A reunião dos eleitos

Sermão pelo Rev.Hugo Lj.Odhner

"E Ele enviará os Seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus eleitos desde os quatro ventos,
de uma à outra extremidades dos céus"


(Mateus 24:31)


O Senhor predisse Sua segunda vinda de diferentes maneiras. Ele disse que voltaria para a Sua Igreja como o Filho do Homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória; como um Rei que julga do Seu trono; como um Cordeiro que foi morto, que abriria os selos da Escritura; como um menino nascido de uma mulher celestial; como um Ceifeiro com a Sua foice; como o Noivo Divino preparado para as bodas; e como um Herói vencedor montado num cavalo branco, tendo o nome de "A Palavra de Deus" e seguido por um exército angélico em cavalos brancos.
A confusa variedade destas imagens proféticas era necessária para nos mostrar que o segundo advento do Senhor não devia ser uma vinda física ou em pessoa, mas um evento espiritual, efetuado por uma nova revelação de Sua presença na mente dos homens, numa época em que a Igreja Cristã tornar-se-ia tão alienada do céu e do entendimento da Palavra que não serviria mais como uma fonte de iluminação espiritual. E a Nova Igreja agora vê que este segundo advento do Senhor efetuou-se por meio de Seu servo, Emanuel Swedenborg, a quem o Senhor encheu com o Seu espírito para ensinar por Ele as doutrinas da Nova Igreja através da Palavra (VRC 759).
No mundo natural, este segundo advento do Senhor passou despercebido exceto para uns poucos, exatamente como Seu primeiro advento, ou nascimento no mundo: apenas Maria e outros poucos consideravam em seus corações sobre o que aquele nascimento poderia representar. Foi no mundo espiritual que o Senhor foi visto em grande glória. Foi ali que foram dispersas as nuvens que bloqueavam o acesso aos céus. Houve um grande julgamento e anjos foram enviados a todos os quadrantes daquele mundo para reunir os eleitos em um novo céu.
Todos os homens foram destinados aos céus, ou seja, ninguém foi predestinado para o inferno. Todos podem ser salvos, desde que não se tenham confirmado nos males da vida; sejam pagãos ou cristãos, quer morram em crianças, quer na idade adulta, todos podem ser alcançados pela salvação se tiverem reconhecido Deus e tiverem vivido no bem.
Há muitas moradas na casa do Pai Celestial, muitos céus com diferentes graus de luz espiritual. Mas só aqueles que estiveram na afeição espiritual pela verdade (AE 732) podem receber intelectualmente as Doutrinas Celestes na outra vida e assim vão compor o Novo Céu donde a Nova Igreja na terra recebe a sua força.
A Nova Igreja na terra - conforme ensina a revelação - estará a princípio entre uns poucos, porque as falsidades da Igreja precedente devem ser removidas antes que as verdades possam ser permanentemente recebidas (AR 547). A fé da Nova Igreja não pode estar junto com a fé da velha Igreja numa mesma casa ou numa mesma mente: seria como uma coruja e uma pomba que chocassem num mesmo ninho (ES 102, 103).
O estado do mundo cristão é tal que nos ensinamentos oficiais de suas igrejas não resta nenhuma verdade que não esteja ligada a falsidades que anulam o poder da Palavra para iluminar as mentes humanas e conjungi-las ao céu. Por esse motivo, a Nova Igreja foi assemelhada a uma mulher no deserto, ali preservada por um milagre e escondida por Deus da perseguição do "dragão" (Conv.38, AR 562). E ela crescerá lentamente nos dois mundos, especialmente no seio do mundo cristão.
Os Escritos observam que uma nova Igreja raramente é formada com as pessoas da igreja anterior, mas principalmente de gentios ou de pessoas de outras raças. Assim foi com a Igreja Cristã, que, a princípio, realmente estava entre os judeus, mas depois foi estabelecida e cresceu principalmente com os gentios.
