UMA GRANDE VOZ COMO DE TROMBETA

Sermão pelo Rev. B. David Holm 

Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor e ouvi atrás de mim
uma grande voz como de trombeta.


(Ap. 1:10).

                        A extraordinária mensagem oculta neste versículo e acolhida pela Nova Igreja é realmente a grande voz de uma trombeta, porque é a Divina Verdade fluindo do céu em toda sua plenitude. É a mensagem que ensina aos homens Quem é o Senhor, onde pode ser visto e como deve ser recebido.
O Apocalipse, de onde tiramos nosso texto, é a parte da Palavra que contém revelações destinadas à Nova Igreja. São revelações do Senhor Glorificado, e que se referem profeticamente à instituição religiosa a que pertencemos. Esse livro nos mostra o que devemos aprender para compartilhar com nossos semelhantes. As verdades que nele aprendemos devem ser passadas adiante, segundo recomendação anterior transmitida aos discípulos em Mateus 28:19 e 20: "Ide, portanto, ensinai a todas as nações... Ensinai-as a observar todas as coisas que vos tenham mandado".
Procuremos compreender o princípio da visão do apóstolo João na ilha de Patmos. Ele teve seu espírito aberto no dia do sábado. Seus olhos e ouvidos foram abertos e ele ficou habilitado a receber a revelação do Senhor. Ouviu atrás dele uma grande voz como de trombeta. A voz lhe disse: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último". Em seguida, foi-lhe dito que escrevesse o que visse e ouvisse em um livro e enviasse às sete igrejas da Ásia. Ele voltou-se para ver quem falava e viu sete castiçais de ouro. Os castiçais estavam separados e, no meio deles, João viu um semelhante ao Filho do Homem em todo Seu esplendor. Isso lhe trouxe grande medo, fazendo-o cair a Seus pés.
No sentido interno, essa visão contém importante mensagem, que é dirigida a todos aqueles que desejam ir ao encontro do Senhor em Sua segunda vinda. João representa todos os que estão no bem da vida (Apocalipse Revelado 42). A poderosa voz de trombeta, isto é, a nova revelação, é dirigida, portanto, a todos os que desejam alcançar o bem da vida. É a esses que devemos convidar para tomarem conhecimento das verdades reveladas à Nova Igreja, a fim de serem os difusores da Doutrina no futuro.
Mas o sentido espiritual do texto nos esclarece ainda que é necessária mais alguma coisa além do bem da vida. João estava em espírito no sábado, dia do Senhor, e isso significa a preparação do homem pelo Senhor, de modo que o homem possa compreender as coisas que ocorrem no plano espiritual. Assim, a verdadeira preparação das pessoas, para receberem as novas verdades, é realizada pelo Senhor. Somente Ele prepara e regenera todos os que O procuram.
"Ouvir uma grande voz como de trombeta" significa a percepção da Divina Verdade revelada do céu (Apocalipse Revelado 37). Quando a voz de uma trombeta é mencionada na Palavra, ela significa a Divina Verdade atravessando os céus e chegando aos homens na terra. Na parte do Êxodo, que trata da transmissão dos Dez Mandamentos, lemos no versículo 16 do capítulo 19: "Ao amanhecer do terceiro dia, houve trovões e relâmpagos e uma espessa nuvem sobre o monte, bem como forte clangor de trombeta". Era a manifestação da Divina Verdade na lei que era transmitida a Moisés.
É importante notar que pela "voz de trombeta" é significada a verdade proveniente do bem celestial. Mas essa verdade, sendo recebida como simples conhecimento doutrinal, permanece na memória e não tem vida. É imprescindível que ela seja um veículo do bem do amor aplicado à vida das pessoas. Somente assim "a voz da trombeta" impressiona verdadeiramente as pessoas e pode beneficiá-las. É necessário que aqueles que a ouvem sejam efetivamente receptivos do bem do amor que ela transmite.
A mensagem constante de nossa lição é extremamente simples. Ela nos diz: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último", isto é, o início e o fim de todas as coisas. Envolve a infinitude e a onipotência do Senhor e, se efetivamente recebermos essa revelação em nossos corações, passaremos a compreender a Doutrina Celeste que emana do Senhor em Sua segunda vinda.
