A NOVA ALIANÇA

Sermão pelo Rev. Kennet O. Stroh

Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa  
de Israel e com  a casa de Judá.

(Jeremias 31;31)

 

                   Uma aliança implica conjunção, e as partes envolvidas nessa aliança concordam em guardar as condições estabelecidas. As alianças feitas entre o Senhor e os homens visam a um fim, que é o bem-estar e a felicidade eterna da humanidade. E, como nenhuma criatura humana pode alcançar a vida do céu sem regenerar-se, é evidente que as alianças com o Senhor implicam na promessa de regeneração por parte do homem.
A profecia de nosso texto parece focalizar o restabelecimento dos reinos de Israel e de Judá após serem destruídos pelos assírios e pelos babilônios, mas os Escritos nos ensinam que a predição se refere ao advento do Senhor e à instituição da Nova Jerusalém.
A profecia foi dada aos judeus por Jeremias há mais de quinhentos anos antes do nascimento do Senhor. As dez tribos de Israel tinham sido levadas para a Assíria e a Mesopotâmia pelos reis assírios, e a maioria dos habitantes de Judá foram levados em cativeiro por Nabucodonosor, rei de Babilônia. Jerusalém havia sido destruída e a Judéia estava sob domínio estrangeiro. Nesta terrível situação, Jeremias desempenhava fielmente os deveres de profeta. Previu que a Judéia seria derrotada e destruída por Nabucodonosor e exortava os judeus remanescentes a serem fiéis a Jehovah. manifestava-se corajosamente contra a maldade e a idolatria das classes dominantes e do povo, e sofreu maus tratos e prisões nas mãos daqueles que não compreendiam suas previsões e que o odiavam por proclamar que estava próximo o castigo provocado por seus males, o que realmente se realizou.
Após a destruição de Jerusalém, ele recebeu do Senhor a profecia consoladora de nosso texto (versículos 31 a 33): "Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que frmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porquanto eles anularam a minha aliança.... Mas esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor. Na mente lhes imprimirei as minhas leis e no coração lhas inscreverei; Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo". (31;31 a 33).
Os judeus tomaram estas palavras literalmente, aplicando-as à sua volta do cativeiro da Babilônia. Mas o fato é que, embora a nação judaica tivesse sido reconstituída precariamente, ela não permaneceu assim por muito tempo, tendo sofrido seguidamente o domínio dos persas, dos selencidas e dos romanos até o ano 130 de nossa era, quando desapareceu completamente. O Senhor permitiu que ela permanecesse até a época dos romanos para que servisse de guardiã de Sua Palavra na terra e para que servisse de base para a instituição de uma nova igreja.
Como a aliança feita com Moisés foi anulada pelos filhos de Israel, o que é simbolizado pela adoração ao bezerro de ouro no deserto, também a aliança com a casa de Israel, de que trata o nosso texto, não foi realizada, pois as dez tribos que constituíam o reino de Israel não chegaram a reconstituir aquele reino do norte de Canaã, e tanto os habitantes de Israel como os habitantes do reino de Judá, ao sul, mergulharam nos males mais condenáveis aos olhos do Senhor, principalmente os males relacionados com a idolatria. Os israelitas e os judeus nunca tinham guardado interiormente a aliança feita no monte Sinai e a igreja judaico-israelita era uma igreja representativa, por meio da qual o Senhor era apenas guardado na lembrança das pessoas.
