A PÁSCOA

Sermão pelo Bispo Elmo C. Acton

Não vos assusteis; buscais a  Jesus Nazareno, que  foi crucificado;
já ressuscitou, não está aqui; já ressuscitou.

(Marcos 16;6).

 

                        Cada ano, quando celebramos de novo o dia da ressurreição do Senhor, desejamos relembrar e captar a glória daquela primeira manhã da Páscoa.
Relembramos a expectativa das mulheres que foram cedo ao sepulcro do Senhor, chegando ali aos primeiros albores da manhã do primeiro dia da semana. Relembramos seu receio a princípio e, depois, o júbilo que experimentaram diante da notícia de que o Senhor ressuscitara, cumprindo assim todas as coisas que Ele havia predito, embora elas não as tivessem compreendido.
Elas tinham iniciado a caminhada com os corações pesados e com pensamentos amargurados pela grande perda; suas esperanças se dissipavam. Iam ungir o corpo do Senhor com ungüento precioso e perfumado. Iam ungi-Lo com o amor e ternura com que desejavam realizar o último ritual sobre o corpo d’Aquele que, segundo pensavam, já não existia.
Quando encontraram a pedra removida e a tumba vazia, quando viram os anjos vestidos de roupas resplandecentes, tiveram grande medo. Seu medo, porém, foi amenizado pelas simples e confortadoras palavras do anjo: “Não vos assusteis; buscai a Jesus Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui”.
Mas até então elas não tinham a menor idéia da natureza da ressurreição do Senhor. Elas pensavam a respeito d’Ele como sendo um espírito sem corpo real e substancial. Pensavam que seu espírito era um ser aéreo sem substância e forma. Maria Madalena que, em vida do Senhor, Lhe havia ungido os pés com ungüento precioso, permaneceu junto ao sepulcro, na esperança de encontrar o corpo do Senhor e ungi-Lo com o ungüento que levava.
Ela curvou-se chorando, olhou dentro do sepulcro e viu os dois anjos vestidos de branco. Então voltou-se e viu Jesus, mas não O reconheceu. Jesus perguntou-lhe a razão de seu choro e ela, pensando tratar-se do jardineiro, perguntou onde havia sido posto o corpo do Senhor. Jesus então disse: Maria! Reconhecendo Sua voz, ela voltou-se e disse: Raboni! Então Maria se encheu de alegria porque ela sabia agora que o Senhor estava vivo, não como um espírito etéreo, mas como um Homem Divino, e se apressou em comunicar o que sabia aos discípulos. 
Para compreender e captar a alegria daquele dia inconfundível, devemos procurar o Senhor onde Ele se encontra: em Sua Palavra. Os pormenores da morte e ressurreição do Senhor têm sua explicação espiritual. Somente quando permitimos que nossas idéias naturais e materiais sobre o Senhor e Seu Reino morram na cruz de nossos amores egoísticos e mundanos, pode a grande pedra das idéias mentirosas e falsas ser removida da Palavra, de modo que, através da Palavra, possa o Senhor apresentar-Se como nosso Rei Divino e Celestial, que provê para cada estado nosso o que é melhor para nossa vida espiritual.
O sentido interno de nosso texto revela que, como tipos representativos, Maria Madalena e Maria mãe de Jesus, foram inspiradas a agir e falar como fizeram, de modo que pudessem representar os estados através dos quais os homens devem passar, para aprender a adorar o Senhor em espírito e em verdade.
Maria Madalena representa a afeição espiritual da verdade. Este é o bem espiritual: a afeição essencial da Igreja. Quando esta afeição interior não está presente, o bem é natural e orientado para a satisfação de nosso egoísmo, orientado para a melhoria de nossas condições de vida mundana.
Maria, a mãe do Senhor, também representa a afeição espiritual da verdade, mas a afeição espiritual em que o Senhor nasce no coração da criatura humana. A afeição representada pela mãe do Senhor é uma afeição originada na inocência da infância. Ela não é iluminada pelo conhecimento das verdades interiores da Palavra nem testada e purificada pelas experiências e tentações da vida.
Na vida adulta, uma nova afeição deve ser adquirida. Essa afeição é representada por Maria Madalena, de quem o Senhor expulsou sete demônios. Ela representa a afeição espiritual da verdade nascida de uma vida que se dedica a evitar os males como pecados contra Deus, nascida de uma vida estabelecida e confirmada por uma devoção fiel e pela vitória nas tentações espirituais.
