A Sabedoria da Velhice

Um Sermão pelo Rev. Thomas L. Kline, adaptado por C. R. Nobre

 

" Assim diz o Senhor dos exércitos: Os velhos e velhas se sentarão novamente nas ruas de Jerusalém, cada um com o seu bordão na sua mão dele, por causa de muita idade. As ruas da cidade se encherão dos meninos e meninas que nelas brincarão"
(Zacarias 8:4,5).

Que belo quadro é esta profecia: os velhos e as velhas que enchem as ruas de Jerusalém. Por causa de sua muita idade, trazendo na mão o seu bordão. E então o quadro continua: com esses velhos e velhas estão os meninos e meninas que brincam. E o Senhor olha este quadro e diz que é maravilhoso à Sua vista, porque é um quadro de uma comunidade que está inteira e bem, uma comunidade que está viva. E por que? Porque todas as idades estão presentes e são estimadas.

Esta manhã nós queremos falar sobre as bênçãos de velhice, o período da vida humana que é um coroamento de suas realizações, um estado de vida a ser estimado por sua sabedoria e sua iluminação. Por isso, as pessoas idosas são uma parte essencial de uma comunidade saudável, igreja ou sociedade.

É interessante que os Escritos da Igreja Nova dividem nossas vidas em quatro fases: infância, mocidade, maturidade, e finalmente, a velhice. É sabido que a infância é um tempo de instrução, a maturdade é um tempo de inteligência; mas é dito que a velhice é um tempo de sabedoria, sabedoria que vem de inocência, que é a vontade de se deixar conduzir pelo Senhor.

A sabedoria é freqiientemente associada aos anos finais de nossas vidas. A razão disso é que, em primeiro lugar, a verdadeira sabedoria não é somente uma questão de aprendizagem, mas de vida. A verdadeira sabedoria não está na cabeça, mas no coração.

A verdadeira sabedoria vem de mãos dadas com a jornada longa de andar com o Senhor. É a jornada de descobrir quem é o Senhor e que podemos confiar em que Ele está conosco a todo instante. Isso é a sabedoria de velhice. É é a jornada de ver as verdades da Palavra de Senhor aplicadas nos usos e atividades de nossas vidas. É o processo de trazer a verdade para nosso viver, para que se  constituam em nosso próprio.

Finalmente, a sabedoria de velhice é a compreensão sensata de que nada podemos fazer por nós mesmos, a compreensão que sem o Senhor não somos nada. Na velhice, nós examinamos nossa vida passada e vemos que o Senhor esteve conosco o tempo todo.

O que nos ensinam os Escritos da Igreja Nova sobre velhice? Há pouco lemos esta passagem dos Escritos: "velhice é a última idade, quando as coisas terrestres e corpóreas começam a ser tiradas e os interiores do homem começam a ser iluminados " (AC 3492). Assim, na última fase de nossa vida o Senhor permite que as coisas de nosso corpo mingúem gradualmente e terminem. Verificamos que nossos corpos físicos não são mais o que eram antes.

 

 

 

O Senhor faz isto de propósito, de forma que, durante as últimas fases de nossas vidas, nossas mentes possam ser elevadas para coisas mais interiores. O Senhor, em Sua sabedoria, provê um abandono gradual das coisas deste mundo como uma preparação para a eternidade no céu.

É interessante que, ao se perguntar a algumas pessoas idosas que coisas eles estimam acima de tudo, com freqiiência respondem que são as recordações de amigos, da família, e das relações humanas. Na velhice, está acontecendo uma transição. É um tempo de enaltecer as nossas vidas para o céu.

Outro ensinamento nas Doutrinas Divinas é que o corpo envelhece mas o próprio espírito não. O corpo envelhece, mas o espírito fica jovem. O corpo pode se sentir mais velho, mas a pessoa dentro daquele corpo ainda é a mesma. Nós ainda sentimos da mesma maneira que sentíamos como jovens, como sempre fizemos. E quanto a essa sensação, nós somos todo jovens. É que o espírito humano não está preso ao tempo. Os Escritos nos ensinam: "Envelhecer, no céu, é rejuveneser" (CI 414). Em relação a eternidade nós estamos todos em nossa infância espiritual.

Outro ensinamento dos Escritos da Igreja Nova é que a velhice começa aos sessenta. Este é um ensino incomum porque, nessa idade, freqiientemente não pensamos de nós mesmos como sendo velho ao nos aproximamos sessenta. Aos sessenta, estamos ainda envolvidos com nossos usos do dia-a-dia. Os eventos de nossa vida natural não mudam de repente ao chegarmos a sessenta. Mesmo assim, os Escritos indicam que este é o começo da velhice porque é um tempo quando mudanças sutis estão acontecendo em nossas atitudes espirituais.

Aos sessenta, embora ainda estejamos envolvidos em nossas ocupações, vemos os nossos usos sob uma luz nova. Gradualmente, ficamos mais dispostos a aceitar as limitações do ser humano. Começamos a ter a humildade de admitir que não podemos realizar tudo o que tivemos em intenção. Começamos a ver a realidade da vida muitas vezes difere do que gostaríamos, e começamos a enfrentar a realidade da vida eterna.