A aliança referida em nosso texto devia ser uma aliança interior, feita com aqueles que deviam pertencer a uma nova igreja, constituída pelo Israel e pelo Judá internos, isto é, por homens do reino espiritual e do reino celestial do Senhor, e que recebessem o Senhor no entendimento e na vontade, segundo sua fé e seu amor. Quando o Senhor veio à terra, quase seiscentos anos depois dessa profecia, referiu-se à aliança nela prevista quando ceou com Seus discípulos e lhes ofereceu o cálice de vinho, dizendo: "Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós" (Lucas 22;20). A nação judaica daquele tempo, como a do tempo de Jeremias, não estava em condições de fazer tal aliança, porque seu culto era um culto externo. Por isso, os judeus negaram a nova aliança proposta pelo Senhor. Rejeitaram e crucificaram o Senhor Jesus Cristo, assim como tinham rejeitado e perseguido o profeta Jeremias.
Os cristãos reconheceram que a profecia de Jeremias se referia à vinda do Senhor ao mundo. Acertadamente consideraram a nova aliança como sendo o Novo Testamento - que é a Divina Verdade representada pelo sangue do Senhor - pelo qual o Igreja podia vir a conhecer o Senhor uma vez mais, e os homens podiam recebê-Lo com uma fé racional e um amor mais intenso, se assim o desejassem.
Mas a profecia de Jeremias não se refere apenas à aliança feita com a humanidade por ocasião do primeiro advento do Senhor. Os Escritos que nos foram outorgados revelam que essa aliança se aplica também em sua plenitude, à Nova Igreja e à Doutrina Celeste a ela destinada. Por meio da segunda vinda do Senhor na Doutrina Celeste, os homens podem elevar-se do lodaçal da ignorância para um conhecimento e um entendimento racional dos segredos do Céu e, assim, compreenderem a felicidade a que o Senhor deseja conduzi-los. A primeira Igreja Cristã em que se verificou a nova aliança do Senhor é substituída pela Nova Igreja, representada pela "cidade santa, a Nova Jerusalém, que de Deus descia do céu", segundo refere João no capítulo 21 do Apocalipse, acrescentando: "Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles e eles serão o Seu povo", o que é uma repetição da profecia de Jeremias.
Aprendemos o seguinte ensinamento na Doutrina Celeste: "Que uma aliança é a presença do Senhor no amor e na caridade é evidente pela natureza da própria aliança. Toda aliança tem em vista a conjunção, isto é, tem em vista a vida em mútua amizade ou amor. O casamento é, por esta razão, chamado de aliança. Não há conjunção do Senhor com o homem exceto no amor e na caridade, pois o Senhor é amor e misericórdia. Ele quer salvar cada um de nós e atrair-nos, com força poderosa, para o Céu, isto é, para Ele Mesmo. Assim, isto nos habilita a saber e concluir que ninguém pode jamais ser conjunto ao Senhor a não ser por meio daquilo que é Ele Mesmo, isto é, a não ser fazendo-se um com Ele. Em outras palavras: para que alguém se conjunte ao Senhor é indispensável amá-Lo acima de tudo e ao próximo como a si mesmo. Somente por este meio é efetuada a conjunção. Esta é a verdadeira essência de uma aliança. Quando há uma tal conjunção, segue-se manifestamente que o Senhor está presente". (A.C. 1038).
Os países deste mundo fazem alianças uns com os outros e assim conjuntam-se em propósitos comuns. Há estipulações de cada lado, as quais devem ser observadas, afim de que a conjunção seja inviolável. Entretanto, deve existir também confiança e fé, e um sincero desejo de respeitar as estipulações ou pactos. De outro modo, a aliança não terá valor algum, não terá a menor realidade, não passará de promessas vãs, como aliás, tem sido demonstrado abundantemente na história da humanidade.
A mesma coisa ocorre com as alianças do Senhor com a criatura humana. Há estipulações e pactos, preceitos e normas referentes aos meios que levam aos caminhos espirituais e celestiais. Essas estipulações, pactos, preceitos e normas encontram-se na Palavra. Cumprir tais determinações é a parte que cabe à criatura humana na aliança feita. A parte do Senhor é Seu Amor e Sua Misericórdia sempre presentes em relação ao homem, como lemos no Salmo 25, versículo 10: "Todos os caminhos do Senhor são misericórdia e verdade para os que guardam a Sua aliança e os Seus mandamentos".
