A ÁRVORE E A REGENERAÇÃO DO HOMEM"

Sermão pelo Rev.C.R.Nobre

"E será como a árvore plantada junto a ribeiro de águas, que dará fruto em seu tempo, cujas folhas não murcham e tudo quanto fizer prosperará". Salmo 1:3, Jer. 17, João 15:1-8.

A mensagem interna deste salmo ensina que "o homem que não vive mal é regenerado pela Palavra do Senhor"(P.S.). Aqui e em outros lugares na Palavra, o homem é comparado a uma árvore. (AC 9337).
Neste texto imaginamos uma árvore certamente bela, frondosa e generosa de frutos; sua folhagem é sempre viçosa; está junto a águas vivas e dali se nutre, dali tira o frescor das suas folhas e a seiva que dará sabor e cor aos frutos que virão em seu tempo certo. No tempo em que está florida enche os olhos de encanto, e na semente dos frutos ela cumpre o seu próprio fundamental; o de prover a disseminação e a multiplicação da sua espécie.
A comparação que a Palavra faz entre o homem e a árvore não é acidental: é uma correspondência, pois "todas as comparações na Palavra são também correspondenciais, concordando, no sentido espiritual, com o assunto tratado" (AR. 334). Aqui a árvore representa o homem da Igreja, como se vê própria letra. Mas em outras passagens os vegetais em geral representam vários aspectos da vida humana, fases da infância até a maturidade espiritual.
A árvore, como toda a criação, foi criada segundo a forma humana, porque o Senhor Criador é a forma Humana Mesma. Tudo no universo procede dEle e daí se relata a essa Forma (Ac 10185), desde o céu universal até a natureza. Aqueles que atribuem tudo ao Divino são os que podem ver que "a natureza universal é um teatro representativo do eterno e do infinito" AC 5116. Assim, a árvore e suas particularidades, tais como sua aparência, seu uso, os processos por que passa, representa aspectos humanos em sua mente natural ou espiritual.
É freqüente na Palavra a alusão à oliveira, pois, com o óleo que dá, representa o grau celeste e o amor pelo bem, que é amor ao Senhor; à vinha, e o vinho, que representam o grau espiritual e a caridade para com o próximo, ou o amor à verdade; e à figueira, que representa o grau natural, a feição pela obediência à verdade. E assim acontece com o carvalho, a palmeira, o salgueiro, o cedro... todos têm sua representação (AC 4552), falando sobre aspectos ou afeições e perce
pções do homem (AR 400) ou o homem mesmo quanto a estas coisas.
Os vegetais têm em geral sua gestação, seu nascimento, vida e extinção; alimentam-se e respiram; têm necessidade vital do ar, da luz e do calor do sol. Reproduzem-se e se perpetuam pela semente em imensidade e continuidade indefinidas. E, como nosso corpo natural, vêm do humo e para lá um dia retornam.
Mas o que a árvore representa é especialmente a vida do homem interno ou espírito, pois que a natureza sempre representa o plano espiritual. Assim a relação da árvore com o homem é nitidamente com seu novo nascimento ou a vida de seu homem espiritual. Com efeito, a regeneração do homem é vista claramente numa árvore e muitas particularidades da regeneração podem ser conhecidas daí. Nos Arcanos Celestes 5116 se lê: "A floração e a frutificação de uma árvore representam o renascimento do homem: quando as folhas se tornam verdes, o seu primeiro estado; a floração, o segundo, que é o estado próximo à regeneração; e a frutificação, o terceiro, que é o próprio estado regenerado. "Porém estas afirmações só são aprendidas quando se sabe algumas singularidades a respeito das correspondências do reino vegetal.
Na própria expressão humana comum se diz que algo é frutífero quando se mostra útil para o bem geral. Isto por certo vem da linguagem antiquíssima, correspondencial, pois os frutos representam as obras, os próprios atos da vida; no homem que está sendo regenerado, são os bens.
As folhas representa os conhecimentos da fé no homem da Igreja; as flores são as coisas da sabedoria, e a afeição de ser útil, "os bens da fé, porque estas coisas procedem" a vida do bem; as sementes são as verdades.
A coisa primária da árvore, no sentido, é o fruto, pois é aí que o ciclo se completa e aí estão as sementes, novas árvores em potencial. E como os frutos significam o bem, isto significa que o bem, ou a boa disposição, é a primeira coisa da regeneração.  De fato, é o bom que ele recebe na infância, e que é duplo: exterior, chamado bem natural, que vem dos pais, e interior ou espiritual, que o Senhor influi no bem natural. São as mesmas relíquias providas para a vida espiritual do homem. Por meio do bem natural a criança poderá ser no futuro reformada, se a ela se aplicar. É por este bem que ela adquire primeiro os conhecimentos, pois o bem transmitido produz a afeição de saber. No começo o desejo de saber é por vaidade; depois, para aplicação em algum propósito do mundo; "mas quando está para ser regenerado ( o homem) é afetado pelo deleite e pelo prazer da verdade; e quando está sendo regenerado, o que acontece na idade adulta, é por amor a verdade, e em seguida por amor ao bem". Daí os seus propósitos primitivos são mudados; o bem que faz é por amor ao Senhor e não por suas próprias causas, e o homem é regenerado.
