As respostas do Senhor na Palavra

Sermão pelo Rev. Cristóvão R. Nobre

“E sucedeu que, quando Abiatar, filho de Aimeleque, fugiu para Davi, a Queila, desceu com o éfode na mão. Sabendo, pois, Davi que Saul maquinava este mal contra ele, disse a Abiatar, sacerdote: Traze aqui o éfode:  E disse Davi: ...Ah, Senhor, Deus de Israel! Faze-o saber ao teu servo... Disse mais Davi: entregar-me-iam os moradores de Queila, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul? E disse o Senhor: Entregariam.” I Sam. 23: 6, 9, 11.

Neste relato do Livro I de Samuel,  vimos Davi consultar ao Senhor a respeito do que deveria fazer quanto à cidade de Queila e ao rei Saul, seu perseguidor. Fazendo uso do éfode sacerdotal, Davi perguntava e o Senhor lhe respondia e dizia o que devia fazer. Eram repostas vitais, pois livravam Davi e os seus guerreiros de inimigos mais fortes que eles. A forma como as respostas eram dadas, através do éfode, é o que nos chama a atenção, porque, no sentido espiritual, nos mostra como o Senhor nos responde também hoje, pela letra da Palavra.
Havia três vestes principais para o sumo-sacerdote: o éfode, o manto e a túnica. O éfode era a mais externa, sobreposta às outras duas, como uma espécie de avental. Era feito de tecido azul, ouro púrpura, carmesim, e linho fino torcido. Havia duas correntezinhas de ouro que se prendiam às ombreiras do éfode por meio de argolas. Pendurada às extremidades das correntes, sobre o peito, havia uma placa de ouro, quadrada, de um palmo de largura. Essa placa de ouro era o que se chamava “peitoral do juízo”. Engastadas nesse peitoral havia doze pedras preciosas, dispostas em quatro ordens ou filas de três pedras: sárdia, topázio e carbúnculo, na primeira ordem; esmeralda, safira e diamante, na segunda; jacinto, ágata e ametista, na terceira; e turquesa, sardônica e jaspe, na última ordem. Acima de cada pedra preciosa foi gravado o nome de cada uma das doze tribos de Israel.
Esse conjunto, do peitoral de ouro e pedras preciosas, também é chamado, em outros lugares da Palavra, de “Urim e Thumim”, sendo que “Urim” é plural de luz, e “Thumim” plural de integridade. Assim, o peitoral do juízo era chamado de luzes e integridades, porque era por meio dele que o Senhor dava as respostas, revelações de verdades que eram a luz e a integridade para o povo. Lemos nos Escritos que “o peitoral era a Divina verdade resplandecendo pelo Divino Bem do Senhor, nos últimos. É chamado “peitoral do juízo” porque das as respostas e desse modo revelava a verdade Divina. Além disso, por “juízo”  é significada, na Palavra, a Divina Verdade; conseqüentemente, a doutrina e a vida de acordo com a doutrina”  (AC 9857).
A forma quadrada do peitoral significa a perfeição (9861). As pedras preciosas representam as verdades da Palavra no sentido literal; e os nomes das tribos de Israel representam todas as coisas da Igreja, num só complexo. Assim é a letra da Palavra: contem perfeitamente todas as coisas da Igreja, do culto e do amor ao Senhor.
Depois que Davi foi ungido rei, passou a ser perseguido pelo rei Saul e teve de fugir várias vezes de sua ira. Aos poucos, passou a ter uma quantidade de aliados que também fugiam dos desmandos de Saul.  Numa dessas fugas, Davi foi abrigado pelos sacerdotes. Saul, sabendo disso, vingou-se mandando executar todos os sacerdotes em Siló. Somente um deles, Abiatar, escapou e foi ter também com Davi. Na fuga, Abiatar levou consigo o éfode sacerdotal. A partir daí, Davi passou a usar o Urim e Thumim ou o peitoral do juízo que havia no éfode, para saber do Senhor as direções que devia tomar nas suas fugas de Saul e nas guerras que, ao mesmo tempo, ele empreendia contra os inimigos de Israel.
As Doutrinas Celestes nos ensinam que, segundo a língua angélica, “Urim significa a luz inflamada, e Thumim o esplendor proveniente daí. A luz do fogo é a Divina verdade procedente do Divino Bem do Divino Amor do Senhor, e o esplendor é essa verdade nos últimos, e assim, no efeito... Thumim, na língua hebraica, é integridade, mas na língua angélica é esplendor.   ... O esplendor da Divina Verdade é, quanto ao som, “Thumim”, donde vem o seu nome. A mesma coisa é percebida pelos anjos quando se lê “thum” na língua hebraica, pelo que é significado o que é íntegro ou integridade. É daí que, pelo íntegro, no sentido interno da Palavra, é significada a Divina Verdade no efeito, que é a vida segundo os preceitos Divinos” (AC 9865).
