O Empréstimo do Senhor

Sermão pelo Rev.Andrew J.Heilman

 

"Por este menino orava eu, e o Senhor me concedeu o meu empréstimo,
que eu Lhe tinha pedido"


(I Sam.1:27).

Uma verdade Divina de que devemos sempre nos lembrar é que todas as crianças, neste mundo e no outro, não são nossas, mas são do Senhor. A história de Samuel ilustra este ponto bem claramente. Ana, a esposa de Elcana, queria muito um filho e orava ao Senhor por este desejo. Mas, na sua oração, ela disse: "Se Te lembrares de mim, e da Tua serva não Te esqueceres, mas à Tua serva deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias de sua vida". Estas palavras contêm em si a promessa que todos nós devemos ter em nosso desejo por ter filhos.
No caso de Samuel, ele realmente foi oferecido ao Senhor para servi-Lo no tabernáculo. Mas a significação desta ação se aplica a todas as crianças. A própria palavra "criança" tem esta conotação. Nossos filhos são criados pelo Senhor no útero da mãe, e esta criação continua na própria criação ou educação da criança. Acompanhando o crescimento físico da criança, há um crescimento da mente e do espírito. Os pais ajudam o Senhor neste processo, mas temos de reconhecer que o Senhor e seus anjos fazem a maior parte desse trabalho. O propósito do nascimento neste mundo não é o de prover um filho para nós mas sim um filho para o Senhor. Todas as crianças têm de ser criadas de novo, nascer de novo, não de nós, mas do Senhor.
Ana era o tipo de pessoa que desejava muito ajudar a prover um filho para o Senhor. Se o Senhor lhe desse um filho, ela o daria ao Senhor. E também, nosso desejo para ter filhos, e nosso amor por estes, sempre devem conter o desejo que eles sejam ao final filhos de Deus. Assim, precisamos guiar nossos filhos de uma maneira que transfira a sua dependência de nós para o Senhor. Precisamos lhe ensinar a respeito de seu Pai no céu, e que Ele é o Pai de todos. A obediência que queremos neles na criação tem a finalidade de prepará-los para obedecer a seu Pai espiritual no futuro.
Esta transferência dos pais naturais ao Pai e mãe espirituais, isto é, ao Seu reino, é representada por Samuel sendo desmamado e entregue ao serviço do Senhor. No começo, uma criança depende muito dos pais por causa de suas necessidades e decisões na sua vida, como o bebê depende do leite materno. Até a amamentação significa a recepção das primeiras verdades que os pais lhes ensinam, as verdades gerais sobre o Senhor, o céu e os anjos, e a vida neste mundo que conduz ao céu. Quando, porém, a criança cresce, precisa pensar mais por si mesma, precisa aprender do Senhor pela Palavra. As verdades simples não mais satisfazem, e ela quer entender, pensar e escolher por si.
Durante este tempo de crescimento, os pais naturais ainda podem ajudar, deixando que elas pensem e escolham por si, mas ajudando-as nesse processo. Esta ajuda é como o pequeno manto que Ana trazia a Samuel quando ia a Siló na época das festas. O éfode de linho que Samuel recebeu no serviço do Senhor é como as verdades que vêm à criança diretamente do Senhor, pois o linho representa a verdade espiritual. Estas duas vestimentas, o manto e o éfode de linho, se juntam para vestir Samuel, como a instrução dos pais e a verdade do Senhor se juntam para formar o entendimento da criança, que veste a vontade dela.
Essa cooperação entre os pais e o Senhor na criação dos filhos está especialmente refletida nas palavras que Ana usou quando deu o nome a Samuel. Ela chamou o seu nome Samuel, dizendo: "Porque ao Senhor o tenho pedido". Na tradução mais correta é: "Porque ao Senhor o pedi emprestado". A idéia nessas palavras é que Samuel nunca foi dado a ela, mas foi emprestado pelo Senhor. A criança sempre pertence ao Senhor, mas Ele nos deixa ajudá-Lo na criação dela. Ele mesmo precisa de nossa ajuda para dar uma base natural para a vida eterna, assim como o pequeno manto servia para cobrir Samuel no seu serviço no tabernáculo.
Esta idéia de que a criança é um empréstimo do Senhor entra muito na história de Samuel e nos ajuda a entendê-la. Eli, falando a Ana, disse: "Vai em paz, e o Deus de Israel conceda a tua petição que Lhe pediste". A palavra "pedir", como antes, contém a idéia de "pedir emprestado". O pedido de Ana não foi um pedido para possuir um filho, mas para ajudar na sua criação, para ter o privilégio de servir a este importante uso. Também quando Ana levou Samuel a Eli no tabernáculo, ela usou esta mesma palavra, e, com efeito, ela disse: "Por este menino orava eu, e o Senhor me concedeu o meu empréstimo, que eu Lhe tinha pedido. E também o devolvi ao Senhor por todos os dias que viver; ele é um empréstimo do Senhor". Ana sabia, pela maneira milagrosa que teve o filho, que Samuel era um empréstimo do Senhor e, assim, devia também pertencer ao Senhor. Era por causa do reconhecimento disso que o Senhor deu a Ana mais filhos. Pois Eli abençoou a Elcana e sua mulher e disse: "O Senhor te dê semente desta mulher pelo pedido de empréstimo que fez ao Senhor. .Visitou pois o Senhor a Ana e concebeu e teve três filhos e duas filhas. E o mancebo Samuel crescia diante do Senhor".