"O caso aqui pode ser comparado a uma árvore, que, em sua primeira idade... adorna seus ramos com as folhas ( os conhecimentos); em seguida, avançando em idade, decora-os com flores (quando há afeição de aplicar os conhecimentos à vida); e depois, no verão, sai o germe dos frutos que mais tarde se torna frutos (quando é afetado por amor a verdade); e finalmente põe ali as sementes, que contêm novas árvores de igual espécie"... (quando o homem faz o bem e é regenerado). Esse homem avançou do bem natural para os conhecimentos da fé, daí para afeição à verdade e finalmente para a afeição ao bem. Então é a árvore que dá seu fruto no empo certo. Por causa do bem sua inteligência aumenta e se renova, isto é, "as suas folhas não murcham".
Para a árvore o fruto é o principal: sua origem e também a sua realização. No homem, o bem é o início de sua reforma. Primeiro o bem pela obediência e no fim o bem espiritual.
Na árvore as folhas vêm antes dos frutos, mas vêm por causa do fruto. As folhas por elas mesmas não cumprem os fins de uma árvore: a multiplicação e a perpetuação, pois as folhas são apenas meios para prover os fins. São meios contudo indispensáveis, essenciais; as folhas respiram, retiram do ar o que a árvore necessita para a fotossíntese. São os pulmões e sem eles a árvore não vive. Uma árvore desfolhada não pode produzir frutos (AC 10185). Tal é no homem: as verdades da fé não fazem por si a vida espiritual; são o seu entendimento, ao qual os pulmões correspondem, mas enquanto não se ligam aos atos da vida, permanecem apenas como fatos, informações armazenadas na memória, coisas estéreis.
Em um tal estado de conhecimento separado da obediência, o homem é como a árvore cheia de folhas, mas estéril, sem a alegria da floração e da frutificação. Portanto ( é quando) a inclinação conjugial lhe entra na mente e dá alegria; assim, quando a verdade está sendo conjungida ao bem". E a frutificação "corresponde ao bem mesmo que se manifesta nas obras. Daí é que os frutos, na Palavra, significam as obras de caridade"( Ac 3518). Os ramos, os brotos, as folhas e as flores são os intermediários para a frutificação. Como a s verdades devem ser os meios para o agir dentro do que é justo e correto em nossa vidas, tornando-nos assim úteis ao Senhor.
O Senhor influi em todo homem e dá a cada um a possibilidade e a oportunidade de ser regenerado, assim como em toda semente da fruta há um esforço vital e latente nos sentido de gerar uma árvore. Todo homem pode ser tornar espiritual e celeste, como vinhas e oliveiras frutíferas.
Mas para isso ele deve começar como por si mesmo no grau mais externos de sua vida, o grau natural. Os demais só serão abertos na medida em que avançam a sua reforma e regeneração.
Este grau natural onde devemos agir como por nós mesmos é representado na Palavra pela figueira. Os figos representam as obras da vida natural que irão contribuir para a reforma, obras essas que o homem executa "pelo sentimento de dever, por obediência aos mandamentos de Deus" pois não pode executá-los por amor, uma vez que só no grau celeste é que assim age.
Tais obras de caridade são principalmente o afastamento dos males como pecados contra Deus. Se o homem fez isto como por si mesmo, crendo todavia que é o Senhor Só que o faz nele, então ele é conduzido pelo Senhor executar ações boas, opostas aos males de que se afastou. O homem disciplina e ordena os atos de sua vida externa, para que o Senhor faça obra idêntica em seus internos. Se faz isto, o homem é a figueira que frutifica no tempo próprio. E porque o Senhor aí está, operando nos internos sem que o homem o veja, por isso tudo quanto o homem fizer prosperá".
Se porém nós não ordenamos nosso natural, então somos como figueira infrutífera e sem flores. Não passamos então do bem natural, que é por si impuro por nossos motivos. Se muito, temos algumas verdades da fé, mas permanecem inertes em nossas mentes. As verdade são essenciais mas não bastantes por si mesmas. Não são elas que fazem a Igreja com o homem, mas a obediência ao que elas ensinam, e m todas as funções, atividades, atitudes e princípios de vida.
