Fé e Obras

Sermão pelo Rev. Cristovão R. Nobre

 

"E quando Jesus ouviu isto, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás tesouro no céu; vem e segue-Me".

Lucas l8:22

     Há neste capítulo, o l8º do Evangelho de Lucas, uma série interessante a respeito da conjunção de Deus com o homem, que é feita através do bem da caridade, ou seja, as  boas obras. Estava o Senhor Jesus ensinando à multidão, ao Seu redor, quando trouxeram-lhe crianças para que tocasse; os discípulos quiseram impedí-las, mas Jesus "chamando-os para si", disse: "Em verdade vos digo que, qualquer que não receber o reino de Deus como menino, não entrará nele". E, logo depois disso, veio a Ele um príncipe, jovem e muito rico, que Lhe perguntou: "Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?"
Era uma pergunta direta, clara, e a razão humana esperaria igual resposta da parte do mestre. Mas havia outras coisas envolvidas ali, e  que precisavam vir à tona, para fins de nossa instrução. Primeiro, antes de responder, o Senhor pôs em dúvida o vocativo usado pelo moço, dizendo-lhe: "Por que me chams bom? Ninguém há bom, senão um, Deus". E, depois, é que indicou o caminho para se herdar a vida eterna: a obediência aos Mandamentos: "Sabes os Mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás  falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe". Todavia, o jovem replicou, talvez ainda insatisfeito com a resposta: "Todas estas coisas tenho observado desde a minha mocidade". Alguma coisa, então, havia de errado. Se o caminho era de fato aquele, e ele já o seguia desde a mocidade, e, apesar disso, ainda tinha dúvidas em seu espírito acerca da vida que leva ao céu, então, que faltava? "E quando Jesus ouviu isto, disse-lhe: ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás tesouro no céu; vem e segue-Me". Foi, clara e diretamente, uma resposta que, todavia, o jovem não esperava ouvir; "...ficou triste, porque era muito rico. E, vendo Jesus que ficara muito triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que teem riquezas".
A simplicidade do entendimento desta e outras passagens segundo o sentido meramente literal, fez como que a Igreja CristÃ, tanto a Primitiva, Apostólica, quanto a cmteporânea, concluíssem daí diversas coisas; uma delas é que as riquezas são nocivas à vida espiritual. Até um grande estudioso cristão chegou a afirmar que "as riquezas são um grande obstáculo à salvação, porque é quase impossível possuí-las, sem nelas por o coração. Ser rico, por isso, é, em geral, um grande infortúnio' (Adam Clarke). E foi devido a tais interpretações a respeito das riquezas, que a Igreja Cristà dos séculos passados foi dita ser tendenciosa, ao ter exaltado a pobreza como virtude em si, e as riquezas como pecaminosas, para, com isso, conservar e concentrar as últimas nas mãos de determinados grupos, e mesmo nas mãos do próprio clero, acenando aos pobres o valor de se visar apenas as riquezas espirituais. A atual corrente de pensamento chamada opção pelos pobres, predominate na Igreja Romana especialmente entre nosso povo, é, possivelmente bandeira do esforço de se redimir a Igreja daquele erro, diante da história e diante de uma sociedade mais esclarecida e mais exigente.
Pois é muito evidente que, aqui, o Senhor de modo nenhum se referia a riquezas materiais e muito menos as considerava danosas. Nem tão pouco Ele impunha a ninguém o voto de pobreza como condição à vida eterna, pois Ele foi quem deu tanta riqueza a Abrahão, ao rei Salomão, e aos tantos outros, como o próprio Zaqueu, como se vê no capítulo seguinte, que vivia ali mesmo, em Jericó: sendo rico, deu espontaneamente parte aos pobres e conservou o que bem quiz, para si, sem que o Senhor em nada lhe cobrasse. Pelo contrário, Ele disse a Zaqueu: "Hoje veio salvação a esta casa". E se a riqueza fosse um mal em si, não iria ela continuar fazendo mal àqueles pobres que a recebessem? Assim, é óbvio que aqui o Senhor se preocupava era com outro tipo de riquezas, aquelas que poderiam facilmente desviar o homem de receber a vida da regeneração. Entretanto, visto que aquele moço realmente punha seu coraçÃo nas riquezas materiais, e aquelas riquezas mesmas lhe impediam de progredir, não deixando que ele viesse seguir  a Jesus, assim, também no aspecto literal da mensagem, houve aplicação adequada dessas palavras do Senhor.
