A DESCIDA AO EGITO


Sermão pelo Rev. William Whitehead


“Quando Israel era menino, eu o amei e do Egito chamei a meu filho”.

(Oséias 11, 1)


“E levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egito, e esteve lá até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Do Egito chamei o meu Filho”.

(Mateus 2, 14-15)

A maior parte da vida do Senhor sobre a terra é representada no Evangelho por um grande silêncio. Desde a Sua ida para Nazaré com seus pais, como menino, até o início de Seu ministério público, os Evangelistas revelam muito pouca coisa sobre esse longo período do desenvolvimento ou da preparação do Senhor para Sua missão.
Isso é muito significativo. Se o Senhor Jesus Cristo tivesse sido simplesmente o maior e o mais nobre caráter da história humana — o padrão, unicamente, de uma perfeita vida civil e moral —, então, certamente, em alguma parte dos Evangelhos cristãos teria sido feita referência sobre a origem e o processo de Sua educação, sobre a história da evolução do Seu caráter, sobre a formação e modelação daquela mente e daquele coração na forma humana que é, hoje em dia, citada muitas vezes como o “Homem de Nazaré”. Se Ele fosse só isso, seguramente teriam sido dadas algumas indicações do modo como se processou a construção de Sua vida e de Seu caráter.
Entretanto, muito poucas informações chegaram até nós através dos Evangelhos. No segundo capítulo de Lucas, encontramos a simples notação de que em Nazaré “o menino crescia, e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria” (Lucas 2,40). Quando Ele tinha doze anos se diz que José e Maria encontraram-n’O em Jerusalém “assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os. E todos os que O ouviam admiravam a Sua inteligência e as Suas respostas” (Idem, vers. 46-47). Nesse momento Ele já dizia que Lhe convinha “tratar dos negócios de Seu Pai”. E nessa parte do Evangelho de Lucas é mencionado que “Jesus crescia em sabedoria, e em estatura, em graça para com Deus e os homens” (Idem, vers. 49 e 52).
Realmente, não há uma menção satisfatória da origem ou do desenvolvimento dos conhecimentos e da sabedoria do Senhor, antes de Sua entrada na fase final de Seu ministério público. Eruditos modernos, em face deste silêncio, têm procurado explicar com fundamentos históricos e naturais, a doutrina Divina e a vida de Jesus Cristo; e isso a despeito da educação judaica daquela época, apegada a um espírito de rígido literalismo, ou a teorias nascidas de uma imaginação desordenada, não ter, evidentemente, qualquer relação com a educação do Homem Divino.
Assim, alguns escritores atribuem a sabedoria do Senhor, ou a Divina Verdade, à educação entre os Essênios e, através destes, aos parses, aos egípcios e aos chamados mistérios dos gregos, e ainda ao bramanismo, por intermédio dos gregos. Outros insistem em afirmar que as raízes de Sua Divina Verdade se encontram na ciência dos Saduceus, ou na erudição dos Fariseus, ou na cultura introduzida entre os judeus pelas escolas de educação de Alexandre. Outros eruditos tentaram analisar o Divino Bem do Senhor, atribuindo-o a Maria, e a vários elementos morais e civis da vida social dos judeus daquela época.
Mas todas essas conjecturas falharam não somente quanto aos seus fundamentos, mas também diante do claro testemunho dos próprios Evangelhos. Assim é que Mateus (cap. 13, 54-56) conta que Jesus
“chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte se maravilhavam e diziam: Donde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio pois tudo isso?”
Marcos refere este episódio (cap. 6, 2-3) em termos ainda mais fortes e mais claros, acrescentando: “E que sabedoria é esta que lhe foi dada?” E em João (cap. 7,15) vemos que “Os judeus maravilhavam-se, dizendo: Como sabe este letras, não as tendo aprendido?” E, semelhantemente em outros trechos da Palavra.
É evidente que o milagre da Divina Sabedoria, aparecendo subitamente entre os homens, é ainda o milagre supremo da história do saber humano. E a natureza de sua origem — embora descrita por dedução da letra do Evangelho — permaneceria ainda um profundo mistério da fé, se não fosse a revelação dos Escritos da Nova Igreja.