Somente quando o pacto é guardado por ambas as partes é que produz efeito. A consequência disso para a criatura humana é que ela chega ao conhecimento da verdadeira vida espiritual. O Senhor sempre cumpre a Sua parte. O homem tem que escolher entre cumprir ou não cumprir a sua. Deve escolher entre a conjunção com o Senhor ou sua separação d'Ele, deve escolher entre a vida espiritual e a morte espiritual. Não há meio termo, pois o Senhor disse aos fariseus: "Aquele que não é por Mim é contra Mim, e quem Comigo não ajunta, espalha" (Mateus 12;30).
Se o homem escolher a aliança com o Senhor, sua conjunção com Ele virá somente por graus sucessivos. O Senhor exigia obediência dos integrantes da Igreja Judaica em benefício dos próprios judeus. Mas Ele se conjuntou aos homens das igrejas posteriores, exortando-os a compreenderem pela fé e pela racionalidade. Primeiramente, o homem aprende por espontânea obediência aos mandamentos do Senhor. Depois, o Senhor lhe concede discernir o que é o bem e a verdade, e o homem então praticará o bem pela fé no Senhor e em Sua Palavra. Aquele que perseverar no amor ao Senhor e no cumprimento de Seus Mandamentos tornar-se-á verdadeiro membro da comunhão interna proporcionada pela Nova Igreja, e terá uma nova vontade, que é o dom do Senhor concedido ao homem regenerado.
Aos que realizam esforçadamente o processo da regeneração o Senhor levará para o círculo de seus aliados. Eles respeitarão os mandamentos do Senhor, não por uma obediência externa, mas por amor a Ele. Eles se aproximarão do estado daqueles anjos celestiais a quem o Senhor dá diretamente a Divina Verdade, que é recebida em suas próprias vontades. Em seus corações está o bem do amor, e é com esse amor que eles recebem a Divina Verdade. Qualquer pessoa pode, se quiser, alcançar a vida regenerada que levará à vida espiritual e, assim, aproximar-se do Senhor. Ela terá de renunciar aos males como pecados contra o Senhor e praticar as boas obras prescritas pela Palavra, de acordo com a aliança feita. Quem permanecer firme no esforço de regenerar-se, apesar das vicissitudes da vida, aproximar-se-á cada vez mais da Igreja interna e, consequentemente, do Senhor.
Se procedermos dessa maneira, seremos governados pelo Senhor. Se evitarmos os males como pecados contra Ele e praticarmos as boas obras, seremos iluminados pela Sua verdade, e aquecidos pelo Seu amor. Então será cumprida em nós a profecia de Jeremias: "Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Isarel e com a casa de Judá... Na mente lhes imprimirei as minhas leis e no coração lhas inscreverei; Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo". Amém.

Lições : Jeremias 31;31 a 40
CI 25
Adaptação de J. Lopes Figueredo    

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CI 25
O DIVINO AMOR E A DIVINA VERDADE DO
SENHOR RECEBIDO PELOS ANJOS

 

                   Os anjos no reino celestial do Senhor excedem muito em sabedoria e em glória aos anjos que estão no reino espiritual; assim é, porque eles recebem mais interiormente o Divino do Senhor pois estão no amor para com Ele e, por conseguinte, mais perto d'Ele e mais conjuntos com Ele. Os anjos celestiais são tais porque receberam e recebem as Divinas Verdades imediatamente na vida, e não previamente na memória e no pensamento, como os anjos espirituais. Por isso é que os anjos celestiais gravam as Divinas Verdades em seus corações e as percebem e as vêem, por assim dizer, em si mesmos, e jamais raciocinam a respeito delas sobre se são ou não são verdades. Os anjos celestiais são assim descritos em Jeremias: "Nas mentes lhes imprimirei as minhas leis; também no coração lhas inscreverei... Não ensinará jamais cada um ao seu próximo nem cada um ao seu irmão, dizendo "conhece ao Senhor", porque todos me conhecerão desde o menor até o maior deles." (31;33 e 34)

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