PROVIDÊNCIA DIVINA E TRAGÉDIA

Sermão pelo Rev. Lawson M. Smith

“Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois: mais valeis vós do que muitos passarinhos”

(Mateus 10:29-31).

Estamos agradecidos aos Senhor pelas coisas boas que acontecem nas nossas vidas. As pessoas religiosas freqüentemente dizem que a boa sorte é realmente da providência do Senhor. Porém, é muito mais difícil ver como o Senhor está tomando conta de nós quando a infelicidade ou a tragédia atingem alguém que amamos.

Pensamos nos desastres naturais, tais um terremoto ou uma erupção vulcânica. Pensamos nos desastres feitos pelos homens, tais como terrorismo, bombas, os horrores dos campos de concentração nazistas ou da matança em Bosnia. Temos amigos cujo cônjuge ou filho foi morto ou aleijado por um acidente de carro ou se enfermado de câncer ou outra doença terrível. Uma pessoa perde o seu trabalho e luta para encontrar outro, enquanto isso a sua família sofre muito.

Pessoas más escapam de assassinatos ou outras terríveis injustiças. Na sociedade, ou até mesmo nas famílias, pessoas são malévolas entre si e se ofendem muito.

As vezes não podemos deixar de nos perguntar: “Por que o Senhor permite que tais coisas aconteçam?”

Nos tempos antigos, as pessoas simplesmente acreditavam que Deus governava todas as coisas e que não podiam saber por que certas coisas aconteciam. Muitas acreditavam que todas as coisas, boas ou más, viam de Deus.

No livro de Jó, por exemplo, vemos os sofrimentos terríveis de Jó quando perdeu seus seres queridos, toda a sua fortuna e finalmente a sua saúde. Jó viu essas tragédias como um julgamento Divino pelos seus pecados e um teste da sua fé. O seu comentário foi: “O Senhor o
deu, o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó I:21).

É importante para nós crer em Deus e crer que Ele tem todo o poder, e que o Senhor permitiu que essa aparência fosse escrita no Antigo Testamento; isto é, que a tragédia e o desastre, como também a benção, vem d’Ele.

Os antigos israelitas precisavam acreditar que Jeová punia os seus pecados. Ao contrário Ele pareceria um homem fraco e não um Deus. Iriam sentir que não importava se obedeciam ou não os Seus mandamentos. Porém, então Deus veio ao mundo em Pessoa. Ele Se revelou para nós como o Senhor, Jesus Cristo. Ele nos mostrou que é um Deus do amor, nosso Pai Celestial, que alimenta os corvos, vesti de grama os campos e perdoa os nossos pecados.

Deus não manda as punições ou os infortúnios para as nossas vidas. Mas se os infortúnios não são punições Divinas, como os podemos entender? Além disso, que me dizem dos defeitos de nascença e de outras tragédias que atingem as criancinhas? Quem pecou?

Nos tempos modernos um rabi escreveu um livro famoso: Por Que Coisas Más Acontecem Para As Pessoas Boas? Ele disse:” Sabemos como as tragédias atacam as pessoas boas. Também temos duas idéias sobre Deus, 1) que Ele possui todo o poder e, 2) que Ele O amoroso. Porém, não podemos reconciliar essas duas idéias com a realidade da tragédia.” Portanto, escolheu desistir da idéia de que Deus tem todo o poder, em vez da idéia de que Deus é amoroso. Sugeriu que Deus Se importa por nós, mas que não tem completo controle sobre os acontecimentos. As coisas se desencaminham e as tragédias ocorrem.

Mas qual é o deus que não tem todo o poder? O que isso significa? A maldade e o sofrimento tem sido um obstáculo para a fé de muitas pessoas. Algumas pessoas sentem-se que foram afastadas da crença de Deus por experiências amargas ao aceitarem um universo sem deus que opera por chances do acaso. Realmente, escolhem a outra opinião do rabi: um deus - chamado natureza - que tem todo o poder mas que não se importa ou não conhece as vidas humanas individuais.

Em vez de desistirmos da nossa crença no Senhor, poderemos tentar compreender as leis de como Deus age. Pode parecer estranho pensar em Deus agindo de acordo com leis. Não pode Ele fazer tudo que deseja? Quem poderia fazer leis para Ele? Mas nós não poderíamos pensar num Deus agindo caprichosamente, fazendo uma coisa um dia e a oposta noutro dia, meramente por capricho.

Deus é a Fonte de toda a ordem maravilhosa que vemos no universo. Ele capacita as nossas mentes para descobrir as leis da natureza e fazermos leis que governem a sociedade humana. Ele é a própria ordem, a própria justiça e verdade e a própria misericórdia. Dizer que o Senhor age de acordo com as leis, significa que Ele tem um certo propósito ou meta em todas as Suas ações. Devido a sua meta, existem certas maneiras e significados que Ele sempre segue. Assim, existem razões pelas quais Ele faz o que podemos entender de uma certa forma, pelo menos em geral, se não em casos particulares.

O Senhor nos explicou as leis mais básicas de acordo como Ele age, para que possamos entender e ama-Lo profundamente, e nos defender contra a descrença em épocas de dor. O livro, A Divina Providência, inclui capítulos de cinco leis da providência, um capítulo da meta do Senhor na criação e Seu trabalho conosco e, um capítulo sobre a Sua permissão de coisas más e dolorosas. Se cremos em Deus, nesse livro podemos encontra-Lo nos ajudando a entende-Lo.