Mas, redimidos de nossa cegueira anterior, sabemos agora que quando a “Palavra se fez carne e habitou entre nós” — quando o Senhor passou, como qualquer outro homem, através dos vários graus da vida, desde a infância à maturidade — tudo o que era feito por Ele, e tudo que era feito a Ele, era feito, primordialmente, de modo que Ele pudesse, neste mundo, cumprir todas as coisas da Divina Verdade, mesmo nos últimos. Todas as coisas da Palavra — tanto as do sentido natural, como as do sentido espiritual — deviam ser corporificadas em Sua vida — a Palavra Viva —, a Vida que seria a Luz dos homens.
Se estes não vêem esta Luz, ou não a compreendem, é porque estão em um estado de trevas espirituais no mundo natural. O homem, no estado natural não ilustração, instrução e educação, a não ser pela natureza; na realidade é apenas uma criança, e mais tarde talvez venha a ser um filho dos sentidos e da terra. Na verdade, o homem está na luz do sol do seu pequeno mundo — luz das experiências dos sentidos de seu corpo natural e de sua mente natural —, luz muito pouco diferente da de todos os outros animais, salvo quanto a uma certa possibilidade potencial para ascender a uma luz mais elevada e a uma vida superior. E diante deste homem a Escritura coloca um outro Homem — o Homem Divino —, o Senhor, que é claramente apresentado no Antigo e no Novo Testamento, num novo modo de vida, como o Formador do homem e o Criador de tudo que é verdadeiramente humano. O Criador veio outra vez para trazer a Luz e a Vida aos homens — a quente, alegre e criativa seiva da Vida mesma, despertada e ressurgida do aparente túmulo da natureza pelo calor e a luz de outro universo —, um universo escondido dos olhos dos filhos da natureza — um universo espiritual cujas substâncias não podem ser tocadas pelos dedos impróprios dos homens naturais.
É uma triste verdade que, para a maior parte dos homens, Jesus Cristo dorme no túmulo do passado apenas como uma lenda maravilhosa, incapaz de ressuscitar no mundo real e prático da civilização natural. Entretanto o fato central de toda a história é que este Homem Divino — Jesus Cristo, Nosso Senhor — permanece para sempre entre os homens e os anjos como o executor, na forma final ou última, de todos os arcanos infinitos da Divina Sabedoria contidos, do princípio ao fim, na Sagrada Escritura. Ele é realmente o “Verbo feito carne”.
Assim, não somente a profecia de Oséias, mas também as inúmeras predições que tratam da estadia dos Filhos de Israel no Egito foram cumpridas quando José tomou o menino e sua mãe, durante a noite e partiu para o Egito. Pois a vida inteira do Senhor, em todos os seus estágios, é uma corporificação final e purificada de todos os representativos agora libertados de suas sombras, redimidos de seu aparente misticismo, e tornados claros no Divino cumprimento da Lei, de modo que os homens podem ver Sua glória, “a glória como do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”.
A primeira instrução que o Senhor recebeu, como criança e como menino neste mundo, embora superficialmente pareça semelhante à preparação dos outros homens, era entretanto uma instrução recebida pelo interior, do próprio Divino, desde os estados da infância e da adolescência até as coisas referidas nos Evangelhos sobre Sua Paixão. E esta preparação do Senhor foi, em virtude de Sua divindade, acelerada a um alto grau — grau inconcebível para os rabinos do Seu tempo, e para os eruditos de nossos dias. Ainda que o Senhor trilhasse as veredas comuns da obediência e do conhecimento, a Sua vida cotidiana estava desimpedida de conhecimentos ou desejos inconvenientes à Sua missão ou à Sua natureza Divina.
Entretanto o plano final dos sentidos humanos — o plano da natureza sensual — foi o primeiro plano de Sua vida terrena. A instrução Lhe veio através de todas as formas de conhecimento sensoriais e externos — não somente por José Maria, pelos mestres da Escritura Hebraica e de costumes —, mas também através dos objetos do mundo natural, dos pássaros do ar, dos animais do campo, das flores dos prados, do sol, e da areia e rochedos das praias. Estes vivos hieróglifos da natureza forneciam as formas para estas parábolas Divinas que, em sua unidade de verdade espiritual e beleza natural, transcendem, e sempre transcenderão, às mais nobres palavras escritas pelos homens.
Devemos notar, porém, que esta estadia representativa no Egito. Foi uma estadia no Egito verdadeiro. Representava o Egito onde a ciência ensinava a correspondência genuína da verdade natural com a espiritual — um Egito onde os científicos eram da Igreja e fundados na Palavra antiga —, um Egito do mundo natural não pervertido e não voltado para a falsidade e a magia. Contudo, mesmo nesse Egito — mesmo nos científicos a serviço da Igreja — houve apenas uma breve estadia.
