Honestidade


Um sermão pelo Rev.Glenn G.Alden

"Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade,
por que não credes?
Quem é de Deus ouve as palavras de Deus".


João 8:46,47

Todos nós conhecemos o mandamento: "Não dirás falso testemunho". No sentido literal, este mandamento proíbe a afirmação falsa. Proíbe a pessoa de testificar falsamente sobre qualquer matéria. O falso testemunho, num sentido mais amplo, compreende não somente a afirmação falsa, mas também toda e qualquer mentira, fraude ou difamação. Se você enfeita um produto que está tentando vender, está praticando um falso testemunho. Se tenta atacar a reputação de alguém espalhando rumores ou mentiras, está levantando falso testemunho. Mesmo se você deixa de falar em defesa de uma vítima inocente quando sabe que é inocente, porque não quer se envolver, está levantando falso testemunho. É fácil ver a importância deste mandamento na sociedade. Porque o engano, a mentira e a difamação rompem a própria fibra de confiança de que depende a marcha da sociedade.
No sentido espiritual, o testemunho falso significa declarar verdadeiro algo que é falso e declarar bom algo que é mau, e vice-versa. A pornografia é exemplo de uma coisa que tenta igualar o mal com a felicidade. Nossa cultura dá falso testemunho quando iguala o poder e o sucesso material com a felicidade.
No sentido supremo, o mandamento contra o falso testemunho proíbe toda blasfêmia contra o Senhor e Sua Palavra. Negar Deus ou atribuir o mal a Deus, é levantar falso testemunho. Usar a Palavra para defender alguma idéia falsa ou alguma prática má é levantar falso testemunho.
Hoje lemos sobre o debate de Jesus com alguns dos judeus sobre a razão por que eles O perseguiam e, mais tarde, haveriam de matá-lo. Ele lhes disse: "Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis... Por que não entendeis a minha linguagem? por não poderdes ouvir a Minha palavra. Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai". É evidente que a razão pela qual o chefe dos sacerdotes e os fariseus odiavam ao Senhor e buscavam matá-Lo era a verdade que Ele ensinava. Seus amores pelo poder, pelo dinheiro e pela fama estavam ameaçados pelas palavras dos Senhor, e assim, por aqueles amores egoístas, ele O julgavam e desejavam condenar os ensinamentos dEle.
Nós não somos diferentes. Nossos amores egoísticos pelo poder, pelo dinheiro e pela boa reputação estão continuamente a nos pressionar para torcer a verdade e para que enxerguemos as coisas da maneira que nos traga nossa própria vantagem. Se, dirigindo, avanço um sinal vermelho, tento desculpar-me ou minimizar o fato, especialmente se nenhum acidente daí resulta. "Não tem problema, eu estava prestando atenção", digo para mim mesmo. No entanto, se algum outro motorista avança o sinal na minha frente, sinto-me insultado. "Que estúpido!", penso, e imagino que o outro motorista é inteiramente egoísta, sem nenhum cuidado para com as outras pessoas, e que não liga a mínima se sua atitude causa algum dano. Que é isto, senão falso testemunho? Não estou vendo os fatos da maneira que quero que eles sejam?
Isto acontece de igual modo com as pessoas com que vivemos. Se eu perco uma de minhas ferramentas e não a encontro, é um contratempo. Mas se foi uma das crianças que a perdeu, então chamo isto de relaxamento e um total descaso para com minhas coisas. Se deixo minhas roupas jogadas pela casa e esqueço de guardar os sapatos no armário, é porque eu estava "muito ocupado"; mas se as crianças ou outras pessoas fazem o mesmo, é porque "não têm consideração e não refletem".
O amor de si nos faz dar interpretações errôneas nas coisas que outras pessoas dizem e fazem, ao mesmo tempo que nos leva a olhar com olhos indulgentes as coisas erradas que nós mesmos fazemos e dizemos. Olhando por alto, este não parece ser um mal muito terrível. Mas a verdade é que esse mal deteriora o relacionamento, faz mal aos outros e nos impede  de enxergar em nós mesmos males que poderiam ser facilmente evitados. Nós não crescemos espiritualmente porque vemos nossos males numa luz boa e os justificamos e desculpamos.
Honestidade é falar a verdade sobre aquilo que está realmente ocorrendo em nossas vidas. E, num sentido mais eminente, honestidade é continuamente pedir ao Senhor para nos mostrar qual é a verdade acerca de nossas vidas. Acostumamos tanto a mentir para nós mesmos sobre nossa real condição, que não podemos enxergar a verdade sem o auxílio do Senhor.
É interessante observar que sempre que se tem uma discussão pública a respeito da honestidade, uma das primeiras coisas a nos vir a mente é a questão das "mentirinhas" e da necessidade de algumas vezes se dizer coisas que não são verdadeiras. Há quem afirme que nunca se deve dizer à esposa ou a uma amiga que ela não está bonita com o novo penteado, mesmo quando ela insiste em que você diga realmente se ela está bem ou não. Certamente é útil discutir a questão das "mentirinhas", não por causa delas em si, mas por amor à honestidade. Os espíritos infernais, através dessas mentirinhas aparentemente inofensivas, querem nos fazer acreditar que elas não tem importância, que não é a questão da honestidade que está em jogo. Porque, se eles conseguem fazer com que acreditemos que a mentira às vezes é útil, então se torna fácil nos levar à desonestidade. Se achamos que às vezes é preciso falar uma mentirinha, e que essas mentiras às vezes são úteis e até são caridade, então estamos erodindo nossa decisão de sempre ver e dizer a verdade. Pois se achamos que às vezes é correto dizer uma mentira, então quase nunca falaremos a verdade quando nosso próprio interesse estiver em jogo.
