Esperança

Sermão pelo Rev. Robert S. Jungé

“Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacob por seu auxílio,
e cuja esperança está posta no Senhor seu Deus”


(Salmo 146:5)

A corrente da vida humana está num constante estado de enchente e vazante. Às vezes, o homem se encontra no pináculo da montanha do amor; outras vezes no vale da sombra da morte. Às vezes, ele sente felicidade e esperança, outras vezes sua alma rasteja na tristeza e no desespero. Os Escritos da Nova Igreja nos dizem que nesse último estado, o homem se acha como que num precipício, prestes a mergulhar no inferno (AC 8165). Pensa que está perdendo a força e a esperança que vêm do Senhor. Sua aflição é uma experiência amarga, como fel ou absinto. Sua alma se torna insignificante e humilde como lemos no capítulo 3 das Lamentações de Jeremias. Entretanto, devemos lembrar-nos do que é afirmado no Salmo 103;8: “Misericordioso e piedoso é o Senhor, longânimo e grande em benignidade”. O Senhor não deseja afligir nem atormentar seus filhos. Os Escritos nos ensinam que nós não somos danificados pelas tentações, mesmo que elas aparentemente nos retirem as forças. Os pensamentos de desespero, em tais estados, não produzem dano permanente, porque o poder de Deus é ilimitado. Quando o homem está às portas do desespero, quando pensa que nada mais pode suportar, o Senhor vem em seu auxílio e o liberta. O Senhor traz-lhe um novo estado espiritual de esperança, de consolação e de confiança (AC 8125).
Lembremo-nos de José em seu estado de desgraça. Seus irmãos o aprisionaram e o venderam como escravo. Certamente, ele passou por um estado de dúvida e descrença, quando seus irmãos agiram daquele modo. Entretanto, anos mais tarde, quando, após a morte do pai, os irmãos lhe pediram perdão, ele respondeu: “Não temais. Porventura estou eu no lugar de Deus? Vós intentastes mal conta mim, porém Deus o tornou em bem, permitindo que hoje eu concorra para conservar a vida de um grande povo, que é o meu povo”.
O Senhor nunca leva alguém à tentação. Nós é que a atraímos, porque nascemos com tendências hereditárias para o mal. Os males hereditários não são nossos enquanto latentes, mas podem transformar-se em males atuais se nós os confirmarmos em nossas vidas. Podem transformar-se em um dilúvio de males se nós não impedirmos que eles se manifestem e se não os extirparmos com a ajuda do Senhor. O Senhor não nos induz em tentação, mas permite que ela se manifeste, como único meio pelo qual somos avisados da existência de nossa natureza negativa. Como aprendemos a verdade, podemos ver e sentir o mal; quando isso ocorre, a criatura humana se sente egoísta e má. Ela se sente deprimida e inferior. Nesse estado de humildade, ela se volta para o Senhor e pede Seu auxílio, porque vê que somente o Senhor pode ajudá-la. Esse estado de humildade e confiança no Senhor é o bem que Ele extrai da tentação.
Enquanto, no estado de tentação, as falsidades estão atacando a mente externa do homem, o Senhor está influindo na mente interna ou espiritual, está influindo na consciência do homem. Ele é o construtor da vitória do homem, fazendo com que a esperança nasça de Seu influxo e seja conscientizada pelo homem. Mas essa esperança vem apenas para aqueles que acreditam verdadeiramente no Senhor, pois estes, com toda a confiança, podem dizer com o salmista: “Minha carne repousará em segurança, pois Tu não deixarás minha alma no inferno, nem permitirás que teu servo veja a corrupção. Far-me-ás ver a vereda da vida; na Tua presença há abundância de alegrias: na Tua mão direita há delícias perpetuamente”(Salmo 16;9 a 11).
Como o Senhor permite ao homem a liberdade de escolha entre o bem e o mal, o fluxo da vida humana é uma sucessão de coisas opostas: para o sofrimento há a consolação: para a tentação há vitória; para a dúvida há a visão clara da verdade; para a guerra há a paz; para a morte, há a vida; para a incerteza há a esperança. Para cada caso de manifestação dos infernos, há o auxílio do Senhor para aqueles que n’Ele acreditam. O s infernos desejam que permaneçamos sempre na dúvida e na tentação. Eles desejam que jamais conheçamos a paz verdadeira e a alegria genuína. Querem que soframos penas e desencorajamentos em cada momento de nossas vidas. Durante a tentação, o homem oscila entre a negação e a afirmação. Mas o Senhor está sempre na expectativa de salvar o homem, de animá-lo e de transformar a indecisão que dele se apodera em uma completa segurança. Sua misericórdia está sempre com o homem e, então, ajuda-o a desarraigar os  males que o homem leva em si e o auxilia no sentido de substituí-los pelos bens, portadores da esperança e da alegria. Vencida a tentação, com a ajuda do Senhor, o amor e a fé ressurgem mais robustos e mais autênticos.
Apesar de ter sido testemunha da destruição completa do reino de Israel pelos assírios, Jeremias escreveu no livro de Lamentações 3:26: “Bom é ter esperança e aguardar a salvação do Senhor”. Os israelitas tiveram esperança, mas trabalharam assiduamente para a ressurreição de seu país. Não devemos esperar que o Senhor faça a nossa própria tarefa. Nós mesmos devemos descobrir nossos males e esforçarmo-nos por expulsá-los. O Senhor nos dará o auxílio para isso. Ele tem todo o poder para dar-nos a esperança da salvação, que vem d’Ele. É ele que nos dá o poder de compreender a verdade. É Ele que torna possível nosso afastamento do mal. É Ele que nos dá a salvação e a vida eterna, é Ele que vela pela nossa paz futura.
