A PALAVRA


Sermão pelo Rev. João de Mendonça Lima


“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne e habitou.”

(João 1, 1 e 14)

O que comumente se chama a Palavra é a Bíblia, constituída pelo Antigo e o Novo Testamento. O primeiro — o Antigo Testamento — contém os cinco livros de Moisés, chamados de Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio; os livros de Josué, Juízes, Ruth, 1º e 2º de Samuel, 1º e 2º dos Reis, o dos Salmos e os dos profetas: Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. O segundo — o Novo Testamento — contém os quatro Evangelhos, escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João, e o Apocalipse, também escrito por João.
Além desses livros, as Bíblias comuns contêm ainda, no Antigo Testamento, os livros das Crônicas, 1º e 2º de Esdras, Neemias, Ester, Jó, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos; e no Novo Testamento, os Atos dos Apóstolos e as Epístolas. Estes livros, entretanto, não fazem parte da Palavra, porque não têm um sentido espiritual em série contínua, como acontece com os outros.
O Novo Testamento é a revelação da verdade dada pelo Senhor, em Seu Primeiro Advento, à Primeira Igreja Cristã, cujas doutrinas são tiradas dos ensinamentos literais dos Evangelhos. O Antigo Testamento foi escrito por Moisés e os profetas sob a inspiração do Senhor. O Novo Testamento foi escrito pelos Evangelistas que repetiram, em grande parte, as próprias palavras pronunciadas pelo Senhor durante a sua permanência no mundo. Eles também foram inspirados no seu trabalho, de modo que tudo que escreveram faz parte da Palavra, nada tendo deles propriamente.
Em seu Segundo Advento, que se realizou, não mais no plano material, como o primeiro, mas no plano espiritual, o Senhor nos deu mais um Testamento — o Novíssimo — constituído pelos Escritos que Ele revelou por intermédio de seu servo, Emanuel Swedenborg. Este Testamento constitui a Palavra da Nova Igreja — a Nova Jerusalém — cuja instituição foi predita no Apocalipse sob a forma simbólica de “uma grande cidade de Deus, que descia do Céu”. Hoje, portanto, a Palavra de Deus contém três testamentos: o Antigo, o Novo e o Novíssimo; os dois primeiros formando a Bíblia e o último a Doutrina Celeste da Nova Igreja, contida nos Escritos de Swedenborg, que os escreveu inspirado pelo Senhor. Há uma grande diferença entre a inspiração de Swedenborg e a dos escritores do Antigo e do Novo Testamento. Estes não tinham o menos conhecimento do que escreviam. Eram instrumentos passivos nas mãos do Senhor. O seu entendimento e a sua razão não tomavam parte no seu trabalho que era, por assim dizer, puramente mecânico.
Swedenborg, ao contrário, tinha pleno conhecimento do que escrevia. Os ensinamentos que nos transmitiu foram, primeiro, compreendidos e assimilados por ele. A sua razão e o sem entendimento tomavam parte ativa no seu trabalho. Tudo que escrevia era racionalmente compreendido por ele. As narrações que nos faz de cenas e acontecimentos do mundo espiritual foram conscientemente presenciados por ele que, muitas vezes, tomou parte nesses acontecimentos. Essa participação ativa de Swedenborg na Revelação que o Senhor nos deu por seu intermédio, em nada prejudicou a plena inspiração dos seus Escritos que, por isso, não são propriamente seus, mas exclusivamente do Senhor; sendo, portanto, parte integrante da Palavra. São, mesmo, a cúpula de todas as Revelações Divinas dadas aos homens no decorrer dos séculos.
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A Palavra escrita é apenas a manifestação final — a última expressão da Palavra de Deus. Esta, em si mesma, é a Divina Sabedoria — “o Verbo que estava no princípio com Deus, e que era Deus; e que se fez carne e habitou entre nós”. A Palavra ou Verbo “no princípio”, isto é, em Sua origem, é o Divino Vero Infinito e, portanto, acima da compreensão dos homens e dos anjos. Para que estes pudessem compreendê-la, o Senhor acomodou-a, fazendo-a baixar até eles de uma forma acessível ao seu entendimento limitado. A Palavra “se fez carne e habitou entre nós”; isto é, a Divina Sabedoria acomodou-se à compreensão finita dos homens e dos anjos. Essa acomodação se fez, primeiro, através da Palavra escrita por Moisés e pelos profetas. Depois, na plenitude dos tempos, essa acomodação se concretizou na presença corporal do Senhor Jesus Cristo entre os homens — “a Palavra que se fez carne e habitou entre nós”.
