A Vara que Floresceu

 

Sermão pelo Rev. Martin Pryke

“No dia seguinte, Moisés entrou na tenda do testemunho e eis que a vara de Aarão, da casa de Levi, florescia; produzia renovos e flores, e dava amêndoas”

(Números 17:8).

Através das Escrituras, há freqüentes referências aos doze filhos de Jacob, ou às doze tribos de Israel, designadas segundo o nome de cada um deles. No livro de Gênesis são relatados seus nascimentos, sua infância e sua mudança da terra de Canaã para o Egito. Através dos cinco livros de Moisés e de outros livros do Velho Testamento, são descritas as vidas de cada um e a distribuição das doze tribos ao voltarem para Canaã, depois de quarenta anos vagando pelo deserto que separa o Egito da terra que lhes era destinada. Em vários livros do Antigo Testamento, lemos sobre o estabelecimento das tribos em Canaã, sobre a divisão delas em dois reinos (Israel ao norte com dez tribos e Judá ao sul com duas) e, depois, sobre a destruição do reino do norte, cujas tribos desapareceram e passaram a ser chamadas pelos judeus de “as dez tribos perdidas”. Finalmente foi destruída Jerusalém por Nabucodonosor e é descrito o cativeiro de Judá na Babilônia.
O Novo Testamento prossegue descrevendo o nascimento do Senhor entre os remanescentes dos judeus, e o livro final, o Apocalipse, nos mostra que os nomes das doze tribos foram inscritos nas doze portas da cidade da Nova Jerusalém, o nome de cada uma em cada porta.
As contínuas referências às doze tribos resultantes dos filhos de Jacob, que também era chamado Israel, não são mero fruto da tradição do povo israelita, mas sim referências a fatos históricos desse povo, que foi criado para representar a verdadeira igreja do Senhor na terra.
Assim, na Palavra, as doze tribos de Israel, cada uma com sua característica e significação, representam todas as coisas da igreja do Senhor na terra. Não é somente uma associação de homens e mulheres, mas a igreja constituída por aqueles que optam pela obediência espontânea ao Senhor.
A Palavra foi dada para que todos possam integrar essa planejada igreja do Senhor na terra e preparar‑se para ascenderem ao reino dos céus. Assim, através da Palavra, nos é permitido encontrar os ensinamentos concernentes à vida espiritual e segui‑los. Em várias passagens da Palavra, os ensinamentos são claramente percebidos no sentido literal; em outras passagens, eles estão escondidos sob a exposição velada que somente revela seu sentido real quando a luz da verdade do Segundo Advento do Senhor dispersa as nuvens que encobrem o sentido que se encontra em cada detalhe das Escrituras.
As doze tribos de Israel, que constituíram o povo hebreu, representam as coisas da verdade e do bem que integram a verdadeira igreja, isto é, todas as qualidades espirituais e características da genuína igreja do Senhor. Assim, as doze tribos significam os atributos que nós, individualmente, devemos procurar, se desejarmos ser membros do Reino de Deus, na terra e no céu.
Há uma grande riqueza de ensinamentos espirituais nos Escritos, os quais nos habilitam a encontrar as diversas significações das doze tribos de Israel.
Há explicações completas das diferentes situações descritas nas várias passagens da Palavra, tanto no Antigo Testamento como no Apocalipse. Esses ensinamentos se referem principalmente aos atributos do Reino do Senhor e do progresso da regeneração do homem. Neste sermão, trataremos especialmente do lugar que Levi ocupou (e ocupa) entre as doze tribos, pois foi a vara de Levi, com o nome de Aarão, nela inscrito, que floresceu miraculosamente e deu frutos, enquanto se encontrava na tenda do testemunho.
Levi era o terceiro filho de Jacob e de Lia, que foi a primeira mulher de Jacob. Quando Levi nasceu, Lia disse: “Agora, desta vez, se unirá mais a mim o meu marido, porque lhe dei três filhos; por isso, ela deu ao filho o nome de Levi”. Esse nome significa “aderir” e “abrir caminho”. Lia tinha conhecimento do grande amor de Jacob por sua irmã Raquel, que também foi, por seu pai, dada em casamento a Jacob, mas Lia esperava que ele se voltaria agora para ela, agradecido pelo nascimento do terceiro filho.
Assim, o nascimento de Levi implicava a idéia de conjunção de Lia com Jacob, conjunção que se encontrava no nome atribuído a Levi. Além disso, Levi representa o estado de fazer o bem e aborrecer o mal, resultante da afeição pelas coisas do bem e da verdade. Ele também representa a conjunção da verdade com as obras da caridade. Este é, na igreja, o mais importante de todos os estados e é a qualidade do homem regenerado.
