O ideal da vida eterna

Sermão pelo Rev. Cristóvão R. Nobre, baseado em R.S.Jungé

"Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará,
e viveremos diante dele"

(Oséias 6:2).

O Senhor é a vida mesma. Todo o universo é controlado por Ele. Só o Senhor pode dar vida ao homem. Só o Senhor o ressuscita.
No curso de nossas vidas, o mal, os infortúnios, as enfermidades físicas e mentais tentam de toda sorte flagelar o homem.  Parece até que, a cada passo que damos, temos de enfrentar novas aflições.  Trilhamos um caminho cheio de dificuldades e dúvidas.
A despeito desse aparente caos, da aparente mescla de bens e males, o homem recebeu de Deus a liberdade de determinar seu próprio caminho. Sem isso, a preparação para a vida eterna seria impossível. Sem ter vivido aqui, ainda que a vida pareça árdua e dolorosa, o homem não teria seu caráter formado. Antes, seria como uma máquina manipulada ao bel-prazer de seu Criador.
Entretanto, poucas vezes e poucas pessoas param para refletir sobre a vida. Preferem se fechar em suas incertezas. Absorvidas com as atividades da vida natural, não têm tempo para meditar sobre a razão, o objetivo e a duração da vida aqui.
O homem não consegue jamais ter qualquer esperança ou certeza sobre a vida eterna se não busca conhecer do Senhor os propósitos e ideais que Ele teve ao nos criar. Pelo conhecimento da vontade de Deus, o homem pode conhecer as suas próprias veredas, assim como as montanhas, ao longe, servem de referência no caminho. Aprendemos a compreender a nós mesmos quando compreendermos que nosso auxílio vem do Senhor, só, que fez o céu e a terra. Só Ele é a vida e por isso só Ele dá sentido e propósito às nossas vidas.
"Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele". O número dois, aqui mencionado, representa algo que é incompleto, imperfeito e, às vezes, profano. Conduz ao três, que significa o que é completo e santo.  À medida que anda no caminho de sua vida e aprende a olhar para o Senhor, o homem aprende que esta vida aqui é uma mera preparação. É um estado incompleto, cheio de dúvidas e frustrações. Mas a promessa é certa de que, após esse estado, vem algo superior. "Depois de dois dias". Depois desses tempos imperfeitos. Quando esses estados de carência e sombra passarem. Quando nossa preparação se completar. Quando nossa vida aqui terminar, "ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dEle".
O maior ideal jamais apresentado ao homem foi dado num terceiro dia. O Senhor ressuscitara no terceiro dia, como havia prometido. Aos discípulos, o Senhor Se apresentou, o Senhor Deus revelou-Se pleno de poder e vida.
Por Sua ressurreição, o Senhor deu a cada indivíduo a esperança de ser ressuscitado. Por Sua vinda, Ele nos desvendou a visão da realidade eterna que havia sido ignorada ou negada, como pelos saduceus. Tanta certeza tinham na vida do porvir, que os primeiros discípulos, mártires, quase desejavam o martírio como meio de serem elevados a tal vida.
As pessoas sabem que a vida aqui é cheia de males e tristezas e aspiram a felicidade na vida eterna. Mas desejam isso de modo vago; uma centelha de esperança, mas, infelizmente, distante, temerosa. Essa esperança, todavia, é um ditame que lhe vem lá da alma. Vem com os pensamentos mais íntimos de quando o homem está só e pensa em seu viver. É o caráter espiritual, o que faz o homem ser diferente dos animais, que faz o homem saber que é imortal em sua alma.
Embora presente, essa sombra de alguma esperança quanto à vida eterna, desacompanhada das convicções de uma fé esclarecida, é o estado imperfeito, "os dois dias", do qual o Senhor que saiamos, porque após esse estado Ele quer nos dar o que é pleno e perfeito. "No terceiro dia nos ressuscitará".
