JOÃO BATISTA

Sermão pelo Rev. J. Lopes Figueredo

Voz do que clama no deserto:
Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”


(Mateus 3;3).

                        O terceiro capítulo do Evangelho de Mateus é uma mensagem de arrependimento, e o arrependimento é a primeira coisa da Igreja no homem, como lemos no nº 510 do livro “Verdadeira Religião Cristã”.
Que o reconhecimento dos próprios males e a necessidade de penitenciar-se são indispensáveis à regeneração do homem está claramente indicado neste capítulo do Evangelho de Mateus.
Assim, a Palavra nos mostra que o Senhor Jehovah proveu o nascimento de João Batista para que ficasse evidenciada tal necessidade. João Batista era um líder corajoso, um profeta representante da parte sadia do povo judeu e mais tarde seria decapitado, por ordem de Herodes Antipas, por causa de sua pregação contra os maus costumes que, partindo da própria casa reinante, se alastravam por toda a terra de Canaã. Apesar de sua morte, a mensagem de arrependimento difundida pela “voz do que clamava no deserto” não foi silenciada.
Embora a mensagem de João fosse a mensagem da voz que clamava por arrependimento, ela visava também a dar conhecimento aos homens de um acontecimento da maior importância para eles: a aproximação do reino do Senhor. Essa mensagem era fundamental, porque os habitantes da terra de Canaã, em sua maior parte, viviam em um deserto espiritual. A fé que possuíam anteriormente havia secado como os poços e fontes de Judá que existiam ao norte do mar Morto. Suas afeições estéreis já não produziam os frutos do amor e da caridade.
Uma parte deles era constituída por não-judeus (gentios) e, por isso, não podiam ser censurados, pois não tinham conhecimento de religião. Outra parte deles era constituída por judeus desiludidos. Viviam num mundo de pobreza material tanto quanto de fome espiritual. No plano natural, enfrentavam os senhores conquistadores com seus chicotes e, no plano espiritual, defrontavam-se com os fariseus que os forçavam a aceitar uma fé falsa e hipócrita. Sentiam fome e sede, vagavam num deserto espiritual e não sabiam para onde deviam dirigir-se. Foi, então, que ouviram a voz, a solitária voz de João, clamando no sentido de que fosse preparado o caminho do Senhor.
Estava chegando o grande rei, o Messias, que libertaria todas as nações. Mas como poderiam eles preparar o caminho para o Senhor? Como, em tão precárias condições, poderiam receber o grande rei? Estavam eles preparados para receber o Messias? O batismo efetuado por João e a mensagem transmitida por ele continham a palavra de ordem que era um verdadeiro desafio: somente pelo arrependimento podia ser preparado o caminho para a chegada do Senhor. Não adiantariam presentes, festas e discursos laudatórios, quando o rei chegasse. João chamava: “Arrependei-vos, vigiai, esperai pelo Messias, o Libertador”.
Aqueles homens que viviam na Judéia e adjacências conheceram muitos reis, que pouco diferiam entre si. Em qualquer de seus reinados havia sempre pobreza, impostos e crueldades, que esmagavam os povos governados. Como a preparação para a chegada do Messias era anunciada de maneira diferente, talvez - pensavam os habitantes de Canaã - o Seu reinado também fosse diferente. Apesar de não terem idéia assentada a respeito, isso se confirmou. Muitos deles aprenderam, mais tarde, que se tratava de um reinado espiritual. Foram sensibilizados pela mensagem de João e acreditaram na sua pregação. Um espírito de antecipação varreu toda a terra de Canaã. Quando o Senhor começou o Seu ministério, a mensagem de João havia preparado o caminho e algumas pessoas estavam prontas para aceitar uma nova concepção interna da vida. A grande maioria, entretanto, continuava em estado de dúvida e de apatia.
Também, nos dias de hoje, muitas pessoas são descrentes e apáticas, como ocorria na Palestina há quase dois mil anos. Elas não têm idéia segura do que é um verdadeiro reino espiritual. Vagueiam através do deserto escuro de suas mentes à procura da luz que possa orientá-las. Mas os males de que são portadoras as cegam e elas não conseguem encontrar o caminho que leva ao Senhor. Assim como a maioria dos habitantes antigos de Canaã não receberam o Senhor em Seu Primeiro Advento, os nossos contemporâneos também não O recebem em Seu Segundo Advento.
Desse modo, os homens de hoje também necessitam de preparação. Não uma preparação baseada, por exemplo, no medo da guerra atômica, mas baseada na necessidade de se encontrarem, de descobrirem a significação de suas próprias existências. João não falava de perigos naturais, mas sim de perigos espirituais. Ele apontava para a vida espiritual e aconselhava aos homens que produzissem frutos dignos de arrependimento. Ele batizava com água, que representa a verdade reformadora do homem, mas afirmava que, após ele, viria um mais poderoso, que batizaria com o Espírito Santo, que é o regenerador do homem que se arrepende. Mas a grande maioria das pessoas que o seguiam estavam mais interessadas em coisas naturais e mundanas, o que também ocorre nos dias de hoje.
Raciocínios deturpados e interesses mundanos concorrem para afastar os homens contemporâneos da Igreja. Em seu comodismo, não querem ouvir falar sobre os pecados, porque, segundo dizem, isso concorre para o estabelecimento de complexos de culpa na mente humana. Preferem dissimular seus males com palavras científicas, atribuindo seus erros a complexos, inibições, neuroses e psicoses. Devemos, entretanto, lembrar-nos de que, enquanto o homem não reconhecer os males que pratica como sendo de sua autoria, enquanto ele não os enfrentar e os combater como por si mesmo não haverá arrependimento genuíno. E o arrependimento, com as consequentes obras da penitência, é a chave que abre nossa visão interior para a percepção do reino dos céus.