A Divina Verdade nos efeitos é a Palavra quanto ao sentido da letra, quando é lida e aplicada na vida. Toda integridade vem da Palavra e da vida de acordo com ela, e sem essa vida não há integridade ou retidão alguma. Portanto, quando lemos a Palavra com o desejo sincero de tirar dela os princípios de nossa vida, e quando de fato, seguimos esses princípios em nossos atos, os anjos percebem o esplendor resultante da luz dos veros, isto é, Urim e Thumim. Que a integridade do viver se manifeste como luz, é visto também pelo que o Senhor disse em Mateus: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifique a vosso Pai que está nos Deus”.
A maneira como o Senhor instruía pelo Urim e Thumim tornou-se inteiramente desconhecida depois daqueles tempos. Somente as Doutrinas Celestes nos desvendaram este arcano, pois é a mesma forma como o Senhor instrui hoje pela letra da Palavra.
Os Escritos nos informam, pois, que as respostas eram dadas nos brilhos variados das pedras. Sendo cada pedra de cor e transparência diferentes, cada uma luzia ou faiscava diferente quando a luz incidia sobre o peitoral.
A Igreja Israelita era não realmente uma Igreja, mas um representativo do que seria a Igreja. Sabe-se que as pessoas daquela Igreja estavam meramente nos externos, e o Senhor lhes adjuntava bons espíritos e anjos que estavam nos internos. Assim, anjos e homens compunham uma só Igreja, nos céus e na terra. Havia uma consociação entre eles por meio das correspondências: quando os homens viam as coisas naturais, os anjos e espíritos percebiam, nas mentes deles, as idéias daquelas coisas e, pelas correspondências, as coisas espirituais a que aquelas idéias correspondiam.
Assim era o caso do éfode com o Urim e Thumim. Os homens, tais como o sacerdote Abiatar, Davi e os demais, viam diante de si apenas a vestimenta, o peitoral de ouro, as pedras preciosas e o brilho variado delas. Mas os anjos presentes percebiam as coisas que eram representadas: pelo éfode e o peitoral, a Divina verdade nos últimos; pelas pedras preciosas, as verdades mesmas; e pelo brilho das pedras, a infinita variação de veros e bens para uso da vida. A percepção que os anjos tinham desse brilho era proferida e ouvida, às vezes em palavras audíveis, às vezes em uma espécie de intuição, pelos homens que consultavam ao Senhor.
“As respostas dadas pelo Senhor no Urim e Thumim eram esplendores de luz, de acordo com o estado do assunto em questão... Porque toda luz do céu varia de acordo com os estados do assunto, e os estados do assunto variam de acordo com a ordem do bem e da verdade... A própria luz celestes transluzia de um modo miraculoso de acordo com o estado da matéria sobre a qual houvesse pergunta e resposta...”(9467).
O brilho do Urim e Thumim vinha da própria luz do céu, e apresentava uma possibilidade infinita de variação de luz e esplendor, por conseguinte de respostas sobre os mais variados assuntos e estados, contendo, assim, plena instrução para anjos e homens. É exatamente como é para nós a Palavra no sentido literal; ela é o nosso “peitoral do juízo”, com preciosas verdades que brilham, variam e iluminam nossa mente com respostas que discernem, julgam, qualificam, orientam e instruem sobre todos os estados e todas as áreas de nossa vida.
“Davi... disse a Abiatar: ...Traze aqui o éfode. E disse Davi: Ó Senhor, ...descerá Saul, como o teu servo tem ouvido?... e disse o Senhor: Descerá. Disse mais Davi: entregar-me-iam os cidadãos de Queila...? E disse o Senhor: entregariam”.
Quando Davi ou outros indagava do Senhor a respeito do que devia fazer e obtinha as respostas, como foi neste caso com a cidade de Queila, havia várias coisas envolvidas: em primeiro lugar, havia seriedade na consulta, pois os propósitos eram graves, significando a vida ou a morte. Depois, havia um desejo real da parte de Davi de saber a verdade, a direção a seguir. Havia o sacerdote presente e havia, obviamente, o éfode com o Urim e Thumim. Havia a luz celeste e o brilho nas pedras; e havia a instrução clara, a resposta desejada e pedida a Deus. Todas essas coisas constituíam uma condição essencial para que a resposta do Senhor fosse obtida.