À luz desse ensinamento, podemos compreender a razão por que a tribo de Levi foi a tribo escolhida, entre as doze, para desempenhar uma função especial, qual seja a de constituir a classe sacerdotal. Não lhe foi atribuída uma área de terreno limitado como se procedeu com as outras tribos. A tribo de Levi foi estabelecida em quarenta e oito cidades espalhadas por toda a terra de Canaã e era destinada exclusivamente ao serviço religioso ministrado às demais tribos. A faixa de terra que lhe caberia foi ocupada por Manassés, filho de José e neto de Jacob. Moisés e Aarão eram levitas e Aarão foi o primeiro Sumo Sacerdote saído da tribo de Levi.
O amor, representado por Levi, é o Divino Amor; e o Divino Amor visa a um único fim: a salvação do homem, isto é, a bem‑aventurança no céu. Assim, fica fácil entender que esse estado de caridade, esse estado de amor ao próximo, é tão essencial que devia ser distribuído por todo o território de Canaã. Por isso aos levitas não coube um terreno delimitado, e eles foram distribuídos pelas áreas ocupadas pelas outras tribos.
Nosso texto é uma afirmação de que a caridade ocupa o primeiro lugar na igreja e que é a grande virtude do homem regenerado, juntamente com o amor ao Senhor. Os filhos de Israel tinham repetidamente desobedecido aos mandamentos do Senhor. Rebelaram‑se contra os líderes escolhidos, que foram Moisés e Aarão. Por isso, foram punidos com castigos e pragas. Apesar de tudo, continuavam a reclamar do Senhor e dos líderes que os guiavam. Assim, o Senhor ordenou a Moisés que lhes mostrasse, através de um milagre, que a missão de Moisés era aprovada pelo Senhor e que ele aprovava também a liderança da tribo de Levi no que se refere ao serviço religioso. A escolha se processou de acordo com a descrição de nosso texto. Cada tribo recebeu a ordem de tomar uma vara e escrever nela o seu nome. Moisés devia colocar as varas diante do Senhor na tenda do testemunho, e todos deviam tomar conhecimento de que a tribo cuja vara florescesse seria a tribo escolhida para orientar religiosamente as demais.
A vara da tribo de Levi teve o nome de Aarão nela inscrito, porque Aarão era o chefe da tribo e Sumo Sacerdote. “No dia seguinte, Moisés entrou na tenda do testemunho e eis que a vara de Aarão, da tribo de Levi florescia; produzia renovos e flores, e dava amêndoas”.
As doze varas colocadas diante da tenda do testemunho simbolizavam as características da cada tribo, cada nome representando atributos diferentes. Reunidas, as varas representavam todas as coisas do bem e da verdade que constituem a igreja. Além disso, as varas eram usadas como símbolo de poder. Ainda hoje são usadas por dirigentes de povos primitivos como símbolo de autoridade, e os reis de povos civilizados conduzem ceptros que têm a mesma significação.
Os atributos representados pelas varas são os mesmos atributos de cada filho de Jacob. Indicaremos aqui apenas o que representam os três primeiros filhos. O primeiro Rubem, representa a fé; o segundo, Simeão, representa a obediência; e o terceiro, Levi, representa as obras da caridade.
Quando pensamos na igreja, podemos perguntar‑nos qual a principal qualidade em que repousa seu verdadeiro poder de implantar na terra o reino de Deus. Será a fé, representada por Rubem ? Será a obediência, representada por Simeão ? Ou serão as obras da caridade, representadas por Levi ? Obviamente, a resposta é: A fé e a obediência são meios indispensáveis mas não são o objetivo final. O poder da igreja consiste fundamentalmente na vida da caridade e, para isso, temos de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Essa é a fonte do verdadeiro poder da Igreja, porque, somente quando nos dedicamos a esses amores, pode o Senhor impregnar nossa alma de Seu Divino Poder, habilitando‑nos a produzir os frutos da caridade. O vitorioso, pois, é Levi, que representa as obras da caridade. Foi sua vara ou cajado que floriu, segundo está escrito em nosso texto:” Eis que a vara de Aarão, da casa de Levi, floresceu; produziu renovos e flores, e deu amêndoas”.
Os renovos, as flores e as amêndoas são todas as coisas que brotam de uma vida de amor, de uma vida de caridade. A fé isolada não produziria frutos e a obediência sozinha é estéril. A fonte da vida é o amor e, assim, a vara de Levi floresceu e produziu amêndoas, produziu os bens da caridade. É pelos bens da caridade por nós praticados que a igreja floresce. Ela dá frutos pelo trabalho de cada um de seus membros e realiza os usos para os quais foi criada, quando seus filiados cumprem os mandamentos do Senhor.
Se nos esforçarmos por adquirir os conhecimentos que nos habilitem a prestar tais usos, se os realizarmos desprendidamente, se tivermos sempre em nossa mente o amor a Deus e ao próximo, então o Senhor certamente fará com que nossa mente desabroche e produza flores e frutos, que nos acompanharão pela eternidade. Amém.

 

(Lições: Núm. 17:1 a 13; AC 3858 (trechos)).