Há também uma outra conclusão errônea que alguns tiram desse texto, baseando-se na resposta que o Senhor deu ao jovem: "Por que me chamas bom? Não há bom, senão um, Deus".  Poder-se-ia pensar que o Senhor estava negando o atributo que lhe foi dado pelo moço, negando ser bom e, assim, mostrando-se diferente de Deus, e mesmo inferior a Deus. Logo, uma outra pessoa, distinta de Deus.
Com efeito, há pontos  na Palavra que são de difícil compreensão pelo sentido da letra, por ser este um sentido simbólico, carregado de aparências, as vezes completamente obscuro, sem a luz das Doutrinas Celestes da Palavra. Por que aqui o Senhor fez essa distinçÃo. Como se supõe? O que Ele realmente prescreveu ao príncipe, mandando-o vender tudo quanto tinha? E por que, mesmo cumprindo osl mandamentos da Palavra, isto não fora suficiente àquele jovem?
Lembrar mais uma vez em que consiste a fé, e em que consistem as obras, bem como o relacionamento entre uma e outras, pode nos auxiliar a perceber com mais clareza o que está envolvido espiritualmente neste relato dos Evangelhos.
No tocante á fé, ela é a primeira coisa no tempo. E a fé, em resumo e basicamente, é: crer no Senhor Deus Jesus Cristo como Deus do céu e da Terra, e que Seu Humano é Divino, e que todo bem procede D'Ele somente. Quando às obras, essas vêm depois no tempo, mas são as primeiras na regeneraçÃo. E essas obras, em resumo, sÃo: não fazer os males, porque são males e pecados contra Deus; fazer os bens porque são bens e vêm de Deus. A vida de regeneração é o resultado; ou a soma destas duas coisas: fé e obras. A vida que leva aos céus vem do reconhecimento de Deus, primeiro, e da vida segundo esse reconhecimento, depois. Assim se faz uma conjunção entre a fé e a caridade no homem, e entre esse homem e o Senhor, resultando a nova vida e a salvação.
Na verdade, a fé só existe realmente juntamente com as obras; antes de serem postas em atos ou intenções, a fé não passa de conhecimentos ou, em alguns, de uma persuasão ou auto-convicção a respeito de determinadas coisas. A fé real é o reconhecimento que se dá enquanto ou quando houver as obras; é a fé salvífica. Enquanto as obras, só são vivas se forem procedentes de uma fé também viva. Em outras palavras, as obras que o homem pratica sem aquele reconhecimento de Deus como sua fonte e sua razão, são obras do homem mesmo, e por isso mortas. Mas as que ele pratica a partir do reconhecimento de Deus, nos termos em que se falou, isto é, que o Senhor  Jesus Cristo é o próprio Deus do universo, e que todo bem vem só dEle, e  nada do homem, então, se o homem opera de acordo com essa fé, as suas obras são vivas. Pois ele as atribui não a si, mas ao Senhor, à única origem de todo bem.
A fé é que qualifica as obras, e as obras é que dão a vida da fé. São  como o Ser e o Existir: um é e existe pelo outro, e a falta de um apenas, anula os dois. São coisas absolutamente inseparáveis. Tem sempre que haver alguma obra que se case com a fé, mesmo que ambas sejam ainda muito rudimentares, porquanto uma elevará a outra, e ambas se elevarão, fé e caridade.
Essa doutrina a respeito da fé e das obras é hoje peculiar à Nova Igreja, porque a Igreja Cristã precedente separou uma das outras e perdeu as duas. As Doutrinas nos afirmam que os cristãos ignoram o que seja o bem da caridade, pois, estando na fé separada, ele fomitem todo bem da caridade,  como se de nada valesse para a salvação. E mesmo entre eles, os que reconhecem que as obras são necessárias, ainda assim não sabem o que sejam tais obras. Pensam que as boas obras são dar o que têm aos pobres, socorrer os necessitados, fazer benefícios aos órfÃos e às viúvas, e contribuir para a construção de templos, hospitais e asilos (Ver AE 933); como, aliás, fizeram os cristãos da Igreja Primitva, que sipunham de tudo quanto tinham para fazerem doações à congregações e viverem em comunidade.