A esperança é muito mais do que a recompensa de uma tentação vencida. A esperança é o principal fator de todos os progressos. A esperança é o alimento do amor, que é a alavanca de todas as ações do homem. Até aos maus, nos infernos, é permitido um grau de esperança, para poderem pôr em prática seus maus amores. Se não tiverem tal esperança pervertida, sua vida perecerá.
Mas a esperança - a força que nós guia na vida - é mantida e fortificada pelas verdades que armazenamos em nosso entendimento. A esperança não é uma coisa cega; ela se desenvolve à luz da verdade. Quanto mais percebemos que Deus realiza todas as coisas da vida, mais forte se torna nossa esperança. Quanto mais estudamos, refletimos e aprendemos sobre Deus, tanto mais compreendemos Sua misericórdia. Não fomos postos no mundo para sofrer. Não fomos criados para conhecer a dor, o sofrimento, o remorso. Nascemos para aprender e compreender a necessidade da humildade, para aprender que a verdadeira esperança nos é doada pelo Senhor, para compreender que nossa vida vem d’Ele, para nos conscientizarmos de que é a Sua misericórdia que nos guia pelos caminhos da vida e nos leva ao reino eterno da paz e da alegria. Nunca podemos saber exatamente o grau de esperança que o Senhor planeja para nós. Entretanto, a Palavra nos mostra que podemos esperar o máximo do Senhor. Se nós regarmos, com as verdades da Palavra, nossa árvore da vida, ela ficará frondosa e se multiplicará em frutos de esperança para o futuro. Com efeito, a base da esperança é como vimos a fé espiritual constituída pelas verdades da Palavra de Deus, e também constituída pelas afeiçoes iluminadas por tais verdades. Se tivermos uma fé robusta no Senhor e nossas afeições forem pautadas pelos Seus mandamentos, então alcançaremos a verdadeira esperança. E ela será o escudo de nossa defesa e o elixir que estimulará nossas realizações futuras, tudo isso dentro das leis da Divina Providência.
Mas devemos lembrar-nos de um fato relevante. Todos somos criados com diferentes habilidades. Somos feitos para desempenhar usos diferentes no reino eterno do Senhor. Algumas criaturas são menos robustas: outras são fortes e sadias. Algumas são retraídas e menos comunicativas; outras são alegres e animadas. Cada uma é diferente, vivendo sua própria vida, sob a orientação misericordiosa do Senhor. De acordo com suas características, algumas pessoas apresentam aspecto de preocupação e outras aspecto de tranqüilidade. Essa diversidade de comportamento, resultante da variedade que norteia as leis da Criação, é toda ela regulada pela Divina Providência do Senhor. Cada criatura está sendo preparada para um uso especial nas sociedades existentes nos céus. Há uma esperança e um plano para cada uma.. Cada um de nós é portador de amores e habilitações especiais, destinados ao uso na vida futura. Esses amores e habilitações, construídos com nossa esperança, serão nossa medida na vida eterna.
Enquanto estamos neste mundo, parece que somos guiados ao sabor das circunstâncias. As vicissitudes se abatem sobre as vidas dos espíritos mais resistentes. Tentações repetidas procuram vulnerar a fé e a esperança de pessoas que, aparentemente, levam uma vida norteada pelos ensinamentos do Senhor. Pessoas caridosas e boas não acreditam que suas esperanças se realizem. Cada um de nós é portador de uma ou mais frustrações por não termos alcançado aquilo que esperávamos e que desejávamos. Entretanto, não podemos saber, com segurança, se nossos corações objetivavam bons ou maus fins; não podemos, de fato, saber o que se esconde na parte mais oculta de nosso íntimo.
Somente o Senhor pode julgar-nos. Somente o Senhor conhece nosso verdadeiro estado e pode orientar-nos. Se deixarmos que Ele nos guie atingiremos nossas aspirações legítimas. Ele vivificará em nós as esperanças que podem ser realizadas. Ele nos dará aquilo que possamos receber, sem nos causar dano. Nossa colheita será de acordo com a semeadura e de acordo com a honestidade com que regarmos nossas plantas, nossas aspirações, nossas esperanças. Nosso estado de vida no futuro, feliz ou triste, será o resultado de nosso trabalho.
Assim, mesmo que o nosso coração esteja cheio de tristeza, tenhamos esperança. Se precisarmos mudar de orientação, peçamos auxílio a Aquele que pode, realmente, refazer o caminho de nossas vidas. Procuremos no celeiro do Senhor as sementes da esperança e as plantemos profundamente em nossos corações, para que nos livrem da dor e da depressão, e nos levem às alturas de uma vida útil, feliz e afirmativa. Lembremo-nos, sempre, de manter nossos olhos fixos na montanha do amor do  Senhor, nosso Pai Celestial, de quem recebemos a ajuda espiritual. Digamos em nossos corações: “Agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em Ti”.

Amém.


1a. Lição: Salmo 146
2a. Lição: DP 189
Adaptação de J. Lopes Figueiredo