Os ensinamentos que aprendemos sobre a vida eterna não são conhecimentos vãos, para um tempo distante. Ao contrário, têm estreita relação com tudo o que estamos aqui, nesta vida e neste momento. O reino dos céus — aprendemos — é o reino dos usos. A vida eterna é uma vida de utilidade e serviço, desempenhada com contentamento, com plena satisfação, porque os resultados dos esforços do homem, lá,  serão benéficos a si e aos seus semelhantes. Todavia, é necessário que, aqui, aprenda a servir ao próximo com todo o coração, sem interesse e não apenas quando se beneficia com isso. Se não adquirir aqui o prazer desse uso, a vida do céu será estranha e insípida ao indivíduo.
As ocupações que se têm aqui, os empregos, negócios, trabalhos, em suma, quaisquer relacionamentos com o semelhante, não são mais do que meras oportunidades que o Criador nos concedeu para que possamos exercitar a vida do céu, se assim o desejarmos. No entanto, o indivíduo ignora isso e procura ver apenas o proveito para si próprio em todas as coisas que faz. A vida de usos naturais é como o solo em que o Senhor implanta as sementes da verdadeira alegria celeste.
Todos os que habitam o céu têm o Senhor em mente em todas as coisas que realizam. E assim devemos nós também aprender a fazer: buscar em primeiro lugar as coisas do reino de Deus sempre possível. Não é o sevo maior que seu Senhor.
Estes e outros ideais devem ser assimilados por nós, para que dêem sentido à nossa existência. Devem ser acreditados, para que qualifiquem e dignifiquem nossa vida. E devem ser cultivados pela instrução espiritual verdadeira, para que dêem sustento e firmeza às nossas esperanças. O reino dos céus é como uma semente que é semeada pelo homem, como um mercador que busca uma pérola de grande preço e como o grão de mostarda crescendo.
As verdades que o Senhor nos transmitiu sobre a vida eterna não são informações abstratas, vazias. São, antes, instruções práticas para uma vida de ação, uma vida de uso, de beneficência no que se tem a fazer.
Entretanto, mesmo quando damos o valor a esses ideais e cultivamos a esperança do porvir com base em uma fé inabalável, ainda assim enfrentamos lutas, problemas e tentações. O Senhor nos ensina, nas Doutrinas Celestes da Nova Igreja, que essas dificuldades vêm para que, por elas, possamos conhecer e reconhecer nossos males a fim de que estes sejam em seguida removidos. Portanto, as lutas por que o cristão passa são uma preparação para as bodas celestes. A Providência Divina está atenta e zela por cada um dos mínimos detalhes a fim de que tenhamos todas as oportunidades possíveis para uma tal preparação. Mas não força nem obriga jamais a que o homem se prepare; não constrange o homem a que aproveite essas oportunidades.
Na Nova Igreja, conhecemos que há três céus. Há três estados distintos de regeneração. Há três graus de vida, porque há três graus de amor. A Nova Igreja prega ideais que podem ser alcançados. Ensina as verdades sobre o verdadeiro casamento, sobre o sentido da vida, que é o uso, e sobre o a verdadeira relação que o homem tem com seu Deus e Criador. Esses ensinamentos, porém, nada produzem por si sós no homem. São apenas sinais dos caminhos que podem ser seguidos.
Aprendemos que os males são permitidos unicamente por causa de um motivo: nossa salvação. Mas o Senhor está presente, minorando o mal e conduzindo-nos em meio às aflições, par manter nossa fé firme e nossa esperança cada vez mais clara e real. O Senhor nosso Deus é verdadeiramente Humano, e assim pode estar presente em qualquer estado humano por que tenhamos de passar.
Há tempos de aflição, tristeza e dúvida. Mas não importa a luta ou o fardo que tivermos de carregar, sempre poderemos ir até o nosso Deus. Nas palavras do profeta Oséias: "Vinde, e tornemos para o Senhor, porque Ele despedaçou, e nos sarará; fez a ferida, e a ligará. Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele". Amém

 

Baseado em sermão do Rev.R.S.Jungé
Lições: Números 21:1-9, Oséias 6; Céu e Inferno 1.

Serviço de ressurreição de Gilto Bastos de Roure