O Senhor Jesus Cristo é, essencialmente, a Divina Sabedoria, tomando sobre si um corpo humano para se manifestar concretamente aos homens e lhes ensinar as verdades de que necessitavam para evitar a danação iminente e total que os ameaçava. O Senhor Jesus Cristo é a Palavra corporificada, é o Verbo que estava no princípio com Deus e que era Deus. O Senhor Jesus Cristo é a manifestação visível e concreta da Palavra, da Divina Sabedoria em cujo íntimo está o Divino Amor.
Depois dessa manifestação corporal de Sua Divina Sabedoria, o Senhor nos deu, cerca de dezessete séculos mais tarde, uma outra manifestação dessa Sabedoria. Desta vez, porém, foi uma manifestação racional e espiritual que tomou forma na mente de Emanuel Swedenborg e se expressou nos livros que ele escreveu. Aí a Divina Sabedoria se revestiu da mais alta expressão compatível com a limitada compreensão dos homens. Os Escritos da Nova Igreja são a mais elevada acomodação da Palavra, a mais transcendente manifestação da Divina Sabedoria.
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A Palavra escrita, no sentido da letra, não parece diferente dos escritos simplesmente humanos. Parece mesmo, em grande parte, um escrito vulgar, sem nada de extraordinário. As suas narrações históricas são geralmente demasiado sintéticas e imprecisas. As suas profecias são quase todas incompreensíveis e obscuras. O seu estilo nada tem de brilhante, parecendo muito menos atraente e muito menos belo do que o da maioria das obras literárias escritas pelos homens. Entretanto, Swedenborg afirma que o estilo bíblico é o próprio estilo Divino; muito mais elevado, muito mais belo e muito mais nobre do que os mais sublimes estilos humanos!
O estilo da Palavra comparado com os estilos dos homens é como uma rosa natural comparada com uma rosa artificial. Na aparência externa, a segunda pode apresentar um aspecto mais bonito do que a primeira; mas examinando-as mais de perto, nota-se imediatamente as inúmeras vantagens da primeira sobre a segunda. A rosa natural é viva e exala um suavíssimo perfume. A rosa artificial é morta e inodora. As pétalas da rosa natural são constituídas por um tecido admirável de células e canais por onde circula a seiva que vivifica a flor. As pétalas da rosa artificial são formadas por uma massa amorfa sem qualquer manifestação de vida. O tecido da rosa natural, quanto mais profundamente examinado, mais maravilhas nos desvenda. O da rosa artificial, ao contrário, apresenta-se tanto mais grosseiro e informa quanto mais detalhadamente o analisamos. A rosa natural, pela vida de que é animada, produz depois frutos que encerram as sementes de que podem nascer novas roseiras. A rosa artificial, sendo morta, não tem a menor possibilidade de reproduzir-se.
A letra da Palavra contém no seu interior as maravilhas do sentido espiritual que se torna tanto mais belo e elevado quanto mais profundamente examinado. As obras da literatura humana nada mais encerram do que aquilo que apresentam em sua letra. É no sentido espiritual que reside a vida da Palavra. E a beleza do estilo de sua letra consiste, justamente, em ser a roupagem apropriada àquele sentido. Cada palavra, cada expressão, cada frase da letra foi preparada para receber a vida do sentido espiritual. Este sentido é a própria Sabedoria Divina acomodada à compreensão dos anjos e à dos homens que se regeneram. É a existência do sentido espiritual que faz com que a letra da Palavra seja Divina. E é por causa desse sentido que essa letra tem sido providencialmente conservada através dos séculos sem qualquer alteração.
Não se deve confundir o sentido espiritual com as explicações ou interpretações que se procura dar às expressões da letra para justificar ou apoiar as doutrinas dos vários ramos da Igreja. Essas interpretações quando muito podem ser chamadas de sentido eclesiástico ou natural, mas nada têm a ver com o sentido espiritual. Este está dentro do sentido literal como a alma está dentro do corpo. E assim como não é possível ver ou descobrir a alma pelo exame do corpo, também não é possível ver ou descobrir o sentido espiritual da Palavra pelo estudo de sua letra. E é por isso que esse sentido se conservou oculto e desconhecido dos homens até o momento em que aprouve ao Senhor revelá-lo.
