Jonas

Sermão pelo Rev.Mauro de Pádua

"E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malicia subiu até mim.  E Jonas se levantou para fugir de diante da face do Senhor para Tarsis.  E descendo a Jope, achou que um navio ia para Tarsis; pagou, pois a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Tarsis, de diante da face do Senhor."


Todos nós temos um Jonas dentro de nós.  Em algum estágio de nossa vida nós podemos ter tentado fugir da presença do Senhor.  Nós ouvimos a Palavra do Senhor, descobrimos o que Ele quer que façamos, isto é, como devemos viver as nossas vidas, e, então, tentamos fugir da presença do Senhor.  Nós temos a esperança irreal de que aquilo de que estamos tentando fugir, será deixado para trás.  Mas esquecemos que muitas vezes, o problema do qual estamos tentando fugir está dentro de nós e não fora de nós.  Não podemos fugir da presença do Senhor, assim como não podemos fugir de nossa consciência.  Esta consciência é a maneira pela qual o Senhor se faz presente conosco.  É a manifestação da verdade da Palavra na nossa mente.
O livro de Jonas é um livro que se relaciona com muitos pensamentos e sentimentos que temos como indivíduos.  É importante que olhemos para as origens de Jonas para que possamos entender o seu comportamento e como nos comparamos a ele como indivíduos.  Os Escritos nos dizem que o livro de Jonas é uma descrição do gênio ou da índole do povo judeu, isto é, que eles estão no amor de si, e, conseqüentemente, nas falsidades provenientes deste amor.  Jonas, como sendo desta nação, foi enviado para Nínive, pois a nação judaica tinha a Palavra, e, assim, eram capazes de ensinar àqueles que estavam fora da Igreja, os quais são chamados de gentios e que são representados por "Nínive".  A nação judaica, por estar no amor de si mais do que qualquer outra nação, não desejava o bem aos outros, mas a si mesma.  Logo também não desejava o bem aos gentios. (AE 401:36)
O Senhor pediu a Jonas que ajudasse àqueles os quais ele considerava seus inimigos.  Ele, não querendo, ajudá-los tentou fugir.  O Senhor mandou que fosse numa direção e ele foi para a direção oposta, na esperança de que não tivesse que encarar o seu desafio ou problema.  Quantas vezes na nossa vida diária nós passamos por uma situação parecida?  Quantas vezes nós gostaríamos que pudéssemos nos esconder em algum lugar, esquecer de tudo sem que tivéssemos que encarar o desafio a nossa frente?
O interessante é que há uma aparência de que foi o Senhor que nos causou este problema, enquanto que na realidade fomos nós mesmos com as nossas próprias limitações e amores egoístas.  A razão pela qual esta tarefa foi tão difícil para Jonas, foi porque ele mesmo não queria ajudar os ninivitas.  Se ele estivesse disposto a ajudá-los, tudo teria sido bem diferente.  Como Jonas, nós estamos aqui para aprender, e o Senhor está sempre presente para que possamos ser bem sucedidos.
Jonas não se conscientizou de que não podia fugir do Senhor e de seu desafio até que teve dificuldade.  As vezes nós também tentamos evitar nossos problemas até chegar ao ponto de não termos escolha, senão a de finalmente nos conscientizarmos da situação.  Jonas pensava que seria liberto de seu problema quando pegasse o barco indo para Tarsis, longe de seu problema.
"Mas o Senhor mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava para quebrar-se"(1:4).  Com grande desespero, o capitão do navio encontrou Jonas dormindo no navio e o pediu que buscasse ajuda de seu Deus.  Como devem imaginar, a última coisa que Jonas queria fazer neste momento era buscar ajuda do seu Deus, afinal de contas ele estava tentando fugir dEle.
