A Família

Um sermão pelo Rev. David Holm

“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam”

(Salmo 127:1)

O sentido literal dos dois Salmos que foram lidos em nossa lição da Palavra descreve as bem-aventuranças da genuína vida em família.
“Eis, os filhos são herança do Senhor. Como flechas na mão do valente, assim são os filhos da juventude. Feliz é o homem que enche deles a sua aljava...  (Salmo 127 & 128).
Assim são as bênçãos da família descritas na Palavra. E a beleza dessas palavras nos faz refletir sobre o casamento e o lar. São bênçãos, porém, que se limitam àqueles que andam nos caminhos do Senhor. “Bem aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos Seus caminhos”.
É verdade que há aqueles que têm tentado andar nos caminhos do Senhor mas, não por sua culpa, não receberam as bênçãos felizes do casamento e de um lar. Mas mesmo assim, essas palavras se aplicam a eles, pois podem prepará-los para essa felicidade na vida eterna.
Podemos afirmar com certeza que ninguém entra realmente nos usos e nas alegrias da vida familiar, seja nesta vida seja na vindoura, se não tenta viver numa esfera santa de amor ao Senhor, se não se esforçar pela regeneração, recebendo os bens e verdades provenientes do Senhor.
Este é um ponto importantíssimo. Se a pessoa não vive ativamente a vida espiritual, não alcança as bases do amor conjugal nem estabelece um lar baseado nas bem-aventuranças celestes. Porque o casamento e o lar são, em si mesmos, coisas espirituais. Seus usos, suas alegrias são os  privilégios daqueles que se voltam para o Senhor e mantêm esse esforço como seu amor dominante. Sem esse ingrediente vital de amor mútuo, o casamento se torna uma união meramente terrena, e o lar se torna apenas uma casa. É verdade, pois, que “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam”.
A importância desse reconhecimento pode ser vista na esfera geral do mundo à nossa volta - a esfera que prevalece em lares desfeitos, na facilidade com se chega ao divórcio e nas atitudes imorais em relação ao casamento. Essas coisas degradam tanto o casamento quanto o lar - coisas que são sagradas.
Existe um perigo real no mundo. A Nova Igreja deve reconhecer e encarar esse perigo para estar livre e preservada de seus efeitos. Porque, essencialmente, a Igreja depende dos lares individuais para sua sobrevivência. Tanto quanto os lares são fortes, a Igreja será forte. Se forem frágeis, a Igreja será frágil. O lar é o castelo forte da Igreja.
É nosso dever, como pessoas da Nova Igreja, edificar nossos lares em força, para que sejam unidades sólidas da Igreja. E isto não acontece por si mesmo, mas requer ação de nossa parte. Requer paciência, dedicação, um esforço firme e, freqüentemente, o sacrifício de coisas terrenas. E também requer coragem. Coragem para se resistir ao estilo de vida comum hoje, que zombam dos valores do casamento e dos valores do lar.
Todavia, o aspecto mais importante no estabelecimento do lar é o amor - amor do Senhor, que se exprime na afeição para com a Igreja e os seus ensinamentos; no amor mútuo dos membros da família, no cuidado de um para o outro e no desejo pela bem-aventurança espiritual. Isto, naturalmente, depende do amor conjugal entre marido e esposa, pois o conjugal é o centro do lar. Realmente, o amor conjugal é o amor universal de todos os amores. Porque não pode existir amor mútuo e respeito entre os outros membros da família se o marido e a esposa não estão unidos pelo amor para com o Senhor e de um para com o outro. Só esse amor faz que marido e esposa sejam uma só alma, o que produz a esfera de unidade, cooperação, ordem e afeto, que então está presente no lar, afetando cada coisa ali e cada um dos seus membros.
A qualidade de cada lar depende diretamente da qualidade de vida do marido e da esposa, e de sua atitude e esforço em relação ao amor conjugal. Para edificar uma casa, em seu sentido real, os cônjuges devem trabalhar juntos e individualmente em prol desse que é o supremo dos amores humanos. Devem lutar diariamente para resistir todos os males que enfraquecem e destroem esse amor. Em suma, devem resistir à lascívia, à contenda, ao amor de dominar um sobre o outro, além de várias outras coisas que destroem o casamento.
A principal responsabilidade de edificar e manter a esfera da vida familiar depende do marido e da esposa. Mas não se limita a eles. Todos os outros membros da família que atingiram algum grau de compreensão têm também a responsabilidade por essa edificação espiritual. Pela sua atitude eles podem ou acrescentar usos e alegrias a essa esfera ou então suprimi-las. Os filhos, por exemplo, tão logo aprendem a instrução e vêem o exemplo dos pais nesse sentido, devem afastar os pensamentos egoísticos, exercitar o prazer da obediência e ter boa vontade em cooperar para que a esfera de amor ao Senhor seja sempre renovada. Quando se afastam, por exemplo, dos amores impuros que são contra a castidade, os filhos não somente acrescentam uma esfera celeste à vida do lar, mas também se preparam para que, eles próprios, um dia encontrem o par conjugal com quem estabelecerão seus novos lares como unidades verdadeiras da Nova Igreja.
Temos grande necessidade de estabelecer nossos lares na esfera da Igreja, e não existe melhor instrução para isso do que o conhecimento do Sentido Interno da Palavra, onde são descritas as bênçãos da vida familiar.
