O CULTO DO SENHOR


Sermão pelo Bispo George de Charms


“E abriu-se no céu o Templo de Deus,
e a arca do Seu concerto foi vista no Seu Templo”.

(Apocalipse 11, 19)

Não pode haver Igreja nem religião sem culto. Muitas pessoas supõem, hoje, que o culto é desnecessário à salvação porque imaginam que ele consiste apenas em formalidades rituais e pregações dos sacerdotes, em edifícios sagrados, onde os homens se reúnem, em dias determinados, para a instrução espiritual e para a prece e louvor a Deus. O verdadeiro culto, porém, é muito mais do que isso, e sem ele os homens não podem ser salvos. É um estado, uma atitude da mente e um modo de vida.
O estado de culto é um estado de amor ao Senhor e de caridade para com o próximo — um estado em que aqueles dois amores governam a mente, o seu pensamento, a sua vontade e a sua ação, não apenas em certos dias, mas continuamente e em todas as decisões da vida. A atitude da mente característica do culto, é uma atitude de humildade interna diante do Senhor, um reconhecimento de coração de que toda verdade e todo bem são d’Ele e provêm d’Ele, e que nós, por nós mesmos, somos inteiramente maus, precisando a todo o momento de Seu auxílio, de Sua misericórdia e compaixão.
O modo de vida que torna o culto vivido e salvífico é a vida de obediência à Lei Divina, à Divina Vontade, e isto envolve um sincero desejo, um constante esforço para aprender a Lei, para conhecer essa Vontade em relação às condições de nossa própria vida, a fim de que possamos agir em tudo de conformidade com ela. Estas três coisas tomadas em conjunto constituem o culto em sua essência mesma.
Sem este estado, esta atitude da mente e este modo de vida, não há religião capaz de efetuar a conjunção entre Deus e o homem, e sem isso não é possível levar uma vida boa, uma vida que conduza ao céu depois da morte. Estas coisas essenciais do culto vivo tendem, infalivelmente, a exteriorizar-se em formas rituais. Se não estiverem presentes, então, na realidade, os atos e formalidades do culto externo não nos salvarão, por mais fielmente que sejam observados. Mas se estiverem presentes nos farão sentir o desejo, e a compreender a necessidade do culto externo como uma indispensável assistência na luta para manter e sustentar o verdadeiro culto interno no coração como um meio necessário para alcançar uma visão mais clara, um entendimento mais perfeito do que é a religião e de como torná-la um fator espiritual de nossas vidas.
A finalidade do culto externo é inspirar e instruir. Inspira os amores celestes e ensina o que é a vida do céu. Os rituais não são santos por si mesmos. Só se tornam sagrados se o Senhor estiver presente neles e enquanto o estiver. O Senhor não está presente na pedra ou na madeira, no edifício ou nos dogmas, ou nas formalidades, nem em qualquer gesto ou ato externo do corpo, mas sim nas mentes dos homens. A mente humana é que é o templo vivo para a morada do Senhor, para a manifestação de Seu Amor e de Sua Sabedoria. Se este templo estiver inteiramente aberto para receber o Senhor, então Ele estará presente em todo o homem, presente em tudo o que ele pensa e faz. Quanto mais completamente se abre assim a mente, mais completamente o Senhor pode estar presente.
É porque o culto externo com suas formalidades, seus rituais e templos, auxilia a abertura da mente para o céu; é porque ele provê, num sentido especial, o ambiente para o Senhor aproximar o céu de nós e descer para revelar-se aos homens; é por causa disso que o culto externo é santo. Essa santidade que provêm de uma viva presença do Senhor em nossos pensamentos e em nosso amor, é significada pelas palavras do Senhor em Mateus: “O que é maior, o ouro ou o templo que santifica o ouro?” e “O que é maior, a oferta ou o altar que santifica a oferta?” Quando o Senhor está presente em nossa mente, porque está presente em nosso coração e em nossa vida, então Ele transforma todas as coisas externas do culto em coisas santas pelas quais podemos exaltar o nosso amor por Ele e aperfeiçoar a vida por Seus mandamentos.
Hoje, o culto cristão perdeu seu poder salvífico porque as mentes dos homens estão fechadas para o Senhor, fechadas para a recepção da verdade espiritual de Sua Palavra e, consequentemente, estão na treva da ignorância quanto ao verdadeiro significado da religião. E porque isso é verdade, a Igreja chegou ao seu fim. Os rituais e as formalidades do culto permanecem, mas o Senhor afastou-se do templo. Falta o espírito do amor celeste e da fé espiritual e, por isso, desapareceu a causa interna da santidade e do poder de salvar. Para que os meios de salvação não faltem inteiramente, é preciso haver um novo começo, uma nova Revelação do Senhor, uma nova abertura da mente dos homens para recebê-lo, uma nova fonte de Divina instrução nas Leis da vida espiritual. Este novo começo foi agora realizado na Doutrina Celeste, pela qual o Senhor veio novamente para tornar conhecidas uma vez mais, a Sua Divina Vontade e a Sua Lei.