Só por Divina Revelação ele podia ser conhecido pelos homens. É essa revelação do sentido espiritual da Palavra que constitui a Segunda Vinda do Senhor; a Sua vinda “nas nuvens do céu com poder e grande glória”, como diz o 30º versículo do 24º capítulo de Mateus. “As nuvens do céu” representam o sentido da letra, e “o poder e a grande glória” o sentido espiritual. O Senhor fez a Sua Segunda Vinda espiritualmente, revelando-nos, por intermédio de Swedenborg, as verdades do sentido espiritual de Sua Palavra.
Isto só se podia realizar depois do julgamento final sobre a Primeira Igreja Cristã; porque antes desse acontecimento a humanidade não estava preparada para recebê-lo e certamente o profanaria se viesse a ter conhecimento dele. Foi para evitar essa profanação que o Senhor manteve oculto por tantos séculos o sentido interno da Palavra, só o revelando quando chegou o momento oportuno, isto é, quando os homens atingiram o estado de preparação necessário à sua compreensão e aplicação.
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A letra da Palavra foi toda escrita por puras correspondências. A correspondência é a relação existente entre as coisas espirituais e as naturais. Uma correspondência não é uma simples comparação entre coisas do plano material, mas uma ralação de causa e efeito entre o que é espiritual e o que é natural. Tudo o que existe no mundo material é uma representação, um efeito e uma correspondência de coisas do mundo espiritual.
A ciência que estuda e codifica essas relações chama-se “ciência das correspondências”. Era a única ciência conhecida e cultivada pelos sábios da Antiqüíssima Igreja. Para esses sábios, a natureza era uma verdadeira Bíblia, era a Palavra Divina concretizada. Eles estudavam os fenômenos naturais não como fazemos hoje, para conhecer as leis que os regem, mas para descobrir as verdades espirituais que eles representam ou a que correspondem. Essa ciência antiga perdeu-se pouco a pouco com a decadência e morte daquela Igreja. As chamadas “ciências ocultas” nada mais são do que restos adulterados da primitiva ciência das correspondências. A mitologia dos gregos, as suas fábulas, e os livros da Antigüidade que chegaram até nós, devem a sua tão longa sobrevivência e o seu valor às correspondências que encerram.
Foi a adulteração da ciência das correspondências que deu nascimento à idolatria que avassalou os povos orientais. Perdendo o conhecimento das correspondências esses povos começaram a adorar como outros tantos deuses os símbolos representativos dos diversos atributos do Deus Único. O sol, a lua e as estrelas que foram objetos de seu culto, são símbolos que, segundo a ciência das correspondências, representam, respectivamente, o Divino Amor, a Divina Sabedoria e os conhecimentos do bem e da verdade. Os animais que também foram objeto de culto idolátrico são correspondências de qualidades e sentimentos do coração humano que têm sua origem na Divindade. O conhecimento da ciência das correspondências, que nos foi restituído pela revelação do sentido espiritual da Palavra, nos permite agora conhecer a significação de todos esses símbolos do passado, inclusive a das fábulas e a das narrações mitológicas.
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A Palavra escrita contém, na realidade, três sentidos; porque o chamado sentido espiritual encerra em seu íntimo um outro sentido — o celestial. O sentido natural ou sentido da letra se destina à instrução dos homens na fase da reforma que antecede a regeneração propriamente dita. Este sentido apresenta, de uma forma clara e simples, as verdades necessárias à reforma de nossa conduta e os que são indispensáveis à vida dos homens em sociedade. Os Dez Mandamentos são a parte essencial desse sentido.
Podemos comparar a Palavra a uma pessoa vestida, cujas roupas representam o sentido da letra que encobre e veste o sentido espiritual, representado pelo corpo. Assim como uma pessoa vestida conserva as mãos e a cabeça descobertas, porque nelas se encontram os órgãos essenciais ao exercício de suas atividades no mundo, também as verdades essenciais à nossa vida terrena se acham descobertas e claras na letra da Palavra. Essas verdades descobertas encontram-se principalmente nos Dez Mandamentos e nos Evangelhos. Isso não impede que essas verdades claras da letra contenham também, interiormente, um sentido mais profundo.