Na velhice, as coisas deste mundo não são mais tão importante quanto pareciam. Nossos valores mudam e são agora enaltecidos. Passamos não somente a acreditar mas também a sentir que há valores mais altos que alcançar.

A velhice não é um tempo de utilidade decrescente, como se supõe. Na realidade, com o avanço da idade, os usos da vida podem ficar mais altos e mais espirituais. Muitos imaginam que a aposentadoria é um tempo de inutilidade, enquanto, realmente, pode ser a melhor oportunidade de se entrar em usos de real valor. Freqiientemente, por causa das circunstâncias e necessidades da vida, vemo-nos forçados a seguir carreiras e ter ocupações que não amamos verdadeiramente. Mas, mesmo que seja já no outono de nossas vidas, temos, na velhice, a oportunidade de desempenhar muitos usos nos quais podemos encontrar real prazer e a realização de nossas vidas, ao mesmo tempo que visamos principalmente o seu caráter eterno.

Velhice também é um tempo de reílexão, reflexão sobre a vida e sob a luz da Palavra do Senhor. Os que estão se aproximando da velhice podem não desejar estudar e entender matérias teológicas, mas precisam perceber que, até mesmo uma compreensão simples e refletida da Palavra de Deus pode lhe trazer um entendimento de que nunca desfrutou, em qualquer outro período de vida.

 

 

 

Uma pessoa que lê a Palavra na sabedoria de velhice faz que haja uma conjunção com os céus que é essencial para ambos, o indivíduo e a sociedade como um todo. O poder que os céus inspira por uma atitude santa, quando lemos a Palavra, é como o batimento do coração da igreja na terra.

Toda idade tem suas vantagens e também tem seus desafios e sofrimentos. E isto se aplica também à velhice, pois ela pode ser um tempo de declínio físico. Pode ser um tempo de pesar, de se ver os amigos vitalícios, um a um, se despedindo de nós. Pode ser um tempo de solidão, especialmente quando o cônjuge já foi para o outro mundo. Pode ser um tempo de depressão, de dor física, um tempo de desejar saber, qual é, afinal, o meu uso ainda neste mundo? Um tempo de tentação, pela idéia de talvez vir a ser um fardo para a sociedade. Podemos não entender bem a maneira como a providência e a permissão do Senhor. Por isso, temos de confiar que, na velhice, há usos que são maiores do que podemos ver e entender. Temos de nos lembrar que os usos estão acima do indivíduo, e isso explica, de alguma forma, porque a vida de algumas parece se prolongar além do que achamos humanamente necessário. Os usos são a resposta.

Na velhice, o Senhor está estabelecendo para a pessoa, neste mundo, um plano de inocência em que haverá o influxo de vida espiritual pela eternidade, e isto tem um alcance maior do que o indivíduo pode saber conscientemente. Ou o Senhor pode estar implantando secretamente relíquias divinas e recordações como uma bênção final para uma vida longa de uso. Talvez nunca saberemos, até termos passado para a vida eterna. O Salmista disse “Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força. (Salmo 71:9).

Eu gostaria de concluir trazendo à lembrança a imagem de Moisés, do 34º capítulo do livro de Deuteronômio. É aquele Moisés que, nas últimas horas de sua vida na terra, subiu ao topo do Monte Nebo, de onde avistou a terra prometida de Canaã. Durante quarenta anos Moisés tinha conduzido o povo pelo deserto. Ele os tinha tirado do cativeiro no Egito, e agora os tinha trazido até à entrada da terra prometida. E então vemos aquele momento glorioso quando Moisés, agora um homem velho de 120 anos velho, está pronto para morrer. Mas o Senhor lhe permite ver a terra prometida antes que morra.

Nessa hora, Moisés vê a expansão da terra prometida, a terra onde os filhos de Israel viveriam agora. Este é um momento de verdadeira sabedoria, a sabedoria que vem na velhice, aquela sabedoria que vem quando nós já caminhamos muito tempo pela jornada da vida e sentimos que, realmente, andamos com o Senhor e o Senhor andou conosco.

A sabedoria de velhice virá se nós tivermos, também tirado do cativeiro as coisas terrestres e corpóreas e seguirmos o Senhor por todo o caminho. Se aceitarmos, com serenidade, a realidade de que nossa vida, verdadeiramente, começará quando entrarmos na eternidade. Esse quadro, de Moisés, sozinho, contemplava diante de si a terra prometida, ao mesmo tempo que se lembrava da longa jornada que deixara para trás, é um quadro de verdadeiro esclarecimento espiritual.

No livro de Zacarias nós temos a imagem de velhos e velhas que se sentam nas ruas de Jerusalém, que estão cheias de meninos e meninas a brincar. Aqui temos, reunidos num só quadro, as idades espirituais de nossas vidas, de nossa infância até à velhice. E é dito que o Senhor contempla esse quadro de nossas vidas, e nos diz que é uma visão maravilhosa aos Seus olhos. Amém.

Lições: Zacarias 8:1-11; Lucas 2:22-38; AC 10225:1,5,6