, vê a cousa de um e de outro lado; de um lado, vê as razões que confirmam; de outro lado vê as aparências que invalidam; rejeita as que invalidam e recolhe as que confirmam".
É um ensinamento confortador para os membros da Nova Igreja aquele que se encontra no nº 759 do livro Apocalipse Explicado : "Todos aqueles que são dessa Igreja têm o entendimento iluminado, podendo ver a verdade na luz da verdade, isto é, podendo distinguir se uma coisa é verdadeira ou não. Pelo fato de verem a verdade desse modo, eles a reconhecem e a recebem com afeição; afeição que provém da vontade. Por isso, as verdades neles tornam-se espirituais; em conseqüência, sua mente espiritual, que está acima da mente natural, é aberta. Quando é aberta, a mente espiritual recebe a visão angélica, que é a visão da verdade mesma em sua própria luz".
A segunda pergunta formulada sobre o assunto que estamos examinando é: "Como poderemos ser iluminados?" A esse respeito, a doutrina ensina o seguinte, no nº 803 do livro Apocalipse Explicado: "É sabido que a fé do amor é o meio essencial da salvação e, assim, é princípio fundamental da doutrina da Igreja. Em vista da importância de saber-se como o homem pode alcançar a iluminação, para aprender as verdades que devem constituir a sua fé, e obter a afeição necessária para fazer os bens que devem constituir o seu amor e, assim, saber se sua fé é uma crença na verdade e se seu amor é um amor do bem, isso será dito na ordem que se segue. Leiam a Palavra todos os dias, um ou dois capítulos... e aprendam os dogmas de sua religião; especialmente aprendam que Deus é um e que o Senhor é o Deus do céu e da terra, que a Palavra é sagrada, que há um céu e um inferno e que há uma vida depois da morte.
Aprendam pela Palavra... quais as obras que são pecados, especialmente o que são os adultérios, os roubos, os assassinatos, os falsos testemunhos e outros pecados mencionados no Decálogo; de igual modo, aprendam que os pensamentos lascivos e obscenos são também adultérios, que as fraudes e os grandes ilícitos são também roubos, que o ódio e a vingança são também homicídios, que as mentiras e blasfêmias são também falsos testemunhos, etc. Essas coisas devem ser aprendidas (de preferência) na infância e na juventude. Quando o homem é de maior idade e pensa por si mesmo, a principal coisa que lhe cabe fazer é evitar a prática dos males, porque eles são pecados contra a Palavra, contra Deus, e, se ele os praticar, alcançará não a vida eterna, mas o inferno. Quando a criatura humana atinge a maturidade e a velhice, deve evitar tais males causadores da danação, deve afastá-los de seu pensamento e de sua intenção. Para refreá-los, evitá-los e afastá-los é indispensável orar e pedir o auxílio do Senhor. Os pecados que devem ser refreados, evitados e afastados são principalmente os adultérios, as fraudes, os ganhos ilícitos, os homicídios, os ódios, as vinganças, as mentiras, as blasfêmias e as vaidades da mente. Quanto mais forem detestados tais males, porque são condenados pela Palavra e opostos a Deus, tanto mais é concedida ao homem a comunicação com o Senhor e, finalmente, permitida sua conjunção com o céu... Os adultérios que ele detesta são substituídos pela castidade. As fraudes e os ganhos ilícitos que ele detesta são substituídos pela sinceridade e pela justiça. O ódio e a vingança que ele detesta são substituídos pela caridade. As mentiras e as blasfêmias são substituídas pela verdade. As vaidades da mente são substituídas pela humildade diante do Senhor e pelo amor para com o próximo, e assim por diante... Quanto mais o homem está nessas boas afeições, tanto mais ele é guiado pelo Senhor e não por si mesmo. Quanto mais ele age segundo tais afeições, tanto mais ele pratica o bem, porque ele faz isto pelo Senhor e não por si mesmo... Essas afeições espirituais são postas no homem pelo Senhor, e, quando o homem age de acordo com elas, ele conhece e compreende as verdades e os bens do céu e da Igreja e, em sua vida, pratica essas verdades e esses bens, ao mesmo tempo que combate as falsidades e os males, procurando afastá-los de si mesmo e de seus semelhantes. Ao atingir esse estado, o homem alcança o objetivo que lhe é destinado pelo Senhor: o homem é, então, o recipiente pleno da fé e do amor, da inteligência e da sabedoria, isto é, da luz espiritual". Estes ensinamentos da doutrina respondem a 2ª pergunta "Como poderemos ser iluminados?".
A terceira pergunta formulada é: "Qual o objetivo da iluminação?" Já vimos que o Senhor deseja que o homem seja, segundo sua capacidade de praticar usos, um recipiente da fé, do amor, da inteligência e da sabedoria. Quando a criatura humana atinge esse estado, ela está em condições de perceber as coisas espirituais, está em condições de receber a iluminação do Senhor e de agir de acordo com as leis Divinas. Esse estado é o que se chama estado de regeneração, o qual dificilmente pode ser alcançado enquanto nos encontramos neste mundo. Concluímos, assim, que o objetivo da iluminação do Senhor é a regeneração da criatura humana. O Senhor, em sua misericórdia, deseja que todos nós nos regeneremos, que todos nós nos tornemos habitantes de Seu reino celestial quando sairmos deste mundo. Assim o esforço regenerativo de cada indivíduo e o esforço regenerativo da Igreja como um todo são objetivos do Senhor quando proporciona a Suas criaturas o dom da iluminação. A regeneração se processa em diversos graus, de acordo com o estado dos indivíduos, como lemos no nº 560 do livro Verdadeira Religião Cristã: "Que cada um possa ser regenerado segundo seu estado é porque a regeneração se processa de um modo com os simples e de outro modo com os sábios; de outro modo com os que se aplicam a estudos diferentes e também com os que estão em empregos diferentes; de outro modo com os que interpretam os externos da Palavra e com os que interpretam os internos da Palavra; de outro modo com os que estão, por seus pais, no bem natural; de outro modo com os que estão no mal; de outro modo com os que desde a infância se lançaram nas vaidades do mundo; de outro modo com os que se afastaram das vaidades mais cedo ou mais tarde. Em uma palavra: De um modo com os que constituem a Igreja externa do Senhor e de outro modo com os que constituem Sua Igreja interna. Esta variedade é infinita como a das faces e dos caracteres; não obstante, cada um pode ser regenerado e salvo, segundo o seu estado".
O processo da reciprocidade em relação à iluminação e à regeneração também é verdadeiro, porque quanto mais o homem se regenera, evitando os males e as falsidades como pecados contra Deus, tanto mais ele adquire iluminação, pois sua percepção da iluminação se vai ampliando à proporção que, com a ajuda do Senhor, ele se vai libertando das afeições más e falsas.
Diante desses maravilhosos ensinamentos que colhemos na Doutrina da Nova Igreja, expressemos nossa gratidão ao Senhor pelos infinitos benefícios que nos proporciona e roguemo-Lhe que se apliquem também a nós as palavras que Ele ditou a Isaías: "Nunca mais se porá o teu sol, nem a tua lua minguará, porque o Senhor será a tua luz perpétua".