Os conhecimentos dos sentidos foram os primeiros na ordem de desenvolvimento do Senhor, quando Ele transformou o Seu Humano em Divina Verdade, ou Divina Lei; e do mesmo modo, esses conhecimentos constituem o primeiro plano quando o homem está sendo regenerado (A. C. 6750). Os que estão se regenerando precisam, em primeiro lugar, adquirir conhecimentos, porque eles constituem o primeiro plano para as coisas do entendimento. Sem conhecimentos, não se pode receber o entendimento. Sem entendimento não se pode receber a verdadeira fé. Sem a fé verdadeira não se pode receber a verdadeira caridade.
É por isto que a qualidade destes primeiros conhecimentos, dos quais nascem as primeiras verdades, tem a mais alta importante para os seres humanos desde o tempo de sua infância e especialmente nessa época. E, por isso, é dever de todo pai e de todo professor selecionar os primeiros conhecimentos de Deus, do homem e da natureza, como sendo o material básico por meio do qual o caráter é constituído e de onde as verdades devem ser tiradas, e nos quais as verdades terminam ou repousam (A. C. 5901).
Sem o verdadeiro e fiel ensino desses conhecimentos, no começo da vida, não pode haver, depois, progresso seguro para coisas mais interiores (A. C. 5901). Realmente, sem eles não pode ser estabelecido o genuíno amor da verdade — a verdade como genuíno objeto do amor. É, portanto, indispensável que os conhecimentos do homem da Igreja, significados pelo Egito, no bom sentido, sejam dados fiel e completamente a todas as crianças e jovens como uma sólida base para uma vida bem e verdadeiramente conduzida. Assim, a retirada para o Egito a fim de proteger os primeiros estados e para instruir-se nos primeiros conhecimentos, não pode ser a estrita e fanática política de uma educação sectária.
É a verdadeira ordem da vida humana — agir na infância como fazem as crianças, desenvolver na meninice os planos que corretamente pertencem a essa idade, encorajar na juventude a edificação racional — que florescerá no amor da verdade concernente a Deus, à humanidade e à natureza. Em outras palavras, avançar o trabalho Divino da educação, não de acordo com as necessidades econômicas unicamente, nem com a ambição mundana encarada como um fim em si mesma — nem especialmente segundo a falsa educação dos profetas de uma vida puramente secular —, mas educar de acordo com a época e a estação da vida, e de acordo com a vontade da Divina Providência conforme está revelada na Palavra do Senhor.
Quão importante é respeitar ambos os fundamentos da verdade na educação do começo da vida, a saber, as verdades da Palavra e as verdades da Natureza ao mesmo tempo, pode-se ver nos ensinamentos dos Escritos. Aí nós aprendemos que
“as primeiras verdades são sensuais, as seguintes são científicas, as interiores são doutrinais; estas verdades são fundadas sobre as verdades científicas, visto como o homem não pode ter e não pode reter qualquer idéia, noção ou concepção delas a não ser pelos científicos. Mas as verdades científicas são fundadas sobre as verdades sensuais; pois sem os sensuais, os científicos não podem ser compreendidos pelo homem; portanto... o homem não pode ser confirmado nas verdades da doutrina, a não ser pelas idéias dos científicos e dos sensuais; pois nada está com o homem em seus pensamentos, nem mesmo os maiores mistérios da fé, que não tenha em si uma idéia natural e sensual, ainda que, pela maior parte, o homem não saiba o que ela é; mas na outra vida, se ele assim desejar, isso é apresentado a ele diante do seu entendimento; certamente, se ele desejar, diante de sua vista; pois na outra vida tais coisas podem ser apresentadas à vista. Isto parece incrível, mas é assim”. (A. C. 3310; cf. A. E. 559; A. C. 1434)
Esta verdade geral pode ser compreendida mais particularmente pelas seguintes passagens:
“Outra coisa são os sensuais, outra coisa os científicos, e outra coisa os veros; eles se sucedem mutuamente, pois pelos sensuais existem os científicos, e pelos científicos os veros; com efeito, as coisas que entram pelos sentidos são postas na memória, e daí o homem  conclui os científicos, ou por elas ele percebe o científico que aprende; em seguida dos científicos ele conclui os veros, ou por eles ele percebe os veros que aprende; é desta maneira que todo homem avança desde a infância à medida que cresce; quando é criança, é pelos sensuais que ele pensa, e que ele aprende as coisas; avançando em idade, é pelos científicos que ele pensa, e que ele aprende as coisas; e em seguida, é pelos veros; é esse o caminho para o julgamento, no qual o homem progride com a idade; daí se pode ver que os sensuais, os científicos e os veros são distintos e ficam mesmo distintos a um tal ponto que o homem está às vezes nos sensuais, o que acontece quando ele não pensa em outra coisa senão no que está presente diante dos sensuais; às vezes nos científicos, o que acontece quando ele se eleva acima dos sensuais, e pensa interiormente; às vezes nos veros que foram concluídos pelos científicos, o que acontece quando ele pensa ainda mais interiormente”. (A. C. 5774)
