Exaltação da Nova Jerusalém

Sermão pelo Rev. Cristóvão R.Nobre

"Eis que faço nova todas as coisas".

Apocalipse. 21:5

O conjunto de todos os Escritos teológicas de Swedenborg é como uma matéria prima intelectual destinada a formar no homem deste mundo um conceito inteiramente novo, verdadeiramente cristão, a respeito de todas as coisas.
O Senhor disse no Apocalipse: "Eis que faço nova todas as coisas". E essa criação nova se deu depois que o primeiro céu e a primeira terra passaram. Mas essa nova criação espiritual não é, evidentemente, a destruição de coisas físicas e a sua reconstrução material, mas, sim, uma mudança completa em nosso modo de encarar todas as coisas. Isto é o que se chama "reformar" o homem na regeneração, ou seja, criar uma mentalidade nova a respeito de sua existência, o propósito Divino para sua vida etc. E essa mentalidade nova que é criada em nós não é para nos fazer inteligentes, mas para que compreendamos o que é o mal que condena e o bem que salva. Se soubermos rejeitar o mal e escolher o bem, uma mudança em nosso modo de agir, estaremos sendo regenerados.
Quando cria de novo a mente do homem, primeiro o Senhor dá, por meio da Palavra, muitos conceitos que são inteiramente novos para o conhecimento humano. A começar pela própria vida, cujo sentido muitos procuram saber; ela ganha um significado grandioso quando sabemos que o homem nasceu para constituir um céu angélico onde se pode viver em eterna realização e, conseqüentemente, em eterna felicidade; que a vida neste mundo não é um fim em si, mas um meio de preparação para aquela outra, infinitamente mais importante do que esta. 
Saber que fomos colocados neste plano material somente para que pudéssemos exercer nossa liberdade de escolher sermos ou não preparados para aquela vida é uma verdade que, por si só, dá resposta à maioria das questões existenciais que o ser humano pode formular. Que significado de vida mais sublime do que este, a saber, que fomos criados para vivermos felizes no céu? E mais: a aceitação desse propósito Divino não anula nossa liberdade de escolha nem nossa identidade. De fato, foi exatamente para preservar nosso livre-arbítrio e nossa individualidade que Deus primeiro nos fez estar aqui, neste plano natural, em completa liberdade de espírito, para decidirmos se queremos ou não esse propósito amoroso que Ele nos designou.
Cientes desta explicação sobre a própria razão de ser da vida humana, conheceremos em seguida o meio pelo qual podemos ser preparados para aquela vida: é a prática do que é bom e justo; o fiel exercício de nossos usos. E saberemos também que o pecado é tudo aquilo que atenta contra esse uso, tudo o que o contraria e tudo o que busca nos impedir de alcançar o propósito Divino para nossa existência.
E assim é o caso com relação a todas as outras coisas: as Doutrinas Celestes da Nova Jerusalém nos dão visões novas, respostas novas e direções novas para todas as indagações e todas as situações desta vida, contanto que as procuremos, porque Aquele que criou o ser humano com inteligência e razão quer também que essa inteligência e essa razão sejam edificadas cada vez mais em verdadeira inteligência e sabedoria, não por causa da inteligência e da sabedoria em si mesmas, mas porque são qualificações do bem que faz o homem ser imagem de Deus.
Quase no final de seu livro profético, o Apocalipse, após relatar muitas outras visões que tivera em Patmos, João nos declarou que viu a Santa Cidade, a Nova Jerusalém, descendo de Deus pelo céu. 1700 anos depois, quase no final de sua existência neste mundo, após a revelação de arcanos do céu numa quantidade imensa de tratados, Swedenborg descreve espiritualmente a mesma cena: a descida ao mundo das verdades que constituem a teologia universal da Nova Igreja Cristã. O que João via em símbolos, em forma de uma cidade, Swedenborg descreveu em forma de doutrinas. E assim aprendemos que a Cidade Santa, a Nova Jerusalém, não será uma cidade física, visível com aparência externa, pois ela é o reino de Deus na terra, e o Senhor mesmo disse: "Eis que o reino de Deus não virá com aparência exterior, nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali, porque eis que o reino de Deus está dentro de vós". E se está dentro do homem, não se mostra à vista externa.
