CONFIANÇA NO SENHOR

Sermão pelo Rev. Kennet O. Stroh

"Bendito é o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor".


(Jeremias 17;7)

                        A vida está relacionada com uma contínua progressão de tempos e de estados. No mundo em que vivemos, nossa vida está dividida em minutos, horas, dias, semanas, meses e anos com suas estações. Um minuto, no tempo, pode decretar o fim de um período de vida e o começo de um novo estado. O tempo, neste mundo, é um construtor de mudanças de estado. Assim, cada minuto será olhado de modo diferente por indivíduos diferentes, de acordo com o estado de vida de cada um.
Nessa ordem de idéias, todos os períodos de tempo, neste mundo, correspondem a estados da mente, sejam eles positivos ou negativos. Embora todos passem pela mesma progressão de tempo, fixada pelas leis da natureza, os homens e mulheres podem individualmente encontrar-se em estados diferentes, o que resulta de suas características diversas e de suas condições psíquicas. Quando nos reunimos, entretanto, com um objetivo comum, seja para um culto religioso, seja para a execução de um trabalho, seja para fazer uma excursão ou para realizar alguma comemoração, sentimo-nos, então, num estado aproximadamente semelhante, cujo objetivo é alcançar o alvo da reunião.
Essa solidariedade mental também pode ser aproveitada para formularmos um voto comum de confiança no futuro, no sentido de alcançarmos melhores condições de vida natural ou de vida espiritual. É útil que, em certos marcos do tempo, como no princípio de um novo ano, no princípio de uma nova década ou de um novo século, façamos uma pausa para refletirmos sobre as lições adquiridas no passado e planejarmos as ações a serem realizadas no futuro. Como enfrentaremos este novo ano que se iniciou neste mês? Iremos ao encontro do futuro com ansiedade? Ou o enfrentaremos confiantemente? Algumas pessoas nos amedrotam com a disputa entre as nações e raças; outras nos fazem viver no receio de mudanças sociais, de problemas de governo, ou de destruição atômica; outras, ainda querem fazer-nos crer que seremos imprudentes se não nos protegermos contra esses e outros problemas humanos.
Certamente, os homens e mulheres devem observar o futuro com prudência. As necessidades de cada um e de sua família devem ser atendidas; o progresso do país de cada povo deve ser procurado e promovido; políticas sábias no campo dos negócios internacionais devem ser desenvolvidas e mantidas. Se desejarem adotar uma atitude sadia e racional em todas as áreas da vida, devem os homens e mulheres tomar conhecimento dos problemas que lhes dizem respeito, tanto dos problemas individuais como dos que interessam à comunidade, ao seu país e ao mundo. Mas também devem ter confiança no futuro, para que suas atitudes sejam genuinamente sadias e racionais. Devem confiar em que, na jornada que empreendemos neste mundo, as coisas tomarão o melhor curso, mesmo que não percebamos isso, pois todas as coisas, em seus mínimos detalhes, estão sob os cuidados e o governo da Divina Providência do Senhor.
Essa necessidade de confiança no futuro é bem ilustrada pelo relato bíblico da estada dos filhos de Israel na terra de Moab, enquanto esperavam a entrada na terra de Canaã. Eles tinham acabado de passar, no deserto, quarenta anos de vida incerta e difícil e enfrentavam a perspectiva de guerras terríveis com os habitantes da terra que o Senhor havia dado a Abraão e à sua semente. Estavam conscientes da aproximação de determinada batalha e sabiam da sublevação dos que nela tomariam parte. Mas o Senhor falou-lhes, por intermédio de Josué, seu líder, dizendo-lhes que fossem fortes e corajosos e pusessem de lado o receio. Disse-lhes, ainda, que, se seguissem a orientação que lhes era dada, o Senhor os guiaria na batalha e lhes daria a vitória contra os inimigos. Foi-lhes determinado que atravesassem o Jordão com a promessa de que a terra lhes seria dada. Foram instruídos no sentido de se voltarem para a Lei Divina, meditarem sobre ela e executarem tudo aquilo que era recomendado.
Lemos em Josué 1;9: "O Senhor disse a Josué: Não te mandei Eu? Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares". E, quando Josué transmitiu ao povo as palavras do Senhor, teve como resposta: "Tudo quanto nos ordenaste faremos, e, onde quer que nos enviares, iremos." (Josué 1;16). Assim, devemos confiar em que, se nos voltarmos para a Lei Divina, meditarmos sobre ela e agirmos de acordo com tudo o que ela estabelece, o Senhor estará conosco em qualquer lugar em que nos encontrarmos, nos acompanhará a qualquer lugar a que nos dirigirmos e fará com que nosso caminho seja propício e suave.
Essa confiança tem origem no próprio Senhor e não pode ser concedida a alguém cujo coração não esteja aberto à sua recepção. Em outras palavras: essa confiança só pode ser dada àqueles em cujo coração está o Senhor, àqueles que vivem uma vida de amor e de caridade. Algumas pessoas pensam, erroneamente, que podem encontrar essa confiança na crença de que estão salvas, porque o Senhor sofreu por elas. Pensam que pode haver salvação somente pelo sacrifício do Senhor, não importando a natureza da vida que elas próprias levam. A verdade, porém, é que somente adquirem essa confiança aqueles que estão no Senhor e nos quais o Senhor está.
Portanto, aqueles que desejarem, com otimismo, entrar no novo período de tempo que ora iniciamos devem voltar suas vistas e suas mentes para o Senhor, que é a fonte de todas as coisas boas, pois tudo o que é bom e verdadeiro tem seu começo e seu fim no Senhor. É por isso que Ele é chamado "o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Último" (Apocalipse 22;13). Assim, na criatura humana, todo o começo de qualquer valor espiritual é derivado do Senhor, através do mundo espiritual. Em cada criatura humana há dois princípios de vida: um no momento de seu nascimento neste mundo, quando recebe a vida natural e começa a respirar; e outro no momento em que começa a vida da regeneração com a consequente recepção da vida espiritual procedente do Senhor. Em cada um dos casos, estes princípios de vida, seja o da natural, seja o da espiritual, vêm do Senhor para o homem através do mundo espiritual.
Enquanto vivemos neste mundo, nossos comportamentos e ações    transcor-
rem em períodos de tempo, marcados por minutos, horas, dias, semanas, meses, estações, anos e décadas. Desses períodos, consideramos mais importante aquele que corresponde ao ano. Assim, como já dissemos, devemos parar para refletir sobre as lições aprendidas no passado e planejar comportamentos positivos para o futuro. Devemos agradecer ao Senhor os benefícios recebidos e rogar-Lhe que continue a guiar-nos com Sua Divina Providência. Sabemos que o futuro poderá, ou não, trazer problemas para nós como indivíduos, bem como para nosso país e para a comunidade das nações de nosso planeta. Mas devemos considerar as palavras do Senhor: "No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo" (João 16;33). Poderá haver tempos de obscuridade, se formos indecisos na execução das coisas retas, se formos fracos na prática do bem e da verdade. Mas não devemos esquecer o nosso texto: "Bendito é o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, continuando verde a sua folha; e no ano de sequidão não se perturba nem deixa de dar fruto" (Jeremias 17;7 e 8).
Se, porventura, julgarmos que nossos defeitos nos impedem de sermos semelhantes a tal homem, devemos lembrar-nos de que o Senhor nunca destrói Suas criaturas; Ele apenas torce e substitui os princípios falsos adotados por elas. Se recearmos excesso de lentidão no desaparecimento de nossos males, se ficarmos medrosos com a morosidade e irregularidade do nosso processo de regeneração, podemos achar consolo no ensinamento de que o Senhor não remove os males apressadamente, como lemos no livro do Êxodo, cap.23, versículos 29 e 30: "Não os lançarei fora de diante de ti num só ano, para que a terra não se torne em desolação, e as feras do campo não se multipliquem contra ti. Pouco a pouco, os lançarei de diante de ti, até que te multipliques e possuas a terra por herança".
Devemos, portanto, olhar o futuro sem medo. O medo tira-nos a liberdade e a razão, fechando os interiores da mente e tornando impossível alcançar a vida regenerada. Devemos de preferência, considerar as palavras do Senhor a Josué: "Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes nem te espantes, porque o Senhor teu Deus é contigo por onde quer que andares".
Peçamos ao Senhor que nos conceda a confiança na orientação que recebemos de Sua Divina Providência, única possibilidade de nos ser proporcionada a tranquilidade da paz interior, quaisquer que sejam as vicissitudes da vida externa. Pois a salvação vem por intermédio do amor que devotamos ao Senhor e da fé que n'Ele depositamos e quando alcançamos a salvação, ela constitui a bênção máxima do Senhor. Invocando essa bênção, cabe recordar que era costume entre os antigos dizerem, quando um novo trabalho era começado, "Possa o Senhor abençoá-lo", que significava "Seja esse trabalho próspero e feliz". No começo do ano que se inicia neste mês, possamos nós partilhar com cada um de nossos irmãos o desejo de que esse novo período de tempo seja próspero e feliz para todos os integrantes da Igreja do Senhor na terra e seja inteiramente propício ao trabalho espiritual que realizam. Que o Senhor nos abençoe e abençoe a Igreja por Ele instituída. Amém.