Aqui é revelado porque é tão importante que toda criança, todo rapaz e toda moça sejam introduzidos, ordenadamente, nos reinos das verdades físicas, civis, morais e espirituais, isto é, de tal modo que o passo seguinte no progresso de cada um seja sempre dado com um crescente amor por verdades cada vez mais elevadas, de maneira que por fim, o homem adulto seja capaz de pensar interiormente pelas verdades de ordem mais elevada, isto é, pelos científicos espirituais da Igreja. Este propósito de toda educação que tem em vista o completo desenvolvimento do homem, está descrito nos Arcanos Celestes da seguinte forma:
“O homem procede nas coisas da fé como procede nos veros que são da fé quando ele cresce; quando cresce, os sensuais estão no primeiro plano, depois os científicos, e sobre estes planos cresce em seguida o julgamento, em um mais, em outro menos; quando o homem é regenerado, os comuns da fé ou os rudimentos da doutrina da Igreja estão em primeiro plano, depois estão os particulares da doutrina e da fé, em seguida sucessivamente coisas mais internas; são estes planos que são ilustrados pela luz do céu; daí o intelectual e o perceptivo da fé e do bem da caridade”. (A. C. 6751)
Estes ensinamentos tornam claro que, embora a regeneração comece, de um modo particular, quando o homem age por sua própria liberdade de acordo com a razão adulta, contudo a regeneração tem uma raiz geral, que não é de modo algum a menor, na vida dos sentidos da infância.
Quem não sabe que a razão do homem é formada, em grande parte, pelos conhecimentos que lhe servem de base e foram aprendidos e estimados através da instrução ministrada na meninice e na juventude, e que a sua liberdade será grandemente condicionada pelo que esta instrução lhe ensinou como sendo desejável e bom?
Assim é que os pais têm, providencialmente, uma certa responsabilidade pelos conhecimentos básicos e princípios que seus filhos vêm a receber durante a meninice e a juventude; e nenhum outro elemento na sociedade humana pode assumir convenientemente esta última responsabilidade em melhores condições do que os pais.
Pois embora seja verdade que só o Senhor regenera o homem, contudo este deve cooperar como por si mesmo; e durante sua minoridade, até que ele alcance a idade da razão adulta, esta cooperação compete em última análise, aos pais. Mesmo quando essa responsabilidade é delegada a outros — como os professores, por exemplo — ainda permanece por algum tempo e sob certos aspectos, a responsabilidade dos pais, devido à escolha desses agentes e a sua constante cooperação com eles. Esta cooperação dos pais é descrita no sentido interno de nosso texto. Pois Maria e José tinham verdadeiramente, em relação à infância do Senhor no Egito, os mesmos deveres que os pais, em geral, têm em relação aos seus filhos ou filhas. José e Maria eram os meios empregados pela Divina Providência, para o cuidado e preservação da criança em quem o Senhor, em Sua Infinita Misericórdia, tinha vindo a este mundo para novamente instruí-lo no verdadeiro caminho da Vida. E quando foi dito a José, em sonho, que fugisse para o Egito, e ficasse lá com a criancinha até que o Senhor lhe dissesse que podia voltar, ele obedeceu prontamente. Cada uma destas ações — a descida para o Egito, a permanência lá com o menino, e a volta para Israel — foi executada por José, em fiel obediência aos explícitos mandamentos do Senhor.
Entretanto, no que se refere ao homem dos dias atuais, ele prefere permanecer com seu filho no Egito. As Divinas Verdades da Palavra e as verdades da Natureza — os fundamentos do homem espiritual e dos mundos naturais — estão separadas em sua mente; e a educação tornou o adolescente escravo dos sentidos. Os científicos voltaram-se para fora da verdadeira ordem — não mais servindo a Deus, mas a Mamon —, não mais se abrindo ao influxo do mundo espiritual, mas servindo unicamente ao mundo natural e à sua vida.