O céu é a meta do Senhor para nós. O céu é o estado em que amamos o Senhor sobre todas as coisas e que amamos o nosso próximo como a nós mesmos. O amor precisa ser dado livremente.

O Senhor poderia nos forçar a comportarmos bem pelo medo ou Ele poderia haver-nos criado como robôs. Porém, a Sua meta é que possamos ama-Lo livremente e escolher e desejar que Ele esteja perto de nós. Então, Ele pode nos fazer cada vez mais felizes, porque estamos desejosos de receber as Suas benções.

Então, a primeira lei da providência do Senhor é que as seres humanos precisam agir com liberdade, de acordo com o que faz sentido para eles. Isso implica que devem ter permissão, não para amar, mas para odiar e ferir. Se não temos liberdade de escolher o mal, também não temos a liberdade de escolher o bem. Assim, o Senhor sempre preserva a liberdade humana, deixando-nos até fazer coisas estúpidas, ferindo os demais e nos ferindo, porém dentro de certos limites.

Um dos limites é que não podemos tirar a liberdade de outra pessoa para crer no Senhor e ama-Lo. Uma pessoa não pode destruir a oportunidade de outrem para ir para o céu. O Senhor sempre protege a liberdade espiritual de cada um de nós. Podemos ajudar ou fazer difícil uma pessoa crer no Senhor, mas essencialmente a escolha será dela mesma.

Assim, o Senhor não permite nenhuma adversidade, nenhuma maldade e nenhum sofrimento que não possam ser transformados em bem. Ouçam essa passagem: “Ma outra vida o Senhor permite que os espíritos internais guiem o bem em tentação, consequentemente vertem os mates e as falsidades, o que fazem com muito ardor. Afas então o Senhor está presente com as pessoas em tentação, diretamente ou através dos anjos. Ele resiste os maus espíritos refutando as suas
falsidades e dissipando a sua maldade, assim dando alívio, esperança e vitória. Assim, com as pessoas que estão nas verdades do bem, nas verdades da fé e nos bens da caridade ficam inculcadas mais profundamente e são confirmadas mais fortemente (como um resultado dos seus julgamentos'. Assim são os meio pelos quais a vida espiritual é outorgada... É preciso saber que... nenhum pouco de (maldade) é permitido (espíritos internais' pelo Senhor, exceto no final, para que o bem possa vir disso, principalmente para que a verdade e o bem possam ter forma e serem fortificados com esses que estão em tentação. No mundo universal espiritual o propósito do Senhor reina, que vem a ser, que nada, seja o que for, nem a mais mínima coisa, surgirá, exceto para que o bem possa vir disso” (AC 6574:2,3).

Sabemos alguns dos benefícios que o Senhor traz das situações infelizes ou trágicas. As pessoas confrontam a natureza do mal e da humanidade separadamente do Senhor. Entendemos a necessidade de lutar pela injustiça na sociedade. O Senhor nos instiga a agir. Vemos a necessidade para a mudança e o arrependimento pessoal. Contratempos, tais como nos negócios eu na saúde, retarda-nos no nosso afã de conseguir coisas e prazeres materiais e dá-nos uma chance de refletir sobre as nossas prioridades. Recebemos a experiência direta da nossa dependência no Senhor, quando entendemos que não podemos fazer nada sem Ele. Isso nos leva a uma relação mais próxima com Ele do que antes, permitindo-nos a receber mais as Suas benções.

O Senhor está sempre pensando na nossa eterna felicidade. Enquanto que Ele deseja que sejamos felizes todo o tempo, Ele nunca sacrificaria a nossa eterna felicidade por um prazer de curta duração. Existem lições que não podemos aprender, exceto através do sofrimento, por causa do estado egoísta e materialistico da humanidade atual.

O Senhor nunca causa o sofrimento. Os espíritos infernais estão sempre desejosos de fazer isso. E as vezes o Senhor permite que causem uma quantidade limitada de dor, porque Ele vê que poderá transformar isso numa força de longa duração para o bem das pessoas passando por essa prova. Em realidade, o Senhor está sempre, sempre nos protegendo do mal e enchendo-nos com coisas boas. Do contrário a vida seria nada mais que miséria, do princípio ao fim.

Nas horas de sofrimento parece como se Deus Se esqueceu de nós, ou como se Ele estivesse Se afastado, esperando ver o que iremos fazer. Os Escritos dizem que, em realidade, o Senhor está nunca mais próximo de nós. Apenas é que o estado infeliz trazido pelos espíritos
infernais para nós, ofusca os nossos olhos para o fato de que o Senhor está nos carregando nos Seus braças. Ele é uma ajuda muito presente durante o sofrimento. Com a dádiva da liberdade para escolher o que amamos e seguir os nossos amores e com a habilidade de pensar 55 racional ou irracionalmente, como escolhermos, vemos a profundeza do amor do Senhor para nós e a Sua grande sabedoria em nos guiar.

O Senhor respeita a nossa liberdade porque Ele nos ama. Ele respeita tanto que permite que nos metemos em problemas e, então, nos dá uma nova força tirada desses problemas. Ele está constantemente, embora quietamente, trabalhando conosco, dando-nos coragem e aviso, provendo-nos com circunstâncias e oportunidades para fazermos as escolhas espirituais e eternas que queremos fazer.

Um salmo diz: “Os passos de um homem bom são conformados pelo Senhor, e Ele de(cita-se no seu caminho. Ainda que cala, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustem com a Sua mão” (Salmo 37:23,24). Amem.