Coisas antigas e coisas novas

Sermão pelo Rev. Cristóvão R. Nobre

"Eis que faço novas todas as coisas"
Apoc. 21:5.

As palavras desta parte do Apocalipse foram proferidas pelo Senhor como exortação àqueles que, antes do Juízo final, encontravam-se no mundo cristão e viriam para o mundo dos espíritos, para que não se deixassem seduzir pelos da Igreja cristã antiga. Lemos no AR 886 que os fanáticos das religiões católica e evangélica se abrasavam com a cobiça de seduzir os simples de coração e fé, e para isso até criaram céus imaginários, pelos quais pudessem enganar. Para evitar que seu domínio se estendesse sobre os cristãos fiéis, o Senhor criou os céus reais e, na terra, uma igreja verdadeira, pelo que disse: "Eis que faço novas todas as coisas", um novo céu e uma nova terra.
Em nossos dias, esta exortação do Senhor se aplica a todos os que se aproximam de Sua Nova Igreja, para que estejam apercebidos quanto às doutrinas enganosas da falsa igreja cristã.
Falso cristão ou anti-Cristo é todo aquele que se diz cristão, mas nega a Divindade do Senhor Jesus Cristo. O ponto fundamental da revelação, a verdade maior que o Senhor veio ao mundo nos ensinar, foi a verdade eterna de que Ele mesmo é Deus, o Santíssimo JEHOVAH que veio aqui, fez-Se carne, e habitou entre nós. Antes, ninguém jamais tinha visto a Deus, mas O via na forma de um anjo, o Anjo do Senhor, citado no Antigo Testamento. Mas quando Ele veio ao mundo e Se tornou Deus conosco, Ele estava agora no Seu Humano, no Natural, e não precisou mais estar num Humano representativo, na forma de um anjo, e por isso o Anjo do Senhor não é mais citado no Novo Testamento.
O Senhor, sendo Deus, envolveu-se do corpo material e esteve no mundo. Enfrentou lutas terríveis para glorificar e divinizar aquele corpo, e venceu todas as lutas, todas as tentações, até à última delas, que foi a tentação da cruz. Depois dessa vitória derradeira, aquele corpo, chamado Filho, estava unido integralmente à Alma, chamada Pai. O Deus invisível do Antigo Testamento, o Senhor JEHOVAH, tinha agora Se revestido de um Corpo visível, para efetuar a redenção. Por isso, Ele Se chamou "JEHOVAH salvou", Jesus.
Os discípulos da Igreja Cristã dos primeiros tempos compreenderam isto perfeitamente, e por isso confessaram que Jesus era o próprio Deus, não havendo nenhuma outra pessoa além dEle. Este foi o ensinamento dos apóstolos em todas as suas cartas: Jesus Cristo é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Deus nunca tinha sido visto por ninguém, mas o Filho unigênito revelou Deus para nós e O fez visível. Hoje, vemos Deus, porque Deus Se fez visível na face, nos olhos, nas mãos, nas palavras e nas obras do Senhor Jesus Cristo.
Mas a Igreja Cristã, trezentos anos depois, perdeu essa visão, e formulou a idéia de um Deus dividido em três pessoas diferentes, e por causa disso a Igreja cristã mergulhou todo entendimento espiritual em densas trevas. Porque rejeitaram a verdade fundamental, a pedra fundamental da fé, que Jesus Cristo é Deus, os construtores da Igreja a derrubaram.
Por confessaram hoje uma fé em três pessoas Divinas separadas, sendo cada uma delas Deus, estão confessando uma fé em três deuses, o que não é fé, mas loucura.
Ora, como a fé fundamental é errônea, é falsa, é distorcida, nem uma das outras coisas da doutrina podem estar corretas, mas falham também pelas crenças ilusórias que tentam impor à mente humana.
Se negam que Jesus é o próprio Deus, Salvador, Redentor e Regenerador, eles têm de criar a idéia da salvação efetuada por um sacrifício sanguinário: uma pessoa cruel, chamada Deus Pai, que teria ficado num trono nos altos céus, enquanto uma outra pessoa, um Filho inocente, estava sendo brutalmente sacrificado em favor de pecadores. Só quando viu o sangue do filho é que o pai aplacou sua ira. Isto não é amor de Pai e muito menos amor de Deus, mas é isto que as igrejas cristãs de hoje, tanto a católica quanto as evangélicas, ensinam.