Cada nova Igreja ou nova dispensação se baseia na Revelação Divina que foi dada à Igreja anterior. O Novo Testamento repousa na Lei e nos Profetas. Os Escritos repousam em toda a letra das Escrituras. E esta continuidade que ocorre quando a revelação Divina é dada foi ilustrada quando Swedenborg terminou o rascunho da obra VERDADEIRA RELIGIÃO CRISTÃ, pois ele acrescenta o "Memorandum" que, quando aquela obra foi terminada, o Senhor comissionou Seus doze discípulos que O tinham seguido no mundo, e que eram agora anjos, mandando-os a todo o mundo espiritual para pregar a boa nova de que o Senhor Deus Jesus Cristo reina, cujo reina será eterno. "Isto se deu no dia 19 de junho, do ano de 1770. E é o que se entende por estas palavras do Senhor: "E Ele enviará os Seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus eleitos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus" (VRC 771).
Os apóstolos que foram enviados no dia 19 de junho de 1770 não foram escolhidos por causa de alguma distinção pessoal. No céu, há muitos que são mais dignos do que eles (D.E. 1330, CI 526). Eram homens que tiveram idéias grosseiras sobre o Senhor, mas, após a morte, vieram a conhecer as verdades que estavam ocultas nas Palavras do Senhor.
Aqueles doze tinham visto o Senhor em Seu Humano Natural, Seu semblante, Suas palavras e o tom de Sua voz; tinham sentido Seu toque. Essas impressões estavam gravadas na memória deles. Em seus corações ardia a promessa da segunda vinda, há tanto tempo desejada. A função deles agora, no mundo espiritual, era testificar que Ele mesmo, Jesus Cristo, fazia o Seu segundo advento, como prometera, nas nuvens do céu. Somente eles poderiam confirmar que a verdadeira religião cristã era o próprio ensinamento de Cristo, agora esclarecido e revelado nas Doutrinas Celestes para a Nova Jerusalém, em cujas fundações estavam reunidas as gemas preciosas da verdade cristã pela qual esses apóstolos tinham trabalhado no mundo - verdades estruturadas pelo Senhor numa cidade de vida celeste, erguendo-se segura acima das nuvens da ignorância, dos conflitos e da confusão da vida terrena.
Esses doze foram os precursores de um número infindável de evangelistas que deverão proclamar o novo reino do Senhor. A reunião dos "eleitos" em ambos os mundos prossegue, gradual e continuamente, através da obra paciente de anjos e também de homens.
A função do Sacerdócio na Nova Igreja inclui o anúncio do Senhor em Seu segundo advento. Este é o primeiro dever sacerdotal, pois sem este novo evangelho não pode haver igreja alguma na terra. É uma obra que pode ser feita somente por um ministério específico - por homens cujas vidas devem se assemelhar à dos apóstolos no que concerne à dedicação à obra de salvar almas - reunir os eleitos no reino de Deus na terra.
Num certo sentido, todas as pessoas são eleitas do Senhor - escolhidas ou destinadas pelo Criador à vida eterna. Não nasce nenhuma que não possa ser salva ou que não encontre seu lugar no reino do Senhor. Num sentido menos amplo, tornam-se Seus eleitos apenas aqueles que consentem com a vontade do Senhor, os que andam no caminho do arrependimento. Todavia, dos que entram no céus, diz-se de alguns que são "chamados", outros "eleitos" e ainda outros "fiéis" (Apoc. 17:14). Os que habitam o céu natural são os que são "chamados" e foram vistos como uma grande multidão. Mas, enquanto "muitos são chamados, poucos são os escolhidos" (Mateus 20:18). Escolhidos ou "eleitos" são os que combateram os combates de tentação e abraçaram as verdades da Palavra com um amor espiritual; são eleitos anjos do céu espiritual. E "fiéis" são os do céu angélico ou celestial, aqueles cujos corações não foram corrompidos pelos males (AR 744, 821).