“E abriu-se no céu o Templo de Deus”. João Evangelista viu, em uma visão representativa, o Templo de Deus no céu. E viu suas portas abertas para que os homens pudessem entrar e permanecer na presença de Deus, para ver Sua face e ajoelhar-se a Seus pés. O templo que ele viu era uma representação simbólica da mente humana; e o fato de estar aberto, era uma profecia que foi agora cumprida, de que o Senhor abriria de novo a mente dos homens para uma nova compreensão de Sua presença, para um novo entendimento de Seu governo no céu e na terra. Os Escritos de Seu Segundo Advento contendo, como contêm, a significação interna de Sua Palavra, escondida nas expressões obscuras de sua letra, constituem os meios pelos quais este templo pode ser aberto. Quando os homens lêem e os compreendem, e reconhecem a sua verdade, as portas de sua mente são escancaradas para que o “Senhor a quem buscam”, possa “de repente vir a Seu templo” como “o mensageiro do concerto a quem desejais”, como diz o profeta Malaquias.
“E a arca do Seu concerto foi vista no Seu templo”. A arca do concerto estava no santuário interno do templo de Jerusalém. Nela estavam guardadas as duas tábuas de pedra em que se achavam escritos os Dez Mandamentos. Estes Dez Mandamentos são as Leis de Deus, as leis da vida religiosa. São preceitos simples, mas têm um conteúdo infinito. Em certo sentido, são conhecidos e reconhecidos como a verdadeira base para a conduta humana tanto entre os cristãos como entre os gentios. Para aplicá-los, porém, com precisão aos complexos negócios da vida, é preciso visão espiritual e sabedoria. Quando isto não existe, embora os preceitos literais do Decálogo permaneçam a sua significação interna não é mais conhecida.
Em nossos dias, esses Mandamentos se tornaram como um livro selado que o homem lê mas não entende. Toda a Doutrina Celeste, do começo ao fim, nada mais é que uma interpretação Divina destas leis da salvação humana — interpretação pela qual essas leis podem se tornar os meios práticos de conhecer e obedecer à Vontade de Deus em relação à vida particular de cada um de nós. Quando o Templo é aberto no céu, quando a mente está imbuída da verdade da Revelação que agora nos foi dada, então estas leis tornam-se claras e inteligíveis em suas relações práticas com a vida religiosa. Receber estas verdades na mente com satisfação, formular com o seu auxílio elevados princípios de pensamento, de amor e de ação, é nisto que consiste entrar no templo, curvar-se em adoração diante do trono de Deus, cumprir Sua Vontade e obedecer a Sua Lei.
A Nova Igreja, encarada espiritualmente, compõe-se daqueles em quem, por meio da Doutrina Celeste, este templo vivo da mente humana, foi aberto no céu; em quem a arca do concerto foi vista no seu santuário interno; em quem a Lei Divina foi aceita de coração e com fé. A casa de Deus em que nos reunimos para o culto foi erigida para dar testemunho daquela viva visão do Senhor.
Ergue-se como um símbolo do amor e da fé que aquela visão engendrou em nós. O edifício não é o Templo mesmo, mas uma representação externa dele, um sinal, um testemunho de que o Templo foi aberto no céu, e que a arca da convenção foi vista no seu interior. Toda a santidade do edifício, do seu sacerdócio, do seu ritual, de suas formalidades de culto dependem do real cumprimento da visão apocalíptica, da real abertura do templo vivo, da real entrada do Senhor, nosso Salvador, em nossas mentes e vidas.
Sem isso esse edifício é apenas um amontoado de pedras, e seus rituais são apenas bronze que soa e órgão que toca. Ele foi dedicado ao culto espiritual do Senhor. O culto espiritual do Senhor, a ardorosa procura de um entendimento mais verdadeiro de Sua Palavra, dia após dia, o esforço fiel para remover de nosso pensamento e de nossa vontade toda falsidade e todo o mal que aí permanecem em oposição à Sua Lei que nos foi revelada, o sincero desejo de que Ele nos dê forças para que possamos tomar sobre nós a nossa cruz e segui-l’O na vida da regeneração exposta na Doutrina Celeste; são estas as coisas pelas quais somente esta Igreja e todo seu culto podem ser consagrados e santificados aos olhos de Deus.
O Senhor está presente nesta casa para elevar e salvar aqueles que se reúnem aqui, para salvá-los exatamente no grau em que Ele está presente no templo de suas mentes, no seu amor, na sua confiança, no seu conhecimento, entendimento e percepção da verdade celeste. É dessa presença em nossa mente que este edifício deriva a sua santidade. Consagrar este edifício ao Senhor é dedicar-nos ao Seu serviço, em Sua Segunda Vinda, e ao amor de Sua Verdade como agora nos é dada na Palavra desvendada. Quanto mais seguramente fazemos isso, mais o Senhor entrará para morar aqui e fazer desta casa um lugar santo; na realidade, a casa de Deus é a porta do céu.
Amém.

•   1ª Lição:     Êxodo 40, 1-16
•   2ª Lição:     Apocalipse 11
•   3ª Lição:     A. C. 9714,2