Ora, normalmente o empréstimo do Senhor é devolvido gradualmente. É só quando uma pessoa tem vinte anos que ela realmente está pronta para deixar seus pais naturais e aceitar, por si mesma, o Senhor como seu Pai e a igreja como sua mãe. Embora a sua mãe continuasse a visitá-lo, Samuel era muito jovem quando entrou no serviço do Senhor. Mas desta maneira o Senhor proveu o bem geral de todo o povo de Israel, pois Samuel, sendo criado neste serviço, se tornaria o novo governador e juiz, unificando o povo e o guiando num tempo difícil que viria no futuro.
Uma coisa semelhante acontece no mundo espiritual. É dito nos Arcanos Celestes que as crianças que têm mais virtudes são de certo modo oferecidas ao Senhor. E quando pensamos nas crianças que saem deste mundo para o outro, crianças como Mônica, podemos pensar que elas são chamadas a um serviço especial ao Senhor. Lemos na obra "DIÁRIO ESPIRITUAL" (nºs 5002 e 5003), "A respeito da duração da vida dos homens: por que alguns vivem muito e outros nem tanto? A vida de todo homem é prevista pelo Senhor no que diz respeito a quanto ele irá viver e de que maneira; daí ele é dirigido, desde a mais tenra infância, com vistas à vida na eternidade. A Providência do Senhor, portanto, começa desde a mais tenra infância. As razões pelas quais alguns morrem quando meninos, outros quando jovens, outros quando adultos e outros quando velhos, são: 1ª, por causa do uso no mundo para os homens; 2ª, por causa do uso, enquanto ele vive no mundo, para os espíritos e anjos, pois o homem, quanto aos seus interiores, está entre espíritos, e aí permanece durante o tempo em que vive no mundo [natural], no qual todas as coisas do mundo espiritual se baseiam; 3ª, por causa do uso para ele mesmo no mundo, quer para que ele seja regenerado ou para que seja deixado em seus males a fim de que esses males não fiquem adormecidos e mais tarde se abram, do que resultaria a sua ruína eterna; 4ª, por conseguinte, por causa do uso posterior, na outra vida, pela eternidade, pois cada um que está no céu tem seu lugar no Máximo Homem ou, por outro lado, tem seu lugar no inferno. Onde quer que as forças estejam faltando, elas devem ser equilibradas e, na Providência do Senhor, homens são conduzidos para ali. Também desse modo o Reino do Senhor é preservado, e o bem desse Reino é [o objetivo da] Providência universal."
Ana, por certo, sentia tristeza quando deixou Samuel e voltou à casa, mas também ela tinha a satisfação de saber que seu filho entrava no Serviço do Senhor. Nós também temos esta tristeza que vem da ausência física neste mundo. Mas sabemos que Mônica agora está feliz no céu, no reino dos usos do Senhor. Ela vai continuar sendo preparada para sua vida eterna e seu uso espiritual. Mas o que ela ganhou deste mundo, dos seus pais e irmãos, dos seus amigos e parentes, vai sempre lhe servir. As verdades e experiências serão como o manto que Ana trazia a Samuel na época das ofertas. E, embora não possamos visitá-la neste mundo como Ana visitava Samuel, podemos sentir a presença dela e pensar nela, renovando assim, como Ana, o manto da memória. Mas, em nossos pensamentos e emoções, temos sempre de nos lembrar que ela, como todas as crianças, pertence ao Senhor. Ela está no reino d'Ele e Ele está cuidando dela por meio de Seus anjos, como de todas as crianças aqui; só que, no caso de Mônica, os limites naturais foram removidos e ela pode ver o Senhor mesmo e Seus anjos.
Já neste mundo, ela começava a entender e sentir algumas das coisas celestes, ao ver que o mais importante não é o estojo natural do corpo mas sim o que nós temos por dentro. Para ela, com a abertura de seus olhos espirituais, este estojo está aberto e as jóias que estavam no interior serão visíveis. Agora ela pode usar estas jóias espirituais para ajudar aos outros como ela sempre quis. Como Samuel, Mônica vai crescer diante do Senhor, seu Pai celestial.

Amém.

Lições: I Samuel 1  -Diário Espiritual 5002/3.