Essa mensagem, esclarecedora de que o Senhor é o princípio e o fim de todas as coisas e mostrando que d'Ele fluem todas as revelações, constitui a essência dos ensinamentos da Nova Igreja. Todas as coisas procedem do Senhor. Ele é o amor absoluto e a Sabedoria absoluta, e somente Ele tem a vida em Si, a qual Ele distribui infinitamente. É o Salvador e o Iluminador. É tudo nos céus, no universo e na igreja. Somente Ele é infinito e eterno. É uno, integrado pelos atributos representados pelo Pai, Filho e Espírito Santo.
Isso constitui a essência da teologia da Nova Igreja e é essa teologia que devemos corajosamente proclamar ao mundo. Ela deve estar nas mentes e nos corações de todos os novojerusalemitas, nascidos na Igreja ou filiados a ela na idade adulta. Aceitando essa teologia, aproximamo-nos do Senhor, procuramos corresponder ao Divino Amor e esforçamo-nos no sentido de cumprir as Suas Leis, que são resumidas em dois mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
João recebeu recomendação do Senhor no sentido de transmitir às sete igrejas da Ásia a revelação daquilo de que ele era testemunha. Por esse fato é significado que a Doutrina Celeste deve ser revelada, de modo geral, a todos os que procuram a luz da verdade e, num sentido mais específico, a todos do mundo cristão que estão na luz da verdade procedente da Palavra. As sete igrejas representam as várias modalidades de amor manifestadas ao Senhor, segundo a percepção de cada uma. A visão de João, no final do Apocalipse, quando viu a cidade santa de Jerusalém descendo do céu com doze portas, também tem uma significação especial: as doze portas significam todos os estados de afeição pelo bem e todos os estados de amor pela verdade, através dos quais os fiéis à doutrina penetram na cidade.
Notemos que João ouviu a "voz como de trombeta" atrás dele e voltou-se para ver quem estava falando. Tal como João procedeu em relação à Divindade, procurando compreender Sua mensagem, nós, ao aceitarmos o chamado do Senhor, temos de tornar-nos receptores da verdade. Voltar-nos para o Senhor significa receber as verdades de Sua Palavra e aplicá-las às nossas vidas. É por meio das verdades que recebemos que o Senhor se mostra em Seu Divino Humano. Assim, voltar-nos para o Senhor envolve uma mudança em nosso estado mental: há uma troca da percepção natural pela percepção espiritual.
Quem está mergulhado no mal não dá ouvidos à verdade revelada. Mas, aqueles que vivem no bem, ouvem a Divina Verdade e podem modificar, para melhor, seu estado. Assim, para pertencermos verdadeiramente à Nova Igreja, devemos regenerar-nos e reconhecer o Senhor Jesus Cristo como o Único Deus em Quem está a Divina Trindade, que constitui Seus atributos. Devemos esforçar-nos para entrar no bem espiritual, que somente poderemos alcançar evitando os males como pecados contra Deus e nos tornando instrumento na prática dos usos estabelecidos pelo Senhor. É isso que significa voltar-nos para o Senhor.
Quando João se voltou para ver de onde procedia a voz que lhe falava, viu sete castiçais numa espécie de círculo. No sentido espiritual, esses castiçais representam a Nova Igreja, para a qual são chamadas todas as pessoas que aspiram a alcançar a verdade, e o círculo significa a inteligência transmitida pelo Senhor.
Os castiçais, que representam a Nova Igreja, significam simultaneamente o bem do amor e o bem da sabedoria, assim como o bem celestial, que é o amor do Senhor. E a Nova Igreja, que é a noiva e esposa do Cordeiro, só tem a vida quando é alimentada por esse amor. Assim, devemos guardar esse ensinamento em nossos corações e lutar no sentido de aplicarmos à nossa vida o bem do amor e o bem da sabedoria.
Lemos no Apocalipse 21:3 que "a santa Jerusalém não necessita de sol nem de lua, porque sua lâmpada é o Cordeiro e as nações que foram salvas andarão em Sua luz". Conclui-se, pois, que estando a luz do Senhor no centro dos castiçais, nestes não havia lâmpadas, quando João teve a primeira visão do plano espiritual. E, se houver luz neles, devemos preferir a luz do Cordeiro, porque essa é a que ilumina a Nova Igreja e salva todas as nações que são por ela iluminadas.