Deste modo, os estados da infância e da meninice são mantidos em escravidão no Egito. Os homens inverteram verdadeira ordem e o verdadeiro fim da educação. A afeição pela verdade da Lei Divina foi deslocada pela afeição dos fatos concernentes à natureza e ao homem, como sendo o que de mais elevado há na natureza. Assim, cada nova geração está sendo cada vez mais, privada justamente de sua herança mais preciosa, isto é, da instrução sobre o fato fundamental da vida, que é a existência de um Deus Único, que apareceu no mundo como Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Está sendo privada de saber que há um mundo espiritual, que há um céu, que há um inferno, que há um homem interno e um homem externo, que há, para cada alma humana, um meio de salvação racional e Divinamente garantido.
Quando deixarão os educadores de presumir que as verdades sensuais e cientificas têm relação somente com este mundo natural? Ou de pensar que é parte do seu dever para com a sociedade orientar os conhecimentos de modo a levantar dúvidas ou mesmo negar o fato de que há um Deus, ou que o homem foi criado na imagem de Deus, ou quanto à realidade do mundo espiritual na mente e no coração do homem?
É por isto que o problema da disciplina no mundo tornou-se tão grave. Os rapazes e as moças — não sendo mais intimidados pelos velhos e irracionais credos e falsos conceitos quanto ao que constitui a fé religiosa e à caridade — estão destemidamente aplicando o chamado método científico de pensar para provar que a religião é uma coisa e a ciência outra (a validade da religião espiritual); resultando daí que o processo da educação e o processo da religião são cada vez mais separados e distanciados um do outro. Egito e Assíria estão mais longe do que nunca de Israel; e o caminho entre eles que o profeta Isaías viu em sua visão — o caminho que une a ciência e a filosofia em sempre frutífera interdependência e uso mútuo — permanece como uma obscura trilha, rudimentar e incerta.
Contudo não há atalho mais curto para a educação do homem completo do que este: o caminho da obediência aos fatos básicos que foram revelados referentes à natureza humana. E agora, é preciso que haja um novo começo e, de fato, ele já existe. Pois as estradas começam a ser feitas por aqueles que têm a paciência e a fé para trilhar esse caminho — aqueles que têm a coragem para acreditar que a trilha no deserto se transformará em estrada na próxima geração.
Persistamos nisso que é a mais importante obra da Nova Igreja hoje em dia — o mais importante uso do mundo, para que os homens sejam salvos de seus próprios conhecimentos ainda não confirmados —, os conhecimentos da Natureza não redimidos pelo conhecimento de Deus. A mensagem do nosso texto é clara. Quando chega o tempo do jovem descer ao Egito ou, mais tarde, o tempo de voltar para a terra de Israel, os pais e os professores devem ouvir, estudar e obedecer ao Anjo do Senhor. E quando se compreender que os científicos adquiridos na infância não se destinam, primordialmente, ao uso em um mundo puramente materialista, mas, ao contrário, são destinados ao uso como vasos recipientes de coisas celestes e espirituais — a fim de que os homens possam se tornar anjos e morar com os anjos (mesmo com os anjos dos mais altos céus que guardavam a nossa infância, e nos guardam em nossa simplicidade e em nosso sono) — então a educação despertará para um renascimento espiritual, para a verdadeira humanização do conhecimento, para a real significação de uma verdadeira civilização feita para o homem na sua destinação angélica.
E a Igreja visível da Nova Jerusalém se estabelecerá finalmente, fortalecida e vitoriosa.
E quando contemplarmos a nova geração progredindo com uma nova consciência e em plena liberdade, no conhecimento e na percepção do que é justo e injusto aos olhos de Deus tanto quanto aos olhos do homem, então estaremos contemplando o trabalho das mãos do Senhor nosso Criador.
E testemunharemos, com alegria e humildade, o cumprimento da antiga profecia: “Quando Israel era criança Eu o amava; e do Egito Eu chamei meu Filho”.
Amém.

•   1ª Lição:     Isaías 11
•   2ª Lição:     Mateus 2, 11-23
•   3ª Lição:     A. C. 1555
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SWEDENBORG, Emanuel. NJHD no 45: “O homem cujo interno é de tal modo Externo, que não crê senão o que pode ver com os olhos e tocar com as mãos, chama-se homem sensual; é homem natural no mais baixo grau, e está na ilusão sobre todas as coisas que pertencem à fé da Igreja”.