O sentido da letra é o sentido usado pelos anjos do céu natural que não conhecem os sentidos superiores da Palavra, segundo nos revela Swedenborg. A importância e a santidade do sentido natural provêm de ser ele a base, o continente e a afirmação dos sentidos mais profundos. E por isso a Doutrina nos diz que “A Divino Amor no sentido da letra está na sua plenitude, na sua santidade e na sua potência” (V.R.C. 214).
As verdades contidas no sentido da letra são verdades aparentes, ao passo que as do sentido interno são verdades nuas. As verdades aparentes são como que roupagens que vestem as verdades as verdades internas ou espirituais. As verdades aparentes não prejudicam nem impedem o conhecimento das verdades nuas, como as roupas não prejudicam o corpo, nem impedem que se tenha conhecimento dele. Essas verdades são apropriadas à compreensão das crianças e dos homens simples. Aqueles que desenvolvem seu entendimento pelo estudo e pela meditação, podem ascender das verdades aparentes da letra às verdades genuínas do espírito da Palavra pelo conhecimento das correspondências existentes entre essas verdades. O homem simples acredita que o sol se levanta no Oriente e se deita no Ocidente fazendo, a cada 24 horas, uma volta em torno da terra; o homem ilustrado, embora muitas vezes empregue, na linguagem corrente, essa verdade aparente, sabe, entretanto, que a verdade real é que o sol está relativamente fixo e que é a terra que gira em torno dele, girando, ao mesmo tempo, em torno de seu próprio eixo.
Para os homens simples Deus castiga os maus e recompensa os bons, como lhe ensina a letra da Palavra; o homem ilustrado sabe, porém, que isso é uma verdade aparente; pois realmente Deus não castiga nem premia. O que se chama “castigo” é apenas uma conseqüência do próprio mal; e o que se chama “recompensa” é uma decorrência do próprio bem. Quando imprudentemente comemos em excesso alimentos indigestos, o mal estar que sentimos depois, não é um castigo propriamente, mas uma conseqüência de nosso erro. Assim também a satisfação que sentimos quando praticamos uma boa ação não é, propriamente, uma recompensa, mas um reflexo sobre nós mesmos do bem que fizemos a outros.
As verdades da letra que constituem o seu sentido natural são representadas pelas pedras preciosas tantas vezes referidas nessa letra; especialmente pelas que formam os fundamentos da Nova Jerusalém, citadas nos versículos 17 a 21 do 21º capítulo do Apocalipse, e pelas que formavam o Urim e o Tumim do efod de Aarão a que se refere o 28º capítulo do Êxodo.
O sentido natural tem ainda uma outra utilidade da mais alta importância: ele serve para estabelecer a conjunção com o Senhor e a consorciação com os anjos, como nos ensina a “Verdadeira Religião Cristã” nos parágrafos 234 a 238. Quando lemos a Palavra com atenção e respeito, a nossa leitura é percebida pelos anjos; não propriamente na letra em estamos lendo, mas no sentido espiritual correspondência, o que lhes dá um grande prazer, segundo nos revela Swedenborg. Temos assim um meio de sermos úteis aos próprios anjos que, em troca, nos transmitem sentimentos puros que nos elevam o espírito e nos dão uma sensação de bem estar íntimo.
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O sentido espiritual ou interno tem por fim nos fornecer as verdades necessárias à nossa regeneração propriamente dita e à nossa preparação para a vida no céu espiritual. Este sentido contém principalmente as verdades da fé e da caridade, as verdades que conduzem ao amor do próximo e à Igreja. Os anjos do segundo céu, ou céu espiritual, estão nesse sentido e nada sabem da letra da Palavra. Todos os nomes de pessoas e de lugares que se encontram na letra da Palavra não aparecem aos anjos que, em vez desses nomes, vêem as qualidades e sentimentos que eles representam.
O sentido espiritual da Palavra nos foi revelado pelo Senhor por intermédio de Emanuel Swedenborg, cujas obras teológicas constituem a Doutrina da Nova Igreja. Não basta, porém, estudar essas obras para adquirir o conhecimento das verdades espirituais do sentido interno. Elas foram escritas de forma que só as pessoas que se acham em condição de aplicar essas verdades à vida, é que as percebem quando as lêem. Os que ainda não se prepararam para isso — pela reforma de sua conduta, feita à luz dos ensinamentos da letra —, encontram tais dificuldades na leitura dos Escritos de Swedenborg, que desistem de lê-los ou, então, se insistem na leitura, sentem um sono invencível que as faz parar inevitavelmente, sem que tenham conseguido compreender coisa alguma do que leram.