Mas o ponto crucial para os cristãos, concernente às obras, é: pensam que homem nenhum é  capaz de fazer o bem, e, por consequência,  do homem Deus nada espera senão a fé e a confiança de que o Filho, Jesus Cristo, já pagou ao Pai pelos pecados de todos, em sacrifício sanguinário na cruz, e, portanto, todos aqueles que aceitam o valor de tal expiação, crendo nela sem questionar, estão, já, garantidamente salvos, sem importar qualquer ato de bem ou mal que tenham feito, sem importar mesmo toda uma vida quer tenha sido íntegra ou desregrada. E mesmo qualquer pecado que venham a cometer no futuro, já lhes foi previamente perdoado e dele foram purificados, contando que pensem firmemente dessa forma. Assim sendo, quando se fala em obras aos cristãos, especialmente àqueles que se têm confirmado nessa fé ilusória, eles prontamente  reagem, porquanto vai contra o que eles têm crido a respeito da  fé só. "Pela graça sois salvos, ... pela fé" dizem. E rejeitam o valor da obra concorrendo com a fé; pensam, que obras têm que necessariamente proceder do homem, ignorando a verdade de que elas podem, contudo, proceder do Senhor enquanto são feitas pelo homem.
O estado cristão em geral é o da fé só, sem importância às obras, donde não prevalece nem uma nem as outras. Mas o estado de que trata o texto de Lucas, o do jovem rico, é outro: o de obras só, sem a fé, isto é, sem o reconhecimento de Deus como único autor de todo bem. Também daí nem a fé nem as obras subsistem, pois que houve separação econsequente morte de uma e outra. O jovem rico observava, desde a sua mocidade, todos aqueles mandamentos. Tinha, como supunha, as obras, e daí achava-se direito de merecer alguma recompensa. Mas sem o reconhecimento de que só o Senhor fazia o bem, as suas obras não eram, de fato, vivas. Sem a fé de que somente de Deus procede o bem e a justiça, e de que o Senhor Jesus é esse Deus, o moço se ilud8ia de que podia fazer o bem por si mesmo, e, assim, que o bem procedia não de Deus, mas dele mesmo. Era um bem meramente natural, fruto dele mesmo, pelo qual ele procurava ser merecedor de coisas espirituais.
Não é por acaso que este relato veio logo após o episódio de Jesus abençoado os meninos e afirmando: "Qualquer que não receber o reino de Deus como menino não entrará nele". O menino, ou, em geral, as crianças, representam a inocência.; não, contudo, a inocência infantil, como a que se vê, pois é inocência da ignorância, mas, sim, a inocência da sabedoria. É uma tal inocência que se torna requisito essencial para se ter acesso aos céus.
"Inocência consiste em saber, reconhecer e crer ... que nada, senão o mal procede de si, e que todo bem procede do Senhor" "Inocência é o essencial da regeneração, porque ninguém pode ser regenerado senão através da caridade em que há a inocência' (AC 3994). É saber e reconhecer que nada se pode  entender nem querer, se não for por Deus; e agir segundo esse reconhecimento.
Vê-se assim a semelhança que estes dois fatos, o das crianças e o do jovem, têm entre si; em um, o Senhor começou a falar sobre a inocência, o querer ser levado pelo Senhor só; e em ou outro Ele conclui, mostrando que é absolutamente inútil o homem querer fazer algum bem por si mesmo, sem a inocência sem aquele reconhecimento essencial acerca de Deus; pois, desse modo, o bem que se faz é meritório, espúrio e, em si mesmo, um mal, porquanto o homem se guia pela sua bondade - que crê possuir - e pela sua inteligência - que crê ter. Em tais condições o homem se crê bom, se crê íntegro, justo, por causa de suas obras - como é o caso daquele fariseu que, ao lado de um publicano, orava no templo. E por se crer assim, ele atribui a si o bem que pertence somente ao Senhor Deus, e se crê, ele mesmo, bom. E porque é levado pela soberba do amor de si, até crê ser mais bondoso do que os outros. E foi nessas circunstâncias que aquele moço, ao se dirigir ao Senhor, chamando-O "Bom Mestre...", ouviu do Senhor a pergunta que devia fazê-lo pensar: "Por que Me chamas bom?" Certamente o moço se julgava autor de seu bem, e em si mesmo bom. Com que então chamava o Senhor de Bom? Que havia atribuido ao Senhor entre os pretensos bens de suas obras?