Lições: Josué 1;1 a 10 - Jeremias 17;7 e 8 - C.I. 165 e 166 (porções)
Adaptação de J. Lopes Figueredo

CONFIANÇA DO HOMEM GUIADO PELO SENHOR
APOCALIPSE EXPLICADO 481

                        O homem que aceita ser guiado pelo Senhor é comparado a uma árvore que cresce e frutifica. "A árvore" significa, na Palavra, o conhecimento e a percepção da verdade e do bem, consequentemente significa o homem em quem estão a verdade e o bem. "A árvore plantada junto das águas" significa o homem em quem estão as verdades do Senhor, pois as águas representam as verdades. "Que estende suas raízes para o ribeiro" significa a extensão da inteligência do homem espiritual para o homem natural; isto é dito, porque "o rio" significa a inteligência e porque "as raízes" são dirigidas do homem espiritual para o homem natural. "Ele não receia quando vem o calor" significa que não é aquecido pela falsidade; "mas a sua folha fica verde" significa os conhecimentos vivos procedentes da verdade. "E no ano da sequidão (da seca) não se perturba nem deixa de dar fruto" significa que, se sobrevier um estado sem verdade e sem bem, não haverá medo de perdê-los, pois mesmo então a árvore produzirá frutos, isto é, verdades e bens. "O ano da seca" significa o estado de perda ou de privação da verdade.

 

 

 

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