Associação Espiritual pelo Batismo

Sermão para as Crianças e Jovens
pelo Rev. Cristóvão R. Nobre

"O que ligares na terra, será ligado no céu"
"O primeiro uso do batismo é a iniciação na igreja Cristã, e ao mesmo tempo a inserção entre os cristãos no mundo espiritual" (VRC 657).

Hoje queremos falar sobre uma palavra: ligação, do verbo ligar, assim como a linha de costura liga dois pedaços de tecido, ou assim como o fio da tomada liga um aparelho à rede elétrica. O Senhor falou que a Igreja faz essa ligação de pessoas com os céus.

Em vez de ligar, podemos também dizer: associar, que é unir-se, estar junto a alguém ou a um grupo.
Quando alguém entra por sua vontade para um grupo, fica associado àquele grupo. Quando esse grupo é uma escola, dizemos que a criança é matriculada e assim é associada àquela escola. Quando é um clube, dizemos que é agremiada o que é a mesma coisa que ser associada aos membros daquele clube. As crianças que são levadas pelos pais para serem batizadas na Igreja são assim associadas à Igreja. O batismo é meio de alguém se ligar à Igreja e pertencer àquela Igreja.
Mas, o que gostaríamos de falar é justamente sobre a qualidade ou natureza dessa associação. Antes eu falei de matrícula numa escola e associação (agremiação) a um clube. Mas a associação a uma Igreja é mais do que isso, porque, ao mesmo tempo, faz-se uma ligação espiritual. No mesmo momento que uma pessoa se une à Igreja, ela está sendo unida no mundo dos espíritos ao grupo de pessoas que lá compõe àquela Igreja. Se for uma Igreja sã e viva, faz-se ainda outra associação, agora no céus, com os anjos que, no céu, têm a mesma fé no Senhor e a mesma vida que as pessoas da Igreja na terra.
Lemos no livro VRC de E.Swedenborg a seguinte passagem sobre essa associação no mundo espiritual: "Naquele mundo, os povos e as nações foram distinguidos segundo suas religiosidades; os cristãos estão no meio, os mamometanos em torno deles, os idólatras de diversos dêneros depois dos maometanos e os judeus nos lados. Além disso, todos os que são da mesma religião estão organziados em sociedades, segundo as afeições do amor para com Deus e do amor em relação ao próximo..." (658). E é dito ainda que a conservação dos céus depende dessa ordem em que ele se acha, assim como a saúde do corpo depende da correta disposição e função de cada membro ou órgão.
O batismo, então, é um sinal ou uma marca de que a pessoa é daquela fé e pertence àquele grupo, assim como o uniforme do aluno distingue uma escola da outra (ver 657). E como o batismo se faz na Igreja, é por isso que a Igreja é o meio pelo qual as associações espirituais são feitas. "O que ligares na terra será ligado no céu", como disse o Senhor.
O Senhor falou estas palavras aos discípulos porque eles representavam e eram a Igreja do Senhor. Como o Senhor disse, é pela Igreja que as pessoas se ligam aos céus, porque a Igreja é o reino de Deus na terra, onde nos preparamos para a vida eterna nos céus.
Mas, como seria essa ligação que a Igreja efetua? Será que a Igreja tem alguma forma ou algum poder de ligar ou desligar alguém dos céus? Algumas pessoas acham que os chefes da Igreja podem, à sua decisão, fazer alguém ser recebido nos céus ou tirar alguém dos céus. Quando cortam alguém dos céus, eles chamam de excomungar.
Mas, será que foi isso que o Senhor falou? A ligação de que o Senhor fala não é uma ligação que alguém faz com palavras nem com algum ato em favor de alguém - e pronto. A Igreja, em si mesma, não pode pôr nem tirar ninguém dos céus. Nem o Senhor pode tirar alguém dos céus nem levar alguém pra lá contra a vontade dessa pessoa. Por isso, é a pessoa mesma que faz isso. Ela se une aos céus ou ela se exclui dos céus.  O batismo é uma cerimônia tão importante por isso, porque é o momento em que alguém está livremente se ligando aos céus através da Igreja.
É claro que uma criancinha não sabe que está sendo batizada nem entende o que isto significa. Mas os país, que a protegem, que decidem por ela, que escolhem o alimento para ela, que escolhem a roupa, escolhem a escola que a criança irá estudar, também eles fazem essa associação espiritual também por ela. Até o dia que a criança, tornando-se jovem e adulta, puder decidir por sua própria vida. Aí então a criança, agora jovem, responderá por si mesma: escolherá sua comida, sua roupa, sua escola, seu trabalho e, também sua religião. Aí, se ela quiser conservar a fé da religião que recebeu dos pais, essa religião passa ser realmente a dela.
A ligação que o batismo faz de uma criança aos céus é, portanto, temporária. Só será válida se, quando crescer, ela decidir por si mesma confirmar-se na religião dos pais. Assim, vemos que a liberdade da criança é respeita, só que essa liberdade é exercida quando a criança adquire realmente condições de exercê-la, e não antes.