Finalmente foi descoberto que toda esta tempestade foi causada por Jonas e quando o capitão pediu a Jonas que se identificasse, disse: "Eu sou hebreu, e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra seca".       Jonas reconheceu ao Senhor e admitiu que todo este transtorno foi causado por ele.  E quando os homens lhe perguntaram o que deviam fazer com ele, ele lhes disse: "Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade"(1:12).
A esta altura, Jonas já tinha chegado ao fundo do poço.  Ele chegou ao ponto de ter que enfrentar o seu desafio e estava disposto a perder sua vida.  Os homens do navio tentaram salvar o navio sem chegar a este extremo, mas seus esforços foram em vão.  Eles não tinham alternativa, tinham que realmente jogar Jonas no mar, e, quando o fizeram, a tempestade parou.  Jonas chegou ao ponto em que pensou que estivesse tudo acabado.  Não restava esperança alguma.  Mas foi aí mesmo  "que deparou, pois, o Senhor um grande peixe para que engolisse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe" (1:17).
As vezes nós também acreditamos que está tudo acabado, não existe saída.  Este é um estado de tentação.  Nós não vemos o fim do túnel.  É aqui que finalmente chegamos à conclusão de que somente o Senhor pode nos ajudar.  Chegar a esta conclusão é o uso das tentações, o que nos leva ao ponto onde o Senhor pode, mais uma vez, nos guiar.
Os «Arcanos Celestes" 1787 explicam a natureza das tentações quando diz que "toda tentação é acompanhada de algum tipo de desespero, ou não seria tentação, e, conseqüentemente, a consolação segue.  A pessoa que está passando por tentações é levada a ansiedades, as quais produzem um estado de desespero no que diz respeito ao fim.  O próprio combate das tentações não é nada mais do que isto.  Aquele que está certo da vitória não tem ansiedades, e, assim, não está em tentações."
É quando passamos por isto e escolhemos deixar o Senhor nos ajudar, que Ele pode finalmente vencer as tentações para nós.  Esta situação nos traz ao reconhecimento do Senhor e de Sua força.  É por isto que quando Jonas estava nas entranhas do peixe, orou ao Senhor.  E disse: "Quando desfalecia em mim a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e entrou a ti a minha oração, no templo da tua santidade...Mas eu te oferecerei sacrifício com a voz de agradecimento; o que votei pagarei.  Do Senhor vem a salvação" (2:7, 9).  Jonas decidiu obedecer ao Senhor.
O processo ainda não terminou.  "Falou, pois, o Senhor ao peixe, e ele vomitou a Jonas na terra.  E veio a palavra do Senhor uma segunda vez"(2:10, 11).  Jonas ainda tinha que completar sua tarefa, ele ainda tinha que ir a Nínive pregar.  As vezes podemos pensar que, porque passamos por tempos difíceis, não precisamos mais fazer a nossa parte.  Não é verdade, temos sempre que fazer a vontade do Senhor, esta é a nossa parte.  A diferença é que agora estamos mais fortes e reconhecemos que o Senhor está sempre conosco e sem Ele nada podemos fazer (João 15).
Jonas foi para Nínive de acordo com a palavra do Senhor e deu a sua mensagem de arrependimento, e, para sua surpresa e desgosto, o povo de Nínive acreditou nele e arrependeu-se de seus maus caminhos.  "E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria, e não o fez" (3:10).
Isto é um exemplo de como o Senhor é Deus de todos.  Embora os judeus acreditassem que eles fossem o povo eleito, o Senhor, ainda assim, cuidava de todos, mesmo aqueles fora da nação judaica.
A estória não termina aqui.  O último capítulo do livro de Jonas é sobre seu descontentamento pelo fato de os assírios terem se arrependido de seu caminho mau.  Jonas ficou bem aborrecido.  Ele mesmo disse: "Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a minha vida, porque melhor me é morrer do que viver." (4:3).