Nós lemos em Mateus: "E, avistando uma figueira, dirigiu-se a ela, e não achou senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti. E a figueira secou imediatamente". (V. 19; c.21). "E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo"(3:10). A figueira estéril é o cristão que possui os conhecimentos das doutrinas na memória mas não na prática, isto é, nos atos da vida por obediência à Palavra, É a árvore que se seca, não porque o Senhor a secou, mas porque os males destroem as verdades da fé e as pervertem, se não são confirmadas pelo bem. É cortada e lançada ao fogo, também não pelo Senhor, mas é o próprio homem, que em se furtando à obediência à verdade, entrega-se às suas próprias cobiças e estas queimam como fogo. Com efeito, o fogo infernal não é outra coisa. No livro "O Céu e o Inferno" lemos: que o fogo "são males como o desprezo pelos outros, a inimizade e a hostilidades contra os que são favoráveis:... e quanto ao Divino é a negação e por conseguinte o desprezo, a zombaria e a blasfêmia das coisas santas, que pertencem à igreja; coisas que, depois da morte, quando o homem se torna espírito, mudam-se em cólera e ódio contra elas"(570).
Se nós nos determos no estado do conhecimento só, como figueira estéril, não teremos a defesa provida pela conjunção do bem e da verdade e assim seremos consumidos pelos  nossos próprios princípios e interesses, que colocamos em primeiro plano, mais importantes e acima da obediência aos preceitos da Palavra.
Os maus motivos que ainda estão escondidos no homem natural contaminam os atos e destroem o homem.
A Palavra é o ribeiro de águas que alimenta a boa árvore, pois as verdades naturais são representadas pela água. É a água que dá umidade ao solo, donde a planta tira a sua seiva. A árvore plantada junto ao ribeiro tem-na abundância, como o homem que lê a palavra e daí tira as verdades e os bens nutrientes do seu espírito. As verdades da Palavra são tão necessárias para o nosso espírito quanto a umidade é para a seiva da árvore.
O Senhor influi continuamente no homem, pela Palavra, em maneira semelhante ao sol que influi a luz e o calor; e a água, com a umidade para a planta. Além disso existe o ar, que é a própria liberdade espiritual que todo homem respira.
O homem da Igreja é como árvore no pomar. Aí o Senhor provê a luz da verdade; influi em suas boas disposições; dá-lhe a liberdade e cuida, como um agricultor, limpando e podando, para que dê mais frutos. E aí nesse mesmo lugar, árvores frutificam de modo diverso, dando frutos umas a cem, outras a sessenta e outras a trinta por um, e ainda outras que são estéreis. O influxo e o cuidado do Senhor são os mesmo para todos, mas recebidos diferentemente segundo o bem de cada um. Cabe a cada figueira desse pomar produzir seus frutos, "aproveitando as vantagens que o Senhor oferece. Cabe a cada homem afastar os empecilhos e ser útil ao próximo e ao Senhor.
A árvore boa recebe todos esses benefícios e em troca oferece abundância de frutos. A árvore estéril também os recebe, mas como vive em função de si mesma, encerra a seiva em seu tronco e folhas; omite-se e se nega a dar frutos, não deixando fluir adiante, elaborada e transformada em frutos, a seiva que graciosamente recebeu. Cabe a cada um de nós o esforço em prol da frutificação.
Sabemos que há um processo trabalhoso e difícil conosco, antes que possamos nos tornar árvores frutíferas, de folhas viçosas, produtivas em seu tempo. É porque trata-se da sujeição de nossa vontade, pela obediência, à vontade do Senhor. É uma questão de avaliar e reformular todos os atos de nossa vida natural, pondo em sua devida ordem cada coisa segundo o seu uso e sua importância em relação à vida eterna.
O salmista compara o homem a árvore frutífera, mas antes dá indicações bem claras de que foi preciso ter havido primeiro um esforço para a remoção de coisas inadequadas, pois diz: "Bem aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na Sua Lei medita dia e noite". Isto é abandonar a vida segundo o padrão do mundo e moldar uma nova vida conforme o padrão do céu.
Folhas não produzem frutos. É a árvore mesma quem os produz. As verdades sós não geram obras nem salvação no homem. Devemos nós nos empenhar, em esforço constante para que o Senhor, possa produzir as obras salvifícas, por nosso intermédio, quando poderemos receber a nova vida.
O principal propósito do homem é produzir bons usos para o reino do Senhor. O homem só se realiza como indivíduo e só é feliz realmente quando alcança esse propósito sublime, pois recebe em contrapartida toda a bem-aventurança que o Senhor que lhe dá; "e tudo quanto fizer prosperará".
Leiamos João 15:1 a 8: "Eu sou a videira verdadeira, e Meu pai é o lavrador. Todo o ramo em Mim, que não dá fruto, o tira. E limpa todo aquele que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que Eu vos tenho falado. Estai em Mim, e Eu em vós; como o ramo de si mesmo não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim.
Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em Mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e queimam.
Se vós estiverdes em Mim, e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito.
Nisto é glorificado Meu Pai, que dois muito fruto; e assim sereis meus discípulos".

AMÉM.