O desenvolvimento espiritual da pessoa é impossível sem a honestidade. Ninguém pode ser transformado pelo Senhor antes que esteja disposto a se enxergar honestamente e a ver as coisas que precisam ser mudadas.
Muitos homens acreditam que lhes cabe prover a liderança espiritual do lar e, desse modo, têm receio de demonstrar ignorância ou falta de entendimento. Esta é a razão por que eles raramente falam sobre as Doutrinas com suas esposas, embora as esposas desejassem muito isso.
E muitos homens também pensam que seus males são tão medonhos, especialmente os males que eles praticaram no passado, que não se atrevem a confessá-los às suas esposas. Têm receio de que as esposas, sabendo o que eles realmente são, deixem de amá-los. Mas não é uma tolice a pessoa esconder seu verdadeiro ser daquela com a qual ela quer se unir ao ponto de serem uma só? Que os maridos perguntem isso às suas pessoas. Estou certo de que elas responderão que o amarão muito mais pelo fato de eles compartilharem com elas as lutas e os sentimentos de culpa dos quais elas não tem conhecimento. Elas preferem isso ao hábito que muitos maridos têm de fingir que são melhores do que os outros, quando tanto um quanto outro sabem que isso não é verdade. O casamento se eleva quando os cônjuges começam a ser realmente honestos um para com o outro.
A boa paternidade também é impossível sem a honestidade. Provavelmente, é mais difícil ser honesto com os próprios filhos do que com qualquer outra pessoa. A razão disso é que nos sentimos confusos sobre o que é bom para nossos filhos e confusos sobre nosso relacionamento com eles. Quem é que não tem a idéia de que um pai deve sempre ser correto? E qual criancinha não imagina que seus pais são perfeitos? Nós bem sabemos que freqüentemente não somos corretos, e nossos filhos mais velhos sabem que não somos perfeitos; e, todavia, este é o papel que fazemos.
Na época em que chegam à adolescência, os filhos começam a achar que os pais são hipócritas, e os pais se ressentem com os filhos por estes esperarem que eles fossem perfeitos, ao mesmo tempo que se sentem culpados por terem traído a confiança dos filhos. A honestidade poderia evitar muitos desses problemas. Acima de tudo, a honestidade significa estar disposto a admitir diante dos filhos que se está errado quando realmente se está errado. Se você perde o controle e depois se sente culpado pelas coisas que disse ao seu filhos, simplesmente diga-lhe que você perdeu o controle e que se sente culpado por ter dito o que disse. Do contrário, quem você está realmente enganando? Os filhos podem ficar tristes quando descobrem que seus pais têm males, mas se nós estamos sempre perdendo o controle com eles e depois negando que isto seja um problema, então eles pensarão que nós, os pais, temos mau temperamento e além disso somos mentirosos. Então, é preferível que eles pensem que temos mau temperamento, mas que somos honestos.
Honestidade significa não fazer ameaças vãs. É certo que você quer que seus filhos sejam bons, e algumas vezes parece que, se você os ameaçar com horríveis castigos, eles deixarão de ser maus. Mas cada vez que os pais ameaçam castigá-los e depois, sentindo pena, não os castigam, estarão mentindo. Os filhos acabarão por desacreditar nas palavras de ameaças dos pais e ignorar a repreensão ou castigo, quaisquer que sejam.
Honestidade é procurar manter sua palavra. Os pais gostam de prover boas coisas aos seus filhos. Mas, quanto mais ocupados eles são, e quanto menos coisas eles puderem dar, mais tendem a lhes fazer promessas que não podem cumprir. Quando nos sentimos culpados sobre o pouco que temos feito por nossos filhos, ou quando sentimos remorsos por os termos magoado, tendemos a fazer promessas que gostaríamos de poder cumprir, mas às vezes sem nenhuma idéia de como poderemos cumpri-las. Quanto mais culpados nos sentimos, mais extravagantes são as promessas que fazemos. Gradativamente, as crianças aprendem que nossa palavra não é digna de crédito.
Como agir, então? Em vez de lhes dizer algo que você gostaria que fosse verdade, diga somente algo que você tem certeza de que é verdade. Promessas simples, como de pegá-las no colo por uns minutos ou de sair lá fora e jogar um pouco com elas, são promessas que podem ser cumpridas. Podem não parecer muita coisa para nós, mas significarão muito mais para os nossos filhos do que uma grande promessa que nunca seremos capazes de realizar.
Ás vezes até a idéia de ser honesto quanto a determinada coisa nos assunta. Mas isto é porque os males que nós mais amamos se sentem ameaçados pela honestidade. A honestidade expõe todas as faltas e fraquezas que nós sabemos que temos e achamos que não devíamos ter. A honestidade nos faz ter medo de sermos condenados pelos males que admitimos que temos. A honestidade nos obriga a admitir que temos estado longe da perfeição como pais e cônjuges. Mas não devemos ter esses receios. O Senhor já nos conhece e sabe o que realmente somos. Se quisermos ver a verdade, a verdade nos fará livres.

Amém.


Lições: Levítico 6:1-7; João 8:31-47; DV 87-89