Quando lemos a Palavra com essa afeição, estamos rolando a pedra para abrir o sepulcro e o Senhor surge nas verdades interiores e espirituais de Sua Palavra.
Esta afeição leva-nos a preparar o precioso ungüento para ungir o Senhor; induz-nos a ir cedo para o sepulcro e permanecer esperando a abertura do túmulo até que o Senhor apareça.
O ungüento, feito de óleo de oliveira e perfumado com nardo, representa a verdade segundo o bem, isto é, a caridade espiritual. O que resulta desse bem é ouvido e recebido no céu. Quando lemos a Palavra e adoramos o Senhor segundo esse bem, nossos olhos são abertos para ver as verdades interiores da Palavra e dessa adoração se eleva um perfume de paz que nos eleva ao céu.
Nossa afeição interior da verdade faz com que persistamos na adoração ao Senhor e na pesquisa das verdades da Palavra, até que alcancemos a visão interior do Senhor; as verdades interiores da Palavra tornam-se vivas e, através delas, começamos a compreender o objetivo do Senhor em relação à vida e à criação. Com essa afeição, passamos a compreender o sentido espiritual da Palavra.
Nesse estado, somos iluminados para ver as verdades interiores da Palavra, representadas pelos anjos que se encontram no sepulcro. Nosso amor é estimulado e, como Maria Madalena, nos voltamos para o Senhor. Voltar-se na Palavra, significa mudar de direção ou de objetivo quanto às afeições e aos pensamentos.
Duas vezes Maria voltou-se. Quando viu o Senhor pela primeira vez, ela não O reconheceu. Quando O viu pela segunda vez, ela O adorou. O primeiro movimento significa a eliminação dos males como pecados contra Deus e representa o Divino influxo agindo sobre nós, levando-nos a mudar os fins e objetivos de nossos amores. Mas os restos dos maus amores ainda estão em nossas mentes e nos impedem de ver o Senhor.
Entretanto, se nosso pensamento e nossa vontade persistirem no desejo de ver o Senhor, há, então, o influxo da vontade no entendimento e o pensamento repousa no interior das coisas da Palavra. Então ouvimos o Senhor nos chamando pelo nome. Voltamo-nos uma segunda vez, reconhecemos o Senhor e o adoramos em estado de humildade.
Essa é a ressurreição do Senhor em nós e é o princípio de nossa ressurreição no futuro. Como a Páscoa é a ressurreição do Senhor, devemos comemorá-la com toda alegria e rogar ao Senhor com mais intensidade: "Venha o Teu reino, seja feita a Tua Vontade". A chegada do Reino de Deus é agora perfeitamente possível, uma vez que o Senhor, em Sua segunda vinda, revelou o sentido espiritual da Palavra. A Palavra está agora entre nós em sua forma definitiva. Compete-nos abandonar nossos objetivos egoísticos e mundanos e dirigirmos nossos pensamentos para o Senhor, adorando-O mediante um comportamento de justiça e de retidão.
Se fizermos isso, Ele ressurgirá diariamente em nossos corações e finalmente colheremos os frutos de Sua ressurreição. Alcançamos a ressurreição para a vida somente pelo Senhor e por haver Ele unido Seu Divino com Seu Humano. Dessa união, que é a glorificação de Seu Humano, vem a da salvação da criatura humana. O Senhor disse: Porque Eu vivo, vós vivereis". Amém.

Lições :
1. Marcos 16;1 a 18
2. João 20;11 a 16
3. VRC 115 e 130 (porções).
Adaptação J. Lopes Figueredo

*********************

VRC 115 E 130 (porções)

AS OPERAÇÕES DO SENHOR

 

                        A redenção (realizada pelo Senhor) foi a subjugação dos infernos e a ordenação dos céus; e, por uma e outra, a preparação para uma nova Igreja espiritual... Que a subjugação dos infernos, a ordenação dos céus e a instauração de uma nova Igreja constituíram a Redenção é porque, sem essas três operações, homem algum podia ser salvo; essas operações se seguem mesmo em ordem, pois é preciso primeiro que os infernos sejam subjugados, antes que um novo céu angélico possa ser formado; e é preciso que este céu seja formado antes que uma nova Igreja possa ser instituída nas terras, pois os homens do mundo foram de tal modo conjuntos aos anjos do céu e aos espíritos do inferno, que fazem um com eles, de uma parte e de outra, no interior das mentes... O sepultamento do Senhor significa a ação de rejeitar o resto do humano que Ele tinha de Maria, sua mãe. Sua ressurreição no terceiro dia significa a glorificação ou a união de Seu Humano com o Divino do Pai.

**********************