Por outro lado, o homem contemporâneo não se sente com resistência bastante para trilhar o duro caminho do deserto, que leva ao arrependimento e á penitência. Ele nem mesmo sabe o que são tentações e como podem concorrer para sua reforma e regeneração. As comodidades materiais e as distorções intelectuais não o levam ao arrependimento. Até mesmo entre os líderes atuais de correntes religiosas e filosóficas se estabelece a dúvida quanto à necessidade do arrependimento. Em sua fé hesitante, ou em sua ausência de fé, chegam a pensar e a dizer que é muito cedo para se aborrecerem com a idéia da existência do céu e da vida no outro plano. Dizem que, quando saírem deste mundo, descobrirão o que existe no outro e que, então, farão as obras da penitência.
Muitos agem e pensam desse modo. Não se dão conta de que nós necessitamos levar uma vida sóbria, evitando os males como pecados contra Deus, e uma vida corajosa de aplicação da verdade, que nos leve a alcançar os estados de reforma e de regeneração. Não se dão conta de que jamais alcançaremos esses estados se não aceitarmos os Sagrados Mandamentos do Senhor e os pusermos em execução durante nossa vida neste mundo.
Uma outra parte dos homens de nossos dias concorda, com os lábios, que o que a religião prescreve é verdadeiro, mas isso é apenas uma atitude externa. Falham na procura do lado interno da mente, não têm capacidade para alcançar uma fé interior que os leve à verdadeira finalidade da existência. Vêem apenas o deserto em volta deles. Não vêem que dentro de sua mente existe um oásis de terreno fértil que reproduzirá, infinitamente, a verdade e o bem que nele forem plantados pelo Senhor. Não vêem o arrependimento e a penitência como instrumentos de preparação desse terreno que, trabalhado com responsabilidade, os levará à reforma, à regeneração e à vida eterna.
João Batista foi suscitado pelo Senhor para preparar o caminho que levaria os homens de sua época a compreenderem o extraordinário acontecimento da Primeira Vinda do Senhor, que resultaria numa ligação mais aproximada de Deus Criador com Sua obra. Esse evento marcava uma nova era de possibilidades para a criatura humana, pois a lição da Palavra nos diz que o reino dos céus estava próximo. Somos ensinados pelos Escritos que João Batista representa a letra da Palavra, que era então transmitida oralmente, porque somente os sacerdotes, os professores e os pregadores religiosos tinham acesso aos livros santos, que eram escritos a mão em folhas de papiro ou de pergaminho.
Mas como a Palavra e a Própria Divina Verdade, nela se encontrava todo o Poder para levar os homens daquele tempo ao arrependimento e a uma vida futura alicerçada na verdade e no bem. Assim, compreendemos por que João Batista pregava o arrependimento. Além de João Batista, foram escolhidos pelo Senhor como instrumentos que trabalhariam para o estabelecimento da Primeira Igreja Cristã todos os discípulos e apóstolos, bem como os prosélitos que os acompanharam e que difundiram com tanto empenho, a letra da Palavra naquele tempo. Foi através de sofrimentos, penitências e sacrifícios desses precursores que o Senhor estabeleceu a Primeira Igreja Cristã, dando-lhes força para enfrentarem a hostilidade daqueles antigos povos idólatras e suportarem as perseguições dos reis e imperadores de então. Desse modo, tais precursores constituíram uma nova dispensação religiosa, alicerçada nas verdades simples que podiam ser compreendidas por eles, pois os arcanos profundos da Palavra ainda não haviam sido revelados.
Entre esses arcanos encontrava-se, no Apocalipse, a profecia do estabelecimento de uma futura dispensação religiosa: a Nova Jerusalém. Essa Nova Igreja do Senhor se estabeleceria tendo como base o sentido espiritual da Palavra, o que constituiria a Segunda Vinda do Senhor. Emanuel Swedenborg, o sábio sueco que nasceu no século 17 e morreu no século 18, foi preparado pelo Senhor para transmitir aos seres contemporâneos e, obviamente, aos pósteros a revelação dos arcanos contidos na Palavra. Em trinta e seis obras teológicas, foram desvendados todos os esclarecimentos de que um cérebro sadio necessita para habilitar-se a alacnçar o reino dos céus, que, segundo se aprende nas Doutrinas Celestes, está muito próximo daqueles que verdadeiramente o desejam. Swedenborg e aqueles que aceitam as doutrinas reveladas por seu intermédio são os novos precursores da Igreja, que será a coroa de todas as igrejas.
Fora da Nova Igreja, estão os possuidores dos bens materiais de hoje, estão os intelectuais descrentes, estão os cientistas materialistas, estão os políticos ambiciosos, bem como os grupos que os acompanham. Estarão eles preparados para receber o Grande Rei em Seu Divino Humano? Poderão os adoradores do bezerro de ouro aceitar os ensinamentos das Doutrinas Celestiais referentes à necessidade de levarmos uma vida norteada pela verdade e tendo como finalidade o bem e a caridade? A resposta é que a história do homem se repete nesse terreno. A grande maioria da humanidade continua em estado de dúvida e de apatia quanto à religião.
Entretanto, nós, os membros da Nova Igreja, os propugnadores da nova revelação, devemos ter uma fé robusta em que o reino dos céus será finalmente estabelecido entre os homens. A nova palavra de ordem, contida nos Escritos é: regeneração. É indispensável que cada um de nós trabalhe pela própria regeneração com todas as forças que, para esse fim, o Senhor nos proporciona. Devemos ser sóbrios como João Batista, evitando, em nossas vidas, os males que são pecados contra Deus. Devemos ser corajosos como João Batista, aceitando sempre o veredito da verdade, quaisquer que sejam as consequências. Devemos amar as verdades contidas no sentido literal da Palavra e amá-las no sentido espiritual desenvolvido nas Doutrinas Celestes da Nova Jerusalém. Devemos ser os arautes fiéis dessas novas doutrinas, difundindo os ensinamentos dos Escritos entre todos aqueles que desejam encontrar-se a si mesmos e descobrir a verdadeira finalidade da existência.
Se procedermos desse modo, se os nossos propósitos forem efetivamente os propósitos de servirmos como instrumentos do Senhor no estabelecimento de Seu reino na terra, então poderemos considerar-nos também destinatários da mensagem contida no texto que serve de epígrafe a este sermão: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas”.