E o Senhor o perguntou: "É razoável esse teu ressentimento?" Jonas não tinha razão para estar com raiva ou ressentido.  Ele achava que sim, mas isto era por causa de seu amor próprio.  Ele queria que Nínive, uma cidade inimiga, fosse destruída.  Aqui nós podemos ver que o tempo nas entranhas do peixe fez com que Jonas obedecesse o Senhor, mas não mudou seu coração.
Nínive representa aqueles que estão em falsidades provenientes das ilusões dos sentidos em ignorância.  Somos também instruídos que aqueles que estão no mal proveniente da ignorância, embora este tenha conseqüências, não lhes causa dano a alma.  Logo, Jonas deveria ter ficado contente por ter levado luz à ignorância dos ninivitas.  E ainda mais por eles terem se arrependido.
Mas não foi essa a atitude que Jonas adotou.  Mas "Jonas saiu da cidade, e sentou-se ao oriente da cidade; e ali fez uma cabana, e assentou-se debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade". (4:5)  A atitude de Jonas simboliza como as vezes nós podemos nos sentir superiores a outras pessoas, e porque elas passam a agir de maneira diferente, nós queremos que elas estejam erradas para que possamos dizer: "Não foi isso que te disse?". Jonas, afastando-se da cidade para ver o que aconteceria com ela, representa a nossa tendência de ficarmos afastados das pessoas a quem julgamos inferiores e as observamos como mera curiosidade.
Todos nós temos uma tendência a nos sentirmos superiores às outras pessoas, principalmente às pessoas de quem discordamos.  A tendência de nos sentirmos superiores às outras pessoas é um dos nossos maiores inimigos.
A fim de ensinar esta lição a Jonas, o Senhor fez com que nascesse uma aboboreira, que subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra por sua cabeça, a fim de o livrar de seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira". (4:6)  Mas o Senhor enviou um bicho no dia seguinte e este matou a aboboreira.  Mais uma vez, Jonas desejou a morte.  E, mais uma vez o Senhor lhe perguntou se era razoável seu aborrecimento?  E Jonas respondeu que sim, a ponto de desejar a morte.
Na sua resposta a Jonas o Senhor diz o seguinte: "Tiveste compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer...  E não hei de eu ter compaixão da grande cidade em que estão mais de 120.000 homens que não sabem discernir a sua mão direita e a sua mão esquerda?" (4:10, 11).
O Senhor mostrou a Jonas que ele estava pensando apenas em si mesmo.  O Senhor cuida da alma de todos os homens, bons ou maus.  O Senhor quer que todos encontrem a felicidade eterna e Ele somente permite a punição se não aprendermos de outra maneira o caminho certo.  Jonas, como todos nós, precisava aprender que o sentimento de superioridade é contra o Senhor.  O Senhor nos ensinou isto várias vezes quando esteve no mundo.  Ele mesmo disse em Mateus 20: "Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles.  Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo; bem como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos."(Mateus 20:25-28)
Jonas transmitiu a mensagem do Senhor a Nínive, ameaçando-os com destruição e, no seu coração, ele queria que eles fossem destruídos.  Ele pensava somente em sua importância com profeta do Senhor.  Quando estamos neste estado mental não podemos ficar contentes por muito tempo.  Não entendemos os pensamentos e sentimentos das outras pessoas e nos deixamos levar por nossa imaginação criando em nossa mente todo tipo de ameaça e ofensas que não existem.  Este é um sentimento perigoso que nos ajuda a sentir superiores aos outros.
O Senhor nos deu um exemplo de humildade e amor perfeito.  Ele mesmo que é o maior de todos os seres, Se chamou servo.  O Senhor não quer ver a ninguém destruído, e Ele criou a todos para o Céu.  Pois Ele mesmo diz em Ezequiel: "Mas se o ímpio se converter de todos os seus pecados que cometeu, guardar todos os Meus estatutos, e fizer juízo e justiça, certamente viverá; não morrerá". (Ezequiel 18:21).  AMÉM.

Lições: Jonas 1; AE 401 (36)