Os que se aproximam dignamente

Sermão pelo Rev. Cristóvão R. Nobre

"Os que se aproximam dignamente da Santa Ceia estão no Senhor e o Senhor está neles" (VRC 705)

Quando nos aproximamos do altar do Senhor para participarmos do sacramento da Santa Ceia, estamos cientes de que este ato envolve uma grande responsabilidade. Ouvimos a leitura de VRC que devemos nos aproximar dignamente, porque assim podemos usufruir os benefícios que ela propicia.
Sabemos que é nosso dever examinarmos a nós mesmos, quantos aos pensamentos, palavras, intenções e atos. Este auto-exame que devemos fazer é afim de conhecer e conhecer os males em nós, confessarmo-nos culpados por causa deles e suplicar a ajuda do Senhor.
No entanto, esta afirmação das Doutrinas Celestes causa, muitas vezes, um certo desconforto no comungante, porque, quando nos examinamos para participar deste sacramento, descobrimos, inevitavelmente, que não somos dignos de fazê-lo. Ouvimos VRC # "A Santa Ceia, para os que se aproximam dela dignamente, é como uma marca e um sinal... " E ficamos pensando: estou me aproximando dignamente. É fato que, se realmente refletimos e fazemos o auto-exame de modo adequado, descobrimos que não, não somos dignos. Porque, se alguma vez fizermos o auto-exame e chegamos à conclusão de que somos dignos de participar, alguma coisa está errada. Ou não compreendemos como deve ser o auto-exame, ou não conhecemos a nós mesmos ou nos conhecemos mas nossa arrogância é maior que minha compreensão.
A maneira como as Doutrinas da Nova Igreja nos ensinam a fazer o auto-exame, só pode nos levar à conclusão de que nós, criaturas humanas, somos enfermas espiritualmente, pecadores e indignas da misericórdia de Deus. O ser humano em si, quando se afastou do propósito inicial do Criador, caiu nessa condição, e para que se levante é necessário que reconheça onde se encontra. Por isso, o auto exame é sempre concluído com a descoberta de imperfeições e erros, os quais nos impedem de alcançarmos esse Divino propósito. E o único meio que temos de nos livrar desses eles é através de combates de tentação. Logo, o auto-exame gera humilhação do indivíduo diante do Senhor, a quem ele suplica socorro e poder para se desvencilhar do diabo e de suas obras.
É lógico que o Senhor conhece a nossa natureza. Ele, como diz o Salmo, "conhece a nossa estrutura e Se lembra de que somos pó". O Senhor nos ensinou a fazer o auto-exame de uma maneira tal que pudéssemos ver claramente, sem a mínima sombra de dúvida, a qualidade real de nosso proprium natural e irregenerado, para que também nós víssemos como nós somos, onde estamos, e assim tenhamos a compreensão de que precisamos nascer de novo, por Ele, para alcançarmos a vida.
Esse estado de reconhecimento por parte do homem não pode existir sem tristeza e humilhação, porque a presença das fraquezas humanas, mescladas com os veros e bens que o Senhor inspira, produz essa condição de mente.
Lembramo-nos da parábola que o Senhor nos contou como exemplo, de dois homens que subiram ao templo para orar: um deles dizia:........; ao passo que o outro, sequer ousava levantar seu rosto, e dizia: Tem misericórdia de mim, pecador. O Senhor disse que este, e não o outro, foi justificado.
Dois homens oravam: um, em sua soberba, considerava-se digno aos seus próprios olhos, e não recebeu a justificação Divina. O outro, reconhecendo seu estado, viu-se como realmente a criatura humana é, indigno, miserável, pobre, cego e nu. Mas suplicou a misericórdia do Senhor. E o Senhor o exaltou, pois "quem a se mesmo se exalta, será humilhado, e que a si mesmo se humilha, será exaltado".
Por isso, irmãos, não há como fazermos o auto-exame da maneira sã e não nos considerarmos indignos. Somos indignos de participar da mesa do Senhor. Somos indignos da misericórdia e da bondade Divina, porque nossos atos humanos em si voltam-nos para nós mesmos e o mundo.
No entanto, o estado do auto-exame não é um fim em si. É um meio. O fim é que, vendo os males, reconhecendo que estão em nós, e considerando-nos culpados por causa deles, busquemos do Senhor a vontade e a disposição espirituais para nos livrarmos dele. Se fizermos isso e realmente lutarmos contra a infestação desses males em nossa vontade, o Senhor nos dará todo o poder que quisermos receber a fim de deixarmos o diabo e a suas obras, e receber a vida espiritual.
O estado de auto-exame, com a conclusão de nossa própria indignidade, é um estágio que deve nos levar, portanto, à mudança de vida por uma resolução firme e consciente, conforme os ensinamentos da Palavra de Deus.
Por isso, se nos examinarmos e descobrirmos nossa indignidade, nossa impiedade humanas, não fiquemos abatidos nesse estado de melancolia por causa de nossa condição. Temos um Salvador, que é misericordioso e compassivo. Passemos ao estado seguinte, que é de tomarmos a decisão de mudar a vida. Supliquemos do Senhor a inteligência espiritual para isso e uma vontade nova, a consciência que nos guie nessa mudança que deve necessariamente ser feita, se quisermos ser salvos na vida eterna. Levantemo-nos, mesmo com humildade, e voltemo-nos para o Senhor. Se fizermos isso, estaremos nos aproximando dignamente da Santa Ceia, porque a dignidade não está em nós, mas na coragem e na vontade de nos regenerarmos, e essa vontade é inspirada pelo Senhor, pertence ao Senhor, é dEle conosco. Logo a dignidade é das coisas do Senhor conosco.
Quando nos aproximamos do altar do Senhor e recebemos o pão e o vinho, estamos espiritualmente simbolizamos que desejamos receber dEle o Seu Divino corpo e sangue, isto é, Seu Divino Bem e Sua Divina Verdade. Este bem e esta verdade nós recebemos como caridade e fé. E é pela fé no Senhor juntamente com a caridade em relação ao próximo que o Senhor nos faz vivos. Seu Corpo e Sangue, assim,, alimenta nossas almas e nos edifica. Como teremos força para resistir aos males e falsidades se não desejarmos nos nutrir na Fonte única de Amor e Sabedoria?
"Os que estão nas verdades proveniente do Senhor, como estão em conjunção com Ele, se chamam "dignos", porque, no mundo espiritual, toda dignidade provém da conjunção com o Senhor" (AR 167).
De nós mesmos, não somos dignos. Mas se a verdade da fé nos esclarecer o entendimento, e o bem da caridade mover nossa vontade, então estaremos em conjunção cada vez mais íntima com o nosso Pai Celestial. E por essa conjunção seremos chamados dignos.
"A Santa Ceia, para os que dela se aproximam dignamente, é uma marca e um sinal de que são filhos de Deus" (VRC 708). Amém,