Por não conhecerem que o Senhor salva o homem por meio da regeneração, que é a reforma do entendimento e a edificação de uma vontade nova e boa, eles ensinam que a salvação é instantânea, imediata, feita num só momento. Acham que basta ter a fé, e já se está salvo, ignorando o que o Senhor disse: "Aquele que não nascer de novo..." E: "Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus..." E: "Se não vos tornardes como criança...", e assim por diante. Como podemos ser nascidos de novo num só instante, se o velho entendimento e a velha vontade ainda reinarem?
Por acreditarem que seremos apenas pelo pensamento, pela fé, eles desprezam a importância da vida e da obra de Deus na vida. A Palavra toda está repleta de passagens ensinando que seremos julgados pelas nossas obras, pelo que fizermos e não pelo que pensarmos e crermos. No entanto, os cristãos de hoje acreditam que Deus olha apenas para a fé, e que as obras não valem nada para a salvação.
Por não saberem que o Amor Divino opera todas as coisas dentro da esfera do bem, eles oram e pedem a Deus toda e qualquer coisa, mesmo coisas más, pois acreditam que a justiça de Deus é perversa e torta como a deles. Por isso oram e pedem que Deus castigue os que são seus inimigos, acreditando que Deus possa punir, pesar a mão ou lançar alguém no inferno.
Por não saberem que Deus é a Ordem, e por ignorarem que Ele nos deu Sua Lei para ser obedecida na vida, oram e pedem para que Deus dê um jeitinho, faça milagres atropelando a ordem, a justiça e a retidão, para lhes fazer o bem. Pedem, por exemplo, que Deus os faça ricos, mas não procuram se dedicar com esforço e dedicação ao trabalho maior, na obra de Deus. Pedem Que Deus os faça sãos no corpo, mas não se preocupam com a sanidade de suas mentes e seus espíritos. Pedem que Deus remova num piscar de olhos os males e pecados de suas vidas, mas não querem combater suas cobiças nem abrir mão de suas iniqüidades, sua soberba e suas ambições.
Como perverteram a idéia justa de Um só Deus, na pessoa do Senhor Jesus Cristo, por isso perverteram também todas as coisas da religião, da vida e culto.
Perverteram até a idéia do relacionamento com Deus, acreditando que eles são os senhores e Deus o seus escravo, pois suas orações são feitas não para se submeterem à regeneração e à transformação de suas vidas, mas oram, sim, para dar ordens a Deus, ordens sobre coisas mesquinhas, interesseiras, viciando a prática da oração, pois passaram a acreditar que Deus está aos seus serviços e é um menino-de-recados de seus pedidos. As coisas mais banais, das quais cumpre-lhe cuidar eles mesmos, como o trabalho, os deveres profissionais, o cultivo do bom relacionamento com as pessoas, o cumprimento de suas obrigações, eles oram e ordenam que Deus resolva, como se Deus fosse descer e fazer o que caberia a eles fazer. Em Isaías 29:16  se lê a respeito disso: "Vós tudo perverteis, como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Näo me fez; e o vaso formado dissesse do seu oleiro: Nada sabe".
Segundo essa crença  ingênua em Deus, eles acreditam que Deus é um Ser que só age mediante a oração  do crente, um ser indolente que se recusa a fazer o bem, se nós não pedirmos; ou um ser irresponsável, que poderia salvar e curar alguém, mas não o fez porque não houve quem orasse por ele. Ora, um deus assim, caprichoso, que só agisse empurrado por orações, não condiz com a idéia justa e amorosa de Deus que está na Palavra.
No entanto, é assim que imaginam, e por fazem longas orações, acreditando que, por muito orarem, farão Deus mudar de idéia ou O farão atender os Seus pedidos. Por se dedicam a vigílias e preces intermináveis, com voz adequadamente lamentosa, imitando o choro, para impressionar a Deus.
Por acreditarem que Deus é um ser separado em três, pensam que a pessoa pode ter Deus Pai na vida, mas precisa também aceitar Jesus e por último receber o Espírito Santo. Se não se recebe assim, os três supostos pedaços de Deus, não se é salvo.

