Os Sete Dias da Criação

O sexto dia

Sermão pelo Rev.C.R.Nobre

Leitura comentada dos ARCANOS CELESTES.

"E disse DEUS: Produza a terra alma vivente segundo a sua espécie; a besta e o que se move; e a fera desta terra segundo a sua espécie. E foi feito assim. E fez DEUS a fera da terra segundo a sua espécie; e a besta segundo a sua  espécie; e todo réptil do  húmus, segundo a sua espécie. E viu DEUS que [era] bom. E disse DEUS: Façamos o homem à Nossa imagem, segundo a Nossa semelhança. E dominarão sobre os peixes do mar, e sobre a ave dos céus, e sobre a besta, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que rasteja sobre a terra.
E criou DEUS o homem à sua imagem, à imagem de DEUS o criou; macho e fêmea os criou. E os abençoou DEUS;  e  disse-lhes  DEUS: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e subjugai-a. E dominai sobre os peixes do mar e sobre a ave dos céus, e sobre todo [ser] vivo que rasteja sobre a terra. E disse DEUS: Eis, dou-vos toda erva dando semente, que [há] sobre as faces de toda a terra, e toda árvore em que [há] fruto. A árvore que produz semente vos será  para comida. E a toda fera da terra, e a toda ave dos céus, e a tudo o que rasteja sobre a terra, em que [há] alma vivente, todo verde da erva, para alimento. E foi feito assim. E viu DEUS tudo o que fez, e eis, muito bom. E houve tarde, e houve manhã, o dia sexto." -Gênesis 1:24-31