Num sentido relativo, os apóstolos foram mencionados como "eleitos" do Senhor. Realmente, o Senhor disse: "Não me escolhestes vós a Mim, mas Eu vos escolhi a vós e vos ordenei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça". O Senhor soprou sobre eles e disse: "Recebei o Espírito Santo". Esses discípulos foram eleitos pelo Senhor por razões que eles mesmos desconheciam, pois eles representavam as coisas essenciais da Igreja e, assim, todas as coisas da fé e da caridade com as quais o Senhor edifica a sua Igreja.
A Igreja não é constituída por pessoas. Mas o Senhor, que julga não pelas aparências, vê além das qualidades pessoais dos homens. Ele escolhe instrumentos humanos com Divina presciência e executa, através desses instrumentos, o tipo de trabalho que é útil em cada época e cada lugar. As pessoas não podem prever esses usos nem têm consciência de que irão desempenhá-los; tais usos não são sequer visíveis aos olhos humanos, mas são previstos e providos pela insondável sabedoria da Providência Divina.
As Doutrinas da Nova Igreja ensinam que o Espírito Santo "influi naqueles que crêem no Senhor, e - de acordo com a ordem - no clero e assim, através [do clero] nos leigos". O Espírito da Verdade "procede do Senhor através do clero para os leigos por meio da pregação, conforme a recepção da doutrina da verdade" (Cân. E.S.iv). A instrução do sacerdócio da Nova Igreja com sua tripla função de instrução, culto e governo, é uma continuação da obra que os apóstolos iniciaram no dia 19 de junho de 1770 no mundo espiritual, a obra de "reunir os Seus eleitos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidades dos céus".
A obra de "reunir" os eleitos é também chamada de "ceifa" ou "colheita". A última ceifa se dá no mundo espiritual. Mas, na terra, a ceifa toma a forma de uma congregação de pessoas que, por sua própria convicção e sua livre escolha, pertencem ao corpo visível da Igreja. Mesmo a obra espiritual da Igreja deve ser organizada numa forma externa e dentro da ordem, para resistir aos ataques dos seus inimigos e desempenhar os usos que são prescritos em sua revelação; e para dar frutos, tanto frutos visíveis quanto invisíveis.
O sacerdote da Nova Igreja deve pensar não somente em pessoas, mas em estados. É uma responsabilidade sacerdotal proteger e conduzir à frutificação a fé crescente das crianças com sua caridade inocente e sua obediência; é sua responsabilidade conduzir a imaginação infantil e organizar os raciocínios do jovem com seus ideais e suas dúvidas; vigiar e estar alerta quanto às falsidades da inteligência meramente humana e quanto ao engano de se raciocinar pelos sentidos, aparências e ilusões do mundo natural. É obra do sacerdote fazer soar a trombeta sobre os muros de Sião quando doutrinas falsas ou males da vida ameaçarem invadi-la. É tarefa do sacerdote - que é um servo não dos homens, mas de Deus - preservar as santidades do amor conjugal e guardar as coisas santas do culto, para que não sejam negligenciadas ou violadas pela ambição humana. É seu dever conduzir - não por suas próprias invenções, mas pela verdade revelada - aos usos da caridade e do amor mútuo, e zelar para que a liberdade de consciência de cada membro seja respeitada. Nessa liderança sacerdotal não há lugar para persuasão cega nem para compulsão, pois só permanece aquilo que for implantado em liberdade.
É assim que o reino do Senhor pode ser estabelecido cada vez mais firmemente no solo da terra, e as mentes dos homens de sucessivas gerações são abertas cada vez mais interiormente para ver a sabedoria espiritual latente nos Escritos do segundo advento do Senhor.
O sacerdócio é uma continuação do ofício apostólico, na certeza de que o Divino encontrará lugar nos corações humanos e que os estados frutíferos da Igreja serão reunidos numa unidade, numa comunhão de usos para o nosso Senhor Jesus Cristo, cujo reino não terá fim.

Amém.


Lições: Mat.24:1-4, 29-31; VRC 759, 764, 771.
Adaptado por C.R.Nobre