Nós já dissemos aqui que há pais que acham que não se deve ensinar religião nenhuma aos filhos. Alguns fazem isso porque não dão importância alguma à religião. E outros o fazem porque acham que religião é coisa para adultos. Mas se esses pais compreendessem o que é realmente a religião, eles não agiriam assim. Porque a religião é o meio de alguém estar ligado ao mundo espiritual, como já vimos. E do mundo espiritual é que recebemos a vida do corpo. Vocês sabem que a vida que temos vem do Senhor. O Senhor é como um Sol nos céus. Essa vida sai do Senhor em forma de Divino Amor e Divina Sabedoria, e todas as coisas no universos estão recebendo constantemente essa vida. Nós a recebemos em forma de um calor para a vontade e uma luz para o nosso entendimento. É esse calor que nos anima, que nos dá desejo pelas coisas e é a coisa principal sem o qual não podemos viver. E a luz do entendimento é que nos dá condições de pensar, entender o que é verdadeiro, falar, comunicar etc.
Se vivemos no Senhor, essa luz será o que chamamos de fé, as coisas que acreditamos serem verdadeiras, e o calor será a caridade, o amor espiritual para como o próximo.
Nós não recebemos a luz e o calor espirituais diretamente do Sol dos céus, mas os recebemos através de anjos e espíritos que estão em dimensões superiores a nós, mas, ao mesmo tempo, bem próximo de nós. Se, por isso, não estivermos ligados aos anjos e espíritos adequados, recebemos ainda assim a vida, mas a receberemos de um modo torcido, por assim dizer, porque então, ao invés de ser a fé, será a negação da verdade, e ao invés de ser amor para com o próximo, será mero egoísmo ou amor intresseiro.
Para entendermos mais claramente as palavras do Senhor, ajuda se nos lembrarmos de outra coisa que Ele falou: "Eu sou a videira, vós os ramos..." Se um ramo estiver ligado à videira, ou parreira,  pode dar fruto, os cachos de uva, porque as uvas não nascem diretamente do tronco da parreira, mas dos ramos.
Em outras passagens da Palavra, o Senhor também chama a Igreja de videira, e em relação à Igreja, nós somos assim como os frutos; nós recebemos a vida espiritual através da Igreja, assim como os frutos recebem a seiva através dos ramos. A Igreja serve para fazer essa ligação entre os céus e a terra. O que a Igreja faz, então, é servir para ligar, e não produzir por si mesma a ligação com os céus.
Nós lemos também em VRC 658 que as crianças são batizadas na Igreja porque assim elas são, no mundo espiritual, distinguidas das outras. Os anjos celestes e espirituais associados à criança são uma proteção e defesa, porque, sem esse sinal, a criança fica sujeita à influência de qualquer espírito fanático - mamometano ou idólatra, como diz VRC. Esses espíritos podem se ligar a essa criança e assim começar a insinuar pensamentos contra o cristianismo, destruindo a ordem espiritual.
Entretanto, o batismo não é somente a cerimônia aqui realizada, como hoje vimos. O batismo é apenas uma marca e um sinal. É dito que o batismo não dá a fé nem a salvação, mas é o testemunho de um compromisso. Os pais, pelo batismo, prometem ensinar a criança a oração do Senhor e os Dez Mandamentos. Por essa crença, prometem conduzir à criança no temor do Senhor e na obediência às suas Leis. Isto quer dizer que, ao ensinarem o que a criança deverá fazer ou não fazer, o motivo primeiro deve ser porque o Senhor assim determina, e não somente as razões de ordem moral e civil. Quando os pais fazem isso, eles introduzem a criança no pensamento espiritual, ou seja, nos motivos espirituais e celestes para as suas ações. E é esse pensamento que distingue o homem espiritual do homem meramente espiritual.
Assim sendo, o batismo envolve um compromisso que requer, necessariamente, que essa fé se tranforme numa atitude, um padrão de comportamento inspirado numa crença em Deus, e isto é um estado que pode estar presente a cada dia.
O batismo insere no mundo espiritual, este é o seu primeiro uso. Mas este uso conduz ao seguinte: "que o cristão conheça e reconheça o Senhor Jesus Cristo Redentor e Salvador, e o siga", o que os pais só podem alcançar pela instrução e sobretudo pelo exemplo. Mas este conhecimento e reconhecimento de Deus ainda não é o uso mesmo do batismo. "O terceiro uso do batismo, que é o uso final, é que o homem seja regenerado". Isto é o que está envolvido neste sacramento, como uma semente que deve começar a germinar. Este é o uso mais sublime da paternidade: auxiliar ao Senhor na tarefa de conduzir os filhos, que realmente são dEle, a que se tornem homens e mulheres felizes na vida nos céus. Amém.