Ajudando os doentes


Sermão pelo Rev. Rev. Grant H. Odhner

E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal. Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos;  Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.

(Mt. 10:1,5,8)

E, saindo eles, pregavam que se arrependessem. E expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam.

(Marcos 6:12)

Todos nós já experimentamos o pesar e o sofrimento da doença. Por isso sabemos o que representa esse dom que o Senhor aos Seus discípulos, de dar alívio e conforto aos que estavam fisicamente doentes.
Esse poder de curar os enfermos e expulsar os demônios não foi dado a qualquer um. Mas corresponde a uma outra espécie de poder que o Senhor dá a todos que O seguem, um poder real e admirável.
Notemos, primeiro, que os problemas com que os discípulos tinham de lidar eram principalmente do corpo: “toda a enfermidade e todo o mal”. Eles também expulsavam demônios, mas por causa do desconforto físico que a possessão trazia, e a expulsão era para livrar o corpo e não tanto a mente.
Essas enfermidades e possessões eram condições que simbolizam males que flagelam nossa vida espiritual. É óbvio que o Senhor Se preocupa com nosso bem-estar físico. Ele está continuamente provendo para a restauração de nossa saúde. No entanto, muito mais importante aos seus olhos é o nosso bem-estar espiritual.
Que tipo de instrução estamos recebendo? Como estamos progredindo na capacidade de perdoar, de ter misericórdia, compaixão e perdão para com os outros? Que rumos estamos tomando nesta vida? Que objetivos temos? Quais são as nossas atitudes mais constantes? Essas são questões chaves para nossa real felicidade ou infelicidade. Vistos de uma forma mais profunda, estes são os pontos espirituais de que a Palavra do Senhor trata.
O espírito humano tem suas enfermidades. São as cobiças, o temor, o ódio, a impaciência, os sentimentos rancorosos, a negatividade, as fantasias, o engrandecimento de si próprio, a conseqüente degradação dos outros, e assim por diante. Esses são males que fazem adoecer nossa vida espiritual. Eles nos deixam na cama da letargia, da auto-indulgência; exaurem nosso ânimo de continuar crescendo e nos desenvolvendo; roubam nossa energia de prestar usos aos outros; focalizam nossa atenção em nós, somente, em nosso estado, nas coisas que são importante para nós.
Todas as doenças e aflições mencionadas na Palavra são símbolos de alguma espécie de mal espiritual assim, um pensamento ou uma emoção negativos que afeta nossa vida espiritual. Mas o Senhor nos cura. E os discípulos, nessa missão, representam as verdades Divinas pelas quais o Senhor pode nos trazer o livramento de nosso espírito, o renovo de nossas forças e a paz de nossas almas.
Nós também somos discípulos do Senhor e também temos, num sentido, essa missão de trazer semelhante alívio para os outros. Devemos ajudar as pessoas enfermas de doenças espirituais. Ajudar as pessoas que estão presas pela ansiedade, pela angústia, como também pelo egoísmo, pela auto-comiseração ou pela apatia e pelo abatimento espiritual.
Mas, para isso, devemos, em primeiro lugar, compreender que esses males não vêm das pessoas mesmas, mas dos infernos. Por isso, não devemos acusá-las desses males. É importante julgar e condenar o mal, mas não a pessoa que o recebe. Porque até mesmo as pessoas que estão sendo regeneradas pelo Senhor experimentar estados de mal da mente. O Senhor permite isso, às vezes, para que possamos aprender quão nocivos somos quando estamos no mal, e assim, possamos aprender a resistir a esse mal. Todos nós temos estados assim, de tentação:
Quando uma pessoa está sendo tentada, maus espíritos estão próximos a ela e excitam os males e falsidades na pessoa, e também mantêm [a atenção] nos males e os aumentam, até o desespero. Pelo que a pessoa está em miséria e imundície. (AC 5246, NJDC 197).
As manifestações de mau humor, negatividade e maldade nas pessoas não têm outra fonte senão nos infernos.  Podemos considerar essas coisas como produtos de tentações.
