O ALIMENTO DA VIDA ETERNA

"Trabalhai não pela comida que perece  mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará, porque Ele selou Deus Pai"
(João 6;27).

A comida que perece á a comida que nutre nosso corpo material e também, como veremos mais tarde, são os males e falsidades em que vivemos enquanto estamos neste mundo. Não é para obter essa comida que se tem de trabalhar, porque esse não deve ser o principal objetivo de nossa vida.
"A comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará" significa a comida que alimenta a alma e que será dada pelo Senhor. O Senhor, como Filho do Homem, representa a Palavra, onde se encontra a comida para a vida eterna. O trabalho de procurar e recolher o alimento que se encontrou na Palavra é o trabalho que deve constituir o principal escopo de nossa vida.
Não basta o simples conhecimento do alimento que se encontra na Palavra; é indispensável assimilá-lo e por em prática as energias resultantes dessa assimilação com todo o entusiasmo de nossos corações.
Que devemos fazer para extrair-mos da Palavra o alimento que dura para sempre? Cabe-nos, após a assimilação dos bens e das verdades que encontramos na Palavra, usar esses bens e verdades na prática de todas as modalidades de amores de que somos vasos receptores.
Somente assim estaremos fazendo da vida eterna o centro em torno do qual se move a nossa mente. Pode-se dizer que "vida eterna" é sinônimo de uso e, no caso de cada um de nós, é sinônimo do uso que fizermos dos bens e verdades que praticarmos, após o estudo e aprendizado dos mesmos na Palavra do Senhor.
Mas, que é a vida eterna? Desde os primórdios da humanidade, a Divina Providência do Senhor deu a conhecer a todos os povos e nações que há uma vida eterna e que poderão fruí-la todos aqueles que se voltarem fielmente para Deus.
Entretanto, esse conhecimento somente se tornou claro e genuíno através dos Escritos da Nova Igreja, nos quais o Senhor revelou, abundantemente, os segredos dessa vida eterna. Não há nos Escritos da Nova Igreja uma só passagem que deixe de referir-se à vida eterna, uma vez que todos eles são descrições de fatos ou estados espirituais. Todas as interpretações e descrições deles constantes pairam no plano espiritual.
Dada a importância que a vida eterna tem para toda a criatura humana, fica evidenciada a necessidade de cada um obter todos os conhecimentos a respeito dessa vida. Assim, o primeiro dever do membro da Igreja consiste em aprender tais ensinamentos. O segundo dever consiste em pensar neles, meditar sobre eles e incorporá-los à sua mente. O terceiro dever consiste em levá-los até sua vontade e emprestar-lhes vida, pondo-os em prática. A fonte de todos os bens e verdades que levam à vida eterna jorra para todos nós: á a Palavra do Senhor.
Quem houver preenchido os deveres que acabamos de enunciar terá trabalhado "não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna".
O alimento espiritual é tão real quanto o alimento material, mas tem maior relevância, porque seus efeitos são anutrição da vida eterna. É a esse pão espiritual que o Senhor se refere quando diz: "Eu sou o pão da vida; o que vem a Mim jamais terá fome; e o que crê em Mim jamais terá sede". (João 6;35).
Nosso contato com o Senhor atualmente se processa através da Palavra, que é o Próprio Senhor e na qual encontramos, em toda a Sua plenitude, a Divina Verdade.
Para que pratiquemos usos neste mundo, temos de alimentar-nos materialmente. Do mesmo modo, para praticarmos usos futuros, no mundo espiritual, teremos de alimentar-nos espiritualmente. Devemos considerar, entretanto, que a criatura humana, embora nascendo no mundo natural, já faz parte dos dois mundos, porque lhe é insuflada uma alma quando nasce e isso, então, lhe impõe a necessidade de iniciar aqui a alimentação espiritual.
Prestamos usos neste mundo e devemos preparar-nos para prestar usos no plano espiritual. Quem quiser regenerar-se e mudar-se, após a morte natural, para o reino do Senhor, não poderá fazê-lo sem uma preparação contínua, constante, permanente. E essa preparação consiste na procura do alimento espiritual. De novo ocorre a pergunta: onde encontrá-lo? E a resposta é uma só: "Procura primeiramente o reino de Deus e sua justiça e todas as coisas de que necessitais vos serão acrescentadas" (Mateus 6;33).
Lemos em João 4;32 a 34: "Jesus disse aos discípulos: Tenho uma comida para comer que vós não conheceis. Então os discípulos diziam uns aos outros: Trouxe-lhe porventura alguém de comer? Jesus disse-lhes: A minha comida consiste em fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e realizar a Sua obra". Essas palavras do Senhor evidenciam que as energias que em nós se acumulam, oriundas da digestão dos alimentos (naturais ou espirituais) que tomamos, devem ser empregadas na realização de usos. Essa realização de usos é o objetivo máximo de toda a energia que o Senhor acumula em Suas criaturas.
"Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará". O Filho do Homem é o Senhor representado pela Palavra. Somente na Palavra podemos receber o alimento que permanece para a vida eterna, pois, como já vimos, o Senhor disse: "Eu Sou o pão da vida; o que vem a Mim jamais terá fome; e o que crê em Mim jamais terá sede" (João 6;35). Em outra passagem, lemos: "Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede; porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna" (João 4;14). Essas expressões usadas pelo Senhor são encontradas na Escritura Sagrada que O representa e é por isso que somente a Palavra nos proporciona o alimento para a vida eterna.
"Porque ao Filho do Homem selou Deus, o Pai" quer dizer que o Senhor, como Filho do Homem, como Divina Sabedoria, estava como que oculto. Os judeus não reconheciam Jesus como Deus e vários discípulos O consideravam como um enviado que viria reinar neste mundo. Não acreditavam que Ele era o pão da vida natural e da vida espiritual e é por isso que Ele repetia tantas vezes aquilo que Ele era realmente.É por isso que nos Evangelhos se faz referência à vida que emana do Senhor tantas vezes. Em cada Evangelho nos são apresentadas, na letra, harmonicamente, as características do alimento que permanece para a vida eterna.
Quem lê a Palavra com o firme propósito de encontrar o alimento espiritual, afastando-se, ao mesmo tempo, dos males e falsidades que assediam nossa vida neste mundo, certamente encontrará o alimento que procura, porque o Senhor, em Sua Divina Verdade, influirá na mente do leitor da Palavra e nessa mente depositará as sementes que frutificarão para a vida eterna. Tais sementes vão obrigar-nos a trabalhar "porque, sendo o nosso interesse despertado pelas colheitas futuras, já não nos contentamos com exercer um papel puramente passivo e, assim, partimos, com a ajuda do Senhor, para a conquista do alimento espiritual de que necessitarmos para a nossa vida futura.
Mas, devemos ter em mente que, para alcançarmos o alimento espiritual não é suficiente desejá-lo apenas. Teremos de trabalhar intensamente, empenhando-nos com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, na tarefa que nos redimirá. Teremos de usar de todas as nossas energias para transpor os obstáculos que, quase sempre, procuram obstruir o caminho pelo qual o Senhor nos chama. Os obstáculos estão dentro de nós mesmos e são constituídos por males hereditários e atuais, e por falsidades oriundas desses males e provenientes do meio social em que vivemos.
O meio que nos cerca leva-nos a tratar primeiramente das honrarias, das riquezas, dos prazeres mundanos, enfim de todas as coisas que representam o alimento que perece. Desejamos ser admirados, viver no maior conforto, fruir prazeres que, muitas vezes, são prejudiciais à nossa vida eterna. Deixamos de preocupar-nos com as injustiças que nos cercam, não atribuímos o devido valor a usos legítimos prestados por pessoas de boa-vontade e de espírito público e preferimos lisonjear conhecidos e desconhecidos para alcançar benefícios de nosso interesse. Tudo isso é trabalhar pelo alimento que perece.
Se nós trabalharmos intensamente no sentido de obter, na Palavra, os conhecimentos relacionados com a vida eterna; se nós meditarmos constantemente sobre esses conhecimentos e os incorporarmos às nossas mentes; se também os incorporarmos às nossas vontades e os praticarmos em nossa vida diária; se evitarmos com sucesso, os amores do eu e do mundo; se verdadeiramente aceitarmos o Senhor como o pão da vida; então estaremos trabalhando pelo alimento que não perece, e o Senhor nos acolherá como ao servo fiel da parábola dos talentos a quem foi dito: "Muito bem servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor" (Mateus 25;21). Amém.

 

Lições: João 6;1 a 15 e 22 a 27
VRC 689 (parte)

Adaptado pelo Rev. J. Lopes Figueredo

VRC 689 (parte)

Todo homem que aceita a Religião Cristã deve saber, e, se não o sabe, pode aprender, que há um alimento natural e um alimento espiritual, e que o alimento natural é para o corpo aquilo que o alimento espiritual é para o espírito, pois Jehovah disse a Moisés (líder do povo israelita): "O Senhor teu Deus te humilhou e te deixou passar fome... para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor". (Deuteronômio 8;3). Ora, como o corpo morre e a alma vive depois da morte, segue-se que o alimento espiritual é para a salvação eterna. Quem é que não vê que esses dois alimentos não devem ser confundidos na menor coisa e que, se alguém os confunde, esse alguém não pode fazer outra coisa senão formar sobre a Carne e o Sangue do Senhor, e sobre o pão e o vinho, idéias naturais e sensuais, isto é, materiais, corporais e carnais, que abafam as idéias espirituais....