Convém notar que o Senhor disse apenas: "Por que Me chamas Bom?" Ele não estava jamais negando que fosse Bom, mas testando a sinceridade do reconhecimento da parte do moço. O vocativo usado pelo moço não era aquele reconhecimento de que a bondade é atributo de Deus só, pois Ele é o Bem mesmo, e que homem nenhum jamais é bom em si. Ppor isso o Senhor depois  afirma: "Não há bom, senão um, Deus". Esse era o reconhecimento que o jovem devia ter, para que suas palavras iniciais fossem realmente verdadeiras, o reconhecimento da fé, que teria vivificado as suas obras.
Ao examinarmos assim a resposta do Senhor, vemos que com isso Ele na realidade não se separava de Deus, pois isto é impossível, mas somente questionava uma afirmação que lhe fora dirigida; e, depois, mostrou a necessidade de atribuiu a Ele só todo bem se fez. Ao ler essa passagem, o fiel da Nova Igreja não cai jamais na falsidade de que o Senhor e Deus são pessoas distintas, pois, em seu coração, ele crê e vê um só Deus, e diz:"Bom Mestre, Tu és o Bem Mesmo, pois Tu és este Deus".
Todavia, houve uma razão pela qual ficou a aparência de uma distinção entre o Senhor e Deus: é que, antes de Sua tentação na cruz, e da plena glorificação do Seu Humano, ainda não estava em completa união com o Seu Íntimo Divino; Ele era o Divino Vero no esforço de conjunção com o Divino Bem, e por isso era chamado mestre. Mas após a glorificação, Seu Humano se fez um com o Seu Divino, e Ele se fez Deus mesmo quanto ao aspecto natural, Deus Homem, ou o Divino Humano. E quanto a Este Humano era agora o Divino Vero unido ao Divino Bem. Por isso é que não foi mais chamado Mestre, pelos discípulos, mas Senhor.
Reconhecer o Senhor Deus Jesus Cristo como única origem de toda a bondade; e o homem como em si mesmo mal, podendo se fazer, contudo, um vaso ou instrumento para uso do bem; estaé a fé que dá qualidade viva às obras que fazemos. Antes disso, as obras são mortas e ainda inanimadas, frutos de nossas afeições naturais. Sem esse reconhecimento o homem não tem condições de discernir o que procede si mesmo e o que procede de Deus, e não tem também condições de distinguir o que é bom do que é mal, ou pecado. é como lemos nos Escritos: "Pois como pode alguém que nunca pensa em Deus pensar que alguma coisa seja pecado contra Deus? E como pode alguém que nunca pensa sobre os céus, inferno, e a vida após a morte, evitar os males como pecados? Tal pessoa não sabe o que o pecado é" (AE 936).
Se em tal desconhecimento o homem faz alguma obra, ele a atribui a si mesmo, e ela de nada lhe adianta; pois pode mesmo, em lugar de bem, fazer o mal. Por isso é necessário a aquisição da fé, por meio dos conhecimentos da Verdade. Foi em tal tal condição queo jovem disse: "Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade". Praticara o que supunha ser as obras; ter observado os Mandamentos. Mas ... ouvindo isto, Jesus lhe disse: "Ainda te falta uma coisa". É que faltava justamente a fé, o reconhecimento de que todo bem só vem do Senhor, para que as obras tivessem algum valor, sem caber nisso mérito algum para o homem. Faltava o reconhecimento real de que "ninguém há bom senão um: Deus".
