A VIDA DEPOIS DA MORTE


Sermão pelo Rev. Ishmael Nzimonde


“E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui vós não poderiam, nem tão pouco os de lá passar para cá”.

(Lucas, 16, 26)

Muitas pessoas não acreditam que haja uma vida depois da morte. A crença nessa vida, mesmo entre os que estão na Igreja é, à vezes, obscurecida pelas nuvens das falsidades, e essa obscuridade traz côo conseqüência a negação. É da parte sensual da mente de cada homem que provém tal obscuridade. A parte sensual da mente considera a morte apenas como a extinção da vida, pois de nenhuma outra forma pode a morte aparecer, quando encarada sensualmente.
Mas a mente espiritual considera as coisas de outro modo, porque as considera segundo as causas e não apenas pelos efeitos, como faz a mente natural, que é sensual. Assim, quando a mente espiritual está aberta, a morte não é vista côo a extinção da vida, mas como sua continuação. Que há uma vida depois da morte vê-se claramente pelas seguintes passagens:
“O Senhor Mesmo ressurgiu da morte em Seu Divino Humano: Eis minhas mãos e meus pés, que sou Eu Mesmo!” (Lucas 24,39)
“O rico morreu e foi para o inferno, e o pobre Lázaro morreu e foi para o seio de Abraão (Céu). O rico no inferno falou a Abraão, que estava no Céu; entre eles havia um grande abismo”. (Lucas 16,22-26)
“Moisés na sarça chamou ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó; porque ‘Ele não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem n’Ele”. (Lucas 20,37-38)
“Jesus disse: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá”. (João 11,25-26)
Em todas estas passagens está evidenciado que o homem vive depois da morte. O próprio Senhor ensinou isso explicitamente. Além disso a crença na imortalidade está inteiramente de acordo com a razão, porque a mente do homem, que é seu espírito, é feita de substâncias espirituais e, assim sendo, nunca poderá morrer, pois o que é feito de substâncias espirituais está acima do alcance da morte.
É também evidente que aqueles que vão para o Céu, aí permanecem pela eternidade, e semelhantemente os que vão para o inferno. A razão é que há “um grande abismo entre eles”. O rico desejava que Lázaro descesse para mitigar as penas que estava sofrendo, mas o grande abismo impedia que ele fosse atendido.
Com relação ao nosso texto, lemos na Doutrina Celeste:
“O grande abismo denota a oposição e o antagonismo dos estados de vida”. (A.C. 9346)
“Daí é evidente que todos que vão para o inferno lá permanecem pela eternidade, e os que vão para o Céu lá também permanecem para a eternidade”. (H.D. 230)
“Entre o Céu e o inferno há um grande intervalo, que aos que lá estão aparece como um abismo. Neste intervalo os males afluem do inferno com grande abundância; por outro lado, os bens fluem do Céu também com grande abundância é deste intervalo que Abraão fala ao rico no inferno”. (V.R.C. 475)
“Pelo rico é simbolizada a nação judaica, que era rica porque os judeus estavam na posse da Palavra, onde se encontram as riquezas espirituais. Pela púrpura e fino linho com que o rico estava vestido são representados o bem e a verdade da Palavra, pela púrpura o bem e pelo fino linho a verdade. Por ‘comer suntuosamente todo o dia’ é significado o prazer que os judeus tinham com a posse da Palavra, cujos ensinamentos lhes eram ministrados constantemente nos templos e sinagogas. Pelo ‘pobre Lázaro’ são significados os gentios, porque eles não estavam na posse da Palavra. Por ‘jazendo às portas do rico’ é significado que os gentios eram desprezados e rejeitados pelos judeus. Por estar Lázaro ‘cheio de chagas’ é significado que os gentios, em razão de sua ignorância, estavam sob a influência de muitas falsidades”. (V.R.C. 215)
O grande abismo, que é o mundo dos espíritos, está no meio, entre o Céu e o Inferno, e é para onde todos os espíritos, tanto os bons como os maus, vão primeiramente, logo depois da morte, e onde aguardam a viagem definitiva para o céu ou para o inferno. A existência deste grande abismo entre o Céu e o inferno mostra que o inferno está muito longe do Céu, não propriamente em relação à distância, porque na outra vida não há distância, mas em relação ao estado. Por isso os que estão no estado do inferno não podem ser transferidos para o estado do Céu, pois os males do primeiro rejeitam os bens do último.
Estão muito enganados, portanto, aqueles que supõem que estar no inferno é apenas uma questão de tempo e que, depois de um período de punição, irão para o Céu. O espírito do homem nada mais que seu amor. Esse amor, entretanto, permanece imutável na vida eterna. Se fosse mudado, o homem pareceria instantaneamente. É por isso que o Senhor provê para que, na outra vida o homem permaneça em seu amor dominante, por toda a eternidade.
Aqueles que estando em amores maus, se aproximam do Céu, na outra vida, contorcem-se como serpentes trazidas para perto do fogo e sentem sufocar-se, até que se precipitam no inferno, onde a respiração se restabelece. A razão disso é que o estado de suas vidas não está de acordo com a vida do Céu, mas sim do inferno.
“Entre nós está posto um grande abismo”. Realmente, entre o bem e o mal há um grande abismo. Nenhum estado de mal pode, sem ser combatido, transformar-se em estado de bem. Para que o último seja alcançado, é indispensável a total sujeição do primeiro. Devemos preparar-nos, neste mundo, para estar do lado de Abraão depois da morte. A espécie de vida que levamos neste mundo nos encaminhará, depois da morte, para um ou outro lado do abismo, onde permaneceremos eternamente.
O Senhor deseja que todos nós, na outra vida, sigamos para o lado em que está Abraão. Para esse fim, deu Ele a Palavra ao homem. Para esse fim, deu Ele quatro dispensações religiosas, uma após outra. Ao findar cada uma delas, o Senhor providenciava nova revelação, para que o homem pudesse escolher, sempre, o lado do abismo em que está Abraão. Para o mesmo fim, nos deu Ele agora uma revelação final ou coroa das revelações — os Escritos da Nova Igreja. Podemos, assim, avaliar o quanto o Senhor nos ama. Ele procura, por todos os modos, desviar nossas vidas do mal, a fim de que, depois da morte, caminhemos para o lado do abismo em que está Abraão.
Mas, em face do livre-arbítrio com que nos dotou, o Senhor não pode conseguir levar-nos para o Céu, a não ser que cooperemos com Ele, isto é, que façamos a nossa parte. Todos os dias devemos procurar as Sua Verdades para guiarem nossos pensamentos, afeições e atos. Sua lei deve estar escrita em nossos corações. Só assim iremos para o lado de Abraão depois da morte. A Palavra do Senhor não deve Senhor apenas uma propriedade, como o era para a Nação Judaica, que lhe dava um valor superficial, mas deve ser alguma coisa que entre realmente em nossos corações e mude os nossos estados de vida. Enquanto estamos aqui, os nossos estados de vida podem ser mudados, mas não na outra vida, pois está escrito: “Procurai o Senhor enquanto Ele pode ser achado, clamai por Ele quando está perto”. (Isaías 55,6) A nenhum homem o Senhor fecha Seus ouvidos, se ele O chamar sinceramente.
De tudo isso podemos concluir que há uma outra vida depois da morte, que há um grande abismo entre o bem e o mal, ou o que é o mesmo, entre o Céu e o inferno, e que aqueles que vão para o Céu permanecem lá por toda a eternidade e semelhantemente os que vão para o inferno. “E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tão pouco os de lá passar para cá”.
Amém.

Lições:   • Salmo 103
• Lucas 16, 19-31
• V.R.C. 215