No meio dos sete castiçais estava o Senhor "um semelhante ao Filho do Homem". Quando o Senhor é descrito como o Filho do Homem isso significa que Ele representa a Palavra, isto é, o Senhor em Seu Divino Humano ou Divina Verdade, pois a Divina Verdade procede do Divino Humano, ou seja, do Senhor glorificado.
O Senhor, como Palavra ou Divina Verdade, é o centro da Nova Igreja, da qual, se formos crentes sinceros, também poderemos representar os castiçais. O Senhor, como centro da Igreja, é o Sol que irradia o calor do amor e a luz da sabedoria para todas as Suas criaturas. Como podem ser transmitidos o amor e a sabedoria do Senhor àqueles que estão fora da Igreja? Isso pode ser feito por intermédio das pessoas que já conhecem os ensinamentos do Senhor, de acordo com as palavras ditas aos discípulos: "Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus" (Mateus 5:16).
A mensagem ditada a João e enviada às sete igrejas da Ásia tem como objetivo mostrar que o Divino Humano do Senhor deve ser reconhecido por todos. Esse reconhecimento não é privativo aos filiados à Nova Igreja. Essa revelação do Segundo Advento do Senhor deve ser transmitida a todo o nosso planeta, até que os seus habitantes possam constituir uma grande maioria religiosa.
Fomos prevenidos de que haverá aqueles que rejeitarão os ensinamentos da Nova Igreja e serão contrários à nossa fé. Outros julgarão os ensinamentos que difundimos como fantasias agradáveis e curiosas. Outros, ainda, os receberão apenas intelectualmente, não permitindo que as novas verdades penetrem em sua vontade e, assim, permanecem nos mesmos hábitos de sua vida.
Para nosso consolo, há, entretanto, aqueles que recebem os ensinamentos com alegria e desejam ser confirmados nas verdades da Doutrina Celeste, transformando-se em soldados do Senhor. Estes são os que ouvem "a voz como de trombeta" e, como João, caem aos pés do Senhor respeitosamente. São os que desejam ser preparados para uma vida espiritual futura.
O Senhor, em sua Divina misericórdia, encaminha essas pessoas para a Nova Igreja, a fim de que recebam os ensinamentos que as levarão a regenerar-se. Esses casos, porém, não são numerosos em nossas sociedades. Mas não devemos desencorajar-nos com a falta de novos aderentes, porque os Escritos nos dizem que "a princípio, a Igreja será constituída por um pequeno número" (Apocalipse Revelado 546). É também dito que a Nova Igreja crescerá na terra à proporção que for crescendo no mundo dos espíritos (Apocalipse Explicado 730).
Entretanto, esses esclarecimentos não anulam nossa responsabilidade de difundir a Doutrina Celeste da Nova Igreja por todos os meios possíveis. Sabemos que é o Senhor Quem realiza esse trabalho, mas devemos recordar-nos de que o Senhor instrui as pessoas por meio de outras pessoas. Os instrumentos de que Ele dispõe para difundir Sua doutrina  são aqueles que representam os castiçais de nossa lição.
Devemos realizar esse trabalho de difusão com "uma grande voz como de trombeta", de modo que a nova revelação possa ser ouvida e aceita não somente por aqueles que procuram o caminho do bem e da verdade, mas também por todos os outros, porque o Senhor convida a todos para o Seu banquete. Devemos considerar esse trabalho como sendo da maior importância, e executá-lo segundo a recomendação feita pelo Senhor em Josué 1:9 : "Não te mandei Eu? Sê forte e corajoso; não temas nem te espantes, porque o Senhor teu Deus é contigo por onde quer que andares".

Amém.

Lições:
1. Apocalipse 1:8 a 20
2. Apocalipse Revelado 37
Adaptado por J. Lopes Figueredo

 

APOCALIPSE REVELADO 37

            37. E ouvi atrás de mim uma grande voz como de trombeta significa uma percepção manifesta da Divina Verdade recebida do céu. "Uma grande voz", quando recebida do céu, significa a Divina Verdade, como se vai mostrar. Ela foi ouvida "como de trombeta", porque a Divina Verdade quando desce do céu é, às vezes, ouvida assim pelos anjos do último céu e então manifestamente percebida. Em consequência, por "uma voz como de trombeta" é significada uma percepção manifesta...
Como a voz significa a Divina Verdade procedente do Senhor, é por isso que Ele diz: "Minhas ovelhas ouvem a Minha voz. Eu as conheço e elas Me seguem". (João 10:27).

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