Para que as obras sejam vivas, dizem-nos as Doutrinas, elas devem ser feitas pelo Senhor. E "para que as obras sejam feitas pelo Senhor, e não pelo homem, duas coisas são necessárias: primeira, que o Divino do Senhor deve  ser reconhecido; também que (se reconheça) que Ele é Deus do céu e da terra mesmo quanto ao Humano, e que todo bem procede dEle; e a segunda, que o homem deve viver de acordo com os mandamentos do Decálogo, abstendo-se dos males que ali são proibidos, isto é, (abstendo-se) de cultivar outros deuses, de profanar o nome de Deus, de roubos, de adultérios, de assassinatos, de falsos testemunhos, de cobiçar a propriedde dos outros. Essas duas coisas são rquisitos para que as obras feitas pelo homem possam ser boas. A razão  é que todo bem do Senhor só, e o Senhor não pode entrar no homem e conduzi-lo enquanto esses males não forem removidos como pecados; pois eles são infernais, e, de fato, são o inferno com o homem. E a menos que o inferno seja removido, o Senhor não pode entrar e abrir o céu. Isto é o que se entende pelas palavras do Senhor ao homem rico que perguntou sobre a vida eterna, e disse que ele tinha observado os mandamentos do Decálogo desde a sua juventude; é dito que o Senhor o amou, e lhe ensinou que uma coisa faltava a ele, que vendesse tudo quanto tivesse e tomasse a cruz(Mat. l9:l6-22;Mar.l0:l7-22; Lucas l8:l8-23). "Vender tudo quanto tinha" significa que ele devia abandonar as coisas de sua religiosidade as quais eram tradições, pois ele era judeu, e também que deixasse as coisas que eram de seu próprio, que eram amar a si e ao mundo mais do que a Deus, e assim (que deixasse) de conduzir-se a si mesmo; e "seguir o Senhor' significa reconhecer a Ele somente e ser  conduzido por Ele. Por isso o Senhor também disse: "Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, Deus. "Tomar a sua cruz" significa combater os males e falsidades que são do próprio'. (AE 934).
Deixar de lado as coisas do próprio - o próprio bem, meritório, a própria inteligência, os próprios caminhos - vendendo tudo quanto se tem; - admitir com humildade o reconhecimento de que de si mesmo nada se é, senão falsidade e mal, e que se tem necessidade do amparo e da vida verdadeira que vem de Deus - repartindo com os pobres, pois, pobre espiritualmente, é aquele que se vê  desprovido debens everdades, mas que, todavia, os espera de Deus. Assim o homem se esvazia de si mesmo, do seu próprio, e pode ser provido dosbens everdades que, de Deus, passam a estar com ele, como mero depositário - é quando o homem  tem os tesouros no céu.
Ao fazer isso, o homem tem inocência; está sendo guiado, não mais por si mesmo, suas próprias convicções e atitudes, mas pelo Bem e pela Verdade que recebe de Deus. O Senhor, de fato, é quem o leva, como a uma criança obediente. É por isso que o Senhor por último lhe diz: "vem, e segue-Me".
O jovem rico, como lemos em nosso texto, ao ouvir esse convite, entristeceu-se muito, pois era muito rico, e seu coraçÃo estava na sua própria riqueza. Seria para ele muito penoso despojar-se de tanta riqueza e ir, em assumida pobreza, após o Senhor, dependendo dEle. às vezes os nossos estados de aparentes de aparentes bens e aparentes verdades, de nossos próprios, as tantas posições, ideias, comportamento e intenções que temos e cultivamos, são, para nós, nossa riqueza, que nos impede de prosseguir na vida da regeneração. Vamos à Palavra, lemos a mensagem Divina para nós, nesses estados, mas o convite que o Senhor nos faz nos parece muito difícil de ser aceito; exige muito de nossa renúncia, exige que abramos mão dos bens e verdades pessoais - que, na realidade, são nossos próprios males e falsidades - para podermos receber a instrução e a vida verdadeira, a vida eterna.
Peçamos ao Senhor que nos conceda condição para, como por nós mesmos, lutarmos contra a força infernal de tais atrações que nos prendem, deixando-as de lado. Que depois nos conceda a humildade, a inocência, condições em que sejamos guiados pelo Senhor Mesmo a todo bem verdadeiro e a toda verdade genuína, por onde alcançaremos os tesouros no céu. Amém.