Irmãos, quando o Senhor fez o Seu Segundo Advento no sentido Interno da Palavra, foi restaurar ao mundo a idéia justa a respeito dEle e a respeito de todas as coisas da religião. A religiosidade cristã está enterrada no erro, está cega e está morta. Precisa nascer de novo, receber o Senhor como único e verdadeiro Deus, como Se revela na Palavra.
Nós fomos chamados por Ele para fazer parte dessa Nova Igreja, para recebermos essa nova visão de fé nEle e para, definitivamente, reformularmos nosso entendimento e nossa vida. Por isso, precisamos buscar na Palavra e nas Doutrinas Celestes os ensinamentos claros e genuínos que podem restaurar em nós a verdadeira religião cristã.
A religiosidade cristã precedente foi significa pela Babilônia e pelo dragão no livro do Apocalipse. Essas religiosidades foram vencidas e abatidas pela Verdade do Segundo Advento, e o Senhor convida a todos de lá para que venham à sua Igreja, a Nova Jerusalém, abandonando a crença babilônica e dragonística, e vivendo a vida da Nova Igreja.
Se, ao invés disso, nós nos deixarmos seduzir pela pregação doutrinária da Babilônia e do dragão, estaremos desfazendo em nós de todas as coisas novas e verdadeiras que o Senhor tem criado e ainda quer criar, na instauração da Nova Igreja dentro de nós.
Não podemos, irmãos, comungar com a prática, a crença e o rito das igrejas cristãs antigas, sob o risco de as coisas da religião verdadeira serem destruídas em nós. Não podemos costurar remendo de pano novo em vestidos velhos, nem podemos colocar vinho novo em odres velhos. Do contrário rompe-se o remendo e o estrago do vestido fica pior; ou rompem-se os odres, e perde-se todo o vinho novo e bom antes que envelheça.
As crenças da igreja cristã antiga e a da Nova Igreja não podem estar juntas na mesma mente. Não podemos ficar com um pé num lado e um pé no outro, coxeando entre dois pensamentos. Se fizermos isso, nossa mente será como um ninho onde estão sendo chocados ovos de coruja e ovos de pomba. Como lemos em VRC: "A fé... da Nova Igreja não pode de modo algum estar em companhia da fé... da Igreja precedente... como há entre a fé... de uma e outra Igreja uma tal discordância e um tal dissentimento, há uma completa heterogeneidade; se portanto estivessem juntas na mente do homem, fazer-se-ia uma tal colisão e um conflito, que o todo da Igreja pereceria... A fé da igreja precedente, porque excluiu toda luz proveniente da razão, pode ser comparada a uma coruja; e a fé da Nova Igreja, porém, pode ser comparada a uma pomba que voa em pleno dia, e vê pela luz do céu; por isso, a conjunção em uma mesma mente seria como a conjunção de uma coruja e uma pomba no mesmo ninho, onde a coruja poria seus ovos, e a pomba os seus; depois da incubação os filhotes sairiam, e então a coruja despedaçaria os filhotes da pomba, e os daria como comida a seus filhotes, pois a coruja é uma ave voraz".
Temos recebido na Nova Igreja uma água límpida, pura, saudável, e não podemos bebê-la num copo sujo, porque o puro fica contaminado pela imundície. Não podemos misturar água limpa e água poluída, pois não teremos nenhuma outra água que beber.
Não podemos dizer "Amém" para uma oração que é feita para um deus falso e dividido. Não podemos concordar com pedidos feitos por imposição a Deus. Não podemos nos deixar levar pela prática de orar insistentemente a Deus, até que Ele mude de idéia e nos atenda o pedido, quando sabemos que somos nós é que temos de nos mudar, mudar nossas vidas, mudar nosso modo de pensar e de agir, sermos reformados e regenerados, porque só assim alcançaremos as reais bênçãos do Senhor, que são de coisas espirituais e eternas. Não podemos, pois, deixar que se perverta em nós o que temos aprendido sobre oração e a prática sã do relacionamento verdadeiro como nosso Deus, que uma Só Pessoa, a Pessoa do Senhor e Salvador Jesus Cristo, que é, Ele mesmo, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Não voltemos atrás, irmãos, porque aquele toma mão do arado e olha para trás não é digno do reino de Deus.
O dever do sacerdote na Nova Igreja não é o de governar as almas dos homens, mas de ensinar os veros e por eles conduzir aos bens da vida. Além disso, tem o dever de, pressentindo o perigo, avisar e abrir os olhos, mostrando onde há o engano e o risco de nos desviarmos do caminho verdadeiro. Não devemos ser ingênuos nem nos deixar influenciar, irmãos, pelas crenças enganosas da igreja antiga, pela promessa de transformação instantânea das coisas, como os céus imaginários que foram oferecidos aos cristãos como se fossem reais. Não podemos adotar as práticas que se baseiam numa noção equivocada de Deus e da religião, pela transformação miraculosa e instantânea de vidas pelo poder mágico da oração insistente. Alguns irmãos, que amam a Nova Igreja e buscam servir a Deus, têm se deixado influenciar, de boa fé, por esses enganos. Nós, todos os membros desta congregação os que viemos de lá, dessas práticas e costumes da igreja cristã antiga, temos experiência nesse caminho e por isso o abandonamos; vimos os enganos e os deixamos, quando fomos convidados pelo Senhor para a tarefa árdua da regeneração. Sabemos portanto que não existe magia e caminho fácil e largo para as conquistas espirituais.
É dever do sacerdote exortar, e a exortação está feita. A exortação está feita.  No livro de Ezequiel lemos o seguinte: "Filho do homem: Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu da minha boca ouvirás a palavra e avisá-los-ás da minha parte. Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei. Mas, se avisares ao ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma.  Semelhantemente, quando o justo se desviar da sua justiça, e cometer a iniqüidade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá: porque tu não o avisaste, no seu pecado morrerá; e suas justiças, que tiver praticado, não serão lembradas, mas o seu sangue, da tua mão o requererei. Mas, avisando tu o justo, para que não peque, e ele não pecar, certamente viverá; porque foi avisado; e tu livraste a tua alma. (Ez. 3:17-21). Amém.

Lições:    Mateus 9:14-17.
Apoc. 21: 1-8.
VRC 628