Não foi dito jamais que veríamos a aparência externa da instauração da Nova Igreja neste mundo. Podemos ver, sim, organizações terrenas de pessoas que almejam receber a Nova Igreja em suas vidas. Porque a Nova Igreja é uma igreja essencialmente espiritual.
A visão da descida de uma cidade é, portanto, a visão de uma descida de idéias ou verdades espirituais. Idéias que antes pareciam abstratas, muito altas para nossa compreensão natural, descem, por assim dizer, e se tornam conhecidas. Essas verdades, vindas de Deus, através dos céus, devem descer primeiro ao homem interno e daí ao externo; da mente superior para a do pensamento consciente, da consciência para a vida, das intenções para os atos externos, da alma para o corpo.
A descida da Nova Jerusalém ou das verdades ou princípios da verdadeira religião cristã acontece quando resolvemos praticá-las, seguí-las em nosso viver. Isto não é uma coisa fácil. Sabemos que a concretização de bons ideais, ainda mais de verdades espirituais nos atos da vida,  enfrenta uma quantidade imensa de obstáculos. Porque existem princípios errôneos que adotamos e que estamos cultivando consciente ou inconscientemente e que não podem servir como base para uma vida verdadeiramente cristã. Há conceitos e convicções não genuínos, sem nenhuma solidez espiritual, que terão de ser abalados, demolidos e removidos para o nosso bem, para que princípios espirituais assumam seu lugar, sobre os quais a vida celeste vai ser erigida.
Lemos em VRC que a descida da igreja não se pode fazer em um momento, mas se faz à medida que os falsos da Igreja precedente são afastados. Os falsos da igreja precedente, entenda-se, são essas direções, essas crenças, conceitos e princípios da vida humana natural que não se coadunam com a vida cristã tal como aprendemos nas Doutrinas.
Também é dito que a cresce primeiro no mundo espiritual, e depois no mundo natural. À medida que ela aumenta e se fortalece nos céus, mais vemos seu crescimento entre nós. Cada cristão fiel que deixa esta vida e é salvo, e entra numa vida luminosa nos céus, volta seus olhos para a prosperidade da Igreja entre os que aqui permanecem, e, na permissão do Senhor, fazem tudo o que podem a fim de inspirar em nossas lembranças e nossas afeições as idéias e os sentimentos angélicos de amor a deus e ao próximo, que são o reino de Deus dentro de cada um de nós.
É importante lembrar que a descida da Igreja no mundo dos espíritos aconteceu somente após o juízo final, ou melhor, aconteceu porque o juízo tinha sido efetuado, quando os falsos profetas e os líderes enganadores foram removidos. Pela mesma forma, as falsidades e males no íntimo de cada indivíduo têm de ser julgados e combatidos para que os ideais de vida celeste e cristã desçam cada vez mais ao plano externo e se concretizem, fazendo um com a vida e formando a Igreja em particular.
Por isso é que a leitura da Palavra e das Doutrinas se faz tão necessária, pois é em sua luz que faremos o julgamento daquilo que em nós é desfavorável à implantação da vida do céu, a descida da igreja. Por isso é que devemos aprender a refletir sobre nossos caminhos, a fazer auto-exame periodicamente, para que sejamos capazes de, com o poder do Senhor, remover de nosso pensamento e de nossa afeição tudo aquilo que atente contra a vida da Nova Jerusalém. E é importante que, depois, permaneçamos orando e vigiando, atentos para que as falsidades e males uma vez julgados e banidos não retornem e tomem de novo lugar em nosso espírito.
Hoje, celebramos o aniversário da instauração da primeira organização da Nova Igreja em território brasileiro. Reflitamos sobre este assunto. O que podemos conscientemente fazer a fim de que esta Igreja se torne cada vez mais real em nossas vidas? E de que maneira podemos viver para que nossa influência seja positiva nas outras pessoas, contribuindo para que, de algum modo, a vida da Nova Jerusalém seja também implantada em suas vidas?
Oremos para que o Senhor fortaleza e edifique a cada dia a Sua Igreja em cada um de nós, Seus servos, e que assim nos faça cada vez mais capazes de servi-Lo e à causa de Seu Reino. Amém.
Lições: Apocalipse 21; VRC 764, 771.