A essas doenças do espírito, a resposta verdadeiramente cristã é a de não retribuir da mesma forma. Infelizmente, porém, somos levados a reagir com males semelhantes e retribuímos o egoísmo dos outros com atitudes egoísticas de nossa parte. Assim fazendo, estamos permitindo que a doença dos outros nos contamine também.  Essa manifestação de maldade, nós a tomamos pessoalmente e a encaramos como ataque da pessoa mesma a nós. Ao invés de sermos compreensivos para com a pessoa que está apanhada por esse estado espiritualmente enfermo, ficamos na defensiva e pensamos somente em como isso nos fere, que não merecemos tal tratamento. Ao invés de pensar em ajudar a pessoa a sair do mal, ficamos enraivecidos porque a pessoa está nessa condição e nos atinge com isso. Em suma, costumamos responder o mal com outro mal, “olho por olho, dente por dente”, seja por retaliação direta, seja porque nos afastamos da pessoa e retiremos nosso apoio.
O apóstolo Paulo, nesse espírito de amor cristão, escreveu:
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;  Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;  Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; (I Cor 13.4-8)
É esta espécie de amor que procede do Senhor, pois, segundo o Salmo:
Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade. Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos recompensou segundo as nossas iniqüidades. Assim como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões. Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece daqueles que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó. (Salmo 103.8,10,12-14).
O Senhor é todo misericórdia. Quando estamos em tentação, Ele não Se afasta de nós! Ele não desiste de lutar em nossa defesa. Não presta atenção às palavras duras que dizemos quando tentados e à murmuração de nossa rebeldia naquele momento (AC 8165, 8179). No íntimo, ele opera para nos conservar confiantes e esperançosos em meio à luta, e sustenta por nós o esforço de resistir aos infernos, ainda que não tenhamos consciência disso, porque, então, os infernos estão prendendo nossa atenção no mal mesmo.
Que contraste com o que nós normalmente fazemos com os outros!
Algumas vezes, todos nós já experimentamos a situação de alguém lidar conosco na hora em que estamos presos pelos males e a pessoa “dar a sua vida por nós”, quer dizer, a pessoa deixa de lado o orgulho, deixa de lado suas próprias necessidades e interesses, abrem mão de suas posições pessoais e até sofrem com nossa iniqüidade, sem reagir, por amor a nós.
Às vezes, ofendemos a alguém e esse alguém não reage à nossa ofensa. Já experimentamos reações brandas à nossa explosão de egoísmo. Já recebemos palavras de paciência à nossa indignação. O que sentimos, nesses momentos, pode-se comparar a um pano macio e úmido em água fria, que se põe na testa para acalmar uma febre. Que alívio sentimos, quando a pessoa ignora nossa indignidade, quando nos perdoa! Que bênção, haver pessoas que compreendem nossa situação e não nos retribuem com o mal o que lhes fizemos ou o bem, que deixamos de lhes fazer!
Para reagir assim, de modo paciente e benigno, o espírito precisa ter autocontrole e abnegação. Não se pode ajudar aos enfermos, se não controlarmos nossos impulsos de considerarmo-nos afrontados, de ofender em troca, de nos deixarmos contaminar com a mesma doença espiritual. Devemos combater essa tendência medonha que temos que ferir de volta ao que nos feriu na face. Devemos reagir ao ressentimento e dar a nossa capa de proteção à pessoa que aparentemente abusou de nossa boa-vontade. Devemos reagir ao impulso de parar de andar com a pessoa, de não andar com ela outra milha, só porque achamos que ela pensa que somos obrigados a isso. (Mateus 6:38-41).
Uma atitude paciente, benigna, sem desejo de retaliação, ajuda imensamente a cura dessas doenças espirituais. Este é o amor cristão verdadeiro. É o “óleo” com que o discípulos tinham de ungir os doentes, porque “óleo” significa o amor, a única coisa que cura e alivia a enfermidade da alma.
Mas é importante lembrar que o poder do amor está no fato de que opera junto com a sabedoria. É o óleo e o vinho com que o samaritano curou as feridas do assaltado na estrada. Pois é possível deixarmos de reagir ao mal, não por amor nem, pela sabedoria, mas outras razões, razões erradas. Por exemplo, por omissão ou por covardia. Fazendo isso, causamos também um mal ao doente, permitindo que permaneça no mal.
