As Leis da Providência

 

"O Senhor é bom para todos, e as Suas misericórdias são sobre todas as Suas obras... Justo é o Senhor em todos os Seus caminhos
e Santo em todas as Suas obras."

(Salmo 145:9,17).

O Senhor é o Amor mesmo. A Palavra nos ensina que Ele é justo e que todas as suas obras são santas. Mas, se não estudarmos a Palavra por uma doutrina genuína, às vezes fica difícil ver a justiça do Senhor. O Antigo Testamento, em alguns lugares, faz referências a um Deus colérico que mostra favor para com os que O adoram e aparentemente destroi os que O ignoram e cultuam outros deuses. A Palavra não está errada. Contudo, os líderes das igrejas formularam dali doutrinas que não apresentam a verdade, mas dão somente sua interpretação.
Assim, não é a Palavra, mas a interpretação errônea de algumas igrejas, que ensina que Deus predestina alguns para o céu e outros para o inferno. As doutrinas das igrejas contemporâneas são responsáveis pela falsa idéia de que o Senhor salva o homem por pura misericórdia sem levar em conta e espécie de vida que o homem leva. Isto seria negar a misericórdia do Senhor, pois, se Ele pode salvar os homens por pura misericórdia, mas não salva todos, Ele não estaria sendo misericordioso para com aqueles que foram condenados aos infernos.
O real ensinamento da Palavra reside no texto do Salmo e é ensinado em todo o Antigo e todo o Novo Testamentos, quando se entendem corretamente essas palavras: "O Senhor é bom para todos, e as Suas misericórdias estão sobre todas as suas obras; justo é o Senhor em todos os Seus caminhos e Santo em todas as Suas obras".
Como Ele ama a todos os homens, assim manda que os homens amem-se uns aos outros, não só os amigos, mas também os inimigos. Como disse: "Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos de vosso Pai que está nos céus" (Mat.5:44).
O amor do ser humano deveria ser uma imagem do amor do Senhor, e um amor verdadeiro visa ao estabelecimento da verdadeira ordem. Em tal ordem, não pode haver inimigos, pois todos trabalham para o bem comum, zelando pelos direitos dos outros.
O amor se manifesta para os inimigos de modo diferente que para os amigos. Para os amigos é a assistência mútua, a cooperação nas obras, e a recreação e a inspiração compartilhadas. Mas o amor aos inimigos se manifesta pelos combates que visam o estabelecimento da ordem. É combater, pelo ensino, a falsidade que impede a realização do ideal. Defender-se dos ataques daqueles  que querem impor sua vontade sobre a dos outros. É um amor que se expressa, até, pela justa punição dos crimes.
Em todo caso, o objetivo deve ser sempre o estabelecimento e a manutenção da ordem verdadeira na qual o Senhor governa todas as criaturas. Em todas essas coisas, temos o dever de fazer a nossa parte de modo inteligente, visando ao estabelecimento da ordem. Por isso é que o Senhor nos manda ser perfeitos, "como nosso Pai nos céus é perfeito". Devemos viver sob as leis da ordem, que se aplicam a todas as coisas e todas as situações da vida, para estarmos no amor do Senhor.
Para que todas as criaturas almejem viver e vivam uma vida perfeita, o Senhor provê o necessário a todos: "Porque faz que o Seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos" (Mt.5:45). Este ensinamento declara a justiça e a perfeição de Sua lei. Por Seu amor, conduzindo a todos à compreensão dessa ordem, Ele mantém a ordem da criação, provê o bem eterno de todos, sempre, contudo, zelando para que todos tenham a liberdade real. Seu amor e Sua sabedoria, representados pelo sol e pela chuva, são dados livremente a todos, bons e maus, mas os afetam de modo diferente. Todos se beneficiam dessa recepção. Os bons reconhecem os benefícios da misericórdia Divina, mas os maus enxergam o Senhor como um Deus colérico e que faz restrições, uma vez que o Senhor sempre procura afastá-los do mal e guiá-los para a ordem. Assim, cada um vê o Senhor de acordo com sua própria natureza.
A providência do Senhor é a operação das leis Divinas da ordem. Elas operam para preservar a criação, para que os propósitos Divinos se cumpram. E esses propósitos se traduzem em levar o ser humano ao céu. O céu é um estado em que se aceita livremente a ordem Divina.
Mas como o amor protege com muito zelo a liberdade dos outros, foi previsto que muitos iriam abusar dessa liberdade e daí fazer sugir o mal com suas conseqüências. E quando o ser humano prefere aquilo que é contra a ordem, a Divina Providência parece mudar-se. Interiormente, a Providência é a mesma, mas nesse caso, ela passa a operar no sentido de desviar o homem de um mal pior e voltá-lo para o bem. Por isso é que as Leis da Divina Providência são leis de amor, ensinando aos maus que o mal é insanidade e gradativamente conduzindo-os à sanidade espiritual, na medida em que eles permitirem.
O Senhor é ordem. Sua ordem se espelha no homem quando este vive no amor mútuo e no uso. Cada um ajuda a todos quando desempenha bem a sua obra. Pelo ato de desempenhar bem e fielmente o que lhe é devido, cada um também presta o verdadeiro culto ao Senhor, pois obedece ao espírito de Seus Mandamentos.
Quando aplicamos os ensinamentos do Senhor em nossa obra diária, Ele se torna o centro de nossas vidas. Mas se, ao contrário, a base de nossa conduta são nossos próprios conceitos e nossos desejos, tornamo-nos egocêntricos. Isto leva ao engano, ao amor de si e, se continuamos, traz desordem e infelicidade.
Se o Senhor é centro pelo qual agimos, então seremos conduzidos à ordem, à paz e ao contentamento.
Em nossa vida diária, devemos agir pela razão, na liberdade espiritual. Se usarmos corretamente a razão, afastaremos os males pela auto compulsão, porque o Senhor nos ensinou, em Sua Palavra, que o mal é todo aquilo que é contrário à Sua ordem. Assim, em inteira liberdade, e no uso da razão, poderemos entender os ensinamentos do Senhor e amá-los em nossa vida. É assim que agimos com prudência, cooperando com a Divina Providência, em liberdade, como se por nós mesmos. Vivendo dessa maneira, ainda que não possamos ver as operaçãos da Providência, poderemos conhecer e reconhecer que elas nos guiam para o bem. Amém.

DP 70