A DESCIDA DA NOVA JERUSALÉM


Sermão pelo Rev. Gilbert H. Smith


“E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas”

(Apoc. 21, 5).

Não podemos imaginar que alguém mais, que não seja o Senhor e Salvador Jesus Cristo, possa ser significado por “Aquele que estava assentado sobre o trono”. Está escrito: “Eis que faço novas todas as coisas”. E, conforme o compreendemos, as coisas que foram feitas novas são todas as coisas da religião. O trono que é mencionado aqui nada mais pode significar que o céu mesmo que é o trono da glória do Senhor. E por meio de Seu reino do céu o Senhor está continuamente renovando, ou fazendo nova, a vida da religião no indivíduo que crê n’Ele como Divindade única. Mas em um sentido mais geral, fazer novas todas as coisas significa a descida, pelo céu, de novas coisas da religião para que a cristandade possa alcançar o estado que lhe foi apontado, e a Igreja possa corresponder à descrição da Nova Jerusalém, que é chamada a Noiva e a Esposa do Cordeiro. É uma nova Igreja Cristã que nós acreditamos ser representada pela Nova Jerusalém descendo de Deus pelo Céu.
Mas eu gostaria de vos falar primeiro a respeito dos livros que tenho em minha biblioteca, escritos por Emanuel Swedenborg; porque é desses livros que será tirado todo o material dos pensamentos que agora vos vão ser apresentados.
Tenho diante de mim, entre os cinqüenta e cinco livros da Nova Igreja escritos por Emanuel Swedenborg, primeiro, os Arcana Celestia, nome latino dos “Arcanos Celestes” — dezesseis volumes, concluídos em 1756. Nesta obra, Swedenborg dá uma explicação detalhada do Gênesis e do Êxodo de acordo com o que chama a sua significação interna ou seu estilo espiritual.
Em seguida vem, em minha biblioteca, o “Diário Espiritual”, em cinco volumes — em inglês, traduzido do latim; neste livro vêm descritas as experiências de Swedenborg no mundo espiritual durante um período de vinte e seis anos.
Depois desta obra vem um volume tratando do “Céu e suas maravilhas, e do inferno, segundo o que foi ouvido e visto”. Há outro, descrevendo o “Julgamento Final” e mostrando que ele já teve lugar no mundo espiritual.
Em seguida vem um volume intitulado “A Nova Jerusalém e sua Doutrina Celeste”. Neste, a Doutrina da Nova Igreja é exposta sumariamente. Há também seis volumes intitulados “O Apocalipse Explicado”, e mais dois denominados “O Apocalipse Revelado”, contendo ambos, detalhadas explicações sobre o Apocalipse do Novo Testamento.
Depois temos um livro concernente ao “Divino Amor e a Divina Sabedoria”, e outro sobre “A Divina Providência”. E ainda outros tais como “O Infinito” e o “Intercâmbio entre a alma e o corpo”, apresentando uma filosofia única. E o grosso volume intitulado “O Amor Conjugal”, tratando da concepção espiritual e celestial do casamento.
Há quatro volumes sob o título de “A Palavra Explicada”, uma das primeiras obras de Swedenborg, mas só recentemente traduzida para o inglês.
E, por fim, depois de tudo que acabamos de mencionar, há uma grande obra denominada “A Verdadeira Religião Cristã”, em dois volumes, que contém toda a teologia da Nova Igreja.
Mencionamos todos esses livros porque o público, em geral, muito pouco sabe a respeito deles, e porque acreditamos que todos os cristãos devem ter a oportunidade de conhecer alguma coisa sobre as obras de Swedenborg que encheriam, de sobra, uma prateleira de três metros de comprimento; constituindo uma biblioteca sobre a natureza do mundo espiritual, sobre a natureza do céu e do inferno, sobre as relações entre este mundo e o outro, e sobre o sentido espiritual da Palavra. E também porque entre as milhares de pessoas que nunca ouviram falar sobre as obras deste escritor, é provável que haja certo número que teria interesse vital em saber alguma coisa dos seus ensinamentos singulares sobre a existência no mundo espiritual e a natureza da vida depois da morte. Haverá alguma coisa mais importante do que isso para se saber, se é que se pode sabê-lo? Será possível saber-se alguma coisa sobre o mundo espiritual?