O amor não tem eficácia alguma, se não agir pela sabedoria. A sabedoria guia o amor, disciplina-o, direciona-o corretamente aos seus fins. Pela sabedoria, o amor pode saber quando deve e quando não deve ajudar, o que deve e o que não deve fazer; quando responder e quando ficar em silêncio; quando ensinar e quando reprovar. O amor não pode prover a cura duradoura, com o remédio certo, se não é administrado com a receita da sabedoria.
É por isso que os discípulos, quando curavam ou expulsavam demônios, ou ressuscitavam, eles o faziam no “nome do Senhor”. Fazer alguma coisa “no nome do Senhor” significa agir pela verdade do Senhor. O nome é a maneira pela qual o Senhor é conhecido e qualificado. É isto que a verdade é: a maneira pela qual o amor é conhecido e qualificado. Conhecemos o amor do Senhor por meio de ensinamentos verdadeiros.
Até aqui, falamos de nossa capacidade de agir como discípulos do Senhor e, assim, trazer cura espiritual aos outros. E pode parecer que isto envolve principalmente em fazer coisas pelos outros. Mas, na realidade, a maneira mais efetiva de curar os outros é tomar uma providência com relação às nossas próprias enfermidades. Somos de real auxílio aos outros quando nos deixamos conduzir pelo Senhor, quando nos afastamos de nossas próprios males e repudiamos às tendências egoísticas e infernais que carregamos em nossa natureza. Vivendo de acordo com os Mandamentos da Palavra, podemos receber vida do Senhor e transmiti-la a quem dela necessita ao nosso redor. Fazendo assim, podemos aliviar o fardo alheio, podemos fortalecer-lhes o ânimo e dar saúde espiritual àqueles com quem temos contato e em quem exercemos influência.
Afinal, espiritualmente falando, nós não podemos, realmente, expulsar os demônios dos outros. Só o Senhor pode fazer isso. Porque a decisão de deixar a cura ocorrer é uma decisão de cada indivíduo. Assim, cada um de nós deve fazer seus esforços próprios de expulsar “os demônios” de dentro de si, de lançar fora o germe das doenças espirituais. Conosco, devemos agir ativamente, de dentro, por essa cura. Mas, com os outros, devemos apenas cooperar com o Senhor, sendo instrumentos de Sua misericórdia para que cure espiritualmente os enfermos espirituais.
Temos um poder muito grande de influenciar a vida de outras pessoas, e a qualidade dessa influência vai depender da qualidade de nossa saúde espiritual. Podemos fazer a vida mais difícil para as pessoas, ou podemos ser vasos de lhes trazer bem-estar do espírito.
Seria realmente muito triste se não pudéssemos exercer influência alguma nos outros, se não pudéssemos lhes propiciar alegria ou alívio que se estenda além do bem-estar físico. Se assim fosse, não haveria amizade real, nem compartilhar de afeições espirituais, conjunção de corações e de mentes.
Mas o Senhor aprouve a que pudéssemos participar de Sua alegria em ajudar os outros. Ele nos convida a aprender dEle o que é a sabedoria e o que é o amor. Porque não podemos influenciar os outros para o bem, se não tiver a necessária sabedoria.
Somente as leis do amor, como são ensinadas na Palavra, podem nos moldar e fazer de nós pessoas que podem efetivamente ministrar àqueles que estão doentes em espírito.
Mas o poder da verdade vem de seu amor. O poder de curar, que o Senhor deu aos Seus primeiros discípulos, era o símbolo de um poder real que vem do amor do Senhor dentro de nós. É o amor que nos faz discípulos. O Senhor disse:
E nisto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes um ao outro. (Jo. 13.35)
E é digno de nota observar que, no final do evangelho de Marcos, ao se elevar aos céus, Ele promete:
Estes sinais seguirão aos que crêem: em Meu nome expulsarão demônios... imporão as mãos sobe os doentes, ficarão curados.
Estas palavras são um desafio e também uma promessa. Se somos discípulos do Senhor, devemos nos amar uns aos outros. E se verdadeiramente amamos a alguém, os sinais do Senhor haverão de se mostrar. Aceitemos o desafio!.

Amém.

Lições: Isaías 58.1-9; Mt 10.1-8,40-42; AC 1820.2-5.