Nestes comentários que temos feito dos primeiros capítulos dos ARCANOS CELESTES, já vimos que os dias da criação representam os estados da regeneração do homem, estados esses que "se dividem em seis e se chamam os dias de sua criação, pois, gradualmente, de não-homem que era, ele se torna... "imagem"."
Vimos que o primeiro dia ou estado é o tempo que precede a regeneração e vai até o estado em que surge para o homem a luz da verdade. O segundo estado é quando o homem se humilha e distingue entre as coisas que são suas e as que são do Senhor, entre suas convicções humanas e as verdades eternas. O terceiro estado é o da penitência, como se disse, no qual o homem começa a produzir algum uso espiritual e a mudar sua vida pela verdade. Mas as obras que ele produz são ainda inanimadas. No quarto estado o homem é tocado pelo amor e iluminado pela fé, quando são criados o sol, a lua e as estrelas. A fé a caridade verdadeiras são acesas em seu homem interno.
O quinto estado é quando o homem age pela fé e assim se confirma no bem. Suas obras da fé são comparadas aos peixes do mar e às aves do céu.
E no sexto estado "o homem, pela fé e daí pelo amor, fala os veros e faz os bens. As coisas que então produz são chamadas "alma vivente e besta". Então torna-se homem espiritual, que é chamado "imagem".
No sexto dia, as afeições novas do homem espiritual são designadas pela "alma vivente que a terra produz", pela "besta e o que rasteja" e, depois, pela "fera desta terra". "E como agora... começa a agir... pelo amor, torna-se homem espiritual", que é chamado "imagem" de Deus.
Assim, as Doutrinas Celestes nos mostram que "estas palavras contêm arcanos da regeneração...", segredos que, ao serem revelados, expõem-nos ensinamentos claríssimos sobre os estágios por que deve passar nosso espírito ao sermos criados de novo.
"E disse DEUS: Façamos o homem à Nossa imagem, segundo a Nossa semelhança." Neste versículo encontramos o Senhor falando no plural "façamos", expressão que tem despertado dúvidas e falsas interpretações desde os tempos antigos. Alguns querem daí provar a existência de pelo menos duas pessoas Divinas presentes na criação. Mas os Escritos nos explicam a razão de se dizer assim:
"Enquanto não é regenerado, o homem é dirigido de modo diferente do que quando é regenerado. Quando não é regenerado, há nele espíritos maus que dominam sobre ele de tal modo, que os anjos, ainda que presentes, quase nada podem fazer senão apenas conduzi-lo, para que não se precipite num mal extremo, e desviá-lo para algum bem; e isto eles fazem mesmo pelas próprias cobiças dele, para desviá-lo ao bem, e pelos enganos dos sentidos, para desviá-lo ao vero. Então ele tem comunicação com o mundo dos espíritos pelos espíritos que nele estão, mas não tanto com o céu, porque os espíritos maus dominam e os anjos somente o desviam."
"Quando, porém, é regenerado, os anjos então dominam e lhe inspiram todas as coisas boas e verdadeiras, bem como horror e temor pelos males e falsidades. É verdade que os anjos conduzem, mas somente administram, pois só o Senhor é quem dirige o homem por meio dos anjos e espíritos. E porque isto se faz pelo ministério dos anjos, aqui se diz primeiro no plural: "façamos o homem à Nossa imagem". Mas porque é sempre o Senhor quem dirige e ordena, no versículo subseqüente se diz no singular: "criou-o Deus à Sua imagem. O homem espiritual é "imagem", mas o homem celeste é "semelhança" ou efígie. Neste capítulo se trata do homem espiritual e no seguinte do celeste."
É dito que Deus criou o homem, "macho e fêmea". No sentido interno, "macho" significa o entendimento no homem espiritual, e "fêmea" a vontade. "Quando estas duas faculdades agem como uma..." há o casamento celeste no homem regenerado.
"E os abençoou Deus, e disse-lhes Deus: "Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e subjugai-a. E dominai sobre os peixes no mar, e sobre a ave dos céus, e sobre todo [ser] vivo que rasteja sobre a terra".
"Como os antiqüíssimos chamavam a conjunção do entendimento e da vontade, ou da fé e do amor, "casamento", tudo o que este casamento produzia de bem eles chamavam "frutificações", e tudo o que produzia de vero, "multiplicações".
Desde os primeiros estudos, já vimos também que o homem natural ou externo foi significado pela "terra" na história da criação, ao passo que o homem interno foi representado pelo céu. O fim da regeneração é que o homem interno ou espiritual domine o externo ou natural. Esse domínio só é alcançado por meio das lutas da tentação, quando os males são removidos os bens implantados em seu lugar. Esse combate do homem espiritual e sua dominação sobre o natural é aqui representado pelo que foi dito: "subjugai a terra", e "dominai".
E disse DEUS: Eis, dou-vos toda erva dando semente, que [há] sobre as faces de toda a terra, e toda árvore em que [há] fruto. A árvore que produz semente vos será  para comida. A "erva dando semente" é todo vero que se refere a um uso.
A "árvore na qual [há] fruto" é o bem da fé. O "fruto" é o que o Senhor dá ao homem celeste, mas a "semente", da qual vem o fruto, é o que Ele dá ao homem espiritual. Por isso se diz: "a árvore que produz semente vos será para comida". Que a comida celeste se chame "fruto da árvore", vê-se pelo capítulo seguinte, onde se trata do homem celeste.
"E a toda fera da terra, e a toda ave dos céus, e a tudo o que rasteja sobre a terra, em que [há] alma vivente, toda erva verde, para alimento. E assim foi feito".
Aqui é descrita a comida natural deste mesmo homem. O seu natural é aqui significado pela "fera da terra" e pela "ave dos céus" aos quais foram dados a hortaliça e a erva verde para alimento.
Que somente a erva verde e a hortaliça sejam aqui o alimento do homem natural, o caso é este: quando o homem está sendo regenerado e se torna espiritual, está continuamente em combate; por isso a Igreja do Senhor é chamada "combatente". Pois antes as cobiças dominavam, porque o homem todo se compõe de meras cobiças e das falsidades daí provenientes. Quando está sendo regenerado, suas cobiças e falsidades não podem ser abolidas num só instante, pois isto seria destruir todo o homem, porquanto não adquiriu outra vida para si. Por isso é que os espíritos maus permanecem muito tempo com ele, para que excitem suas cobiças e assim elas sejam dissipadas por meios inumeráveis e, mesmo, para que possam  ser conduzidas pelo Senhor para o bem e assim o homem possa ser reformado. No tempo do combate, os maus espíritos, que têm o maior ódio por tudo o que é bom e verdadeiro, isto é, tudo o que pertence ao amor e à fé no Senhor, que são unicamente os bens e veros porque estes  têm em si a vida eterna, nenhum outro alimento deixam ao homem senão o que é comparado à hortaliça e à erva verde. Mas o Senhor lhe dá também a comida que é comparada à erva dando semente e à árvore na qual há fruto, as quais pertencem à tranqüilidade e à paz com suas alegrias e felicidades, e isto por intervalos.
"E viu Deus tudo o que fez, e eis, muito bom. E houve tarde, e houve manhã, o dia sexto".
Aqui se diz "muito bom" e nos versículos anteriores somente "bom", porque agora as coisas que são da fé fazem um com as coisas que são do amor. Assim é feito o casamento entre as coisas espirituais e as celestes.
São chamadas espirituais todas as coisas que são das cognições da fé, e celestes todas as que são do amor ao Senhor e para com o próximo; estas pertencem à vontade e aquelas ao entendimento do homem.
Durante esse tempo o Senhor combate continuamente por ele contra os males e falsos, e pelos combates o confirma no vero e no bem. O tempo do combate é o tempo da operação do Senhor; por isso o regenerado é chamado, nos Profetas, "obra dos dedos de Deus"; Ele não descansa antes de o amor tornar-se o principal; então cessa o combate.
E viu DEUS tudo o que fez, e eis, muito bom. E houve tarde, e houve manhã, o dia sexto."
"Quando a obra chega ao ponto de a fé ser conjunta ao amor, então é chamada "muito bom", porque então o Senhor o conduz como "semelhança" Sua. No fim do sexto dia cessa a obra da nova criação do homem espiritual. Cessa nele o combate entre o bem e o mal. Tendo os males sido removidos, os maus espíritos se afastam e são substituídos por bons e anjos, e o homem é introduzido no Céu ou Paraíso celeste.
Depois dos seis dias de labor, é dito que o Senhor descansa, porque não necessita mais combater pelo homem, que se tornou regenerado até esse grau. É quando o homem se torna celeste e é chamado "sábado". É desse homem que iremos tratar, pela Divina Misericórdia do Senhor, no capítulo seguinte. Amém.