É comum supor-se que isso não é possível, ou pelo menos que não é verossímil que alguém pudesse ficar em estado de livre e contínua comunicação com os que estão no mundo espiritual, como Swedenborg declara que esteve. Mas se acreditamos no Antigo e no Novo Testamento, temos que admitir muitos casos em que certos homens estiveram em condições de ver no mundo espiritual e descrever suas visões. Entre outros, podemos citar os casos de Paulo, de Pedro, de Ezequiel e, notavelmente, o de João, que escreveu o Apocalipse. Este livro, do começo ao fim, descreve coisas que João viu pela vista espiritual e ouviu com os ouvidos de seu espírito no mundo espiritual.
Swedenborg declara que todas as pessoas que viveram e morreram neste mundo, continuam a viver depois da morte — homens, mulheres e crianças — alguns no céu e outros no inferno; sendo que no inferno não há crianças. Todos os que morrem na infância são levados para o céu. Todas as pessoas que vivem na terra têm, além do corpo, alma e mente; depois da morte essas pessoas não terão apenas alma ou mente, mas terão também um corpo. No mundo espiritual, porém, seus corpos são de substância espiritual e não de substância material como antes. O homem permanece homem, e a mulher, mulher. E no casamento celeste os cônjuges vivem juntos por toda a eternidade, em um amor, em uma união e felicidade crescentes. Os elementos físicos componentes de seu corpo material, neste mundo, são dispersos depois da morte e nunca mais o homem os recupera; entretanto o espírito de cada pessoa vive em uma perfeita forma humana, e não tem que esperar nenhum dia final de ressurreição e julgamento.
Para os que crêem nisto constitui um grande prazer pensar que somos inseparáveis daqueles que podemos chamar “os mortos-vivos”. Se fôssemos separados destes “mortos-vivos” do mundo espiritual com quem estamos constantemente associados, ainda que de modo inconsciente, então seríamos nós que ficaríamos realmente mortos. Os chamados “mortos” estão conosco ainda, e tão completamente, que a nossa própria consciência depende deles. Não podemos pensar, nem nos mover, não podemos viver ou amar, a não ser por meio desta corrente de afeições e pensamentos que flui em nossa mente, vindo daqueles que moram no mundo espiritual. É por esse meio também que os conceitos da inteligência humana são mudados e que todas as coisas se renovam sobre a terra.
Devemos acentuar que a crença swedenborguiana não é espiritismo. Não procuramos nos comunicar com os que se foram, nem queremos nos guiar por espíritos familiares; acreditamos, porém, que o Senhor, por meio de um homem especialmente preparado para isso, nos deu informações da maior importância — informações a respeito de Seu Reino dos Céus —, para que não permanecêssemos por mais tempo na dúvida quanto à importante questão de nossa existência depois da morte.
Os que conhecem os Escritos de Swedenborg vêem neles idéias da mais alta importância espiritual que, certamente, virão a ser apreciadas e queridas por muitos outros que venham a conhecê-los. Penso que quase todos os cristãos aceitarão a idéia de que a descida à terra da Santa Cidade de Jerusalém, descrita no Apocalipse de João, significa a cristandade em seu estado de perfeição. Para estabelecer esta cristandade perfeita, é certo que Jesus prometeu vir outra vez, aparecendo nas nuvens do céu com poder e grande glória para, desse modo, fazer novas todas as coisas da religião.
Esta nova vinda do Senhor nas nuvens do céu, nós interpretamos como sendo o fato de dar a conhecer aos homens a significação espiritual interna da letra do Antigo e do Novo Testamento. Porque é a letra das Escrituras que é significado pelas nuvens do céu; sendo o sentido espiritual a sua glória e poder. Acreditamos que esta Segunda Vinda do Senhor se efetuou por meio das coisas que Ele Mesmo revelou aos homens através da instrumentalidade de Swedenborg.