Para estudar com proveito as obras da Doutrina é preciso ter um sincero desejo de conhecer as verdades espirituais com a intenção de aplicá-las à vida. Isso não quer dizer que devemos desistir de ler os Escritos da Igreja; não, ao contrário, mostra-nos a necessidade de lê-los e de estudá-los, mas preparando-nos, antes, para essa leitura, pela renúncia aos nossos males que já conhecemos pelo sentido da letra da Palavra e pelo cultivo de um sincero desejo de nos aproximar do Senhor seguindo o caminho mais curto que as verdades espirituais nos ensinam. Os ensinamentos da Doutrina Celeste só se tornam, realmente, verdades espirituais em nós, quando nós mesmos, diretamente, os estudamos, meditando sobre elas e as amamos, esforçando-nos por incorporá-las à nossa vida.
Os cuidados e defesas de que o Senhor cerca o sentido espiritual da Palavra, têm por fim evitar a sua profanação por aqueles que não estão em condições de praticá-los. A profanação da verdade espiritual é o que, na letra da Palavra se chama a blasfêmia contra o Espírito Santo, que é um pecado imperdoável; acarretando para os que o cometem a mais terrível de todas as situações na outra vida.
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O sentido celestial ou íntimo é o mais profundo e elevado dos sentidos da Palavra. Ele trata exclusivamente do Senhor e de nosso amor por Ele. É o sentido do céu celestial, cujos anjos não têm conhecimento dos outros dois. Quando lêem a Palavra, eles a percebem apenas nesse sentido, vendo em todos os seus símbolos representativos das qualidades Divinas, e nos seus ensinamentos os meios de se aproximarem do Senhor.
Na terra dificilmente haverá alguém que seja capaz de alcançar tão elevada interpretação da Palavra. Só os que atingem o mais alto grau da regeneração serão capazes de compreendê-lo. Num futuro ainda muito remoto, quando as Doutrinas da Nova Igreja tiverem se espalhado por toda a terra e a humanidade — remontando o caminho pelo qual desceu do primitivo estado de integridade espiritual — tiver alcançado o estado da inocência da sabedoria, então o sentido celestial será plenamente compreendido pelos homens. Nos escritos da Nova Igreja se encontram todos os elementos necessários ao estudo e compreensão deste sentido; mas os homens não o podem compreender porque ainda estão muito longe da preparação indispensável para isso.
Em conclusão: a Palavra é a Divina Sabedoria manifestada aos homens e acomodada à sua compreensão. Como esta compreensão varia desde a inteligência mais rudimentar e grosseira que mal percebe as verdades sensuais e, por assim dizer, materiais do sentido mais externo, até às culminâncias da sabedoria mais profunda que alcança a percepção das sublimes verdades do sentido celestial mais íntimo, a Palavra foi escrita em correspondências que se acomodam a esses variados graus de compreensão. Todos podem encontrar nela as verdades de que necessitam para alimentação de seu espírito. Cada um de acordo com o seu estado. Os homens naturais, isto é, aqueles que não se elevam acima das coisas da natureza e cujos conhecimentos se apóiam no testemunho dos sentidos corporais, encontram nos ensinamentos de sua letra as verdades que os podem levar a estados mais perfeitos.
Os homens espirituais que vivem no amor do próximo e desejam ardentemente conhecer as maravilhas da Divina Sabedoria encontram, em seu sentido espiritual, o alimento predileto de sua alma. Os homens celestiais que vivem para o amor ao Senhor acham, nos símbolos da Palavra, os representativos das qualidades Divinas e a nutrição apropriada às suas afeições mais puras.
O Senhor Jesus Cristo, que é a própria encarnação da Divina Sabedoria durante os 33 anos de Sua permanência na terra, cumpriu em Sua vida todos os preceitos da Palavra, sendo assim a própria Palavra viva e corporalmente manifestada aos homens. A Sua vida terrena constitui um sublime exemplo, que devemos procurar imitar, do pleno cumprimento dos Mandamentos Divinos. O Senhor Jesus Cristo é o Verbo ou a Palavra que estava no princípio com Deus e que era Deus, e que se fez carne e habitou entre nós.
Amém.

•   1ª Lição:     Apocalipse 19, 11-18
•   2ª Lição:     João 4, 5-15