A presença do sacerdote Abiatar indica que dependemos de ministros treinados e ordenados por Deus, que se dediquem à tarefa de extrair da Palavra as doutrinas gerais da Igreja e da vida. O Senhor promete e concede aos sacerdócio um dom específico de seu uso, que é o Espírito Santo ou a instrução da Divina Verdade. Precisamos dos sacerdotes porque primeiro a verdade da Igreja deve ser aprendida pela audição e pelas pregações, para depois verificarmos, por nossa própria pesquisa, se são verdadeiros ou não. Os ministros da Igreja conduzem os entendimentos aos veros e mostram o caminho que, se seguidos, levam à vida.
Sem uma luz que incidisse de fora, nenhuma pedra do Urim e Thumim brilharia. Todas pareceriam iguais, foscas ou opacas. Da mesma forma, sem a luz esclarecedora da Doutrina, a verdade do sentido literal não é compreendida (VRC 226), porque “consiste em puras correspondências, a fim de que os espirituais e os celestes aí estejam ao mesmo tempo”. Os livros chamados Escritos, que são as Doutrinas Celestes para a Nova Jerusalém, são essa luz que temos ao nosso dispor e que fazem as verdades da Letra brilhar pelos eu sentido espiritual. 
A vontade de saber a resposta é o desejo sincero de viver de acordo com o ensinamento tirado da Palavra. Isto é tirar doutrina para a vida. Ainda que houvesse a luz, as pedras, e o sacerdote, não haveria resposta alguma audível nem compreensível a não ser que houvesse essa afeição pelo ensinamento como coisa essencial para a vida e a salvação. A resposta do Senhor, proferida em voz sonora por um anjo ou tacitamente pela intuição é essa ilustração que nos mostra as aplicações que as verdades da Palavra têm em nossa vida. Lemos em VRC que “a iluminação vem do Senhor, só, e está naqueles que amam os veros porque são veros e que os tornam usos da vida. Nos outros, não há ilustração da Palavra” (231).
Certa vez, já no fim de sua vida, Saul tentou várias vezes obter respostas do Senhor. “E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor lhe não respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas” (I Sam. 28:6), possivelmente porque faltava a Saul esse afeição do vero por causa do vero, pois queria saber somente o que lhe fosse favorável.
Todos os princípios de nossa conduta, todas as posições que assumimos, todos os argumentos que temos para responder, todas as motivações de nossos esforços, tudo, precisa ter origem na Palavra. Todas essas qualificações são o que chamamos de doutrinas, nossas doutrinas particulares, que devem ser extraídas da Palavra e tornarem-se razões de nossa vida. Temos de tirar da Palavra de Deus, no seu sentido literal, isto é, nas partes históricas, nos Evangelhos, nas profecias e nos Salmos, esses princípios de conduta de uma vida verdadeiramente cristã.
Para isso o Senhor nos oferece a instrução interna, em nossa percepção, do que é verdadeiro e justo. Se amarmos as verdades realmente, nós as desejaremos porque são verdades, sejam elas quais forem, mesmo que tenhamos de mudar a vida e os prazeres quando estão em desacordo com elas. Quando nossa afeição for assim, o Senhor nos dará uma iluminação interior do entendimento que nos possibilitará compreender com clareza Suas respostas. Assim como um anjo ditava as respostas, nossa percepção interior do vero, que estará em consociação angélica, ditará ao nosso entendimento natural as coisas que devemos fazer, claramente, a cada dia, a cada decisão, a cada dúvida.
“A verdade real, que deve pertencer à doutrina, não se mostra no sentido da letra da Palavra senão àqueles que estão na iluminação pelo Senhor. A iluminação vem do Senhor, só, e está naqueles que amam os veros porque são veros... neles a Palavra está em seu brilho e em sua transparência... porque há em cada coisa da Palavra um sentido espiritual e um sentido celeste, e estes sentidos estão na luz do céu. É por isso que, por estes sentidos e por sua luz, o Senhor influi no sentido natural da Palavra e em sua luz no homem. Por isso, o homem pela percepção interior, reconhece o vero, em seguida em seu pensamento o vê e isso todas as vezes que está na afeição do vero pelo vero. Pois da afeição vem a percepção, da percepção o pensamento e assim vem o reconhecimento, que é chamado fé” (VRC 231). Amém,

Lições: VRC 231
I Sam. 22:6 ao fim; 23:1 a 13.