Há um ensinamento da Nova Igreja, contido nos Escritos de Swedenborg — um ensinamento particularmente importante — que se fosse aceito pelo mundo cristão, faria novas muitas coisas da teologia. É o ensinamento de que Jesus Cristo não é, como comumente se pensa, uma Pessoa da Trindade, ou um de um trio de Pessoas Divinas; mas que Ele somente é Deus em uma só Pessoa — o único Deus do céu e da terra —, que Ele é o Pai, é o Filho e é o Espírito Santo. A plenitude da Divina Trindade está n’Ele somente. O Pai é a Alma Divina do Cristo; o Filho é a Humanidade com que a Alma se revestiu e que nasceu de uma virgem; e o Espírito Santo é a Vida e operação do Senhor, procedendo d’Ele unicamente.
Aquele que nasceu como homem e depois foi glorificado, é Um e o Único Deus que tomou sobre Si a carne e se fez Homem. Como humildemente acreditamos, o Pai é a própria Alma Divina do Senhor, e o Espírito Santo é a Divina Verdade e o Divino Amor que d’Ele procedem. A crença n’Ele como sendo o Ser em quem reside toda a plenitude da Divindade, é a crença que salva e regenera o homem; fazendo novas todas as coisas de sua vida. “Aquele que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas”.
Ora, mesmo que se chegue a negar a veracidade do Novo Testamento, não se pode negar, entretanto, que ele predisse uma segunda vinda de Cristo. Então para aqueles que crêem no Novo Testamento, deve haver um grande interesse em saber qual a natureza dessa Sua Segunda Vinda. De nossa parte, estamos certos de que ela teve lugar através dos livros da Doutrina da Nova Igreja. Swedenborg, apresentando-se apenas como um servo do Senhor, diz o seguinte a respeito de seus próprios Escritos: “Desde o primeiro dia de meu chamado para o ofício de Revelador, eu não recebi coisa alguma relativa à Doutrina da Nova Igreja de mim mesmo, ou de algum espírito ou anjo, mas do Senhor Mesmo”.
João disse: “Eu vi um novo céu e uma nova terra; porque o primeiro céu e a primeira terra tinham passado”. Fazer todas as coisas novas não é possível senão por meio da formação de um novo céu de cristãos no mundo espiritual e da formação de uma Nova Igreja sobre a terra ou, o que vem a ser o mesmo, começando uma Nova Era da Igreja sobre a terra. Mas é difícil ver como isso pode ser feito a não ser pela revelação de novas verdades, feita pelo Senhor Mesmo; dando-nos uma Nova Doutrina. É nossa crença que isso já foi feito. E esta Nova Doutrina está aberta a todos os cristãos, em toda parte. Não é propriedade de nossa pequena organização que chamamos “A Nova Igreja”. É propriedade de todos que se interessam por ela.
Podeis não acreditar, como acreditamos, que Jesus Cristo revelou nova Verdade Divina de grande importância a todos os cristãos por meio da pena de Emanuel Swedenborg; mas ainda assim desejamos espalhar o conhecimento destes livros que são tão pouco conhecidos. Porque para nós, eles são valiosos como as próprias Escrituras e acrescentam uma nova glória à Palavra de Deus pela revelação mais completa de sua significação interna.
Em nome de Jesus Cristo Nosso Senhor, pedimos que Ele faça novas todas as coisas em vós, em vossos pensamentos e em vossas afeições, e vos abençoe descobrindo-vos os segredos de Sua Palavra e os caminhos de Sua Misericordiosa Providência. Crer n’Ele faz novas todas as coisas em nossa vida. Habilita-nos a compreender muitas coisas que são difíceis de entender, e dá nova coragem e confiança nos caminhos do Senhor.
Nosso maior desejo é que todos os cristãos conheçam os ensinamentos de Swedenborg, que ele afirma ter recebido por especial iluminação do Senhor nosso Salvador que, em Sua Divina Humanidade, acreditamos ser o único Deus do céu e da terra. Nos livros de Swedenborg, acreditamos que vocês acharão, se já não o acharam, a verdade que fará novas todas as coisas — acharão a Doutrina interior que é apresentada pela Santa Cidade, a Nova Jerusalém, descendo de Deus pelo Céu, a fim de que a religião cristã reviva e se renove perpetuamente. Porque “Aquele que está assentado sobre o trono, disse: Eis que faço novas todas as coisas”.
Amém.

Lições:  

• Marcos 4, 1-20
• Apocalipse 21, 1-18
• D. P. 333 e 334