Quando examinamos o significado espiritual daqueles dois salmos, parece-nos à primeira vista que eles têm pouca ou nenhuma relação com a vida familiar, porque eles tratam principalmente da regeneração individual. Mas a família, na Palavra, tem relação direta com a mente do indivíduo, pelas correspondências, a saber: o “marido”, na Palavra, significa as afeições reinantes do bem; a “esposa”, as afeições da verdade, enquanto “filhos” e “filhas” significam os novos bens e verdades gerados pela mente que está em regeneração.
Porém existe mais que isso na correspondência entre a mente e a família. A pessoa cuja mente é uma - uma unidade harmônica -, adorando ao Senhor e fazendo a vontade Divina, é a pessoa que pode estabelecer um lar genuíno na terra, e esse lar será uma pequena forma do céu. Vejamos, então, o que o sentido espiritual dos salmos nos falam da mente regenerada.
Em resumo, é dito aqui que todos os bens e verdades provém do Senhor e não do homem mesmo. Porque, se o homem luta pelo que é bom e verdadeiro por seu esforço unicamente, não consegue alcançá-los; ao contrário, sofre derrotas. Pois todo o bem e verdade que o homem recebe são dons do Senhor, e Ele concede esses dons juntamente com o repouso e a tranqüilidade àqueles que O amam e fazem Sua vontade. Tais pessoas recebem verdades em abundância, pelas quais têm inteligência, e recebem muitos bens, dos quais vem a felicidade.
Por aí se pode ver que o homem e a mulher que desejarem estabelecer um lar verdadeiro e serem verdadeiramente pais precisam iniciar sua regeneração. Porque é somente depois que se organiza as coisas da mente que se pode organizar as do lar. É somente quando se recebe os benefícios da regeneração, as bênçãos de paz e alegria que vêm do culto e dos usos, é que a bem-aventurança chega e afeta a esfera do lar. Realmente, é no lar que podemos ver os resultados de nossa regeneração (ou, infelizmente, a sua ausência). Pois, onde é que nosso verdadeiro caráter se mostra mais abertamente se não no recesso do lar? É aí que nos sentimos livres para agir como desejamos.
Nessa imagem do homem regenerado, como é dada nos Salmos, há uma ênfase constante ao amor e culto ao Senhor. “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos Seus caminhos”. Esse amor e culto é uma coisa essencial para a vida em família, mas só são esteios efetivos da Igreja se estiverem realmente nas mentes e nos corações daqueles que são os cabeças da família.
Um verdadeiro lar só existe quando se busca o amor do Senhor. Mas não são as pessoas que formam o lar, pois toda sabedoria e afeição que elas recebem, e que são o que constituem o lar, são dádivas do Senhor, como também a vontade sincera que se nutre para que um tal lar exista. O Senhor dá esse desejo e Ele o realiza e edifica em nós.
Vemos assim que o estilo de vida da sociedade atual está bem distante desse alvo. Alguns, na sociedade, que têm alguma noção de valores morais, percebem os perigos que destroem os lares, e trabalham em vão para reparar os danos, pois não buscam o Senhor e Sua Palavra. Existem aqueles que acreditam que a salvação dos lares e casamentos está na religião. Mas que religião? Não podem ser aquelas que estão preocupadas com valores externos e matérias temporais, onde entraram a corrupção e a falsidade.
A Nova Igreja tem a resposta para o perigo da desintegração da família. E isto nós dizemos sem orgulho, sem nos considerarmos donos da verdade, mas com humildade e gratidão ao Senhor.
Porque é só a Nova Igreja, que tem verdades Divinas racionais,  que podem ser compreendidas e aplicadas, que faz a religião se tornar matéria do viver diário e, consequentemente, da vida em família. Só a Nova Igreja enfatiza o valor do casamento como relação espiritual e eterna. Só a Nova Igreja enfatiza a urgente necessidade de regeneração individual como meio de salvação, e isto implica em combate ativo aos males como pecados.
Todos os lares na Nova Igreja devem buscam esse ideal. Devem freqüentemente renovar seus desejos e esforços nessa direção, porque  o mundo está permanentemente atuando contra os valores espirituais.
Não é uma tarefa fácil, mas os membros da Nova Igreja têm seus alvos que querem sinceramente alcançar. E trabalham por eles. Nossos lares devem ser o centro de nossa luta pelo amor conjugal e pelo amor mútuo, senão, como nossos filhos reconheceriam e apreciariam a esfera de bem-aventurança?  Como podemos esperar que nossos filhos permaneçam íntegros se nós mesmos não buscarmos a integridade no casamento?
Se nossos lares forem unidades reais da Igreja, deve existir neles o amor pelas coisas espirituais, e isto se manifesta no culto em família e na instrução doutrinal. Só assim é que o lar é edificado em força e se torna centro da Igreja, centro de amor, prazer, felicidade e uso.
Os lares assim serão lugares onde os seus membros preferem estar antes de qualquer outro lugar, e não apenas casas onde se come e dorme. Nos lares verdadeiros, os problemas e temores que acompanham o crescimento da família serão imensamente suavizados, pois serão lares protegidos pela esfera do Senhor e da Igreja. Serão lares da Nova Igreja. Unidades básicas de uma sociedade nova e uma Igreja Nova; lares edificados pelo Senhor. Seja este nosso objetivo e nosso sincero esforço. Amém.

Lições: Salmo 127, 128 - AE 340:13