Amém.

 

Lições: Mateus 3;1 a 11
             VRC 510

(Inspirado em sermão do Rev. Robert Jungé)

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VRC 510
ARREPENDIMENTO E PENITÊNCIA

 

                        A penitência, para ser penitência e produzir efeitos no homem, deve pertencer à vontade... e não somente ao pensamento, por consequência deve ser efetiva e não apenas nos lábios. Que a penitência seja a primeira coisa da Igreja vê-se claramente pela Palavra. João Batista, que foi enviado antes, a fim de preparar o homem para a Igreja que o Senhor devia inaugurar, pregava o arrependimento e a penitência, ao mesmo tempo que batizava. É por isso que seu batismo era chamado batismo da penitência e do arrependimento e isso porque o batismo significava a lavagem espiritual, que é a lavagem dos pecados. Ele, João, fez isso no rio Jordão, porque o rio Jordão significava a introdução na Igreja; esse rio era o primeiro limite da terra de Canaã, onde estava a Igreja. O Senhor também pregou a penitência para a remissão dos pecados, tendo ensinado que a penitência é a primeira coisa da Igreja e que, quanto mais o homem faz penitência, tanto mais seus pecados são afastados e que, quanto mais os pecados são afastados, tanto mais eles são reunidos. Além disso, o Senhor, ao enviar os doze apóstolos (e tambpem os setenta), ordenou-lhes que pregassem o arrependimento e a penitência. Por isso, é evidente que a penitência é a primeira coisa da Igreja.