“Mulher, que tenho Eu contigo..?”

João 2:4
Sermão pelo Rev.  C. R. Nobre

      Esta pergunta seca do Senhor, de certo modo até áspera para com Maria, é uma daquelas passagens que destoam do conjunto do que aprendemos sobre a mansidão e a suavidade do nosso Senhor.
Pois aprendemos que um dos mandamentos da Palavra é honrar pai e mãe, e certamente não se está cumprindo este mandamento quando se dirige com aspereza ou com ignorância aos pais.
Todavia , como sabemos também que todas as ações e palavras do Senhor eram representativas, logo elevamos o entendimento para o simbolismo das pessoas, dos fatos acontecidos e palavras proferidas, a fim de não nos perdermos na visão natural e  literal da história.
Há alguns meses tivemos a oportunidade de ouvir aqui a explicação do que estava internamente representado no milagre de Caná, quando o Senhor transforma água em vinho num casamento, a saber, que significa a maneira segundo a qual o Senhor transformou uva natural em uva espiritual em nossa mente a partir do momento em que começa a existir em nós o casamento da fé no Deus verdadeiro com a vida de sincera retidão.
Hoje, porém, pretendemos nos deter apenas nessa frase do Senhor: Que Tenho Eu contigo ...?”
Antes de mais nada, cumpre saber que Jesus não chamou Maria de mãe, porque mãe envolve progenitura e, por assim dizer, criação de uma vida. O Senhor, sendo no íntimo JEHOVAH, o Criador, não pôde ser gerado nem ter mãe. Ele mesmo Se fez gerar em Maria. Ao chamá-la de mulher, ao invés de estar desprezando-a, o Senhor apenas nos mostrava Sua concepção Divina.
Sabemos que o Ser humano, ao ser gerado, recebe duas hereditariedades: uma paterna  e outra materna. O pai transfere, na semente, a alma e as inclinações que constituirão a mente interior ou o proprium do nosso indivíduo. E a mãe, em sua semente, provê à alma os caracteres externos da mente e também o corpo. É a alma mesma, agindo pela vida que lhe vem do Senhor, que tira do invólucro da mãe a natureza externa e o revestimento físico para a existência natural.
Quando o Senhor foi gerado, também Ele quis sê-lo na ordem. A hereditariedade Divina era a Sua alma, Seu íntimo ao qual se referia como pai. Mas sua hereditariedade externa, que Ele tirara de Maria, tinha de ser transformada pelo processo chamado glorificação, Ele desprezou o corpo, mas rejeitou os caracteres externos da mente, pois esses consistiam em inclinações infernais.
Ao rejeitar esses caracteres, o Senhor rejeitava o que lhe veio por Maria na concepção, pois esses caracteres se opunham ao processo de glorificação do Humano e, conseqüentemente, impediam a salvação da raça humana nesta terra.
“Mulher, que tenho ..” era uma forma representativa de dizer que o Divino no Senhor não tinha nada em comum com o mal e as falsidades infernais presentes na hereditariedade materna. Mas Jesus, evidentemente, amava a Maria como pessoa  como a todo ser humano, como é evidente pelo cuidado que Ele teve com ela mesmo na cruz.
Na Palavra, a mãe e a mulher, representam, pois, essa segunda hereditariedade mais externa que todos nós temos. E representa também a Igreja. De acordo com o estado da Igreja, o Senhor se dirigia a ela por vários termos.
A Igreja Judaica devastada Ele comparou a uma mulher infiel. A Igreja Cristã que se maculou com imensidão e falsidades e mundanismos Ele chamou de Meretriz e Babilônia. Mas a Nova Igreja é chamada Noiva e Esposa do Cordeiro.
O homem que está sendo regenerado tem também de fazer uma rejeição dos aspectos negativos de suas hereditariedade. Diferentemente do Senhor, a criatura humana recebe um proprium ou hereditariedade interna de uma outra criatura humana, o pai, e como essa proprium é o seu ser real, não pode rejeitá-lo. Por isso, na regeneração, o Senhor faz gradualmente esse proprium adormecer e ser substituído por um outro que Ele dá.
Mas a natureza externa da mente ou seja, toda a nossa mente natural, pode e deve ser rejeitada. Isto é, as inclinações para o mal e a falsidade que nos vieram por herança e que a chamamos velho homem, são como as coisas que devemos gradualmente pôr de lado, pois tornam-se incorruptíveis com a vida nova que o Senhor nos ensina e até são nocivos.
Lemos na Palavra outra expressão estranha “Quem não deixar pai e mãe por amor de mim não é digno de mim”. Aqui também, “mãe” não é a pessoa de nossa mãe natural, mas essa natureza externa ou uma velha igreja que precisa ser rejeitada quando o Senhor nos dá uma nova maneira de entender e agir, segundo a verdade e o bem. Isto é a Nova Igreja .
A rejeição das coisas da velha Igreja não é apenas a rejeição da doutrina, mas, sobretudo, a rejeição da maneira antiga de viver e adoção de uma vida verdadeiramente cristã. Hábitos, atitudes, princípios, posicionamentos, qualquer que seja o termo, precisam ser reformulados.
A razão é que a igreja velha dentro de nós combate a nova e impede sua implantação. Mais importante que mudarmos a denominação de nossa religião é mudarmos a vida segundo a religião.
As idéias sobre Deus da velha e da Nova Igreja são idéias fundamentais que causa toda a dissensão e toda a divergência. Portanto, se há crença em  três deuses no principio, todas as outras coisas, inevitavelmente, sem exceção estarão em desacordo e, realmente, em conflito que mais tarde se manifesta em colisão.
E, se se persiste, as coisas da velha igreja podem acabar destruindo as novas, pois é como pôr vinhos novos em odres velhos ou remendo de pano novo  em vestido velho.
Isto, evidentemente, não quer dizer que tenhamos de rejeitar pessoas que estão na crença errônea, mas que, em nossa mente, devemos procurar discernir bem claramente o que é novo do que é velho, o que é bem e o que é mal, o novo e o falso. É como o joio que cresce junto com o trigo por certo tempo.
Não podemos atacar as pessoas, mas devemos lhe mostrar claramente a distinção de verdade e falsidade.
Não podemos nos furtar da convivência com eles pois é assim que poderemos lhes ser úteis, acedendo-lhes  lâmpadas na escuridão.
Para encerrar leiamos o que VRC nos fala sobre a distinção da Nova Igreja e a Igreja Velha.
Amém.