Amém.

Lições:
Isaías 60;11 a 22
Salmo 36
Sabedoria Angélica 84, 85 e 88
Profetas e Salmos - capítulo 60 de Isaías.

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SABEDORIA ANGÉLICA (84, 85 E 88)

CALOR E LUZ DO SOL ESPIRITUAL

 

84. No mundo espiritual há um sol que possui calor e luz espirituais, como neste mundo há um sol que tem calor e luz naturais. O calor espiritual é o Divino Amor do Senhor e a luz espiritual é a Divina Sabedoria do Senhor, ou o calor espiritual é o bem da caridade e a luz espiritual é a verdade da fé.

85. Aprouve ao Senhor abrir a vista de meu espírito, a fim de que eu visse as coisas que estão no mundo espiritual, e eu vi o sol do mundo espiritual e ele me apareceu com uma grandeza semelhante à do sol deste mundo e também com um brilho ígneo, porém mais brilhante; e me foi dado saber que o céu angélico inteiro está sob esse sol, que os anjos do terceiro céu o vêem continuamente, que os anjos do segundo céu o vêem freqüentemente, e que os anjos do primeiro ou último céu o vêem algumas vezes.

88. A luz do mundo natural no céu é obscuridade e o calor do mundo natural lá é morto. Não obstante, o calor do mundo pode ser vivificado pelo influxo do calor do céu e a luz do mundo pode ser iluminada pelo influxo da luz do céu, o que se faz por meio das correspondências.

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